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Volume 1 Cosmogenese A Doutrina Secreta H Blavatsky | Curso Astrothon
Curso Astrothon

Volume 1 Cosmogenese A Doutrina Secreta H Blavatsky

ÍNDICE PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO …………………………………………………..6

PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO REVISTA………………………………………………..21

PREFÁCIO DA QUARTA EDIÇÃO …………………………………………………………………22

H. P. BLAVATSKY: SINOPSE DE SUA VIDA…………………………………………………..26

COMO FOI ESCRITA A DOUTRINA SECRETA……………………………………………….34

A DOUTRINA SECRETA

Síntese de Ciência, Filosofia e Religião

Tradução de RAYMUNDO MENDES SOBRAL

VOLUME I COSMOGÊNESE

EDITORA PENSAMENTO São Paulo

Esta obra é dedicada aos verdadeiros Teósofos de todos os países, seja qual for a raça a que pertençam. Eles a solicitaram e para eles foi escrita.

HELENA PETROVNA BLAVATSKY

NOTA DO TRADUTOR

Esta é a primeira tradução completa, em língua portuguesa, da monumental obra de Helena Petrovna Blavatsky — THE SECRET DOCTRINE, cuja edição original saiu impressa no ano de 1888, simultaneamente em Londres e Nova Iorque. Contém todos os prefácios, anotações, apêndice e notas adicionais insertos na última edição inglesa, a de 1938, chamada Edição de Adyar. Observar-se-á que foi aqui respeitada a grafia original dos nomes próprios que não têm forma vernácula ou tradução consagrada em português, e de alguns outros que, apesar de o terem, nos pareceu conveniente não alterar, a fim de melhor evidenciar os étimos que entraram em sua formação, e facilitar a percepção da ideia oculta e filosófica que encerram, e das identidades e analogias conceptuais com outros nomes, que nos depara o estudo das escrituras e sistemas religiosos e cosmogônicos, assim exotéricos como esotéricos, de todas as nações e de todos os tempos. Estão nesse caso, por exemplo, os nomes: Brahtna, Buddha, Krishna, Jehovah, Elohim; além de outros, que o leitor discernirá sem dificuldade.

Que a presente tradução contribua para tornar mais acessíveis e difundir, entre os que falam a nossa língua, os conhecimentos e a sabedoria revelados e transmitidos à humanidade, em fins do século passado, por aquela Mestra incomparável que foi H.P.B., outro não é o objetivo ou o desejo do tradutor. E, para os erros ou imperfeições, a que certamente não foi imune, na realização de sua tarefa, exora a indulgência do leitor.

R. M. S. Rio de Janeiro, 1969.

INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………………………….64

VOLUME I …………………………………………………………………………………………………108

COSMOGÊNESE………………………………………………………………………………..  ……..108

 

PROÊMIO …………………………………………………………………………………………………108

Páginas de uns anais pré-históricos 1. O mais antigo Manuscrito do Mundo e seu Simbolismo 2. A Vida Una, Ativa e Passiva 3. A Doutrina Secreta 4. Panteísmo 5. Ateísmo 6. “O Espaço” em todas as Religiões e no Ocultismo 7. Os sete Elementos Cósmicos 8. Às sete Raças da Humanidade 9. As três proposições fundamentais da Doutrina Secreta 10. Descrição das Estâncias do Livro de Dzyan.

PÁGINAS DE UNS ANAIS PRÉ-HISTÓRICOS

Diante os olhos da escritora está um manuscrito arcaico, uma coleção de folhas de palma que se tornaram impermeáveis à água e imunes à ação do fogo e do ar, por algum processo específico desconhecido.

Vê-se na primeira página um disco de brancura sem mácula, destacando-se sobre fundo de um negro intenso.

Na página seguinte aparece o mesmo disco, mas com um ponto no centro.

O primeiro (sabem todos aqueles que se dedicam a estes estudos) representa o Cosmos na Eternidade, antes do despertar da Energia ainda em repouso, a emanação do Verbo em sistemas posteriores.

O ponto no círculo, até então imaculado, Espaço e Eternidade em Pralaya, indica a aurora da diferenciação.

É o ponto dentro do Ovo do Mundo, o germe interno de onde se desenvolverá o Universo, o Todo, o Cosmos infinito e periódico; germe que é latente e ativo, revezando-se periodicamente os dois estados.

O único círculo é a Unidade Divina, de onde tudo procede e para onde tudo retorna.

Sua circunferência, símbolo forçosamente limitado, porque limitada é a mente humana, indica a PRESENÇA abstrata e sempre incognoscível, e seu plano, a Alma Universal, embora os dois sejam um.

Sendo branca a superfície do disco e negro todo o fundo que o rodeia, isso mostra que esse plano é o único  conhecimento, não obstante ainda obscuro e nebuloso, que ao ser humano é dado alcançar.

No plano têm origem as manifestações manvantáricas, porque é naquela ALMA que, durante o Pralaya, dorme o Pensamento Divino, no qual jaz oculto o plano de todas as cosmogonias e teogonias futuras.

É a VIDA UNA, eterna, invisível – mas onipresente; sem princípio nem fim – mas periódica em suas manifestações regulares (em cujos intervalos reina o profundo mistério do Não-Ser);

  • inconsciente – mas Consciência absoluta;
  • incompreensível – mas a única realidade existente por si mesma; em suma,
  • “um Caos para os sentidos,
  • um Cosmos para a razão”.

Seu atributo único e absoluto, que é Ele mesmo, o Movimento eterno e incessante, é chamado, esotericamente, o Grande Alento, que é o movimento perpétuo do Universo, no sentido de Espaço sem limites e sempre presente.

O que é imóvel não pode ser Divino.

Mas, de fato e na realidade, nada existe absolutamente imóvel na Alma Universal.

As expressões Pensamento Divino e Mente Universal não devem ser interpretadas, nem por analogia, como um processo intelectual semelhante ao que se manifesta no ser humano.

O “Inconsciente“, segundo Von Hartmann, chegou ao vasto plano da criação, ou melhor, da evolução, “por meio de uma sabedoria clarividente superior a toda consciência”, o que, em linguagem vedantina, significa Sabedoria Absoluta.

Só aquele que compreende quanto a intuição paira muito acima dos lentos processos do raciocínio pode formar uma concepção, ainda vaga, daquela Sabedoria absoluta que transcende as ideias de Tempo e Espaço.

mente, tal qual a conhecemos, se resolve em uma série de estados de consciência, cuja duração, intensidade, complexidade e demais atributos são variáveis, baseando-se todos, em última análise, na sensação, que é sempre Maya.

sensação, aliás, implica necessariamente limitação. O Deus pessoal ortodoxo percebe, pensa e sente emoções; arrepende-se e deixa-se tomar de “grande ira”. Mas a noção desses estados mentais leva claramente consigo o indispensável postulado da exterioridade dos estímulos excitantes, por nada dizer da impossibilidade de atribuir caráter imutável a um ser cujas emoções flutuam ao sabor dos acontecimentos que se passam no mundo ao qual preside.

O conceito de um Deus pessoal como imutável e infinito é, portanto, antipsicológico e, o que é pior, antifilosófico.

Platão demonstra ser um Iniciado quando em seu Cratylus diz que θεσζ é derivado do verbo θεειν, mover, correr, porque os primeiros astrônomos-astrólogos que observaram os movimentos dos corpos celestes chamaram os planetas θεοι, deuses.

Mais tarde a palavra deu origem a outro termo, αληθεια, “o sopro de Deus”.

Desde o primeiro aparecimento dos arquitetos do globo em que vivemos, a Divindade não revelada foi reconhecida e considerada sob o seu único aspecto filosófico — o Movimento Universal, a vibração do Alento criador na Natureza.

O Ocultismo sintetiza assim a Existência “Una”: “A Divindade é um fogo misterioso vivo (ou movente), e as eternas testemunhas desta Presença invisível são a Luz, o Calor e a Umidade”, tríade esta que abrange todos os fenômenos da Natureza e lhes é a causa.

O movimento intracósmico é eterno e incessante; o movimento cósmico, o que é visível ou objeto da percepção, é finito e periódico. Como eterna abstração, é o Sempre Presente; como manifestação, é finito, na direção do futuro e na direção do passado, sendo estes dois o Alfa e o Ômega das reconstruções sucessivas.

Cosmos — o Número — não tem nada que ver com as relações causais do mundo fenomenal. Só em relação à Alma intracósmica, ao Cosmos ideal no imutável Pensamento Divino é que podemos dizer: “Jamais teve começo, nem jamais terá fim.” Quanto ao seu corpo ou organismo cósmico, ainda que se não possa dizer que haja tido uma primeira construção ou deva ter uma última, em cada novo Manvantara pode esse organismo ser havido como o primeiro e o último de sua espécie, pois evoluciona cada vez para um plano mais elevado… Dizíamos nós há alguns anos: “A Doutrina Esotérica ensina, tal como o budismo e o bramanismo, e também a Cabala, que a Essência una, infinita e desconhecida existe em toda a eternidade, e que é ora ativa, ora passiva, em sucessões alternadas, regulares e harmônicas.

Estamos de acordo, contanto que seja a palavra Deus entendida, não no sentido do antropomorfismo grosseiro que constitui ainda a estrutura de nossa teologia atual, mas como o conceito simbólico daquilo que é Vida e Movimento no Universo: conhecê-lo, na ordem física, é conhecer o tempo passado, presente e futuro, na existência das sucessões de fenômenos; e conhecê-lo, na ordem moral, é conhecer o que foi, é e será, dentro da consciência humana.

Na linguagem poética de Manu, chamam-se esses estados Dias e Noites de Brahmâ. Este último se encontra ‘desperto’ ou ‘adormecido’. Os Svâbhâvikas, ou filósofos da mais antiga escola do budismo (e que ainda existe no Nepal), limitam suas especulações ao estado ativo da ‘Essência’, a que dão o nome de Svâbhâvat, e pensam que é insensato construir teorias acerca do poder abstrato e ‘incognoscível’ em sua condição passiva. Daí o serem chamados ateus pelos teólogos cristãos e pelos sábios modernos, incapazes uns e outros de compreender a lógica profunda daquela filosofia.

Os teólogos não querem admitir outro Deus senão o que personifica as potências secundárias que deram forma ao universo visível — aquele que passou a ser o Deus antropomórfico dos cristãos, o Jehovah masculino, branindo no meio dos trovões e dos raios.

Por sua vez, a ciência racionalista considera os budistas e os svâbhâvikas como os “positivistas” das idades arcaicas. Se olharmos a filosofia destes últimos em apenas um de seus aspectos, poderão os nossos materialistas ter razão à sua maneira. Sustentam os budistas que não há Criador, mas uma infinidade de potências criadoras, que formam em seu conjunto a substância “una e eterna”, cuja essência é inescrutável e, por conseguinte, insuscetível de qualquer especulação por parte de um verdadeiro filósofo.

Sócrates recusava-se invariavelmente a discutir sobre o mistério universal, e nem por isso ocorreu a ninguém acusá-lo de ateísmo, exceto aqueles que desejavam sua morte. Ao iniciar-se um período de atividade — diz a Doutrina Secreta — dá-se uma expansão daquela Essência Divina, de fora para dentro e de dentro para fora, em virtude da lei eterna e imutável, e o universo fenomenal ou visível é o resultado último da longa cadeia de forças cósmicas, postas assim em movimento progressivo.

Do mesmo modo, quando sobrevém a condição passiva, efetua-se a contração da Essência Divina, e a obra anterior da criação se desfaz gradual e progressivamente, o universo visível se desintegra, os seus materiais se dispersam, e somente as “trevas” solitárias se estendem, uma vez mais, sobre a face do “abismo”.

Para usar uma metáfora dos livros secretos, que tornará ainda mais clara a ideia, uma expiração da “essência desconhecida” produz o mundo, e uma inspiração o faz desaparecer.

É um processo que se observa por toda a eternidade, e o nosso atual universo não representa senão um dos termos da série infinita — que não teve princípio nem terá fim.

O trecho acima será explicado, até onde for possível, na presente obra. E se bem que nada contenha de novo para o orientalista, tal como se acha escrito, sua interpretação esotérica pode encerrar muita coisa que até o momento permaneceu completamente ignorada dos eruditos ocidentais.

A primeira figura é um disco simples: .

A segunda é um disco com um ponto no centro,

um símbolo arcaico que representa a primeira diferenciação nas manifestações periódicas da Natureza eterna, sem sexo e infinita, “Aditi em AQUILO126” , ou o Espaço potencial no Espaço abstrato.

Na terceira fase, o ponto se transforma em um diâmetro, é o símbolo da Mãe-Natureza, divina e imaculada, no Infinito absoluto, que abrange todas as coisas.

Quando o diâmetro horizontal se cruza com um vertical

o símbolo se converte na cruz do mundo.

A humanidade alcançou sua Terceira Raça-Raiz: é o signo do começo da vida humana.

Quando a circunferência desaparece, ficando apenas a cruz, +, este signo representa a queda do homem na matéria, começando então a Quarta Raça.

A Cruz inscrita no círculo simboliza o Panteísmo puro; suprimido o círculo, passa a ser um símbolo fálico.

Tinha o mesmo significado, afora outros especiais, que o Tau inscrito Ísis sem Véu, II, págs. 264-265. Veja-se também a Seção VII, Parte I, Vol. II da presente obra, “Os Dias e as Noites de Brahmâ”.

o martelo de Thor,

a chamada cruz Jaina,

ou simplesmente Suástica, dentro de um círculo .

Por meio do terceiro símbolo — o círculo dividido em dois pelo diâmetro horizontal – se dava a entender a primeira manifestação da Natureza criadora, ainda passiva (porque feminina).

A primeira percepção vaga que o ser humano tem da procriação é feminina, pois o homem conhece mais de perto a mãe que o pai. As divindades femininas eram, por isso, mais sagradas que as masculinas.

A Natureza é, portanto, feminina, e até certo ponto objetiva e tangível; e o Princípio espiritual que a fecunda permanece oculto. Acrescentando uma linha perpendicular ao diâmetro horizontal, formou-se o Tau — T — a mais antiga forma desta letra. – Este foi o símbolo da Terceira Raça-Raiz até o dia de sua queda simbólica, ou seja, a separação dos sexos por evolução natural; então a figura passou a , ou a vida assexual modificada e dividida — um duplo signo ou hieróglifo.

Com as sub-raças de nossa Quinta Raça, veio a ser em simbologia o Sacr’, e em hebreu o N’cabvah, das Raças primitivamente formadas; transformou-se depois no emblema egípcio da vida, , e, mais tarde ainda, no signo de Vênus, .

A seguir vem a Suástica (o martelo de Thor, ou a Cruz Hermética atual), separada completamente do círculo e, portanto, fálica.

O símbolo esotérico do Kali Yuga é a estrela de cinco pontas invertida, isto é, com duas pontas viradas para cima (cornos), – signo da

Os matemáticos ocidentais e alguns cabalistas americanos dizem que também na Cabala “o valor do nome de Jehovah é do diâmetro de um círculo”.

A isto se deve acrescentar que Jehovah é o terceiro dos Sephiroth, Binah, palavra feminia, e ter-se-à a chave do mistério.

Esse nome, que é andrógino nos primeiros Capítulos do Gênesis converte-se, por meio de certas transformações cabalísticas, em masculino, cainita e fálico.

A ideia de escolher uma divindade entre os deuses pagãos, para constituí-la um deus nacional e invocá-la como “o Deus Único, o Deus Vivo”, “O Deus dos Deuses”, proclamando-se monoteísta seu culto, não pode fazer de tal divindade aquele Princípio Único, “cuja Unidade não admite multiplicidade ou mudança, nem forma, nem muito menos uma divindade priápica, como hoje está demonstrado que o é Jehovah. 115 feitiçaria humana – posição que todo Ocultista reconhecerá como pertencente à “mão esquerda”, e empregada na magia cerimonial.

É de esperar que a leitura do presente livro contribua para modificar as idéias errôneas que em geral o público tem a respeito do Panteísmo. Erram e cometem injustiça os que consideram ateus os Ocultistas, budistas e Adwaítas. Se todos não são filósofos, mostram-se pelo menos lógicos, baseando-se os seus argumentos e objeções no mais estrito raciocínio. Em verdade, se encararmos o Parabrahman dos hindus como representante das divindades ocultas e inominadas de outras nações, veremos que esse Princípio absoluto é o protótipo do qual foram copiadas todas as demais.

Parabrahman não é “Deus”, como não é um Deus. “É o Supremo e o não-Supremo (Paravam)129”. É o Supremo como causa, e o não Supremo como efeito. Parabrahman é simplesmente, como Realidade sem par, o Cosmos que tudo contém — ou melhor, o Espaço cósmico infinito — no sentido espiritual mais elevado, naturalmente. Sendo Brahman (neutro), a Raiz suprema, imutável, pura, livre, incorruptível, “a verdadeira Existência Una, Paramârthika”, e o absoluto Chit ou Chaitanya (Inteligência, Consciência), não pode conhecer, “porque AQUILO não pode ser sujeito de cognição”.

Pode-se dizer que a chama é a Essência do Fogo? A Essência é “a Vida e a Luz do Universo; o fogo e a chama visíveis são a destruição, a morte e o mal”. “O Fogo e a Chama destroem o corpo de um Arhat; sua Essência o torna imortal.” “O conhecimento do Espírito absoluto, tal como a refulgência do sol e o calor do fogo, não é outra coisa senão a própria Essência absoluta”, diz Sankarâchârya. É “o Espírito do Fogo”, não o Fogo em si mesmo; portanto, “os atributos deste último, o Calor e a Chama, não são atributos

Veja-se a mui sugestiva obra The Source of Mensures, em que o autor explica o verdadeiro sentido da palavra Sacr’, da qual se derivam “sagrado”, “sacramento”, palavras que passaram a ser sinônimas de “santidade”, apesar de serem puramente fálicas. 129 Mândûkya, Upanishad, I, 28. 130 Bodhimur, Livro II. 116 do Espírito, e sim daquilo de que o Espírito é a causa inconsciente”.

Não é a proposição anterior a verdadeira chave da filosofia dos últimos Rosa-cruzes Parabrahman, em suma, é a agregação coletiva do Cosmos em sua infinidade e eternidade, o “AQUILO” e o “ISTO”, a que se não podem aplicar agregados distributivos131. “No princípio ISTO era Ele Mesmo, um somente132”; o grande Sankarâchârya esclarece que “ISTO” se refere ao Universo (Jagat), e que as palavras “no princípio” significam: antes da reprodução do Universo fenomenal.

Quando, pois, os Panteístas se fazem eco dos Upanishads, que declaram – como também a Doutrina Secreta – que “ISTO” não pode criar, não estão negando a existência de um Criador, ou melhor, de um agregado coletivo de criadores; o que fazem é simplesmente recusar, com muita lógica, atribuir o ato de “criação”, e especialmente o da formação — coisas que são finitas – a um Princípio Infinito. Para eles, Parabrahman é uma causa passiva, porque absoluta; é o Mukta incondicionado.

Recusam-lhe apenas a Onisciência e a Onipotência limitadas, já que também se trata de atributos, refletidos nas percepções dos homens; e porque, sendo Parabrahman o TODO Supremo, o Espírito e a Alma, sempre invisíveis, da Natureza imutável e eterna, não pode ter atributos: o Absoluto exclui naturalmente a possibilidade de toda relação com a idéia de finito ou condicionado. E quando os Vedantinos afirmam que só a emanação de Parabrahman possui atributos — emanação que eles chamam ISHVARA em união com Mâyâ, e Avidyâ (Agnosticismo ou Ciência negativa, antes que ignorância) — dificilmente se verá ateísmo em tal 131 Veja-se o Vedânta Sâra, do Major G. A. Jacob, e também The Aphorisms of Shândilya, tradução de Cowell, pág. 42. 132 Aitarey Upanishad 117 concepção133. Pois que é impossível existirem dois Infinitos ou dois Absolutos em um Universo, que se supõe sem limites, como se há de conceber aquela Existênciaem-Si-Mesma criando pessoalmente?

Para os sentidos e percepções dos seres finitos, AQUILO é o Não-Ser, no sentido de que é a Seidade Una; porque neste TODO jaz latente sua coeterna e coeva emanação ou irradiação inerente, a qual, ao se converter periodicamente em Brahmâ (a Potência masculino-feminina), se expande no Universo manifestado. “Nârâyana movendo-se sobre as Águas (abstratas) do Espaço” transforma-se nas Águas de substância concreta, impulsionadas por ele, que vem a ser agora o Verbo ou Logos manifestado. Os brâmanes ortodoxos, aqueles que mais se opõem aos panteístas e aos advaítas, classificando-os como ateus, têm que admitir, se Manu é alguma autoridade na matéria, a morte de Brahmâ, o Criador, ao terminar cada ciclo desta divindade (100 Anos Divinos, período que exigiria quinze cifras para ser expresso em anos comuns).

No entanto, nenhum de seus filósofos entende essa “morte” em outro sentido que não o de um desaparecimento temporário do plano manifestado da existência ou como um repouso periódico. Os ocultistas estão, assim, de acordo com os filósofos vedantinos advaítas a respeito desta doutrina; e demonstram a impossibilidade de aceitar-se, no terreno filosófico, a ideia de TODO absoluto fazer surgir, pela criação, ou até mesmo pela evolução, aquele “Ovo Áureo”, no qual se diz que penetrou para se transformar em Brahmâ, o Criador, desdobrando-se este, depois, nos Deuses e em todo o Universo visível.

Não obstante, orientalistas cristãos imbuídos de preconceitos, e mais fanáticos do que outra coisa, pretendem provar que isto é puro ateísmo. Como exemplo, veja-se o Vedânta Sâra do Major Jacob. Mas toda a antigüidade repete este pensamento: Omnis enim per se divum natura necesse est Immortali aevo summa cum pace fruatur – segundo diz Lucrécio; um conceito puramente vedantino. 118 Sustentam os Ocultistas que a Unidade absoluta não pode converter-se na Infinidade, porque o Infinito pressupõe a extensão ilimitada de “algo” e a duração deste algo; e o Todo Uno não é — como o Espaço, sua única representação mental e física em nosso plano de existência, a Terra — nem sujeito nem objeto de percepção.

Se se pudesse admitir que o Todo eterno e infinito, a Unidade onipresente, em vez de ser na Eternidade, se transformasse, por manifestações periódicas, em um Universo múltiplo ou em uma Personalidade múltipla, tal Unidade deixaria de ser una. A idéia de Locke, de que “o espaço puro não é capaz nem de resistência nem de movimento”, é incorreta. O Espaço não é nem um “vazio sem limites” nem uma “plenitude condicionada”; mas uma e outra coisa. E sendo, no plano da abstração, a Divindade sempre ignota, que é um vazio só para a mente finita134, e, no plano da percepção mayávica, o Plenum, o continente absoluto de tudo o que é, seja manifestado ou não manifestado — é, por conseguinte, aquele TODO ABSOLUTO.

Não há diferença alguma entre as palavras do Apóstolo cristão: “Nele vivemos, nele nos movemos e temos o nosso ser”, e o que diz o Rishi hindu: “O Universo vive em Brahmâ, dele procede e a ele voltará”; porque Brahman (neutro), o não manifestado, é aquele Universo in abscondito; e Brahmâ, o manifestado, é o Logos macho-fêmea135 dos dogmas ortodoxos. O Deus do Apóstolo Iniciado, assim como o do Rishi, é ao mesmo tempo o Espaço Invisível e o Visível. Em simbolismo esotérico, o Espaço é chamado “Mãe-Pai Eterno de Sete 134 Os próprios nomes das divindades principais – Brahmâ e Vishnu – deveriam ter sugerido, há muito tempo, os seus significados esotéricos. Porque a raiz de Brahman, ou Brahm, conforme se afirma, é a palavra brih, crescer ou expandir-se (veja-se a Calcutta Review, vol. LXVI, pág. 14); e a de Vishnu é wish, penetrar, entrar na natureza da essência

Assim, Brahmâ-Vishnu é aquele Espaço infinito, do qual os Deuses, os Rishis, os Manus e tudo o que há neste Universo são simplesmente as potências (Vibhûtayah).

Veja-se em Manu o relato da separação do corpo de Brahmâ em macho e fêmea; esta última parte é a Vach fêmea, na qual ele cria Virâj. Compare-se ainda com o esoterismo dos capítulos II, III e IV do Gênesis. 119 Peles”; e é constituído de sete capas, desde sua superfície não diferenciada até a diferenciada. “Que é que foi e será… haja ou não um Universo, existam ou não deuses?” – pergunta o Catecismo Esotérico Senzar. E a resposta é: “O Espaço.” O que se recusa aceitar não é o Deus Uno desconhecido, sempre presente na Natureza, ou a Natureza in abscondito; mas o “Deus” do dogma humano e o seu “Verbo” humanizado.

Em sua incomensurável presunção, e no orgulho e vaidade que lhe são inerentes, criou o homem o seu Deus, pelas próprias mãos sacrílegas e com os materiais que encontrou em sua mísera substância cerebral, e o impôs ao gênero humano como uma revelação direta do ESPAÇO uno e não revelado136 O ocultista aceita a revelação como procedente de Seres Divinos, mas finitos; das Vidas manifestadas, mas não da Vida Una não manifestada; daquelas Entidades chamadas Homens Primordiais, Dhyâni-Buddhas ou Dhyân Chohans, os Sente-se “no ar” o Ocultismo neste fim de século.

Entre muitas outras obras publicadas recentemente, há uma que recomendamos especialmente aos estudantes do Ocultismo teórico que não desejam aventurar-se muito além dos domínios do nosso plano humano em particular. Seu título é: New Aspects of Life and Religion, por Henry Pratt, M. D. Esse livro está cheio de filosofia e de doutrinas esotéricas; algo limitada a filosofia, nos capítulos finais, pelo que nos parece um espírito de positivismo condicionado. Apesar disso, o que refere sobre o Espaço como “Causa Primeira Desconhecida” merece ser citado: “Este algo desconhecido, assim identificado como forma corpórea primária da Unidade Simples, é invisível e impalpável” (como espaço abstrato, de acordo); “e, sendo invisível e impalpável, é portanto incognoscível.

E desta incognoscibilidade foi que nasceu o erro de supor-se que é um simples vazio, mera capacidade receptiva. Mas, ainda quando seja considerado um vácuo absoluto, não há como deixar de admitir que o Espaço ou existe para si mesmo, infinito e eterno ou teve uma causa primeira, além, atrás e fora dele.” “E, no entanto, se tal causa pudesse ser encontrada e definida, isso tão somente importaria em transferir para ele os atributos que de outro modo correspondem ao espaço; no que estaríamos apenas fazendo recuar um passo mais longe a dificuldade de origem, sem obtermos nenhum suplemento de luz quanto à causa primeira.” (Op. cit., pág. 5.)

É exatamente o que têm feito os que acreditam num criador antropomórfico, num Deus extracósmico, posto no lugar do Deus intracósmico. Muitos dos conceitos do Dr. Pratt, e podemos dizer que a maioria deles, correspondem a velhas ideias e teorias cabalistas, que ele apresenta em uma forma inteiramente nova.

“Novos Aspectos” do Oculto na Natureza, certamente. Contudo, o espaço, encarado como uma Unidade Substancial (a Fonte Divina da Vida), é, como a Causa Desconhecida e sem causa, o mais antigo postulado do Ocultismo, anterior milhares de anos ao Pater-aeter dos Gregos e Latinos. Sucede o mesmo com “a Força e a Matéria, como potencialidades do Espaço, inseparáveis e reveladoras incógnitas do Desconhecido”. Tudo isso se encontra na filosofia ariana, sob a personificação de Vishvakarman, Indra, Vishnu, etc.; estando, porém, expresso mui filosoficamente, com aspectos inusitados, na obra a que nos referimos.

Rishi-Prajâpati dos hindus, os Elohim ou Filhos de Deus dos Judeus, os Espíritos Planetários de todas as nações, que foram considerados Deuses pelos homens. O Ocultista considera também Âdi-Shakti — a emanação direta de Mûlaprakriti, a ETERNA RAIZ DE AQUILO, e o aspecto feminino da Causa Criadora, Brahmâ, em sua forma âkâshica de Alma Universal — como Mâyâ, filosoficamente, e causa da Mâyâ humana.

Esse modo de ver não o impede, porém, de crer em sua existência por todo o tempo em que esta perdura, isto é, durante um Mahâmanvantara; nem de aplicar o Âkâsha, a irradiação de Mûlaprakriti, a fins práticos137, visto que a Alma do Mundo está relacionada com todos os fenômenos naturais, conhecidos ou desconhecidos da ciência. As religiões mais antigas do mundo – exotericamente, porque todas têm uma só raiz ou fundamento esotérico — são a indostânica, a masdeísta e a egípcia.

Segue-se a dos Caldeus, produto das anteriores, hoje inteiramente perdida para o mundo, exceto no Sabeísmo desfigurado pela interpretação atual dos arqueólogos. Depois, passando por certo número de religiões de que falaremos mais adiante, vem a judaica, que esotericamente acompanha a linha do magismo babilônico, como se vê na Cabala, e exotericamente é, como no Gênesis e no Pentateuco, uma coletânea de lendas alegóricas. Lidos à luz do Zohar, os quatro primeiros capítulos do Gênesis são os fragmentos de uma página altamente filosófica de cosmogonia. Vistos em sua aparência simbólica, não passam de um conto para crianças, um 137 Por oposição ao universo manifestado da matéria, o termo Mûlaprakriti (de mûla, raiz, e prakriti, natureza), ou a matéria primordial não manifestada — a que os alquimistas ocidentais deram o nome de Terra de Adão — é aplicado pelos Vedantinos e Parabrahman.

A matéria é dual na metafísica religiosa, e sétupla nos ensinamentos esotéricos, como todas as coisas no Universo. Como Mûlaprakriti, é não diferenciada e eterna; como Vyakta, vem a ser diferenciada e condicionada, segundo o Sbvetâshvatâra Upanishad, I, 8, e o Devi Ehâgavata Purâna. O autor das quatro conferências sobre o Bhagavad Gîtâ diz, referindo-se a Mûlaprakriti: “Do ponto de vista objetivo (do Logos), Parabrahman aparece no Logos como Mûlaprakriti… Naturalmente que este Mûlaprakriti para ele é material, como todo objeto material o é para nós… Parabrahman é uma realidade incondicionada e absoluta, e Mûlaprakriti uma espécie de véu lançado sobre ele.” (The Tbeosophist, vol. VIII, pág. 304).

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espinho incômodo cravado no flanco da ciência e da lógica – efeito evidente de Carma. Deixá-los servir de prólogo ao Cristianismo foi como que uma cruel vindita dos rabinos, que sabiam melhor o que significava o seu Pentateuco.

Foi um protesto mudo contra a espoliação de que eram alvo, e em verdade os judeus levam hoje vantagem sobre os seus perseguidores tradicionais. As crenças esotéricas de que se trata serão explicadas à luz da Doutrina universal no curso desta exposição. O Catecismo Oculto contém as seguintes perguntas e respostas: Que é aquilo que sempre é? — O Espaço, o eterno Anupâdaka (que não tem pais). Que é aquilo que sempre foi? — O Germe na Raiz. Que ê aquilo que sem cessar vai e vem? — É o Grande Alento.

Então há três Eternos? — Não, os três são um. — O que sempre é, é um; o que sempre foi, é um; o que sempre está sendo e vindo a ser, é também um; e este é o Espaço. Explica, ó Lanu! (discípulo) — O Uno é um Círculo não interrompido (Anel) e sem circunferência, porque não está em parte alguma e está em toda parte; o Uno é o Plano sem limites do Círculo, que manifesta um Diâmetro somente durante os períodos manvantáricos; o Uno é o Ponto indivisível que não está situado em parte alguma, e percebido em toda parte durante aqueles períodos.

É a Vertical e a Horizontal, o Pai e a Mãe, a cúspide e a base do Pai, as duas extremidades da Mãe, que em realidade não chegam a parte alguma; porque o Uno é o Anel, como também os Anéis que estão dentro desse Anel. É 122 a Luz nas Trevas, e as Trevas na Luz: “o Alento que é eterno”. Atua de fora para dentro, quando está em toda parte, e de dentro para fora, quando não está em parte alguma — ou seja, Mâyâ138, um dos centros139. Expande-se (expiração e inspiração).

Quando se expande, a Mãe se difunde e se dispersa; quando se contrai, a Mãe se encolhe e se concentra. Assim se produzem os períodos de Evolução e de Dissolução, Manvantara e Pradaya. O Germe é indivisível e ígneo; a Raiz (o plano do Círculo) é fria; mas durante a Evolução e o Manvantara, o seu revestimento é frio e radiante. O Alento quente é o Pai que devora a progênie dos Elementos de múltiplas faces (heterogêneos) e deixa os que têm uma só face (homogêneos). O Alento frio é a Mãe que os concebe, que os forma, que os faz nascer e que os recolhe novamente em seu seio para tornar a formá-los outra vez na Aurora (do Dia de Brahmâ, ou Manvantara).

Para melhor compreensão dos leitores em geral, devemos esclarecer que a Ciência Oculta reconhece a existência de sete Elementos cósmicos, quatro dos

A filosofia esotérica, considerando como Mâyâ (ou a ilusão da ignorância) todas as coisas finitas, deve necessariamente olhar do mesmo modo todos os corpos e planetas intracósmicos, porque representam algo organizado e, portanto, finito. Assim, a expressão “atua de fora para dentro, etc.” se refere, na primeira parte, à aurora do Mahâmanvantara, ou grande revolução após uma das completas dissoluções periódicas de todas as formas compostas da natureza, em sua última essência ou elemento, do planeta à molécula; e, na segunda parte, ao Manvantara parcial ou local, que pode ser solar ou somente planetário.

Por “centro” aqui se entende um centro de energia ou foco cósmico. Quando a chamada “Criação”, ou formação de um planeta, é realizada por esta força que os Ocultistas designam como Vida, e a Ciência como Energia, então se dá o processo de dentro pata fora, tendo em vista que todos os átomos contêm em si mesmos a energia criadora do Alento divino.

Assim é que — enquanto, depois de um Pralaya Absoluto, quando o material preexistente consiste em só Um Elemento, e o Alento “está em toda parte”, este último atua de fora para dentro — depois de um Pralaya menor, havendo tudo permanecido em statu quo (um estado de resfriamento, por assim dizer, como a Lua), ao primeiro estremecimento do Manvantara o planeta ou os planetas começam o seu retorno à vida, de dentro para fora. 123 quais são inteiramente físicos, e o quinto semimaterial (o Éter); este último chegará a ser visível no ar até o final de nossa Quarta Ronda, e terá a supremacia sobre os outros na Quinta Ronda.

Os dois restantes ainda estão absolutamente fora do alcance da percepção humana. Aparecerão, todavia, como pressentimentos, durante as Raças Sexta e Sétima da Ronda atual, e se tornarão de todo conhecidos na Sexta e na Sétima Ronda, respectivamente140. Estes sete Elementos, com seus inumeráveis sub-elementos (que são muito mais numerosos que os admitidos pela ciência) não passam de modificações condicionadas e aspectos do Elemento Uno e único. Este último não é o Éter141, nem sequer o Âkâsha, mas a fonte de ambos.

O Quinto Elemento, que a ciência hoje tende a admitir, não é o Éter imaginado por Sir Isaac Newton, ainda que este lhe desse tal nome associando-o provavelmente com AEther, “o Pai-Mãe” da antiguidade. Como disse Newton por intuição: “A Natureza trabalha perpetuamente em ciclos, fazendo gerar fluidos de sólidos, coisas fixas de coisas voláteis, e voláteis das fixas; coisas sutis das grosseiras, e coisas grosseiras das sutis. . . Assim, é possível que todas as coisas tenham sua origem no Éter.”

É curioso observar como, no evolucionar cíclico das ideias, o pensamento antigo parece refletir-se na especulação moderna. Cabe indagar, por exemplo, se Herbert Spencer teria lido e estudado os antigos filósofos hindus, quando escreveu certas passagens de seus First Principies (pág. 482), ou se foi por acaso uma centelha independente de percepção interna que o fez dizer semi corretamente: “Por ser, do mesmo modo que a matéria, uma quantidade indestrutível e fixa (?), deve-se supor que, ao atingir o movimento um limite — seja qual for a direção do impulso recebido (?) — à mudança por ele operada na distribuição da matéria sucederá, então e necessariamente, uma distribuição em sentido inverso.

Ao que parece, as forças universalmente coexistentes de atração e de repulsão, que, conforme vimos, atuam ritmicamente em todas as mudanças menores do Universo inteiro, atuam também ritmicamente na totalidade de suas transformações, e produzem ora um período incomensurável, durante o qual as forças de atração, predominando, originam uma concentração universal, ora um período igualmente longo em que as forças de repulsão, prevalecendo, dão lugar a uma difusão universal — ou seja, eras alternadas de evolução e dissolução.” 141 Sejam quais sejam os pontos de vista da ciência física sobre este assunto, tem a ciência oculta ensinado, desde há séculos, que o Âkâsha (do qual o Éter é a forma mais grosseira), o quinto Princípio Cósmico universal — a que corresponde e de onde procede o Manas humano — é, cosmicamente, uma matéria radiante, fria, diatérmana e plástica, criadora em sua natureza física, correlativa nos seus aspectos e partes mais grosseiras, e imutável nos seus princípios superiores.

Na sua condição criadora, é chamada a Sub-Raiz; e em conjunção com o calor radiante “faz retornar A vida mundos mortos”. Em seu aspecto superior, é a Alma do Mundo; em seu aspecto é o Destruidor. 142 Hypoth, 1675. 124 O leitor não deve perder de vista que as Estâncias apresentadas neste livro tratam unicamente da cosmogonia de nosso sistema planetário e do que é visível em torno dele, após um Pralaya solar.

Os ensinamentos secretos referentes à evolução do Cosmos Universal não podem ser expostos, pois não seriam compreendidos nem mesmo pelas inteligências mais esclarecidas de nossa época; e parece haver poucos Iniciados, até entre os de grau mais elevado, a quem seja permitido especular a este respeito. Dizem, aliás, os Mestres, com toda a franqueza, que nem sequer os Dhyâni-Chohans de alta categoria penetraram jamais os mistérios além dos limites que separam as miríades de sistemas solares daquele a que se chama o “Sol Central”.

O que se traz à luz, portanto, entende só com o nosso Cosmos visível, depois de uma Noite de Brahmâ. Antes de entrar o leitor no conhecimento das Estâncias do Livro de Dzyan, que formam a base da presente obra, é absolutamente necessário que apreenda alguns conceitos fundamentais que informam e interpenetram todo o sistema de pensamento para o qual sua atenção vai ser dirigida.

A Doutrina Secreta estabelece três proposições fundamentais:

I. Um PRINCÍPIO Onipresente, Sem Limites e Imutável, sobre o qual toda especulação é impossível, porque transcende o poder da concepção humana e porque toda expressão ou comparação da mente humana não poderia senão diminuí-lo. Está além do horizonte e do alcance do pensamento, ou, segundo as palavras do Mândûkya, é “inconcebível e inefável”.

Para que possa compreender mais claramente estas ideias, deve o leitor adotar como ponto de partida o seguinte postulado: Há uma Realidade Absoluta, anterior a tudo o que é manifestado ou condicionado. Esta Causa Infinita e Eterna, vagamente formulada no “Inconsciente” e no “Incognoscível” da filosofia europeia em voga, é a Raiz sem Raiz de “tudo quanto foi, é e será”.

É, naturalmente, desprovida de todo e qualquer atributo, e permanece essencialmente sem nenhuma relação com o Ser manifestado e finito.

Asseidade: entre os escolásticos, qualidade fundamental de Deus que O distingue de todos os demais seres do universo, pela qual Ele possui em si mesmo a causa ou o princípio de sua própria existência, sendo portanto incriado, além de absolutamente autônomo, livre e incondicionado ☞ f. não pref.:

É a “Asseidade”, mais propriamente que o Ser, Sat em sânscrito, está fora do alcance de todo pensamento ou especulação. Esta Asseidade é simbolizada na Doutrina Secreta sob dois aspectos.

De um lado, o Espaço Abstrato absoluto, representando a subjetividade pura, aquilo que nenhuma mente humana pode excluir de qualquer conceito, nem conceber como existente em si mesmo.

De outro lado, o Movimento Abstrato absoluto, que representa a Consciência Incondicionada.

Os próprios pensadores ocidentais têm afirmado que a consciência, separada da transformação, é inconcebível para nós, e que o movimento é o melhor símbolo da transformação e sua característica essencial.

Este último aspecto da Realidade Una é ainda simbolizado pela expressão “o Grande Sopro”, e o símbolo é bastante sugestivo para necessitar de outra explicação.

Assim, o primeiro axioma fundamental da Doutrina Secreta é aquele UM ABSOLUTO metafísico — a ASSEIDADE, representada na Trindade teológica pela inteligência finita.

Alguns esclarecimentos adicionais podem, contudo, ser úteis ao estudante. Herbert Spencer ultimamente modificou seu Agnosticismo, ao ponto de afirmar que a natureza da “Causa Primeira”, que o Ocultista faz derivar, com mais “Primeira” é a palavra que pressupõe necessariamente algo “que foi o primeiro a aparecer”, “o primeiro no tempo, no espaço e na categoria”; e, portanto, algo finito e condicionado.

Assim, o lógica, da Causa sem Causa, o “Eterno”, o “Incognoscível”, pode ser essencialmente a mesma que a da consciência que reside dentro de nós; em uma palavra, que a Realidade impessoal que interpenetra o Cosmos é o puro número do pensamento. Este passo à frente o leva bem perto do princípio esotérico e vedantino. Parabrahman, a Realidade Una, o Absoluto, é o campo da Consciência Absoluta, vale dizer, daquela Essência que está fora de toda relação com a existência condicionada, e cuja existência consciente é um símbolo condicionado. Mas, logo que saímos, em pensamento, desta Negação Absoluta (para nós), surge o dualismo no contraste entre o Espírito (ou Consciência) e a Matéria, entre o sujeito e o, objeto.

O Espírito (ou Consciência) e a Matéria devem ser, no entanto, considerados não como realidades; independentes, mas como duas facetas ou aspectos do Absoluto (Parabrahman), que constituem a base do ser condicionado, seja subjetivo ou objetivo.

Se consideramos essa tríade metafísica como a raiz de que procede toda manifestação, o Grande Sopro assume o caráter de Ideação pré-cósmica. É a fons et origo da força e de toda consciência individual; e de onde promana a inteligência que preside o vasto plano da Evolução cósmica. Por outra parte, a Substância-Raiz pré-cósmica (Mûlaprakriti) é o aspecto do Absoluto que serve de substratum a todos os planos objetivos da natureza. Assim como a Ideação Pré-Cósmica é a raiz da toda consciência individual, assim também a Substância Pré-Cósmica é o substratum da matéria nos seus diversos graus de manifestação. Ocultismo oriental chama ao Todo Absoluto “a Causa Una e sem Causa, a Raiz sem Raiz”, e aplica o nome “Primeira Causa” ao Logos, no sentido que Platão dá a este vocábulo.

Daí resulta que o contraste desses dois aspectos do Absoluto é essencial pura a existência do Universo manifestado. Isolada da Substância cósmica, a Ideação Cósmica não poderia manifestar-se como consciência individual; pois só por meio de um veículo (upâdhi) de matéria é que a consciência emerge como “Eu sou Eu”, sendo necessária uma base física para concentrar um Raio da Mente Universal a certo grau de complexidade. E por sua vez, separada da Ideação Cósmica, a Substância Cósmica não passaria de uma abstração vazia, e nenhuma manifestação de consciência poderia surgir. O Universo Manifestado acha-se, portanto, informado pela dualidade, que vem a ser a essência mesma de sua Existência como manifestação.

Mas, assim como os polos opostos de Sujeito e Objeto, de Espírito e Matéria, não são mais que aspectos da Unidade Una, que é a sua síntese, assim também no Universo Manifestado existe “algo” que une o Espírito à Matéria, Sujeito ao Objeto. Esse “algo”, que a especulação ocidental presentemente desconhece, é chamado Fohat pelos Ocultistas. É a “ponte” por meio da qual as ideias existentes no Pensamento Divino passam a imprimir-se sobre a Substância Cósmica, como Leis da Natureza. Fohat é, assim, a energia dinâmica da Ideação Cósmica; ou então, encarado sob outro aspecto, e o “médium” inteligente, o poder diretor de toda manifestação, o Pensamento Divino transmitido e manifestado por intermédio dos Dhyân Chohans145, os Arquitetos Mundo visível.

Assim, do Espírito ou Ideação Cósmica provém a nossa Consciência; da Substância Cósmica, os diversos veículos em que esta Consciência se individualiza e chega ao Eu, à consciência de si mesma ou reflexiva; enquanto Fohat, em suas manifestações várias, é o elo misterioso une o Espírito à Matéria, o princípio animador que eletriza cada átomo dar-lhe vida. 145 Os Arcanjos, Serafins etc., da Teologia cristã. 128 O seguinte resumo dará ao leitor uma noção mais clara:

1. O ABSOLUTO: o Parabrahman dos Vedantinos ou a Realidade Una, Sat, que é, como disse Hegel, ao mesmo tempo Absoluto Ser e Não-Ser.

2. O Primeiro Logos: o impessoal e, em filosofia, não manifestado; o Logos precursor do Manifestado. É a “Causa Primeira”, o “Inconsciente” dos panteístas europeus.

3. O Segundo Logos: Espírito-Matéria, Vida; o “Espírito do Universo”, Purusha e Prakriti.

4. O Terceiro Logos: A Ideação Cósmica; Mahat ou Inteligência, a alma Universal do Mundo; o Número Cósmico da Matéria, a base das Operações inteligentes da Natureza; também chamado Mahâ-Buddhi.

A REALIDADE UNA; seus aspectos duais no Universo condicionado. A Doutrina Secreta afirma, além disso:

II. A Eternidade do Universo in toto, como plano sem limites; periodicamente “cenário de Universos inumeráveis, manifestando-se e desaparecendo constantemente”, chamados “as Estrelas que se manifestam” e “as Centelhas da Eternidade”. “A Eternidade do Peregrino” é como um abrir Estes três Logos Subjetivos não devem ser confundidos com os Três Logos Objetivos da Manifestação quando o Terceiro Logos Subjetivo se converte no Primeiro Logos Objetivo Criador, a Mente Universal, Mahat, impregnando todas as coisas com os atributos da Inteligência.

Veja-se A Study in Consciousness, de Annie Besant, seção “Origins”. (Nota da Edição de Adyar, Vol. I, pág. 82; 1938.)  “Peregrino” é o nome dado à nossa Mônada (os Dois em Um) durante seu ciclo de encarnações. É o único Princípio imortal e eterno que existe em nós, sendo uma parcela indivisível do todo integral, o Espírito Universal, de que emana e em que é absorvida no final do ciclo.

Quando se diz que emana do Espírito Uno, usa-se de uma expressão tosca e incorreta, por falta de palavras adequadas. Os Vedantinos a chamam Sutrâtmâ (Alma-Fio); suas explicações, no entanto, diferem algo das dos 129 e fechar de olhos da Existência-por-si-Mesma”, segundo o Livro de Dzyan.

“O aparecimento e o desaparecimento de Mundos são como o fluxo e o refluxo periódico das marés.” Este segundo asserto da Doutrina Secreta é a universalidade absoluta daquela lei de periodicidade, de fluxo e refluxo, de crescimento e decadência, que a ciência física tem observado e registrado em todos os departamentos da Natureza. Alternativas tais como Dia e Noite, Vida e Morte, Sono e Vigília são fatos tão comuns, tão perfeitamente universais e sem exceção, que será fácil compreender por que divisamos nelas uma das leis absolutamente fundamentais do Universo. Ensina também a Doutrina Secreta: III. A identidade fundamental de todas as Almas com a Alma Suprema Universal, sendo esta última um aspecto da Raiz Desconhecida; e a peregrinação obrigatória para todas as Almas, centelhas daquela Alma Suprema, através do Ciclo de Encarnação, ou de Necessidade, durante todo esse período.

Em outras palavras: nenhum Buddhi puramente espiritual (Alma Divina) pode ter uma existência consciente independente, antes que a centelha, emanada da Essência pura do Sexto Princípio Universal — ou seja, da ALMA SUPREMA – haja passado por todas as formas elementais pertencentes ao mundo fenomenal do Manvantara, e adquirido a individualidade, primeiro por impulso natural e depois à custa dos próprios esforços, conscientemente dirigidos e regulados pelo Carma, escalando assim todos os graus de inteligência, desde o Manas inferior Ocultistas. Cabe aos Vedantinos explicar a diferença. Veja-se o Vol II, Parte II, “Dias e Noites de Brahmâ”.

até o Manas superior; desde o mineral e a planta ao Arcanjo mais sublime (Dhyâni-Buddha). A Doutrina axial da Filosofia Esotérica não admite a outorga de privilégios nem de dons especiais ao ser humano, salvo aqueles que forem conquistados pelo próprio Ego com o seu esforço e mérito pessoal, ao longo de uma série de metempsicoses e reencarnações.

Por isso dizem os hindus que o Universo é Brahman e Brahmâ; porque Brahman está em todo átomo do Universo, sendo os seis princípios da natureza a expressão ou os aspectos vários e diferenciados do Sétimo e Uno, a Realidade única do Universo, seja cósmico ou microcósmico; e ainda porque as permutações psíquicas, espirituais e físicas do Sexto (Brahmâ, o veículo de Brahman), no plano da manifestação e da forma, são consideradas, por antífrase metafísica, ilusórias e mayávicas. Embora a raiz de todos os átomos, individualmente, e de todas as formas, coletivamente, seja o Sétimo Princípio, ou a Realidade Una, em sua aparência manifestada, fenomenal e temporária tudo isso não é senão uma ilusão efêmera dos nossos sentidos148 .

Em seu modo de ser absoluto, o Princípio Uno, sob seus dois aspectos, Parabrahman e Mûlaprakriti, não tem sexo, é incondicionado e eterno. Sua emanação manvantárica, periódica, ou irradiação primária, é também una, andrógina, e finita em seu aspecto fenomenal. Quando, por sua vez, a emanação irradia, todos os seus raios são igualmente andróginos, convertendo-se nos princípios masculino e feminino em seus aspectos inferiores. Depois de um Pralaya, quer seja o Grande Pralaya ou o Pralaya Menor — deixando este último os mundos 148 Veja-se o Vol. II, Parte III, “Deuses, Mônadas e Átomos” (Seção XIV).

131

em statu quo — o primeiro a despertar para a vida ativa é o plástico Âkâsha, o Pai-Mãe, o Espírito e a Alma do Éter, ou seja, o Plano do Círculo. O Espaço é chamado a Mãe, antes de sua atividade cósmica, e Pai-Mãe no primeiro estágio do seu despertar. Na Cabala ele é também Pai-Mãe-Filho. Mas, enquanto na doutrina oriental constituem estes o Sétimo Princípio do Universo Manifestado, ou ÂtmâBuddhi-Manas (Espírito-Alma-Inteligência), ramificando-se e dividindo-se a Tríade em sete Princípios Cósmicos e em sete Princípios Humanos, na Cabala ocidental dos místicos cristãos correspondem à Tríade ou Trindade, e, entre os seus ocultistas, ao Jehovah macho-fêmea, Jah-Havah.

Nisso consiste toda a diferença entre as Trindades esotérica e cristã. Os místicos e os filósofos, os panteístas orientais e ocidentais, sintetizam sua Tríade pré-genética na abstração divina pura. Os ortodoxos a antropomorfizam. Hiranyagarbha, Hari e Sansara150 — as três Hipóstases do Espírito que se manifesta (o “Espírito do Espírito Supremo”, título sob o qual Prithivi, a Terra, saúda a Vishnu em seu primeiro Avatar) — são as qualidades abstratas e puramente metafísicas da Formação, da Conservação e da Destruição; são também os três Avasthâs (Hipóstases) divinos daquele que “não parece com as coisas criadas”, Achyuta, nome de Vishnu. Os cristãos ortodoxos cindem a sua Divindade pessoal criadora em três pessoas distintas e não admitem Divindade superior. Esta última, em Ocultismo, é o Triângulo abstrato; para o ortodoxo, é o cubo perfeito.

O deus criador, ou antes a coletividade dos deuses criadores, é considerado pelo filósofo oriental como Bhrântidarshanatah, “falsas aparências”, algo “concebido, em razão de aparências. Não são os organismos físicos, e muito menos os seus princípios psíquicos, o que permanece em Statu quo durante os grandes Pralayas cósmicos ou mesmo solares, e sim unicamente suas “fotografias”. âkâshicas ou astrais.

Mas, durante os Pralayas Menores, os planetas, uma vez envolvidos pela “Noite”, continuam intatos, apesar de mortos, à maneira de um grande animal que, preso e sepultado nos gelos polares, assim se conserva durante largos períodos. Isto é: Brahma, Vishnu e Shiva.  enganosas, como uma forma material”, e que se explica como proveniente do conceito ilusório da Alma humana pessoal e egoísta (o Quinto Princípio inferior). Tudo isso foi expresso de maneira bastante feliz na tradução corrigida que aparece nas notas de Fitzedward Hall sobre a versão de Wilson do Vishnu Purâna. “Brahma, em sua totalidade, possui essencialmente o aspecto de Prakriti, tanto evolucionado como não evolucionado (Mûlaprakriti), e também o aspecto do Espírito e o do Tempo.

O Espírito, ó tu, duas vezes nascido!, é aspecto principal do Brahma Supremo151. O aspecto seguinte é duplo: Prakriti evolucionado e não evolucionado; e o último é o Tempo.” Cronos, na teogonia grega, também é representado como um deus ou agente engendrado. No simbolismo sagrado, aquele período do despertar do Universo figura como um círculo perfeito com o Ponto (Raiz) no centro. Era um signo universal; também o encontramos na Cabala. Entretanto, a Cabala ocidental, atualmente nas mãos dos místicos cristãos, o ignora por completo, apesar de achar-se claramente assinalado no Zobar.

Estes sectários começam pelo fim: tomam como símbolo do Cronos pré-genético a cruz inscrita no círculo , que denominam “a União da Rosa e da Cruz”, o grande mistério da geração oculta, de onde provém o nome Rosa-cruz (Rosa Cruz)! É o que se pode depreender de um dos mais importantes e mais bem conhecidos de seus símbolos, o qual até hoje não foi jamais compreendido, inclusive por parte dos místicos modernos: o do Pelicano que 151 Spencer – apesar de, tal como Schopenhauer e Von Hartmann, exprimir somente um aspecto dos antigos filósofos esotéricos, e, portanto, conduzir os seus leitores à lúgubre região da desesperança agnosticista – assim formula reverentemente o grande mistério: “O que permanece imutável em quantidade, embora sempre cambiante nas formas, sob estas aparências sensíveis que o Universo nos apresenta, é um poder desconhecido e incognoscível, que nos vemos obrigados a reconhecer como ilimitado no Espaço e sem começo nem fim no Tempo”.

Só a Teologia pretensiosa se atreve a medir o Infinito e a descerrar o véu que cobre o Insondável e o Incognoscível; jamais o faz a Ciência, nem a Filosofia. 133 dilacera seu próprio peito para alimentar os sete filhos — em verdade, um credo dos Irmãos Rosa-cruzes diretamente originado da Doutrina Secreta oriental. Brahman (neutro) é chamado Kâlahamsa, que significa, conforme explicação dos orientalistas do Ocidente, o Cisne Eterno (ou Ganso); e assim também Brahma, o Criador. Com isto se comete um grande erro. É a Brahman (neutro) que se deve aplicar o nome de Hamsa-Vâhana (o que usa o Cisne como veículo), e não a Brahma, o Criador.

Este último é o verdadeiro Kâlahamsa; ao passo que Brahman (neutro) é Hamsa e A-Hamsa, como será esclarecido nos Comentários. Tenha-se presente que os termos Brahma e Parabrahman são aqui empregados, não porque pertençam à nossa nomenclatura esotérica, mas simplesmente por serem mais familiares aos estudantes ocidentais. Ambos são perfeitamente equipolentes aos nossos termos de uma, três e sete vogais, que correspondem ao TODO UNO e ao Uno “Todo em Tudo”.

Tais são os conceitos fundamentais em que assenta a Doutrina Secreta. Não é esta a ocasião própria para fazer-lhes a defesa ou dar provas de sua razão de ser, nem podemos tampouco deter-nos em demonstrar que em verdade se acham eles no fundo de todos os sistemas de filosofia digno deste nome, embora, por vezes, sob enganosas aparências. Quando o leitor os houver compreendido claramente, e percebido a luz que espargem sobre todos os problemas da vida, mais nenhuma identificação se tornará necessária; pois a verdade lhe saltará aos olhos, tão evidente como a luz do Sol. Passo, assim, ao assunto de que tratam as Estâncias apresentadas neste volume, fazendo-as preceder de um pequeno esforço, a fim de facilitar o trabalho do estudante e dar-lhe, em poucas palavras, ama visão panorâmica dos conceitos que ali se expõem.

A história da Evolução Cósmica, tal como figura nas Estâncias, é, em certo sentido, a fórmula algébrica abstrata da mesma evolução. Não deve o leitor, por isso, esperar que nelas se encontre a explicação de todas as fases e transformações verificadas desde os primeiros passos da Evolução Universal até o nosso estado atual. Dar semelhante explicação seria tão impossível ao escritor quanto incompreensível àqueles que se não acham ainda em condições de penetrar, sequer, a natureza do plano de existência ao em que tem, por enquanto, confinada a sua consciência.

As 7 Estâncias

As Estâncias oferecem uma fórmula abstrata que se aplica a toda evolução:

  • à de nossa diminuta Terra;
  • à da Cadeia Planetária a que pertence a Terra;
  • à do Universo Solar no qual se integra esta Cadeia; e assim sucessivamente, em escala ascendente, até onde a nossa mente se vê compelida a deter-se, exausta em sua capacidade.

As sete Estâncias expostas neste volume representam os sete termos dessa fórmula abstrata. Referem e descrevem os sete grandes estádios do processo evolutivo, que os Purânas mencionam como as “sete criações” e a Bíblia como os “dias da Criação”

Estância I

A Estância l descreve o estado do TODO UNO durante o Pralaya (noite eterna), antes do primeiro movimento da Manifestação em seu despertar.

Tal estado não pode ser expresso senão simbolicamente, pois é impossível defini-lo. E até mesmo o símbolo tem que ser negativo; porque, em se tratando do estado do Absoluto per se, não pode comportar nenhum dos atributos que nos servem para descrever os objetos em termos positivos. Daí a razão por que tal estado só pode ser sugerido por meio da negação de todos aqueles atributos mais abstratos, que os seres humanos mais pressentem do que propriamente percebem, como o limite máximo a que pode chegar o seu poder de concepção.

Estância II

A Estância II refere-se a um estado que para a inteligência ocidental é quase tão idêntico ao descrito na primeira Estância que a explanação das diferenças exigiria, por si só, um tratado. Convém portanto, deixar à intuição e às faculdades superiores do leitor o assimilar, até onde seja possível, o significado das frases alegóricas que ali se encontram. Em verdade, deve-se ter presente que estas Estâncias falam mais às faculdades íntimas que à inteligência ordinária do homem físico.

Estância III 

Mônada

A Estância III descreve o despertar do Universo para a vida após o Pralaya. Mostra o emergir das Mônadas do seu estado de absorção no UNO; é o primeiro e o mais alto estádio na formação dos Mundos — podendo aplicar-se o termo Mônada tanto aos vastos Sistemas Solares como ao átomo mais íntimo.

Estância IV

Hierarquia Setenária. “Criação dos Deuses”

A Estância IV expõe a diferenciação do “Germe” do Universo na Hierarquia Setenaria de Poderes Divinos conscientes, que são as manifestações ativas da Suprema Energia Una. São eles os construtores e modeladores, numa palavra os criadores de todo o Universo manifestado, no único sentido em que se faz inteligível o nome de “Criador”; dão forma ao Universo e o dirigem; são os Seres inteligentes que ajustam e controlam a evolução, encarnando em si mesmos aquelas manifestações da Lei Una que conhecemos como “Leis da Natureza”.

Genericamente são chamados Dhyân Chohans, embora cada um dos diversos grupos tenham sua denominação própria na Doutrina Secreta. Na mitologia hindu essa fase da evolução é conhecida como a “Criação dos Deuses”.

Estância V

Formação do mundo

A Estância V apresenta o processo da formação do mundo. Em primeiro lugar, Matéria Cósmica difusa; depois, o “Torvelinho de Fogo“, primeiro estádio da formação de uma nebulosa. A nebulosa se condensa e, depois de passar por várias transformações, forma um Universo Solar, uma Cadeia Planetária ou um simples Planeta, conforme o caso.

Estância VI

A Estância VI indica as fases subsequentes da formação de um “Mundo”, descrevendo a evolução deste Mundo até o seu quarto grande período, que corresponde àquele em que vivemos presentemente.

Estância VII

A Estância VII dá prosseguimento à história, e traça a descida da vida até o aparecimento do ser humano; e assim termina o livro primeiro de A DOUTRINA SECRETA.

O desenvolvimento do “Homem”, desde que surgiu sobre a Terra, na presente Ronda, até o estado em que hoje se encontra, constitui a matéria do livro segundo.

Livro de Dzyan

As Estâncias, que formam a tese de todas as seções, estão reproduzidas mediante sua tradução em linguagem moderna: apresentá-las no estilo arcaico do original, com suas expressões e termos enigmáticos, seria complicar e dificultar o assunto de maneira mais que inútil.

Fazemos intercalar excertos das traduções chinesa, tibetana e sânscrita do texto original em Senzar dos Comentários e Glosas acrescentados ao Livro de Dzyan; sendo esta a primeira vez que essas traduções são vertidas em uma língua europeia.

Ficam somente as palavras intraduzíveis, que não se compreendam sem uma explicação; mas todas elas constarão em sua forma sânscrita. Não é preciso recordar ao leitor que tais palavras são, em quase todos os casos, o resultado da última evolução daquela língua, e pertencem à Quinta Raça-Raiz. O sânscrito, tal como hoje se conhece, não era falado pelos Atlantes, e a maior parte dos termos filosóficos empregados nos sistemas da índia posteriores ao período do Mahâbhârata não figuram nos Vedas, nem nas Estâncias originais — e sim os respectivos equivalentes. O leitor não teósofo pode, se bem lhe parece, ver em tudo o que se segue não mais que um conto de fadas; ou, quando muito, uma especulação de sonhadores, destituída de provas; ou, ainda, uma nova hipótese, entre tantas outras, científicas, passadas, presentes e futuras, algumas já condenadas outras em posição de simples expectativa.

 

PARTE I: A EVOLUÇÃO CÓSMICA ……………………………………………………………..139

Sete Estâncias do “Livro Secreto de Dzyan” com Comentários • A evolução cósmica nas sete estâncias do Livro de Dzyan • Comentários •

SETE ESTÂNCIAS DO LIVRO SECRETO DE DZYAN (com comentários)

Não existia nada: nem o claro céu, Nem ao alto a imensa abóbada celeste. O que tudo encerrava, tudo abrigava, E tudo encobria, que era?

Era das águas O abismo insondável?

Não existia a morte, Mas nada havia imortal. E separação Também não existia entre a noite e o dia.

Só o uno respirava em Si mesmo e sem ar: Não existia nada, senão ele.

E ali Reinavam as trevas, tudo se escondia

Na escuridão profunda: oceano sem luz.

O germe, que dormitava em seu casulo,

Desperta ao influxo do ardente calor

E faz então brotar a Natureza una. ……………………………………………………………………………………………………………………….

Quem sabe o segredo?

Quem o revelou?

De onde, de onde veio a criação multiforme?

Os Deuses só mais tarde à vida surgiram.

De onde esta criação imensa?

Quem o sabe?

Por ação ou omissão de Sua Vontade?

O Sublime Vidente, no alto dos céus,

O segredo conhece…

Talvez nem ele…

Profundando a eternidade…

Inda mesmo antes De lançados os alicerces do mundo, ……………………………………………………………………………………………………………………….

Tu eras.

E quando o fogo subterrâneo Romper sua prisão, destruindo a estrutura,

Oh! ainda serás Tu como eras antes.

Também quando o tempo já não existir Nenhuma transformação conhecerás,

Mente infinita, divina Eternidade!

RIG VEDA

A EVOLUÇÃO CÓSMICA NAS SETE ESTÂNCIAS DO LIVRO DE DZYAN

ESTÂNCIA I

1. O Eterno Pai, envolto em suas Sempre Invisíveis Vestes, havia adormecido uma vez mais durante Sete Eternidades.

2. O Tempo não existia, porque dormia no Seio Infinito da Duração.

3. A Mente Universal não existia, porque não havia Ah-hi para contê-la.

4. Os Sete Caminhos da Felicidade não existiam. As Grandes Causas da Desgraça não existiam, porque não havia ninguém que- as produzisse e fosse por elas aprisionado.

5. Só as trevas enchiam o Todo Sem Limites, porque Pai, Mãe e Filho eram novamente Um, e o Filho ainda não havia despertado para a Nova Roda e a Peregrinação por ela.

6. Os Sete Senhores Sublimes e as Sete Verdades haviam cessado de ser; e o Universo, filho da Necessidade, estava mergulhado em Paranishpanna, para ser expirado por aquele que é e todavia não é. Nada existia.

7. As Causas da Existência haviam sido eliminadas; o Visível, que foi, e o Invisível, que é, repousavam no Eterno Não-Ser — o Único Ser.

8. A Forma Una de Existência, sem limites, infinita, sem causa, permanecia sozinha, em um Sono sem Sonhos; e a Vida pulsava inconsciente no Espaço Universal, em toda a extensão daquela Onipresença que o Olho Aberto de Dangma percebe.

9. Onde, porém, estava Dangma quando o Alaya do Universo se encontrava em Paramârtha, e a Grande Roda era Anupâdaka?

ESTÂNCIA II

1…Onde estavam os Construtores, os Filhos Resplandecentes da Aurora do Manvantara?

… Nas Trevas Desconhecidas, em seu Ah-hi Paranishpanna.

Os Produtores da Forma, tirada da Não-Forma, que é a Raiz do Mundo, Devamâtri e Svabhâvat, repousavam na felicidade do Não-Ser.

2. …Onde estava o Silêncio? Onde os ouvidos para percebê-lo?

Não; não havia Silêncio nem Som: nada, a não ser o Incessante Alento Eterno, para si mesmo ignoto.

3. A Hora ainda não havia soado; o Raio ainda não havia brilhado dentro do Germe; a Matripâdma ainda não entumecera.

4. Seu Coração ainda não se abrira para deixar penetrar o Raio Único e fazê-lo cair em seguida, como Três em Quatro, no Regaço de Mâyâ.

5. Os Sete não haviam ainda nascido do Tecido de Luz. O Pai-Mãe, Svabhâvat, era só Trevas; e Svabhâvat jazia nas Trevas.

6. Estes Dois são o Germe, e o Germe é Uno. O Universo ainda estava oculto no Pensamento Divino e no Divino Seio.

ESTÂNCIA III

1. …A última Vibração da Sétima Eternidade palpita através do Infinito. A Mãe entumece e se expande de dentro para fora, como o Botão de Lótus.

2. A Vibração se propaga, e suas velozes Asas tocam o Universo inteiro e o Germe que mora nas Trevas; as Trevas que sopram sobre as adormecidas Águas da Vida.

3. As Trevas irradiam a Luz, e a Luz emite um Raio solitário sobre as Águas e dentro das Entranhas da Mãe.

O Raio atravessa o Ovo Virgem; faz o Ovo Eterno estremecer, e desprende o Germe não Eterno, que se condensa no Ovo do Mundo.

4. Os Três caem nos Quatro. A Essência Radiante passa a ser Sete interiormente e Sete exteriormente.

O Ovo Luminoso, que é Três em si mesmo, coagula-se e espalha os seus Coágulos brancos como o leite por toda a extensão das Profundezas da Mãe: a Raiz que cresce nos Abismos do Oceano da Vida.

5. A Raiz permanece, a Luz permanece, os Coágulos permanecem; e, não obstante, Oeaohoo é Uno.

6. A Raiz da Vida estava em cada Gota do Oceano da Imortalidade, e o Oceano era Luz Radiante, que era Fogo, Calor e Movimento. As Trevas se desvaneceram, e não existiram mais: sumiram-se em sua própria Essência, o Corpo de Fogo e Água, do Pai e da Mãe.

7. Vê, ó Lanu! o Radiante Filho dos Dois, a Glória refulgente e sem par: o Espaço Luminoso, Filho do Negro Espaço,, que surge das Profundezas das Grandes Águas Sombrias. É Oeaohoo, o mais Jovem, o***. Ele brilha como o Sol. É o Resplandecente Dragão Divino da Sabedoria. O Eka é Chatur, e Chatur toma para si Tri, e a união produz Sapta, no qual estão os Sete, que se tornam o Tridasha, as Hostes e as Multidões. Contempla-o levantando o Véu e desdobrando-o de Oriente a Ocidente. Ele oculta o Acima, e deixa ver o Abaixo como a Grande Ilusão. Assinala os lugares para os Resplandecentes, Eka = Um, Chatur = Quatro, Tri = Três, Sapta = Sete. Tri x Dasha (dez) = Tridasha = três dezenas, ou uma hoste.  e converte o Acima num Oceano de Fogo sem praias, e o Uno Manifestado nas Grandes Águas.

8. Onde estava o Germe, onde então se encontravam as Trevas? Onde está o Espírito da Chama que arde em tua Lâmpada, ó Lanu? O Germe é Aquilo, e Aquilo é a Luz, o Alvo e Refulgente Filho do Pai Obscuro e Oculto.

9. A Luz é a Chama Fria, e a Chama é o Fogo, e o Fogo produz o Calor, que dá a Água — a Água da Vida na Grande Mãe.

10. O Pai-Mãe urde uma Tela, cujo extremo superior está unido ao Espírito, Luz da Obscuridade Única, e o inferior à Matéria, sua Sombra. A Tela é o Universo, tecido com as Duas Substâncias combinadas em Uma, que é Svabhâvat.

11. A Tela se distende quando o Sopro do Fogo a envolve; e se contrai quando tocada pelo Sopro da Mãe. Então os Filhos se separam, dispersando-se, para voltar ao Seio de sua Mãe no fim do Grande Dia, tornando-se de novo uno com ela. Quando esfria, a Tela fica radiante. Seus Filhos se dilatam e se retraem dentro de Si mesmos e em seus Corações; elas abrangem o Infinito.

12. Então Svabhâvat envia Fohat para endurecer os Átomos. Cada qual é uma parte da Tela. Refletindo o “Senhor Existente por Si Mesmo” como um Espelho, cada um vem a ser, por sua vez, um Mundo.

ESTÂNCIA IV

1. …Escutai, ó Filhos da Terra. Escutai os vossos Instrutores, os Filhos do Fogo. Sabei: não há nem primeiro nem último; porque tudo é Um Número que procede do Não-Número.

2. Aprendei o que nós, que descendemos dos Sete Primeiros, nós, que nascemos da Chama Primitiva, temos aprendido de nossos Pais…

3. Do Resplendor da Luz — o Raio das Trevas Eternas — surgem no Espaço as Energias despertadas de novo; o Um do Ovo, o Seis e o Cinco. Depois o Três, o Um, o Quatro, o Um, o Cinco, o duplo Sete, a Soma Total. E estas são as Essências, as Chamas, os Construtores, os Números, os Arûpa, os Rûpa e a Força ou o Homem Divino, a Soma Total. E do Homem Divino, a Soma Total. E do Homem Divino emanaram as Formas, as Centelhas, os Animais Sagrados e os Mensageiros dos Sagrados Pais dentro do Santo Quatro.

4. Este foi o Exército da Voz, a Divina Mãe dos Sete. As Centelhas dos Sete são os súditos e os servidores do Primeiro, do Segundo, do Terceiro, do Quarto, do Quinto, do Sexto e do Sétimo dos Sete. Estas Centelhas são chamadas Esferas, Triângulos, Cubos, Linhas e Modeladores; porque deste modo se conserva o Eterno Nidâna — o Oi-Ha-Hou.

5. O Oi-Ha-Hou — as Trevas, o Sem Limites, ou o Não-Número, Âdi-Nidâna, Svabhâvat, . I. O Âdi-Sanat, o Número; porque ele é Um. II. A Voz da Palavra, Svabhâvat, os Números; porque ele é Um e Nove. III. O “Quadrado sem Forma”. E estes Três, encerrados no , são o Quatro Sagrado; e os Dez são o Universo Arûpa. Depois vêm os Filhos, os Sete Combatentes, o Um, o Oitavo excluído, e seu Sopro, que é o Artífice da Luz.

6. …Em seguida, os Segundos Sete, que são os Lipika, produzidos pelos Três. O Filho excluído é Um. Os “Filhos-Sóis” são inumeráveis.

ESTÂNCIA V

1. Os Sete Primordiais, os Sete Primeiros Sopros do Dragão de Sabedoria, produzem por sua vez o Torvelinho de Fogo com os seus Sagrados Sopros de Circulação giratória.

2. Dele fazem o Mensageiro de sua Vontade. O Dzyu converte-se em Fohat; o Filho veloz dos Filhos Divinos, cujos Filhos são os Lipika, leva mensagens circulares. Fohat é o Corcel, e o Pensamento, o Cavaleiro. Ele passa como um raio através de nuvens de fogo; dá Três, Cinco e Sete Passos através das Sete Regiões Superiores e das Sete Inferiores. Ergue a sua Voz para chamar as Centelhas inumeráveis e as reúne.

3. Ele é o seu condutor, o espírito que as guia. Ao iniciar a sua obra, separa as Centelhas do Reino Inferior, que se agitam e vibram de alegria em suas radiantes moradas, e com elas forma os Germes das Rodas. Colocando-as nas Seis Direções do Espaço, deixa uma no Centro: a Roda Central.

4. Fohat traça linhas espirais para unir a Sexta à Sétima — a Coroa. Um Exército dos Filhos da Luz situa-se em cada um dos ângulos; os Lipika ficam na Roda Central. Dizem eles: “Isto é bom.” O primeiro Mundo Divino está pronto; o Primeiro, o Segundo. Então o “Divino Arûpa” se reflete no Chhâyâ Loka, a Primeira Veste de Anupâdaka.

5. Fohat dá cinco passos, e constrói uma roda alada em cada um dos ângulos do quadrado para os Quatro Santos… e seus Exércitos.

6. Os Lipika circunscrevem o Triângulo, o Primeiro Um, o Cubo, o Segundo Um e o Pentágono dentro do Ovo. É o Anel chamado “Não Pássaras”, para os que descem e sobem; para os que, durante o Kalpa, estão marchando para o Grande Dia “Sê Conosco”… Assim foram formados os Arûpa e os Rûpa: da Luz Única, Sete Luzes; de cada uma das Sete, sete vezes Sete Luzes. As Rodas velam pelo Anel…

ESTÂNCIA VI

1. Pelo poder da Mãe de Misericórdia e Conhecimento, Kwan-Yin — a Trina de Kwan-Shai-Yin, que mora em Kwan-Yin-Tien — Fohat, o Sopro de sua Progênie, o Filho dos Filhos, tendo feito sair das profundezas do Abismo inferior a Forma Ilusória de Sien-Tchan e os Sete Elementos.

2. O Veloz e Radiante Um produz os Sete Centros Laya, contra os quais ninguém prevalecerá até o Grande Dia “Sê Conosco”; e assenta o Universo sobre estes Eternos Fundamentos, rodeando Sien-Tchan com os Germes Elementais.

3. Dos Sete — primeiro Um manifestado, Seis ocultos, Dois manifestados, Cinco ocultos; Três manifestados, Quatro ocultos; Quatro produzidos, Três ocultos; Quatro e Um Tsan revelados, Dois e Meio ocultos; Seis para serem manifestados, Um deixado à parte. Por último, Sete Pequenas Rodas girando; uma dando nascimento à outra.

4. Ele as constrói à semelhança das Rodas mais antigas, colocando-as nos Centros Imperecíveis. Como as constrói Fohat? Ele junta a Poeira de Fogo. Forma Esferas de Fogo, corre através delas e em seu derredor, insuflando-lhes a vida; e em seguida as põe em movimento; umas nesta direção, outras naquela. Elas estão frias, ele as aquece. Estão secas, ele as umedece. Brilham, ele as ventila e refresca . Assim procede Fohat, de um a outro Crepúsculo, durante Sete Eternidades.

5. Na Quarta, os Filhos recebem ordem de criar suas Imagens. Um Terço recusa-se Dois Terços obedecem. A Maldição é proferida. Nascerão na Quarta; sofrerão e causarão sofrimento. É a Primeira Guerra.

6. As Rodas mais antigas giravam para baixo e para cima… Os frutos da Mãe enchiam o Todo. Houve combates renhidos entre os Criadores e os Destruidores, e Combates renhidos pelo Espaço; aparecendo e reaparecendo a Semente continuamente.

7. Faze os teus cálculos, ó Lanu, se queres saber a idade exata da Pequena Roda. Seu Quarto Raio “é” nossa Mãe. Alcança o Quarto Fruto da Quarta Senda do Conhecimento que conduz ao Nirvana, e tu compreenderás, porque verás…

149

ESTÂNCIA VII

1. Observa o começo da Vida informe senciente.

Primeiro, o Divino, o Um que procede do Espírito-Mãe; depois, o Espiritual; os Três provindos do Um, os Quatro do Um, e os Cinco de que procedem os Três, os Cinco e os Sete. São os Triplos e os Quádruplos em sentido descendente; os Filhos nascidos da Mente do Primeiro Senhor, os Sete Radiantes. São eles o mesmo que tu, eu, ele, ó Lanu, os que velam sobre ti e tua mãe, Bhumi.

2. O Raio Único multiplica os Raios menores. A Vida precede a Forma, e a Vida sobrevive ao último átomo. Através dos Raios inumeráveis, o Raio da Vida, o Um, semelhante ao Fio que passa através de muitas contas.

3. Quando o Um se converte em Dois, aparece o Triplo, e os Três são Um; é o nosso Fio, ó Lanu! o Coração do Homem-Planta, chamado Saptaparma.

4. É a Raiz que jamais perece; a Chama de Três Línguas e Quatro Mechas. As Mechas são as Centelhas que partem da Chama de Três Línguas projetada pelos Sete — dos quais é a Chama — Raios de Luz e Centelhas de uma Lua que se reflete nas Ondas moventes de todos os Rios da Terra.

5. A Centelha pende da Chama pelo mais tênue fio de Fohat. Ela viaja através dos Sete Mundos de Mâyâ. Detém-se no Primeiro, e é um Metal e uma Pedra; passa ao Segundo, e eis uma Planta; a Planta gira através de sete mutações, e vem a ser um Animal Sagrado. Dos atributos combinados de todos esses, forma-se Manu, o Pensador. Quem o forma? As Sete Vidas e a Vida Una. Quem o completa? O Quíntuplo Lha. E quem aperfeiçoa o último Corpo? O Peixe, o Pecado e Soma…

6. Desde o Primeiro Nascido, o Fio que une o Vigilante Silencioso à sua Sombra torna-se mais e mais forte e radiante a cada Mutação. A Luz do Sol da manhã se transformou no esplendor do meio-dia…

7. “Eis a tua Roda atual” — diz a Chama à Centelha. “Tu és eu mesma, minha imagem e minha sombra. Eu me revesti de ti, e tu és o Meu Vâham até o dia ‘Sê Conosco’, quando voltarás a ser eu mesma, e os outros tu mesma e eu.” Então os Construtores, metidos em sua primeira Vestimenta, descem à radiante Terra, e reinam sobre os homens — que são eles mesmos… (Assim termina o fragmento da narração arcaica, obscura, confusa, quase incompreensível. Tentaremos agora iluminar essas trevas, para extrair o significado dos aparentes absurdos.)

 

ESTÂNCIA I………………………………………………………………………….141

A Noite do Universo

1. As Sete Eternidades

2. O Tempo

3. A Mente Universal e os Dhyân-Chohans

4. Nidânas ou Causas da Existência Mâyâ ou Ilusão

5. Trevas, a Matriz Eterna

6. Os Princípios masculino e feminino na Natureza-Raiz

7. Os Sete Espíritos Criadores, os Dhyân Chohans

8. O Grande Sopro 9. A Causa do Universo Material

10. O Ser Uno é o Número de todos os Números

11. A Forma Una de Existência

12. O olho aberto de Dangma, um Jivanmukta

13. Âlaya, a Vida Una, ou Alma Universal

14. O Mistério do Ser Absoluto

15. O mistério da hierarquia dos Anupâdaka.

ESTÂNCIA I

A Noite do Universo

1. O Eterno Pai, envolto em suas Sempre Invisíveis Vestes, havia adormecido uma vez mais durante Sete Eternidades. O “Pai”, o Espaço, é a Causa eterna, onipresente, a incompreensível divindade, cujas “Invisíveis Vestes” são a Raiz mística de toda Matéria e do Universo.

O Espaço é a única coisa eterna que somos capazes de imaginar facilmente, imutável em sua abstração, e que não é influenciado nem pela presença nem pela ausência de um Universo objetivo. Não tem dimensões, seja em que sentido for, e existe por si mesmo. O Espírito é a primeira diferenciação de “Aquilo” — a Causa sem Causa do Espírito e da Matéria. Segundo o ensinamento do Catecismo Esotérico, não é nem o “vazio sem limites” nem a “plenitude condicionada”, mas ambas as coisas simultaneamente.

Foi, é e sempre será. Assim, as “Vestes” representam o númeno da Matéria Cósmica não diferenciada. Não a matéria tal como a conhecemos, mas a essência espiritual da matéria; em seu sentido abstrato, coeterna e una com o Espaço. A Natureza-Raiz é também a fonte das propriedades sutis e invisíveis da matéria visível. É, por assim O Espaço dizer, a Alma do Espírito Único e Infinito. Os hindus a chamam Mûlaprakriti, e dizem que é a Substância Primordial, que constitui a base do Upâdhi ou Veículo de todos os fenômenos, sejam físicos, psíquicos ou mentais. É a fonte de onde se irradia o Âkâsha.

As “Sete eternidades” significam evos ou períodos. A palavra Eternidade, tal como a entende a Teologia cristã, não tem sentido para os asiáticos, exceto quando aplicada à Existência Única. O termo “sempiterno”, que é o eterno somente em relação ao futuro, não passa de uma expressão errônea. Tais palavras não existem nem podem existir na metafísica filosófica, e eram até desconhecidas anteriormente ao cristianismo eclesiástico.

As Sete Eternidades significam os sete períodos de um Manvantara, ou um espaço de tempo correspondente à sua duração; e abrangem toda a extensão de um Mahâkalpa ou “Grande Idade” (100 anos de Brahmâ), perfazendo um total de 311.040.000.000.000 anos. Cada Ano de Brahmâ se compõe de 360 Dias e de igual número de Noites de Brahmâ (computando-se pelo Chandrâyama ou ano lunar); e um Dia de Brahmâ corresponde a 4.320.000.000 anos comuns. Estas Eternidades se relacionam com cálculos os mais secretos, em que, para a obtenção do total exato, cada cifra deve ser 7x , variando o expoente x conforme a natureza do ciclo no mundo subjetivo ou real; e também todo número ou cifra que represente os diversos ciclos (do maior ao menor), ou a eles se refira, no mundo objetivo ou ilusório, deve ser necessariamente múltiplo de 7. Não é possível dar a chave dessas operações, porque ela envolve o mistério dos cálculos esotéricos, e para fins de cálculos ordinários deixa de ter sentido. “O número 7”, diz a Cabala, “é o grande número dos Mistérios Divinos”.

O número 10 é

Lê-se no Vishnu Purâna, livro II, c. VIII: “Entende-se por imortalidade a existência até o fim do Kalpa”; e Wilson, o tradutor, observa em uma nota: “Eis, segundo os Vedas, tudo o que se deve entender com respeito à imortalidade (ou eternidade) dos deuses; estes perecem ao consumar-se a dissolução universal (ou Pralaya).” E a Filosofia Esotérica diz: “Não perecem, mas são reabsorvidos.” 153 o de todos os conhecimentos humanos (a Década pitagórica); 1.000 é a terceira potência de 10; e, portanto, o número 7 é igualmente simbólico. Na Doutrina Secreta, o número 4 é o símbolo masculino apenas no plano mais elevado da abstração; no plano da matéria, o 3 é o masculino e o 4 o feminino — a linha vertical e a horizontal no quarto grau do simbolismo, em que os símbolos se convertem em signos dos poderes geradores no plano físico.

2. O Tempo não existia, porque dormia no Seio infinito da Duração. O “Tempo” não é mais que uma ilusão ocasionada pela sucessão dos nossos estados de consciência, à medida que viajamos através da Duração Eterna; e deixa de existir quando a consciência em que tal ilusão se produz já não exista; então, ele “jaz adormecido”. O Presente não é senão uma linha matemática que separa aquela parte da Duração Eterna, que chamamos Futuro, daquela outra a que damos o nome de Passado. Nada há sobre a Terra que tenha uma duração real, pois nada permanece sem mutação, ou no mesmo estado, durante um bilionésimo de segundo que seja; e a sensação que temos da realidade desta divisão do Tempo, conhecida como o Presente, advém da impressão momentânea ou das impressões sucessivas que as coisas comunicam aos nossos sentidos, à medida que passam da região do ideal, que denominamos Futuro, à região da memória, que chamamos Passado. Da mesma forma, uma centelha elétrica instantânea produz em nós uma sensação de duração, por deixar em nossa retina uma impressão que continua. As pessoas e as coisas reais e efetivas não são unicamente o que se vê em um dado momento, mas consistem na soma de todas as suas múltiplas e cambiantes condições, desde o instante em que aparecem sob forma material até àquele em 154 que deixam de existir sobre a terra.

Estas “somas totais” estão eternamente no Futuro, e passam gradualmente através da matéria para ficarem eternamente no Passado. Ninguém dirá que uma barra de metal que se arremessa ao mar começa a existir a partir do momento em que deixa a atmosfera, e que cessa de existir quando penetra na água; nem que tal objeto consiste tão somente em sua seção transversal coincidente, em determinado momento, com o plano matemático que separa e une, ao mesmo tempo, a atmosfera e o oceano. Analogamente, é; o que sucede com as pessoas e as coisas que, caindo do “será” no “foi”, isto é, do Futuro no Passado, apresentam ocasionalmente aos nossos sentidos como que uma seção transversal do seu todo à medida que vão passando através do Tempo e do Espaço (como Matéria) em seu caminho de uma eternidade para outra; e estas duas eternidades constituem aquela Duração, na qual, e somente na qual, há algo que tem existência real, que os nossos sentidos confirmariam, se estivessem aptos a conhecê-la. 3. A Mente Universal não existia, porque não havia Ah-hi para contê-la. “Mente” é o nome dado à totalidade dos Estados de consciência compreendidos sob as denominações de Pensamento, Vontade e Sentimento. Durante o sono profundo, cessa o trabalho de ideação no plano físico e a memória é suspensa; em todo esse tempo, a “Mente não existe”, uma vez que o órgão, por cujo intermédio o Ego manifesta a ideação e a memória no plano físico, cessou temporariamente de funcionar.

Um númeno não pode chegar a ser fenômeno em qualquer plano de existência sem que se manifeste nesse plano por meio de uma casa ou veículo apropriado; e durante a longa Noite de repouso chamada Pralaya, quando todas as Existências são dissolvidas, a “Mente Universal” permanece como 155 uma possibilidade de ação mental, ou como aquele Pensamento abstrato e absoluto do qual a Mente é a manifestação concreta e relativa. Os Ah-hi (Dhyân Chohans) são as Legiões de Seres espirituais — as Legiões Angélicas do Cristianismo, os Elohim e os “Mensageiros” dos judeus — que constituem o Veículo para a manifestação do Pensamento e da Vontade Divina ou Universal. São as Forças Inteligentes que elaboram as “Leis” da Natureza e as fazem executar, cumprindo, por sua vez, e ao mesmo tempo, as leis que lhes são analogamente ditadas por Poderes ainda mais elevados; mas não são “personificações” das Forças da Natureza, como erroneamente se tem acreditado.

Esta Hierarquia de Seres espirituais, por cujo intermédio atua a Mente Universal, assemelha-se a um exército — uma verdadeira legião — pelo qual se manifesta o poder militar de uma nação, e que se compõe de corpos de tropa, divisões, brigadas, regimentos etc., cada qual com sua individualidade ou vida distinta, sua liberdade de ação e sua responsabilidade limitadas; estando cada unidade contida em uma individualidade superior, à qual ficam subordinados seus próprios interesses, e encerrando em si, ao mesmo passo, individualidades inferiores.

4. Os Sete Caminhos da Felicidade155 não existiam (a). As Grandes Causas da Desgraça156 não existiam, porque não havia ninguém que as produzisse e fosse por elas aprisionado (b). 155 Nirvana, em chinês Noppang; Neibban em birmanês; Moksha na Índia Nidâna e Mâyâ. As “Doze” Nidânas (em tibetano Ten-brel Chug-nyi) são as causas principais da existência, efeitos gerados por um encadeamento. 156 (a) Há “Sete Caminhos” ou “Vias” que conduzem à “Felicidade” da NãoExistência, que é o absoluto Ser, Existência e Consciência. Não existiam, porque o Universo até então se achava vazio, só existindo no Pensamento Divino. (b) Porque são… as Doze Nidânas, ou Causas do Ser.

Cada uma é o efeito da Causa antecedente, e, por seu turno, a causa da que lhe sucede; estando a soma total das Nidânas baseada nas Quatro Verdades, doutrina especialmente característica do Sistema Hînayâna157. Pertencem elas à teoria de que todas as coisas seguem o curso da lei, a lei inevitável que produz o mérito e o demérito, e que finalmente faz sentir a força do Carma em toda a sua plenitude. É um sistema fundado na grande verdade de que a reencarnação infunde temor, porque a existência neste mundo só traz ao homem sofrimento, desgraça e dor; sendo a própria morte incapaz de dar ao homem a sua libertação, porque a morte não é mais que a porta pela qual ele passa de uma para outra vida na terra, após um breve repouso no umbral, ou seja, no Devachan.

O Sistema Hînayâna, ou Escola do Pequeno Veículo, data de tempos muito remotos, ao passo que o Mahâyâna, ou Escola do Grande Veículo, pertence a um período mais recente e teve início após a morte de Buddha. Todavia, as doutrinas deste último sistema são tão antigas como as montanhas que têm servido de locais para escolas semelhantes desde épocas imemoriais; e na verdade as Escolas Hînayâna e Mahâyâna ensinam ambas a mesma coisa. Yâna, ou Veículo, é uma expressão mística, e os dois “Veículos” significam que o homem pode escapar às tribulações dos renascimentos, e até à ilusória felicidade do Devachan, por meio da obtenção da Sabedoria e do Conhecimento, os únicos que podem dissipar os frutos da Ilusão e da Ignorância. 157 Nidâna e Mâyâ.

As “Doze” Nidânas (em tibetano Ten-brel Chug-nyi) são as causas principais da existência, efeitos gerados por um encadeamento. 157 Mâyâ, ou Ilusão, é um elemento que participa de todas as coisas finitas, porque tudo quanto existe possui tão só um valor relativo, e não absoluto, tendo em vista que a aparência assumida pelo númeno perante o observador depende do poder de cognição deste último. Aos olhos incultos do selvagem uma pintura se apresenta como um aglomerado confuso e incompreensível de linhas e manchas coloridas, ao passo que a vista educada descobre ali imediatamente uma figura ou uma paisagem.

Nada é permanente, a não ser a Existência Una, absoluta e oculta, que contém em si mesma os númenos de todas as realidades. As existências pertencentes a cada plano do ser, incluindo os Dhyan Chohâns mais elevados, são comparáveis às sombras projetadas por uma lanterna mágica em uma superfície branca. No entanto, todas as coisas são relativamente reais, porque o conhecedor é também um reflexo, e por isso as coisas conhecidas lhe parecem tão reais quanto ele próprio. Para conhecer a realidade das coisas há mister considerá-las antes ou depois de haverem passado, qual um relâmpago, através do mundo material; pois, não podemos discernir essa realidade diretamente, quando só dispomos de instrumentos sensitivos que trazem à nossa consciência apenas os elementos do mundo material.

Seja qual for o plano em que possa estar atuando a nossa consciência, tanto nós como as coisas pertencentes ao mesmo plano somos as únicas realidades do momento. À medida, porém, que nos vamos elevando na escala do desenvolvimento, percebemos que, nos estádios já percorridos, havíamos tomado sombras como realidades, e que o progresso ascendente do Ego é um contínuo e sucessivo despertar, cada passo à frente levando consigo a ideia de que então alcançamos a “realidade”. Mas só quando houvermos atingido a Consciência absoluta, e com ela operarmos a fusão da nossa, é que viremos a libertar-nos das ilusões de Mâyâ.

5. Só as Trevas enchiam o Todo Sem Limites (a), porque Pai, Mãe e Filho eram novamente Um, e o Filho ainda não havia despertado para a nova Roda158 e a Peregrinação por ela (b): (a) As “Trevas são Pai-Mãe; a Luz é o seu Filho”, diz antigo provérbio oriental. Não podemos conceber a luz senão considerando-a como proveniente de alguma fonte que lhe seja a causa; e, como no caso da Luz Primordial essa fonte é desconhecida — conquanto a reclamem a razão e a lógica — nós a chamamos “Trevas”, do ponto de vista intelectual. Quanto à luz secundária ou reflexa, seja qual seja a sua fonte, não pode ter senão um caráter temporário ou mayávico. As Trevas são, portanto, a Matriz Eterna, na qual as Origens da Luz aparecem e desaparecem.

Em nosso plano nada se acrescenta às trevas para convertê-las em luz, nem tampouco à luz para transformá-la em trevas. Elas são permutáveis, e cientificamente a luz é tão-somente um modo das trevas, e vice-versa. Contudo, ambas são fenômenos do mesmo númeno, que são trevas absolutas para a mente científica, mas não passam de um obscuro crepúsculo para os místicos em geral, se bem que aos olhos espirituais do Iniciado seja luz absoluta.

O grau de luz que podemos perceber no meio das trevas depende da nossa capacidade de visão. O que para nós é luz, são trevas para certos insetos; e o olho do clarividente vê iluminação ali onde o olho normal só depara escuridão. Quando todo o Universo 158 O termo “Roda” é a expressão simbólica para designar um mundo ou globo, o que demonstra que os antigos sabiam ser a nossa Terra um globo que gira, e não um quadrado imóvel como ensinaram alguns Padres cristãos.

A “Grande Roda” é a duração completa do nosso Ciclo de existência, ou Mahâkalpa, isto é, a revolução completa de nossa Cadeia especial de sete Globos ou Esferas desde o princípio até o fim. As “Pequenas Rodas” significam as Rondas, também em número de sete. 159 jazia imerso no sono, isto é, quando havia regressado ao seu elemento primordial, não existia ali nem centro de luminosidade nem olho para perceber a Luz; e as trevas enchiam necessariamente o “Todo Sem Limites”.

(b) O “Pai e a Mãe” são os princípios masculino e feminino na NaturezaRaiz, os pólos opostos que se manifestam em todas as coisas, em cada plano do Cosmos; ou o Espírito e a Substância, em um aspecto menos alegórico, e cuja resultante é o Universo, ou o “Filho”. Eles são “novamente Um”, quando, na noite de Brahmâ, durante o Pralaya, tudo no Universo objetivo retorna à sua causa única, eterna e primária, para ressurgir na Aurora seguinte, como acontece periodicamente. “Kârana” — a Causa Eterna — estava só. Para dizer mais claramente: Kârana permanece só durante as Noites de Brahmâ. O anterior Universo objetivo dissolveuse em sua Causa única, eterna e primária, e mantém-se como que em dissolução no espaço, para diferenciar-se outra vez e cristalizar-se de novo na seguinte Aurora Manvantárica, que será o começo de um novo Dia ou de uma nova atividade de Brahmâ, símbolo de um Universo.

Em linguagem esotérica, Brahmâ é o Pai-Mãe-Filho, ou Espírito, Alma e Corpo a um só tempo, sendo cada personagem o símbolo de um atributo e cada atributo ou qualidade um eflúvio graduado do Sopro Divino em suas diferenciações cíclicas, involutivas e evolutivas. No sentido cósmico-físico, é o Universo, a Cadeia Planetária e a Terra; no sentido puramente espiritual, é a Divindade Ignota, o Espírito Planetário e o Homem (o Filho dos dois, produto do Espírito e da Matéria; sua manifestação nos aparecimentos periódicos sobre a terra durante as “Rodas” ou Manvantaras). 160 6. Os Sete Senhores Sublimes e as Sete Verdades haviam cessado de ser (a); e o Universo, filho da Necessidade, estava mergulhado em Paranishpanna (b) 159, para ser expirado por aquele que é, e todavia não é. Nada existia(c). (a) Os “Sete Senhores Sublimes” são os Sete Espíritos Criadores, os Dhyân Chohans, que correspondem aos Elohim hebreus.

É a mesma Hierarquia de Arcanjos a que pertencem São Miguel, São Gabriel e outros, na teogonia cristã. Mas, enquanto na teologia dogmática romana se atribui a São Miguel, por exemplo, a guarda de todos os golfos e promontórios, no Sistema Esotérico os Dhyânis velam, sucessivamente, sobre uma das Rondas e sobre as grandes Raças-Raízes de nossa Cadeia Planetária. Ensina-se, por outra parte, que eles enviam seus Bodhisattvas à Terra, como representantes humanos dos Dhyâni-Buddhas, durante cada Ronda e cada Raça. Das “Sete Verdades” e Revelações, ou melhor, segredos revelados, só quatro nos foram dadas a conhecer; pois estamos ainda na Quarta Ronda, e por isso não teve o mundo, até agora, senão quatro Buddhas. Trata-se, aliás, de questão sobremodo complexa, da qual mais adiante nos ocuparemos com mais amplitude. Até hoje “existem somente Quatro Verdades e Quatro Vedas” — dizem os Hindus e os Budistas.

Foi por uma razão semelhante que Irineu insistiu na necessidade de Quatro Evangelhos. Mas, como cada nova Raça-Raiz, no início de uma Ronda, deve ter a sua revelação e os seus reveladores, a próxima Ronda trará consigo a Quinta, a subseqüente a Sexta, e assim por diante. 159 A Perfeição Absoluta, Piranirvana, que é Yong-Grub. 161 (b) “Paranishpanna” é a perfeição absoluta que todas as existências alcançam no fim de um grande período de atividade, ou Mahâmanvantara, e em que permanecem durante o período seguinte de repouso. Chama-se em tibetano “YongGrub”.

Até os dias da escola Yogâchârya, a verdadeira natureza do Paranirvana era ensinada publicamente; mas desde então passou a ser de todo esotérica, e daí o existirem tantas interpretações contraditórias sobre este assunto. Só um verdadeiro idealista é capaz de compreendê-la. Para entender a significação daquele estado e saber por que o Não-Eu, o Vazio e as Trevas são Três em Um, o que existe por si mesmo e é perfeito, há que considerar tudo como ideal, à exceção do Paranirvana. Este, porém, só é absoluto de um ponto de vista relativo, devendo dar lugar a uma perfeição ainda mais absoluta e de um grau de excelência mais elevado, no subseqüente período de atividade, tal como acontece — se tão material comparação nos é permitida — com uma flor perfeita, que deve cessar de sê-lo e perecer, a fim de converter-se em um fruto perfeito. A Doutrina Secreta ensina o progressivo desenvolvimento de todas as coisas, tanto dos mundos como dos átomos.

Não é possível conceber o princípio desse maravilhoso desenvolvimento, nem tampouco imaginar-lhe o fim. O nosso “Universo” não passa de uma unidade em um número infinito de Universos, todos eles “Filhos da Necessidade”, elos da Grande Cadeia Cósmica de Universos, cada qual em relação de efeito com o que o precedeu, e de causa com o que lhe sucede. O aparecimento e o desaparecimento do Universo são descritos como expiração e inspiração do Grande Sopro, que é eterno e que, sendo Movimento, é um dos três aspectos do Absoluto; os outros dois são o Espaço Abstrato e a Duração. Quando o Grande Sopro expira, é chamado o Sopro Divino e considerado como a respiração da Divindade Incognoscível — a Existência Una —, emitindo 162 esta, por assim dizer, um pensamento, que vem a ser o Cosmos. De igual modo, quando o Sopro Divino é inspirado, o Universo desaparece no seio da Grande Mãe, que então dorme “envolta em suas Sempre Invisíveis Vestes”. (c) Por “aquele que é, e todavia não é”, entende-se aquele Grande Sopro, do qual só podemos dizer que é a Existência Absoluta, sem que nos seja dado representá-lo em nossa imaginação como uma forma qualquer de Existência que possamos distinguir da Não-Existência.

Os três períodos — Presente, Passado e Futuro — são, em filosofia esotérica, um tempo composto; mas apenas em relação ao plano fenomenal, pois que no reino dos números não têm validade abstrata. Como dizem as Escrituras: “O Tempo Passado é o Tempo Presente, e também o Futuro, o qual, não tendo ainda vindo à existência, entretanto, é” segundo um preceito do Prasanga Madhyamika, cujos dogmas se tornaram conhecidos após a sua separação das escolas puramente esotéricas160 . Em resumo: nossas idéias quanto à duração do tempo são todas derivadas de nossas sensações, de acordo com as leis de associação.

Enlaçadas de modo inextricável com a relatividade do conhecimento humano, essas idéias não podem, contudo, ter existência alguma fora da experiência do eu individual, e perecem quando sua marcha evolutiva dissipa o Mâyâ da existência fenomenal. Qual é, por exemplo, o Tempo, senão a sucessão panorâmica de nossos estados de consciência? Eis aqui as palavras de um Mestre: “Sinto-me desnorteado quando tenho de empregar estas três palavras — Passado, Presente e Futuro; pobres conceitos das fases objetivas do subjetivo todo, e tão mal apropriadas ao seu objeto 160 Veja-se Dzungarian: Mani Kumbum, o “Livro dos 10.000 Preceitos”. Consulte-se também Wassilief, Der Buddhismus, págs. 327 e 357 etc. 163 quanto uma acha à delicada arte do escultor.”

É um axioma filosófico: há que alcançar Paramârtha para não se converter em fácil presa de Samvriti161 . 7. As Causas da Existência haviam sido eliminadas (a); o Visível, que foi, e o Invisível, que é, repousavam no Eterno Não-Ser — o Único Ser (b). (a) “As Causas da Existência” significam não somente as causas físicas conhecidas pela ciência, mas também as causas metafísicas, a principal das quais é o desejo de existir, uma resultante de Nidâna e de Mâyâ.

Este desejo de uma vida senciente manifesta-se por si mesmo em todas as coisas, desde o átomo ao sol, é um reflexo do Pensamento Divino projetado na existência objetiva sob a forma de uma lei que manda o Universo existir. Segundo o ensinamento esotérico, a causa real daquele suposto e de toda existência permanece sempre oculta, e suas primeiras emanações representam as mais elevadas abstrações que a mente humana pode conceber.

Temos que admitir tais abstrações como a causa deste Universo material que se apresenta aos sentidos e à inteligência; e são elas necessariamente o fundamento dos poderes secundários e subordinados à Natureza, que têm sido antropomorfizados e adorados como “Deus” e como “deuses” pelas multidões de todas as épocas. Impossível é conceber seja lá o que for sem uma causa; tentar fazê-lo é deixar a mente no vazio. Esta é virtualmente a condição em que deve afinal encontrar-se a mente, quando pretendemos acompanhar, de diante para trás, a cadeia de causas e efeitos; mas tanto a Ciência como a Religião se lançam nesse 161 Para dizer com mais clareza: O homem deve adquirir a verdadeira Consciência de Si Mesmo para compreender Samvriti, ou a “origem da ilusão”. Paramârtha é sinônimo do termo Svasamvedanâ, ou “a reflexão que se analisa a si mesma”.

Existe uma diferença na interpretação do significado de Paramârtha entre os Yogâchâryas e os Madhyamikas, mas nenhuma destas duas escolas explica o verdadeiro sentido esotérico da expressão. vazio com demasiada precipitação, porque ignoram as abstrações metafísicas, e são estas as únicas causas concebíveis das coisas concreta do mundo físico. As abstrações tornam-se cada vez mais concretas à medida que se aproximam do nosso plano de existência, até que por fim se cristalizam em fenomenais, sob a forma de Universo material, por um processo de conversão do metafísico em físico, semelhante àquele que faz o vapor condensar-se em água e a água solidificar-se em gelo.

(b) A idéia do “Eterno Não-Ser” que é o “Único Ser” aparece como um paradoxo a quem quer que não se dê conta de que nós limitamos nossas idéias sobre o Ser à nossa presente consciência da Existência, dando a este termo um sentido específico, em vez de genérico.

Se uma criança ainda no seio materno pudesse pensar, segundo a acepção que damos a esta palavra, limitaria necessariamente e do mesmo modo o seu conceito do Ser à vida intra-uterina, a única por ela conhecida; e se tratasse de exprimir em sua consciência a idéia da vida depois do nascimento (para ela a morte), chegaria provavelmente — na falta de base para o raciocínio e de faculdades para compreendê-la — a definir aquela vida como o “Não-Ser que equivale ao Ser (ou Existência) Real”.

Em nosso caso, o Ser Uno é o númeno de todos os númenos, que sabemos devem existir por trás de todos os fenômenos, dando-lhes a sombra do quê de realidade que possuem; mas que não podemos atualmente conhecer por nos faltarem os sentidos e a inteligência indispensáveis à sua percepção.

Os átomos impalpáveis de ouro disseminados em uma tonelada de quartzo-aurífero podem ser imperceptíveis à vista do mineiro; no entanto, sabe o mineiro não só que ali se encontram, mas também que são eles unicamente que conferem ao minério um valor apreciável; e esta relação entre o ouro e o quartzo pode sugerir apenas uma fraquíssima idéia da que existe entre o númeno e o fenômeno.

Com a diferença de que o mineiro sabe que aspecto terá o ouro quando for extraído do quartzo; ao passo que o mortal comum não pode ter noção da realidade das coisas fora do Mâyâ que as vela e oculta. Só o Iniciado, enriquecido pelo conhecimento adquirido através de inúmeras gerações de seus predecessores, dirige o “Olho de Dangma”, para a essência das coisas, em que Mâyâ não pode ter nenhuma influência. É neste ponto que os ensinamentos da Filosofia Esotérica, em relação com os Nidânas e as Quatro Verdades, assumem capital importância; são, porém, secretos.

8. A forma Una de Existência (a), sem limites, infinita, sem causa, permanecia sozinha, em um Sono sem Sonhos (b); e a Vida pulsava inconsciente no Espaço Universal, em toda a extensão daquela Onipresença que o Olho aberto de Dangma percebe162 . (a) A tendência do pensamento moderno é voltar à antiga idéia de que as coisas aparentemente mais diversas possuem uma base homogênea a heterogeneidade emergindo da homogeneidade. Os biologistas procuram neste momento o protoplasma homogêneo, e os químicos o protilo, enquanto a Ciência investiga a força da qual a eletricidade, o magnetismo, calor etc., são diferenciações. A Doutrina Secreta leva esta idéia à região metafísica, com o postulado de uma “Forma Única de Existência” como base e fonte de todas as coisas.

Mas é possível 162 Na índia é chamado o “Olho de Shiva”; mas para lá das grandes montanhas é conhecido, na fraseologia esotérica, como o “Olho Aberto de Dangma”. Dangma quer dizer alma purificada, aquele que se tornou um Jivanmukta, o Adepto mais elevado, ou melhor, aquele a quem se dá o nome de Mâhâtma. Seu “Olho Aberto” é olho espiritual e interno do vidente; e a faculdade que por ele se manifesta não é a clarividência como se entende geralmente, ou seja, o poder de ver à distância, mas antes a faculdade de intuição espiritual, por meio da qual se pode obter o conhecimento direto e exato.

Esta faculdade se acha intimamente relacionada com o “terceiro olho”, que a tradição mitológica atribui a certas raças humanas. que a expressão “Forma Única de Existência” não seja totalmente correta. A palavra sânscrita é Prabhavâpyava, “a região” (seria melhor dizer “o plano”) “de onde tudo sai e para onde tudo retorna”, como diz um comentador. Não é a “Mãe do Mundo”, conforme a tradução de Wilson163; porque Jagad Yoni, como demonstra Fitzedward Hall, é mais propriamente a “Causa Material do Mundo” que a “Mãe do Mundo” ou a “Matriz do Mundo”. Os comentaristas purânicos a interpretam como Karâna, “Causa”; mas a Filosofia Esotérica a considera o espírito ideal daquela Causa. Em seu estado secundário, é o Svabhâvat do filósofo budista, a Eterna Causa-e-Efeito, onipresente e contudo abstrata, a Essência plástica existente por si mesma, e a Raiz de todas as coisas, vista em seu duplo sentido, da mesma forma como o vedantino considera o seu Parabrahman e Mûlaprakriti, o Uno sob dois aspectos.

Parece realmente extraordinário ver grandes sábios especularem sobre a possibilidade de que a Vedanta e sobretudo o Uttara-MÎmânsâ tenham sido “inspirados pelos ensinamentos dos budistas”, quando, ao contrário, o budismo, o ensinamento de Gautama Buddha, é que foi “inspirado” e construído inteiramente sobre os princípios da Doutrina Secreta, de que ora tentamos apresentar um epítome, ainda que incompleto e nos quais também se apoiaram os Upanishads164. É uma verdade, que 163 Vishnu Purâna, I, 21. 164 E, não obstante, uma pretensa autoridade, Sir Monier Williams, professor catedrático de sânscrito em Oxford, acaba de negar precisamente este fato. Eis o que ele ensinava ao seu auditório em 4 de junho de 1888, em seu discurso anual perante o Instituto Vitória da Grã-Bretanha: “Em sua origem, o Budismo mostrou-se infenso a todo ascetismo solitário… para alcançar as sublimes alturas do conhecimento.

Não possuía nenhum corpo de doutrina, fosse oculto ou esotérico… vedado às pessoas comuns” (!!). E mais: “Quando Gautama Buddha começou o seu ofício, a última e inferior forma de loga parece que era muito pouco conhecida.” E logo, contradizendo-se, o ilustre conferencista diz aos seus ouvintes: “Sabemos pelo Lalita-Vestara, que diversas formas de tortura corporal, automacerações e austeridades eram comuns no tempo de Gautama” (!!).

Mas o orador parece ignorar por completo que aquela espécie de tortura e maceração do próprio corpo é precisamente a forma inferior de loga, Hatha Yoga, sistema que, segundo suas palavras, era “pouco conhecido” e, no entanto, tão “comum” no tempo de Gautama. não será lícito obscurecer, diante dos ensinamentos de Sri Shankarâchârya165 . (b) O “Sono sem Sonhos” é um dos sete estados de consciência conhecidos no esoterismo oriental. Em cada um destes estados entra em ação uma parte distinta da mente; ou, como diria um vedantino, o indivíduo é consciente em um plano diferente do seu ser. As palavras “Sono sem Sonhos” são usadas para exprimir uma condição algo semelhante àquele estado de consciência, no homem, que, não dando lugar a nenhuma lembrança no estado de vigília, parece um vazio — da mesma forma que o sono de uma pessoa magnetizada se lhe afigura um vazio inconsciente quando ela retorna à sua condição normal, embora acabasse de falar e conduzir-se durante aquele sono magnético como o faria um indivíduo consciente.

9. Onde, porém, estava Dangma quando o Alaya do Universo se encontrava em Paramârtha (a) , e a Grande Roda em Anupâdaka? (b) (a) Depara-se-nos aqui a questão que constituiu, durante séculos, o fundo das controvérsias escolásticas. Os dois termos “Alaya” e “Paramârtha” foram causa de múltiplas discussões nas escolas, e de que a verdade fosse subdividida em um sem número de aspectos, e isto em escala jamais ocorrida quanto a outras palavras místicas. Alaya é a Alma do Mundo, Anima Mundi, a Superalma de Emerson, que, segundo o ensinamento esotérico, muda periodicamente de natureza.

Alaya, apesar de eterna e imutável em sua essência interna, nos planos fora do alcance dos 165 Pretende-se até que todos os Seis Darshanas (escolas de filosofia) apresentam traços da influência de Buddha e traços oriundos ora do Budismo, ora de ensina mentos gregos! (Veja-se: Weber, Max Muller etc.) Devemos lembrar, no entanto, que Colebrooke, “autoridade máxima” em tais assuntos, há muito tempo que resolveu a questão, demonstrando que “os hindus, neste caso, foram os rnestres e não os discípulos”. 166 A Alma, como base do mundo, Anima Mundi.

O Ser Absoluto e a Consciência Absoluta, que são o Absoluto Não-Ser e a Absoluta Inconsciência. 168 homens ou mesmo dos deuses cósmicos (Dhyâni-Buddhas), altera-se durante o período de vida ativa que diz respeito aos planos inferiores, inclusive o nosso. Durante esse tempo, não só os Dhyâni Buddhas são unos com Alaya em Alma e Essência, mas até o homem que realizou a Ioga (meditação mística) “é capaz de fundir sua alma nela”, como diz Aryâsanga, da escola Yogachârya.

Não é isto o Nirvana, senão uma condição que dele se aproxima. E aqui a divergência. Enquanto os Yogachâryias da escola Mahâyâna dizem que Alaya (Nyingpo e Tsang em tibetano) é a personificação do Vazio e, não obstante, a base de todas as coisas visíveis e invisíveis; e que, apesar de eterna e imutável em sua essência, Alaya se reflete em cada objeto do Universo, “como a lua na água clara e tranqüila” — outras escolas contestam essa proposição. Sucede o mesmo em relação a Paramârtha. Os Yogachâryas interpretam este termo como aquilo que também depende de outras coisas (paratantra); e os Madhyamikas dizem que Paramârtha está limitado a Paranishpanna, ou a Perfeição Absoluta; vale dizer que, na exposição destas “Duas Verdades” (entre as Quatro), os primeiros crêem e sustentam que, neste plano pelo menos, só existe Samvritisatya, ou a verdade relativa; e os segundos ensinam a existência de Paramârthasatya, a Verdade Absoluta.

“Nenhum Arhat, oh! mendicantes, pode alcançar o conhecimento antes de identificar-se com Paranirvana; Parikalpita e Paratantra são os seus dois grandes inimigos”. Parikalpita (em tibetano Kuntag) é o erro em que incidem os que não percebem o caráter vazio e ilusório de todas as coisas, e crêem na existência de algo que não existe, por exemplo, o Não-Eu.

E Paratantra é aquilo, seja o que for, que existe 168 “Paramârthasatya” é a consciência própria; Svasamvedanâ, ou o pensamento que se analisa a si mesmo; de duas palavras: parama, por cima de todas as coisas, e artha, compreensão; significando satya o ser verdadeiro e absoluto, ou esse. Em tibetano, Paramârthasatya é Dondampaidenpa. O oposto a esta realidade absoluta é Samvritisatya — a verdade relativa somente; pois Samvritisatya significa “falso conceito”, e é a origem da ilusão, Mâyâ — em tibetano Kundzabchidenpa, “aparência que cria a ilusão”. 169 Aphorisms of the Bôdhisattvas. 169 unicamente em virtude de uma relação causai ou de dependência, e que deve desaparecer tão logo cesse a causa de que procede, como a chama de um pavio. Suprima-se ou destrua-se o pavio, e a luz desaparece. Ensina a Filosofia Esotérica que tudo vive e é consciente, mas não que toda vida e toda consciência sejam semelhantes às dos seres humanos ou mesmo dos animais.

Nós consideramos a vida como a única forma de existência manifestando-se no que chamamos Matéria, ou naquilo que, no homem, chamamos Espírito, Alma e Matéria (separando-os sem razão). A Matéria é o Veículo para a manifestação da Alma neste plano de existência, e a Alma é o Veículo em um plano mais elevado para a manifestação do Espírito; e os três formam uma Trindade sintetizada pela Vida, que os interpenetra a todos. A idéia da Vida Universal é um daqueles antigos conceitos que estão retornando à mente humana neste século, como conseqüência de sua libertação da teologia antropomórfica.

Verdade é que a Ciência se contenta com traçar ou expor os sinais da Vida Universal, não ousando ainda pronunciar ou sequer sussurrar a expressão Anima Mundi! A idéia da “vida cristalina”, que hoje é familiar à ciência, teria sido repudiada com desprezo meio século atrás. Os botânicos agora investigam os nervos das plantas; não porque suponham que as plantas sejam capazes de sentir ou pensar como os animais, mas por acreditarem que, para explicar o crescimento e a nutrição dos vegetais, é necessária uma estrutura que guarde, na vida das plantas, uma relação funcional idêntica à dos nervos na vida animal.

Parece quase impossível que a Ciência se deixe enganar por muito mais tempo com o simples uso de palavras tais como “força” e “energia”, tardando em reconhecer que as coisas dotadas de movimento são coisas vivas, quer se trate de átomos ou de planetas. 170 Mas ao leitor poderá ocorrer a pergunta: Qual é a crença das Escolas Esotéricas sobre esse ponto? Quais as doutrinas ensinadas pelos “budistas” esotéricos?

Para eles, Alaya tem uma dupla significação, e até mesmo tríplice. No sistema Yogachârya da escola contemplativa Mahâyâna, Alaya e, ao mesmo tempo, a Alma Universal, Anima Mundi, e o Eu de um Adepto adiantado. “Aquele a quem a Ioga conferiu poderes é capaz de introduzir à vontade o seu Alaya, por meio da meditação, na verdadeira natureza da Existência”. “Alaya possui uma existência eterna e absoluta” — diz Aryâsanga, o rival de Nâgârjuna170. Em certo sentido, é Pradhâna, que o Vishnu Parâna define como “a causa não evolucionada, a base original, na denominação enfática dos sábios, o Prakriti sutil, ou seja, o eterno e o que ao mesmo tempo é (ou encerra em si) o que é o que não é, ou é mera evolução171”.

“A causa contínua, que é uniforme, que é ao mesmo tempo causa e efeito, chamada Pradhâna e Prakriti por aqueles que conhecem os primeiros princípios, é o incognoscível Brahma, que era anterior a tudo172”; quer dizer, Brahma não cria nem mesmo produz a evolução, mas unicamente revela vários aspectos de si próprio, um dos quais é Prakriti, aspecto de Pradhâna. “Prakriti”, no entanto, não é uma palavra adequada, e Alaya o explicaria melhor, visto que Prakriti não é o “incognoscível Brahma”. É um erro ensinar que a Anima Mundi, a Vida Una ou Alma Universal, só foi dada a conhecer por Anaxágoras, ou durante sua época; é um erro dos que ignoram a universalidade das doutrinas ocultas desde o berço das raças humanas, e sobretudo por parte daqueles 170 Aryâsanga foi um Adepto anterior à era cristã e fundador de uma escola esotérica budista, embora Csoma de Koros o situe, por uma razão pessoal, no século VII depois de Cristo.

Existiu outro Aryâsanga, que viveu nos primeiros séculos de nossa era, e é bem provável que o sábio húngaro confundisse um com o outro. 171 Vishnu Purâna, I, pág. 20. 172 Vishnu Purâna, Wilson, I, 21; citado do Vayu Purâna. 171 sábios que repugnam até mesmo a idéia de uma “revelação primordial”. O ensinamento do filósofo citado teve simplesmente em vista combater os conceitos demasiado materialistas de Demócrito sobre cosmogonia, que se baseavam na teoria exotérica de átomos postos em movimento ao acaso ou cegamente. Anaxágoras de Clazomene não foi o inventor daquela doutrina; ele apenas a divulgou, como também o fez Platão.

O que Anaxágoras denominava Inteligência do Mundo, o Nous (Νουζ), o princípio que, segundo as suas idéias, existe absolutamente separado e livre da matéria, atuando com um objetivo preestabelecido, era chamado o Movimento, Vida Una ou Jîvâtmâ, na índia, desde tempos muito anteriores ao ano 500 antes de Cristo. Os filósofos arianos, porém, a esse princípio, para eles infinito, jamais deram o “atributo de pensar”, que é finito173 . Isto conduz naturalmente ao “Espírito Supremo” de Hegel e dos transcendentalistas alemães, e apresenta um contraste que talvez seja útil assinalar. As escolas de Schelling e de Fichte divergiram muito do conceito arcaico e primitivo de um Princípio Absoluto, e não refletiram senão um (aspecto da idéia fundamental do sistema Vedânta.

O “Absoluter Geist174”, sugerido vagamente por Von Hartmann, em sua filosofia pessimista do “Inconsciente”, e que é talvez a maior aproximação das doutrinas hindus “advaítas” a que pôde chegar a especulação européia, está, ainda assim, muito longe da realidade. 173 Com isso queremos dizer Consciência Própria Finita. Porque, como pode o Absoluto alcançá-la de outro modo, senão como um aspecto, o mais elevado dos que conhecemos — a consciência humana? 174 Espírito Absoluto. 172 Segundo Hegel, o “Inconsciente” jamais se daria à tarefa vasta e complexa de fazer evolucionar o Universo, se o não movesse a esperança de alcançar clara consciência de Si Mesmo.

Com relação a esse ponto, convém ter presente que os panteístas europeus, quando se referem ao Espírito, termo que empregam como equivalente de Parabrahman, e o chamam Inconsciente, não dão a esta expressão o significado indireto que geralmente implica. Usam-na porque não dispõem de um termo mais apropriado para simbolizar um profundo mistério. Eles nos dizem que a “Consciência Absoluta por trás dos fenômenos” só é chamada inconsciência por carecer de todo elemento de personalidade; e que transcende a concepção humana.

O homem, incapaz de formular um conceito que não seja relacionado a fenômenos empíricos, sente-se impotente, em virtude mesmo da constituição do seu ser, para levantar o véu que encobre a majestade do Absoluto. Só o Espírito liberto é capaz de perceber, vagamente ainda, a natureza de sua própria origem, à qual deverá retornar com o passar dos tempos. Se ao mais elevado dos Dhyân Chohans não cabe senão curvar-se, humildemente, em sua ignorância, diante do insondável mistério do Ser Absoluto; se até naquele ponto culminante da existência consciente — “em que a consciência individual se funde na consciência universal”, para usar uma expressão de Fichte — não pode o Finito conceber o Infinito, nem pode aplicar-lhe sua própria medida de experiências mentais, como se poderá dizer que o Inconsciente e o Absoluto tenham sequer algum impulso instintivo ou esperança de alcançar a clara consciência de si mesmo175?

O Vedantino jamais admitiria esta idéia hegeliana, e o Ocultista diria que ela é perfeitamente aplicável ao Mahat desperto, ou seja, à Mente Universal, já projetada no mundo fenomenal como aspecto primeiro do Imutável Absoluto, mas 175 Veja-se Handbook of the History of Philosophy de Schwegler, na tradução de Sterling, pág. 28. 173 nunca a este último. “O Espírito e a Matéria, ou Purusha e Prakriti, são somente os dois aspectos primordiais do Um sem Segundo” — tal é o ensinamento.

O “Nous”, que faz mover a matéria, a Alma que a anima, imanente cm todos os átomos, manifestada no homem, latente na pedra, tem graus diversos de poder; e esta idéia panteísta de um Espírito-Alma geral, que penetra toda a Natureza, é a mais antiga de todas as concepções filosóficas. O Arqueu não foi uma invenção de Paracelso nem de seu discípulo Van Helmont; pois que este mesmo Arqueu é o “Pai-Éter” localizado, a base manifestada e a origem de todos os fenômenos da vida.

A série completa as inumeráveis especulações, desta espécie não passa de variações sobre o mesmo tema, cuja nota predominante foi dada com aquela “revelação primitiva”.

(b) A palavra “Anupâdaka”, sem pais ou sem progenitores, é uma designação mística que tem várias significações em nossa filosofia. É o nome que se costuma dar aos Seres Celestes como os Dhyân Chohans ou os Dhyâni Buddhas. Estes últimos correspondem misticamente aos Buddhas e Bodhisattvas humanos, conhecidos por Mânushi (humanos) Buddhas e chamados mais tarde Anupâdaka, quando operada a fusão de sua personalidade com os seus Princípios Sexto e Sétimo combinados, ou Âtmâ-Buddhi, convertendo-se nas “Almas de Diamante” (Vajrasattvas)176 ou Mahâtmâs completos.

O “Senhor Oculto” (Sang-bai Dag-po), “o que está imerso no Absoluto”, não pode ter pais, porque é existente por Si Mesmo, e Uno com O Espírito Universal (Svayambhu), o Svabhâvat em seu mais elevado aspecto. Grande é o mistério da hierarquia dos Anupâdaka; o seu vértice é o Espírito-Alma Universal e a sua base os Mânushi Buddhas; e cada homem dotado de Alma é um Anupâdaka em estado latente. Daí o emprego da expressão: “a Grande Roda (o Universo) era Anupâdaka”, quando se alude ao Universo em seu estado sem forma, eterno e absoluto, antes de ser formado pelos “Construtores”.

Vajrapâni ou Vajradhara significa possuidor do diamante (Dorjesempa em tibetano, sempa significando a alma); e a qualidade adamantina refere-se à sua indestrutibilidade no futuro. A explicação de “Anupâdaka” contida no Kâla Chakra — o primeiro na divisão Gyut do Kanjur — é semi-esotérica, e induziu os orientalistas a errôneas especulações quanto aos Dhyâni-Buddhas e seus correspondentes terrestres, os Mânushi-Buddhas. A significação verdadeira vai indicada em volume subsequente, e a seu tempo será explicada com maior amplitude. 174

ESTÂNCIA II…………………………………………………………………………………………..142

A Ideia de Diferenciação

8 1. Os Construtores 2. Paranishpanna 3. O Absoluto 4. A diferença entre o Ser consciente e o Inconsciente 5. Espaço, o Elemento Eterno e Único 6. A Consciência Absoluta contém o Conhecedor 7. O Raio de Vida penetra no “Germe” 8. O Lótus, símbolo do Cosmos 9. O Quaternário: Pai-Mãe-Filho, como Unidade 10. O Filho: em cima, é todo o Cosmos; em baixo, é a Humanidade 11. Svabhâvat; a Essência Plástica Universal de Mülaprakriti 12. O Universo ainda estava oculto no Pensamento Divino.

1. …Onde Estavam os Construtores, os Filhos Resplandecentes da Aurora do Manvantara? (a). …Nas Trevas Desconhecidas, em seu Ah-hi178 Paranishpanna. Os Produtores da Forma179, tirada da Não-Forma180, que é a Raiz do Mundo, Devamâtri181 e Svabhâvat, repousavam na felicidade do NãoSer (b). 177 Citando de novo Hegel, que, como Schelling, aceitou praticamente o conceito panteísta dos Avatares periódicos (encarnações especiais do Espírito do Mundo no Homem, como sucede no caso de todos os grandes reformadores religiosos): “A essência do homem é o espírito… só descartandose de seu modo de ser finito e abandonando-se voluntariamente à pura consciência de si mesmo é que pode alcançar a verdade. O Homem-Cristo, como homem em quem se manifestou a Unidade de Deus-Homem (identidade da consciência individual com a universal, segundo o ensinamento dos Vedantinos e de alguns Advaítas), resumiu em si, com sua morte e sua vida histórica em geral, a eterna história do Espírito, história que todo homem tem que realizar em si mesmo, a fim de existir como Espírito” (Philosophy of History, tradução inglesa de Sibree, pág. 340). 178 Chohânico, Dhyâni-Búddhico. 179 Rûpa. 180 Arûpa. 181 “Mãe dos Deuses”, Aditi ou Espaço cósmico. No Zobar é chamada Sephira, a Mãe dos Sephiroth, e Shekinah em sua forma primordial in abscondito. 175 (a) Os “Construtores”, os “Filhos da Aurora do Manvantara”, são os verdadeiros criadores do Universo; e nesta doutrina, que se ocupa somente de nosso sistema planetário, eles, como arquitetos do mundo, são também chamados os “Vigilantes” das Sete Esferas, as quais exotericamente vêm a ser os Sete Planetas, e esotericamente as sete esferas ou Globos de nossa Cadeia. A frase que menciona as Sete Eternidades, no início da Estância I, refere-se tanto ao Mahâkalpa, ou “Grande Idade de Brahmâ”, como ao Pralaya Solar e à ressurreição subseqüente de nosso Sistema Planetário num plano mais elevado. Há diversas espécies de Pralaya (dissolução de uma coisa visível), conforme adiante mostraremos. (b) Importa lembrar que Paranishpanna é o summum bonum, o Absoluto, o mesmo que Paranirvana. Além de ser o estado final, é aquela condição de subjetividade relacionada exclusivamente com a Verdade Una Absoluta (Paramârthasatya), em seu próprio plano. É o estado que conduz à verdadeira apreciação do significado pleno do Não-Ser, que é, como já explicamos, o Absoluto Ser. Mais cedo ou mais tarde, tudo quanto agora parece existir existirá real e verdadeiramente no estado de Paranishpanna. Mas há uma grande diferença entre o Ser consciente e o Ser inconsciente. A condição de Paranishpanna sem Paramârtha, a consciência que se analisa a si mesmo (Svasam-vedâna), não é a bem-aventurança, mas simplesmente a extinção durante Sete Eternidades. Uma bola de ferro, por exemplo, se esquenta quando exposta aos raios ardentes do Sol, mas não sente nem percebe o calor, como sucede com o homem. 176 Só “com uma inteligência clara, não obscurecida pela personalidade, e com a assimilação do mérito de múltiplas existências consagradas ao Ser em sua coletividade (todo o Universo vivente e senciente)” é que poderemos libertar-nos da existência pessoal e realizar a união com aquele Absoluto, identificando-nos com ele182 e continuando em plena posse de Paramârtha. 2. …Onde estava o Silêncio? Onde os ouvidos para percebê-lo? Não; não havia Silêncio nem Som (a): nada, a não ser o Incessante Alento Eterno183 , para si mesmo ignoto (b). (a) A idéia de que as coisas podem cessar de existir, sem cessar de ser, é fundamental na psicologia do Oriente. Sob esta aparente contradição de termos, há um fato da Natureza; e é mais importante compreendê-lo que discutir as palavras. Um exemplo trivial de paradoxo semelhante pode ser encontrado em uma combinação química. Ainda está em aberto a questão sobre se o hidrogênio e o oxigênio deixam de existir quando se combinam para formar a água: dizem uns que, se eles reaparecem quando se decompõe a água, é porque aí permaneceram durante todo o tempo; outros sustentam que, tendo-se convertido em algo completamente diferente, aqueles elementos deixaram de existir como tais durante a combinação; uns e outros, porém, se mostram de todo incapazes de conceituar a condição verdadeira de uma coisa que se transformou em outra sem contudo deixar de ser a mesma. Em relação ao oxigênio e ao hidrogênio, pode-se dizer que a 182 Portanto, Não-Ser é “Absoluto Ser”, na filosofia esotérica. Segundo os princípios desta, até ÂdiBuddha (Sabedoria primeira ou primitiva) é, em certo sentido, Ilusão ou Mâyâ, enquanto manifestada, visto que todos os Deuses, Brahmâ inclusive, têm que morrer no fim da Idade de Brahmâ; a abstração Parabrahman — chamem-na Ain-Soph ou, como Herbert Spencer, o Incognoscível — é a única Realidade, a Realidade Una e Absoluta. A Existência Una e sem segundo é Advaíta (“Que não tem Sentindo”), e tudo o mais é Mâyâ, conforme a filosofia advaíta. 183 Movimento. 177 existência como água é um estado de Não-Ser, o qual é um ser mais real do que a existência como gases. Este é apenas um símbolo imperfeito da condição do Universo quando adormece ou cessa de ser, durante as Noites de Brahmâ, para despertar e ressurgir quando a Aurora do novo Manvantara o chamar, uma vez mais, para o que nomeamos existência. (b) O “Alento” da Existência Una é expressão adotada pelo esoterismo arcaico só no que respeita ao aspecto espiritual da Cosmogonia; em outros casos, é substituída pelo seu equivalente no plano material — o Movimento. O Elemento Eterno é Único, ou Veículo que contém os elementos, é o Espaço sem dimensões em qualquer sentido; coexistente com a Duração Sem Fim, com a Matéria Primordial (e portanto indestrutível) e com o Movimento, o “Movimento Perpétuo”, Absoluto, que é o “Alento” do Elemento Uno. Este Alento, como se vê, não pode cessar jamais, nem mesmo durante as Eternidades Pralaicas. Mas o Alento da Existência Única não se aplica do mesmo modo à Causa Una sem Causa, ou Oni-Asseidade, em oposição ao Todo-Ser, que é Brahmâ ou o Universo. Brahmâ, o deus de quatro faces, que, depois de haver levantado a Terra do seio das águas, “levou a efeito a Criação”, é considerado somente como a Causa Instrumental, e não, conforme claramente se percebe, a sua Causa Ideal. Nenhum orientalista parece haver compreendido, até agora, o verdadeiro sentido dos versículos que, nos Purânas, se referem à “criação”. Ali, Brahmâ é a causa das potências que devem ser geradas subseqüentemente para a obra da “Criação”. Por exemplo, no Vishnu Purâna184 , quando se traduz: “E de Ele procedem as potências que devem ser criadas, depois 184 Wilson, I, IV. 178 que se tornarem a causa real”, seria talvez mais correta esta tradução: “E de Ele procedem as potências que hão de criar, ao se converterem na causa real (no plano material).” A nenhuma outra que não aquela Causa Ideal Única (Sem Causa), pode atribuir-se o Universo. “É em virtude de sua potência (isto é, em virtude da potência daquela causa), ó Asceta, o mais digno dos Ascetas, que cada uma das coisas criadas surge por sua própria e inerente natureza.” Se, “na Vedanta e na Nyâyâ, nimitta é a causa eficiente em contraposição a apadhâna, a causa material, (e) na Sânkhya pradhâna abrange ambas as funções”, — na filosofia esotérica, que concilia todos esses sistemas e cuja explicação mais aproximada é a Vedanta, tal como a expõem os Vedantinos advaítas, não se pode especular senão quanto ao upâdhâna. O que para os vaishnavas (os Visishthadvaítas) é como o real em oposição ao ideal — ou Parabrahman e Ishvara — não pode ter lugar em nenhuma das especulações publicadas, visto que ainda esse ideal não passa de uma expressão errônea, quando se aplica ao que nenhuma razão humana, nem sequer a de um Adepto, é capaz de conceber. O autoconhecimento exige que sejam reconhecidas a consciência e a percepção — e ambas estas faculdades são limitadas em relação a todo e qualquer sujeito, exceto quanto ao Parabrahman. Daí o aludir-se ao “Alento Eterno que não conhece a si mesmo”. O Infinito não pode compreender o finito. O Ilimitado não pode ter relação com o limitado e o condicionado. Na doutrina oculta, o motor Ignoto e Incognoscível, ou o Existente por Si Mesmo, é a Essência Absoluta e Divina. E assim, sendo Consciência Absoluta e Absoluto Movimento — para os sentidos limitados dos que tentam descrever o que é indescritível —, é inconsciência e imutabilidade. A consciência concreta não pode ser atribuída à consciência abstrata, mais do que se pode atribuir à água a qualidade de molhar — sendo a umidade seu 179 próprio atributo e a causa da qualidade úmida em outras coisas. Consciência implica limitações e qualificações: algo de que ser consciente, e alguém para ser consciente. Mas a Consciência Absoluta contém o conhecedor, a coisa conhecida e o conhecimento; os três nela coexistem e formam um todo uno. Ninguém é consciente senão daquela parte do conhecimento que possa, em qualquer momento dado, evocar na mente; tal é, porém, a pobreza da linguagem humana que não dispomos de termos para distinguir o conhecimento em que não pensamos ativamente do conhecimento que não podemos reter na memória. Esquecer é sinônimo de não recordar. Quanto mais difícil será, então, encontrar palavras para descrever os fatos metafísicos e abstratos, e distinguir-lhes as diferenças! Deve-se ainda ter presente que nós definimos as coisas segundo as suas aparências. À Consciência Absoluta chamamos “Inconsciência”, porque assim nos parece que deva ser necessariamente, do mesmo modo que denominamos “Trevas” ao Absoluto, porque este parece de todo impenetrável à nossa compreensão finita. Mas não deixamos de plenamente reconhecer que a nossa percepção dessas coisas não se ajusta a elas. Involuntariamente distinguimos, por exemplo, entre a Consciência Absoluta inconsciente e a Inconsciência, atribuindo à primeira, em nosso foro íntimo, uma qualidade indefinida que corresponde, num plano superior ao que pode a nossa mente conceber, àquilo que conhecemos como consciência em nós mesmos. Mas não será nenhuma espécie de consciência que possamos distinguir do que a nós se apresenta como inconsciência. 3. A Hora ainda não havia soado; o Raio ainda não havia brilhado dentro do Germe (a); a Mâtripadma185 ainda não intumescera (b) 186 185 A Mãe-Lótus. 186 Expressão não poética, porém muito expressiva. 180 (a) O “Raio” das “Trevas Eternas”, ao ser emitido, converte-se em um Raio de Luz resplandecente ou de Vida, e penetra dentro do “Germe” — o Ponto no Ovo do Mundo, representado pela matéria em seu sentido abstrato. Não se deve, porém, entender a expressão “Ponto” como aplicável a um ponto particular do Espaço, porque existe um germe no centro de cada um dos átomos, e estes coletivamente constituem o “Germe”; ou melhor, como nenhum átomo pode se tornar visível aos nossos olhos físicos, a coletividade deles (se é possível empregar o termo em relação a algo que é ilimitado e infinito) representa o Númeno da Matéria eterna e indestrutível. (b) Uma das figuras simbólicas do poder Dual e Criador na Natureza (matéria e força no plano material) é “Padma”, o nenúfar da índia. O Lótus é o produto do calor (fogo) e da água (vapor ou éter); representando o fogo, em todos os sistemas filosóficos e religiosos, inclusive no Cristianismo, o Espírito da Divindade187 , o princípio ativo masculino e gerador, e o éter, ou Alma da matéria, a luz do fogo, simbolizando o princípio feminino e passivo, do qual emanaram todas as coisas deste Universo. O éter ou a água é, portanto, a Mãe, e o fogo é o Pai. Sir William Jones (e antes dele a botânica antiga) demonstrou que a semente do lótus contém, mesmo antes de germinar, folhas perfeitamente formadas, verdadeira miniatura da planta em que se vai algum dia transformar; oferecendo-nos a Natureza, deste modo, um exemplo de formação prévia dos seus produtos…; pois as sementes de todas as fanerógamas que têm flores propriamente ditas encerram uma pequena planta embrionária pré-formada188. Explica-se assim a frase: “A Mâtripadma ainda 187 Veja-se o Vol. II, Parte II, Seção III, “A Substância Primordial e Pensamento Divino”. 188 Gross: The Heathen Religion, pág. 195. 181 não intumescera”, sendo que geralmente a forma é sacrificada à idéia-máter ou interior, na simbologia arcaica. O Lótus ou Padma é, aliás, um símbolo antiqüíssimo e favorito do Cosmos e também do homem. Eis as razões populares que justificam sua adoção: em primeiro lugar, precisamente o fato que vimos de mencionar, o de conter a semente do Lótus dentro de si a miniatura perfeita da futura planta, o que simboliza a existência dos protótipos espirituais de todas as coisas no mundo imaterial, antes de se materializarem na Terra; em segundo lugar, a outra circunstância de que o Lótus cresce através da água, com suas raízes no Ilus ou no lodo, para abrir suas flores no ar. O Lótus é assim a imagem da vida do homem e também da do Cosmos, pois a Doutrina Secreta ensina que são idênticos os elementos de ambos e que um e outro se desenvolvem no mesmo sentido. A raiz do Lótus mergulhada no lodo representa a vida material; o talo, que se lança para cima e atravessa a água, simboliza a existência no mundo astral; e a flor, que flutua na água e se abre para o céu, é o emblema da vida espiritual. 4. Seu coração ainda não se abrira para deixar penetrar o Raio Único e fazê-lo cair em seguida, como Três em Quatro, no Regaço da Mãe. A Substância Primordial ainda não saída do seu estado latente pré– cósmico para a objetividade, diferenciada, nem sequer para se converter no Prótilo invisível (aos olhos do homem pelo menos). Mas, uma vez “soada a hora” e fazendo-se receptora da impressão Fohática do Pensamento Divino (o Logos, ou aspecto masculino da Anima Mundi, Alaya), o seu “Coração” se abre. Diferencia-se, e os Três (Pai, Mãe e Filho) passam a ser Quatro. Eis aqui a origem do duplo 182 mistério da Trindade e da Imaculada Conceição. O dogma primeiro e fundamental do Ocultismo é a Unidade Universal (ou Homogeneidade) sob três aspectos. O que conduz a uma concepção possível da Divindade, que, como Unidade absoluta, deve permanecer sempre incompreensível para as inteligências finitas. “Se queres crer no Poder que atua na raiz de uma planta, ou imaginar a raiz que ela oculta no solo, tens que pensar em seu caule ou tronco, em suas folhas e flores. Não podes imaginar aquele Poder independentemente destas coisas. A Vida não pode ser conhecida senão pela Árvore da Vida189…” A idéia da Unidade Absoluta ficaria por completo anulada em nossa concepção se não dispuséssemos de algo concreto para conter essa Unidade. Sendo absoluta, a Divindade é necessariamente onipresente; e portanto não existe átomo que não A contenha em si. A raiz, o tronco e os inúmeros ramos são três coisas distintas, e no entanto constituem uma árvore. Dizem os cabalistas: “A Divindade é Una, porque é Infinita. É Tríplice, porque sempre está se manifestando.” Esta manifestação é trina em seus aspectos, pois, como diz Aristóteles, são necessários três princípios para todo corpo natural se torne objetivo: privação, forma e matéria190. Privação significava, na mente do grande filósofo, o que os ocultistas denominam protótipos impressos na Luz Astral, o último dos mundos e planos 189 Precepts of Yoga 190 Um vedantino da filosofia Visishthadvaíta diria que, apesar de ser a única Realidade independente, Parabrahman é inseparável de sua trindade. Que Ele é três: “Parabrahman, Chit e Achit”, sendo os dois últimos Realidades dependentes e incapazes de existir separadamente; ou, falando com maior clareza, que Parabrahman é a Substância — imutável, eterna e incognoscível — e Chit (Âtmâ) e Achit (Anâtmâ) são suas qualidades, como a forma e a cor são as qualidades de qualquer objeto. Os dois últimos são a vestimenta do corpo, ou melhor, aspectos de Parabrahman, (isto é, sharira). Um ocultista teria, porém, muito que dizer sobre isso; e os vedantinos advaítas igualmente. 183 inferiores da Anima Mundi. A união daqueles três princípios depende de um quarto: a Vida que se irradia dos cumes do Inatingível, para converter-se em uma Essência universalmente difundida nos planos manifestados da Existência. E esse Quaternário (Pai, Mãe, Filho, como Unidade, e Quaternário como manifestação viva) foi o fundamento que deu lugar à antiqüíssima idéia da Imaculada Conceição, cristalizada agora em um dogma da Igreja Cristã, que assim materializou e fez encarnar este símbolo metafísico, aberrando de todo senso comum. Porque basta ler a Cabala e estudar os seus métodos numéricos de interpretação para encontrar a origem daquele dogma. É puramente astronômico, matemático e, sobretudo, metafísico: o Elemento Masculino da Natureza (personificado pelas divindades masculinas e pelos Logos — Virâj ou Brahmâ, Hórus ou Osíris etc., etc.) — nasce através de (e não de) uma fonte imaculada, personificada na “Mãe”, pois aquele Varão, tendo “Mãe”, não pode ter “Pai”, uma vez que a Divindade Abstrata carece de sexo, por não ser propriamente um Ser, mas Asseidade ou Vida por Si Mesma. Expressemos isto na linguagem matemática do autor de The Source of Measures. Falando da “Medida de um Homem” e de seu valor numérico (cabalístico), escreve ele que no capítulo IV do Gênesis. “É chamada a Medida do ‘Homem igual a Jehovah’, obtendo-se da seguinte maneira: 113 X 5 = 565; e o valor de 565 pode ser enunciado sob a forma de 56,5 X 10. Aqui o número do Homem, 113, se converte em um fator de 56,5 X 10, e a leitura (cabalística) desta última expressão é Jod, He, Vau, He, ou Jehovah… O desdobramento de 565 em 56,5 X 10 tem por fim demonstrar como o princípio masculino 184 (Jod) emanou do feminino (Eva); ou, por assim dizer, como o elemento masculino nasceu de uma fonte imaculada. Em outras palavras: uma imaculada conceição.” Deste modo temos a repetição, na Terra, daquele mistério que, segundo os videntes, se realizou no plano divino. O Filho da Virgem Celeste Imaculada (ou o Prótilo Cósmico não diferenciado, a Matéria em sua infinidade) nasce de novo na terra como Filho da Eva terrestre (nossa mãe a Terra) e se torna a Humanidade como um todo — passado, presente e futuro —; porque Jehovah, ou Jod-He-VauHe, é andrógino, ou macho e fêmea ao mesmo tempo. Em cima, o Filho é todo o Cosmos; embaixo, a Humanidade. A Tríade ou Triângulo se converte no Tetraktys, o sagrado número pitagórico, o Quadrado perfeito e, sobre a Terra, um Cubo de seis faces. O Macroposopo (a Grande Face) passa a ser o Microposopo (a Face Menor); ou, como dizem os cabalistas, o “Ancião dos Dias”, descendo sobre Adão-Kadmon, que utiliza como veículo de manifestação, fica transformado no Tetragrammaton. Acha-se então, no “Regaço de Mâyâ”, a Grande Ilusão, e entre Ele e a Realidade se interpõe a Luz Astral, a Grande Enganadora dos Sentidos limitados do homem, a menos que o conhecimento venha em seu auxílio por intermédio de Paramârthasatya. 5. Os Sete191 não haviam ainda nascido do Tecido de Luz. O Pai-Mãe, Svabhâvat, era só Trevas; e Svabhâvat jazia nas Trevas (a). 191 Filhos 185 (a) A Doutrina Secreta, nas Estâncias que ora apresentamos, se ocupa principalmente, senão por completo, do nosso sistema solar e em especial de nossa Cadeia Planetária. Os “Sete Filhos” são os criadores desta última. Este ensinamento será explicado mais adiante com amplitude maior. Svabhâvat192, a “Essência Plástica” que preenche o Universo, é a raiz de todas as coisas. Svabhâvat é, por assim dizer, o aspecto budista concreto da abstração denominada Mûlaprakriti na filosofia hindu. É o corpo da Alma, e aquilo que o Éter seria em relação ao Âkâsha, sendo este último o animador do primeiro. Os místicos chineses fizeram-no sinônimo de “O Ser”. Na tradução chinesa do Ekashloka-Shâstra de Nâgârjuna (o Lung-shu da China), sob o nome de Yib-shu-lukia-lun, se diz que a palavra “Ser” ou “Subhâva” (Yu em chinês) significa “a Substância que dá substância a si mesma”; também se explica como significando “sem ação e com ação”, “a natureza que não possui natureza própria”. Subhâva, de que se derivou Svabhâvat, compõe-se de duas palavras: Su, belo, formoso, bom e bhâva, ser ou estado de ser. 6. Estes dois são o Germe, e o Germe é Uno. O Universo ainda estava oculto no Pensamento Divino e no Divino Seio. O “Pensamento Divino” não implica a idéia de um Pensador Divino. O Universo, não só passado, presente e futuro — o que é uma idéia humana e finita, expressa por meio de um pensamento finito — mas em sua totalidade, o Sat (termo intraduzível), o Ser Absoluto, com o Passado e o Futuro cristalizados em um eterno Presente, eis aí aquele Pensamento Divino refletido em uma causa secundária ou 192 Veja-se o Vol. II, Parte II, Seção XII, “A Teogonia e os Deuses Criadores”. 186 manifestada. Brahman (neutro), como o Mysterium Magnum de Paracelso, é um mistério absoluto para a mente humana. Brahmâ, o macho-fêmea, o aspecto e imagem antropomórfica de Brahman, é acessível para a percepção que se baseia na fé cega, muito embora o repugne a razão humana que alcançou a maturidade193 . Daí a afirmação de que durante o prólogo, por assim dizer, do drama da Criação, ou o começo da evolução cósmica, o Universo (ou o Filho) “estava ainda oculto no Pensamento Divino” e não havia ainda penetrado “no Divino Seio”. Esta idéia, observe-se bem, é a fundamental, e constitui a origem de todas as alegorias concernentes aos “Filhos de Deus”, nascidos de virgens imaculadas.

ESTÂNCIA III………………………………………………………………………………………….142

 

ESTÂNCIA IV …………………………………………………………………………………………144

 

ESTÂNCIA V ………………………………………………………………………………………….146

 

ESTÂNCIA VI …………………………………………………………………………………………147

ESTÂNCIA VII ………………………………………………………………………………….

COMENTÁRIOS………………………………………………………………………………………151

AOS TEXTOS E EXPRESSÕES DAS SETE ESTÂNCIAS ……………………………151

ESTÂNCIA I……………………………………………………………………………………………151

ESTÂNCIA II…………………………………………………………………………………………..174

ESTÂNCIA III………………………………………………………………………………………….186

ESTÂNCIA IV …………………………………………………………………………………………218

ESTÂNCIA V ………………………………………………………………………………………….246

ESTÂNCIA VI …………………………………………………………………………………………289

UMA DIGRESSÃO……………………………………………………………………………….312

ALGUNS CONCEITOS TEOSÓFICOS PRIMITIVOS ERRÔNEOS REFERENTES AOS PLANETAS, ÀS RONDAS E AO HOMEM………………….314

FATOS E EXPLICAÇÕES ADICIONAIS REFERENTES AOS GLOBOS E ÀS MÔNADAS………………………………………………………………………………………….343

ESTÂNCIA VI (Continuação)…………………………………………………………………….378

ESTÂNCIA VII ………………………………………………………………………………………..411 RESUMO…………………………………………………………………………………………………..495

EXCERTOS DE UM COMENTÁRIO PRIVADO MANTIDO EM SEGREDO ATÉ AGORA ………………………………………………………………………………………………526

NOTAS ADICIONAIS……………………………………………………………………………..545

BIBLIOGRAFIA ………………………………………………………………………………………….548

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS MODERNAS ………………………………………………552

LIVROS ADICIONAIS PARA REFERÊNCIA ……………………………………………….553

GLOSSÁRIO ……………………………………………………………………………………………..558

DE TERMOS EMPREGADOS NAS SETE PRIMEIRAS ESTÂNCIAS DO LIVRO DE DZYAN……………………………………………………………………………………………..558

ESTÂNCIA I ………………………………………………………………………………………..558 5

ESTÂNCIA II ……………………………………………………………………………………….559

ESTÂNCIA III ………………………………………………………………………………………560

ESTÂNCIA IV………………………………………………………………………………………561

ESTÂNCIA V……………………………………………………………………………………….563

ESTÂNCIA VI………………………………………………………………………………………564

ESTÂNCIA VII……………………………………………………………………………………..566

Índices de Figuras

Figura 1: DIAGRAMA I …………………………………………………………..315

Figura 2: DIAGRAMA II ……………………………………………………………………………….346

Figura 3: CADEIA LUNAR……………………………………………………………………………346

Figura 4: CADEIA TERRESTRE …………………………………………………………………..346

Figura 5: DIAGRAMA III ………………………………………………………………………………392

Figura 6: DIAGRAMA IV………………………………………………………………………………456

Índice de Quadros Quadro 1: DIVISÃO SETENÁRIA EM DIFERENTES SISTEMAS HINDUS…………322

Quadro 2 …………………………………………………………………………………………………..457

Quadro 3 …………………………………………………………………………………………………..458

Links

Helena Blavatsky

Alice Bailey 

http://curso.astrothon.com.br/links-de-textos-e-videos-de-hector-othon/

Astrologia esotérica 

Os signos zodiacais na Astrologia Esotérica  

Missão de cada signo por Martin Shulman

 https://youtu.be/KZbIO-yDEbQ – video arte sobre cosmogênese

Osmir Clemente

https://youtu.be/yscvPbIKY_8  -Antropogenese e Cosmogenese

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