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Estância 7 Cosmogenese | Curso Astrothon
Curso Astrothon

Estância 7 Cosmogenese

p 411

ESTÂNCIA VII

Os Progenitores do Homem na Terra

1. Observa o começo da Vida Uniforme senciente (a) Primeiro, o Divino (Veículob), o Um que procede do Espírito-Mãe(Atman)); depois, o Espiritual (c); os Três provindos do Um (d), os Quatro do Um (e), e os Cinco (f) de que procedem os Três, os Cinco e os Sete (g). São os Triplos e os Quádruplos em sentido descendente; os Filhos nascidos da Mente do Primeiro Senhor Avalokiteshvara, os Sete Radiantes473. São eles o mesmo que tu, eu, ele, ó Lanu ! os que velam sobre ti e tua mãe, Bhümi(Terra) .

(a) A Hierarquia dos Poderes Criadores divide-se esotericamente em Sete (quatro e três) compreendidas nas Doze Grandes Ordens simbolizadas pelos doze signos do Zodíaco.

Estas sete ordens da escala manifestada relacionam-se com os sete planetas. Todas se acham subdivididas em inumeráveis grupos de Seres divinos espirituais, semi-espirituais e etéreos. Tem relação com os princípios cósmicos. No Grande Quaternário — ou “os quatro corpos e as três faculdades” (exotericamente) de Brahmâ, e o Panchâsya, os cinco Brahmâs ou os cinco Dhyâni Buddhas, no sistema budista — há uma ligeira indicação das principais dessas Hierarquias. O grupo mais elevado compõe-se das Chamas Divinas, também mencionadas como “Leões do Fogo” e “Leões da Vida”, e cujo esoterismo está configurado no signo zodiacal de Leo.

É o nucleus do Mundo Superior Divino. São os Sopros ígneos Sem Forma, idênticos, sob certo aspecto, à Tríade Sephirothal superior, que os cabalistas situam no “Mundo-Arquétipo”.

A mesma Hierarquia, com os mesmos números, se encontra no sistema japonês, nos “Princípios” ensinados pelas seitas xintoístas e budistas. Nesse sistema, a Antropogênese precede a Cosmogênese, pois o Divino se submerge no humano e, a meio caminho de sua descida na matéria, cria o Universo visível. Os personagens legendários, como observa reverentemente Omoie, “devem ser considerados como a encarnação estereotipada da doutrina superior (secreta) e de suas verdades sublimes”.

A exposição completa desse antigo sistema tomar-nos-ia demasiado espaço; diremos, contudo, algumas palavras.

O que se segue é uma espécie de quadro sinóptico e bastante resumido dessa Antropocosmogênese, em que se observa com clareza até que ponto os povos mais distanciados repetem o eco do mesmo ensinamento arcaico.

Quando tudo ainda era Caos (Kon-ton), três seres espirituais surgiram na cena da futura criação:

1º) Ame no ani naka nushi no Kami, “o Divino Monarca do Céu Central”;

2º) Taka mi onosubi no Kami, a “Progênie Exaltada, Imperial e Divina do Céu e da Terra”;

3º) Kamu mi musubi no Kami, “a Progênie dos Deuses”, simplesmente.

Tais seres careciam de forma e de substância — a nossa Tríade Arûpa -, pois nem a substância celeste nem a terrestre estavam ainda diferenciadas, e “a essência das coisas não tinha sido formada”.

(b) No Zohar — que, tal como agora se acha, compilado e reeditado por Moisés de León, no século XIII, com o auxílio de gnósticos cristãos da Síria e da Caldéia, e corrigido e revisto mais tarde por muitas mãos cristãs, só é um pouco menos exotérico que a própria Bíblia — no Zohar, dizíamos aquele “Divino Veículo” já não se apresenta como no Livro dos Números caldeu. Verdade é que Ain-Soph, o Nada Absoluto e Sem Limites, utiliza também a forma do Uno, o “Homem Celeste” manifestado (a Causa Primeira), como sua Carruagem (em hebreu Mercabah, em sânscrito Vahâna), para descer e manifestar-se no mundo dos fenômenos. Mas os cabalistas não esclarecem como pode o Absoluto servir-se do que quer que seja, nem exercer algum atributo, visto que, como Absoluto, carece inteiramente de atributos; não explicam tampouco o que realmente seja a Causa Primeira (o Logos de Platão), a ideia original e eterna, que se manifesta por meio de Adão Kadmon, o Segundo Logos, por assim dizer. No Livro dos Números se explica que Ain (En ou Aiôr) é o único existente por si mesmo, e, que o seu “Oceano”, o Bythos dos gnósticos, chamado Propatôr, não é senão periódico.

Este último é Brahmâ, como diferenciado de Brahman ou Parabrahman. É o Abismo, a Origem da Luz ou Propatôr, que é o Logos Não Manifestado ou a Idéia Abstrata, e não Ain-Soph, cujo Raio se serve de Adão Kadmon (“macho e fêmea”) ou o Logos Manifestado, o Universo objetivo, como de uma carruagem, para que se possa manifestar. Mas no Zohar lemos a seguinte incongruência: “Sênior occultatus est, et absconditus; Microposopus manifestus est, 414 et non manifestus475”. É um sofisma, pois que o Microposopus, ou Microcosmo, somente pode existir durante suas manifestações, sendo destruído durante os Mahâpralayas. A Kabalah de Rosenroth, em vez de guia, é freqüentemente origem de confusão.

A Primeira Ordem é a Divina. Como no sistema japonês, no egípcio e em cada uma das antigas cosmogonias, nesta Chama Divina, que é o “Um”, são acesos os Três Grupos descendentes.

Tendo sua essência potencial no grupo superior, eles aparecem, nesse momento, como Entidades distintas e separadas. São chamados as Virgens da Vida, a Grande Ilusão etc., e, coletivamente, a “estrela de seis pontas”. Esta última, em quase todas as religiões, é o símbolo do Logos como primeira emanação. Na Índia, é o signo de Vishnu, o Chakra ou Roda; e na Cabala, o emblema do Tetragrammaton, “O de Quatro Letras”, ou, metaforicamente, “os Membros do Microposopo”, que são dez e seis, respectivamente. Os últimos cabalistas, e em especial os místicos cristãos, deturparam de maneira lamentável este magnífico símbolo. E o Microposopo — que, visto sob o ângulo filosófico, é inteiramente distinto do Logos não manifestado e eterno, “uno com o Pai” — acabou sendo, depois de séculos de sofismas e de paradoxos, considerado como uno com Jehovah, o Deus único vivente (!), quando Jeová, afinal de contas, não é mais que Binah, um Sephira feminino.

Nunca será demais insistir neste ponto, para que o leitor o grave bem: os “Dez Membros” do “Homem Celeste” são os dez Sephiroth, mas o primeiro “Homem Celeste” é o Espírito Não Manifestado do Universo, não devendo jamais ser desvirtuado e confundido com o Microposopo, a Face ou Aspecto Menor, o protótipo do homem no plano terrestre. O 475 Roseroth, Líber Mysterii, IV, I. 415 Microposopo, como dissemos, é o Logos manifestado, e há muitos destes Logos. Deles nos ocuparemos mais tarde. A estrela de seis pontas relaciona-se com as seis Forças ou Poderes da Natureza, com os seis planos, princípios etc. etc., todos sintetizados pelo sétimo ou ponto central da Estrela. Todos, incluindo as Hierarquias superiores e inferiores, emanam da Virgem Celeste, a Grande Mãe em todas as religiões, o Andrógino, o Sephira Adão Kadmon. Sephira é a Coroa, Kether, mas somente no princípio abstrato, como um x matemático, a quantidade desconhecida.

No plano da Natureza diferenciada, ela é a imagem feminina de Adão Kadmon, o primeiro Andrógino. A Cabala ensina que o Fiat Lux476 se refere à formação e à evolução dos Sephiroth, e não à luz como o oposto das trevas. Diz o Rabino Simeão: “Oh! companheiros, companheiros! O homem, como emanação, era ao mesmo tempo homem e mulher, Adão Kadmon verdadeiramente, e este é o sentido das palavras ‘Faça-se a Luz, e a Luz foi feita’. E é este o homem duplo477.” Em sua Unidade, a Luz Primordial é o mais elevado dos princípios, o sétimo, Daiviprakriti, a Luz do Logos Não-Manifestado. Mas, em sua diferenciação, passa a ser Fohat ou os “Sete Filhos”. O primeiro é simbolizado pelo ponto Central no Triângulo Duplo; o segundo, pelo Hexágono, ou os “Seis Membros” do Microposopo; e o sétimo é Malkuth, a “Esposa” dos cabalistas cristãos, ou a nossa Terra. Donde as expressões: 476 Gênesis, I. 477 Auszüge aus dem Zohar, págs. 13-15. 416

O primeiro depois do Um é o Fogo Divino; o segundo, o Fogo com o Éter; o terceiro é composto de Fogo, Éter e Água; o quarto, de Fogo, Éter, Água e Ar. O Um não se ocupa dos Globos habitados pelo homem, mas das Esferas internas e invisíveis. O Primogênito é a VIDA, o Coração e o Pulso do Universo; o Segundo é sua MENTE e Consciência. Esses elementos: Fogo, Água etc., não são os nossos elementos compostos; e aquela “Consciência” não tem nenhuma relação com a nossa. A consciência do “Um Manifestado”, se não é absoluta, é ainda não condicionada. Mahar, a Mente Universal, é a primeira produção do Brahmâ Criador, como também a de Pradhâna, a Matéria não diferenciada. (c) A Segunda Ordem de Seres Celestes, os do Fogo e do Éter, que correspondem ao Espírito e à Alma, ou Âtmâ-Buddhi, e cujo nome é legião, ainda carecem de forma, sendo, porém, mais distintamente “substanciais”. Constituem a primeira diferenciação na Evolução secundária ou “Criação”, que é uma palavra enganosa. Como o nome indica, são os protótipos dos Jivas ou Mônadas que se encarnam, sendo formados pelo Espírito Flamante da Vida. Qual a luz pura do Sol, o Raio passa através deles, que lhe proporcionam o seu veículo futuro, a Alma Divina, Buddhi. Acham-se diretamente relacionados com as Legiões do Mundo Superior de nosso sistema. Destas Unidades Duplas emanam as “Tríplices”. Na cosmogonia japonesa, quando no meio da massa caótica aparece um núcleo em forma de ovo, que contém o germe potencial de toda a vida, é o Triplo que se diferencia. O princípio (Yo) masculino etéreo sobe, e o princípio feminino (In), 417 mais material e grosseiro, se precipita no universo da substância, processando-se uma separação entre o celeste e o terrestre. Deste, o feminino, a Mãe, nasce o primeiro ser objetivo e rudimentar. É etéreo, sem forma nem sexo; no entanto, é dele e da Mãe que nascem os Sete Espíritos Divinos, dos quais emanarão as sete “criações”, exatamente do mesmo modo que, no Codex Nazaræus, é de Karabtanos e da Mãe “Spirítus” que nascem os sete espíritos “mal dispostos” (materiais). Seria por demais extenso darmos aqui os nomes japoneses; mas, devidamente traduzidos, figuram na seguinte ordem: 1. O “Celibatário Invisível”, que é o Logos Criador do “Pai” que não cria, ou a potencialidade criadora deste último, manifestada. 2. O “Espírito (ou o Deus) dos Abismos sem raios (Caos)”, que converte em matéria diferenciada, ou material para mundos, e também no reino mineral. 3. O “Espírito do Reino Vegetal”, da “Vegetação Abundante”. 4. O “Espírito da Terra” e o “Espírito das Areias”; Seres de natureza dupla, a primeira encerrando a potencialidade do elemento masculino, e a segunda a do elemento feminino. Estes dois elementos eram um, ainda inconscientes de que fossem dois. Em tal dualidade se continham: (a) Isu no gaino Kami, o Ser masculino, obscuro e musculoso; (b) Eku hai no Kami, o Ser feminino, branco, mais fraco e delicado. Em seguida: 5. e 6. Os Espíritos andróginos ou de duplo sexo. 418 7. O Sétimo Espírito, o último emanado da Mãe, e que aparece como a primeira forma divina e humana com características definidas de varão e mulher. Foi a sétima “criação”, como nos Purânas, em que o homem é a sétima criação de Brahmâ. Estes Tsanagi-Tsanami desceram ao Universo pela Ponte Celeste, a Via Láctea; a “Tsanagi, avistando em baixo uma caótica massa de nuvens e de água, cravou no meio delas a sua lança coberta de pedras preciosas, e a terra seca apareceu. Então os dois se separaram para explorar Onokoro, o mundo-ilha novamente criado”. (Omoie.) Tais são as fábulas exotéricas japonesas, a crosta que oculta a mesma verdade contida na Doutrina Secreta. (d) A Terceira Ordem corresponde a Âtmâ-Buddhi-Manas: Espírito, Alma e Inteligência; é chamada a “Tríade”. (e) A Quarta Ordem é formada pelas Entidades substanciais. É o grupo mais elevado entre os Rûpas (Formas Atômicas). É o viveiro das Almas humanas, conscientes e espirituais. São chamados os “Jivas imortais” e constituem, por intermédio da Ordem que lhes é inferior, o primeiro Grupo da primeira Legião Setenária — o grande mistério do Ser humano consciente e intelectual. Pois este último é o campo em que jaz oculto, em sua privação478, o Germe que irá cair na geração. Este Germe converter-se-á na força espiritual que, na célula física, guia o desenvolvimento do embrião e é a causa da transmissão das faculdades 478 Em potência, não manifestado. 419 hereditárias, e de todos os atributos inerentes ao homem. Não quer isso dizer que o Ocultismo ensine ou aceite a teoria darwinista da transmissão das faculdades adquiridas. Para os ocultistas, a evolução segue linhas inteiramente diferentes; segundo o ensinamento esotérico, o físico evoluciona gradualmente do espiritual, mental e psíquico. Esta alma interna da célula física — o “plasma espiritual” que domina o plasma germinal — é a chave que deve um dia abrir as portas daquela terra incógnita do biologista, até agora considerada o obscuro mistério da Embriologia. É digno de nota que, se a química moderna rejeita, por supersticiosa, a teoria do Ocultismo, e também da Religião, relativamente aos Seres substanciais e invisíveis, chamados Anjos, Elementais, etc. (sem naturalmente se deter na filosofia dessas Entidades incorpóreas, ou sobre ela meditar), foi, não obstante, inconscientemente obrigada, pela observação e pelas descobertas que se fizeram, a reconhecer e adotar a mesma razão de progressão e de ordem na evolução dos átomos químicos, ensinada pelo Ocultismo quanto aos seus Dhyânis e os seus Átomos (sendo a analogia a sua lei primeira). Conforme há pouco vimos, o primeiro Grupo dos Anjos Rûpa é quaternário, adicionando-se mais um elemento a cada Ordem, em escala descendente. Analogamente, são os átomos, de acordo com a nomenclatura química, monoatômicos, diatômicos, triatômicos, tetratômicos etc., à medida que vão descendo na escala. Convém lembrar que o Fogo, a Água e o Ar do Ocultismo, ou os chamados “Elementos da Criação Primária”, não são os elementos compostos que existem na terra, mas Elementos numênicos homogêneos: os Espíritos dos elementos terrestres. Vêm depois os Grupos ou Legiões Setenárias. Se dispostos em um diagrama, em linhas paralelas com os átomos, veremos que as naturezas 420 destes Seres correspondem, em sua escala de progressão decrescente, e de modo matematicamente idêntico, quanto à analogia, aos elementos compostos. É claro que isto somente pode observar-se em diagramas organizados por ocultistas; porque, se a escala de Seres Angélicos fosse colocada paralelamente à dos átomos químicos da Ciência — desde o hipotético hélio ao urânio —, certamente que haveria diferenças. No Plano Astral, os últimos só encontram correspondentes nas quatro ordens inferiores; os três princípios mais elevados do átomo, ou melhor, da molécula ou elemento químico, são perceptíveis unicamente ao cilho do Dangma iniciado. Mas, se a química quisesse ir pelo caminho verdadeiro, teria que corrigir seu esquema tabular, para dar-lhe consonância com o dos ocultistas — o que, sem dúvida, se recusaria a fazer. Na Filosofia Esotérica, cada partícula física depende de seu correspondente número superior, o Ser a cuja essência pertence; e, em cima como em baixo, o Espiritual evolve do Divino, o Psicomental do Espiritual — tingido em seu plano inferior pelo astral —, seguindo toda a Natureza, a animada e a inanimada (em aparência), o seu processo evolutivo em linhas paralelas, e retirando o seus atributos tanto de cima como de baixo. O número sete, aplicado ao termo Legião Setenária, referido acima, não compreende somente Sete Entidades, mas também Sete Grupos ou Legiões, como já explicamos. O Grupo mais elevado, o dos Asuras nascidos do primeiro corpo de Brahmâ, que se converteu em “Noite”, é setenário; isto é, divide-se (como o dos Pitris) em sete classes, das quais três são Arûpa (sem corpo), e quatro possuem corpo479. São eles mais propriamente os nossos Pitris (Antepassados) que os Pitris que projetaram o primeiro homem físico. 479 Veja-se Vishnu Purâna, livro I. 421 (f) A Quinta Ordem é sobremodo misteriosa, relacionada, que é, com o Pentágono microcósmico, a estrela de cinco pontas, que representa o homem. Na índia e no Egito, estes Dhyânis estavam associados ao Crocodilo, e sua morada era no Capricórnio. Mas, na astrologia hindu, esses termos são transmutáveis; pois o décimo signo do Zodíaco, que é chamado Makara, pode ser traduzido livremente por “Crocodilo”. A palavra chega a ser interpretada de várias maneiras em Ocultismo, como se verá mais adiante. No Egito, o defunto — que tinha por símbolo o pentagrama ou a estrela de cinco pontas (correspondentes aos membros do homem) — era apresentado emblematicamente sob a aparência de um crocodilo, em que se transformava. Sebekh, ou Sevekh (o “Sétimo”), como diz Gerald Massey, atribuindo-lhe o tipo da inteligência, é na realidade um dragão, e não um crocodilo. É o “Dragão da Sabedoria”, ou Manas, a Alma Humana, a Mente, o Princípio Inteligente, o Quinto Princípio em nossa Filosofia Esotérica. No Livro dos Mortos ou Ritual, o defunto “osirificado”, que aparece sob o emblema de um Deus em forma de múmia com cabeça de crocodilo, assim fala: “Eu sou o crocodilo que preside ao medo. Eu sou o Deus-Crocodilo que traz a sua Alma entre os homens. Eu sou o Deus-Crocodilo que veio para destruir.” É uma alusão à destruição da pureza espiritual e divina, quando o homem adquire o conhecimento do bem e do mal, e também aos Deuses ou Anjos “caídos” de todas as teogonias. 422 “Eu sou o peixe do grande Horus” (como Makara é o “Crocodilo” ou veículo de Varuna). “Eu estou submergido em Sekhem480.” A última frase corrobora e repete a doutrina do “Buddhismo” esotérico, com aludir diretamente ao Quinto Princípio (Manas), ou melhor, à parte mais espiritual de sua essência, que se submerge em Âtmâ-Buddhi, é por ele absorvida e com ele se identifica após a morte do homem. Pois Sekhem é a residência, ou Loka, do deus Khem (Horus-Osíris ou Pai e Filho); daí o Devachan de Âtmâ-Buddhi. No Livro dos Mortos, vê-se o defunto entrar em Sekhem com Horus-Thot e “sair como espírito puro”. Diz o defunto: “Eu vejo as formas de [mim mesmo com vários] homens que se transformam eternamente… Eu conheço este (capítulo). Aquele que o conhece… assume toda espécie de formas viventes481.” E, dirigindo-se com uma fórmula mágica ao que no esoterismo egípcio se chama “o coração ancestral”, ou o princípio que reencarna, o Ego permanente, diz mais o defunto: “Oh! coração meu, meu coração ancestral, tu que és necessário às minhas transformações… não te separes de mim ante o guardião das balanças!

Tu és a minha personalidade 480 Cap. LXXXVIII. 481 Cap. LXIV, 29,30. 423 dentro do meu peito, o divino companheiro que vela sobre as minhas carnes (corpos)482.” É em Sekhem que está oculta a “Face Misteriosa”, o homem real subjacente à falsa personalidade, o crocodilo tríplice do Egito, o símbolo da Trindade superior ou Tríade humana, Âtmâ, Buddhi e Manas. Uma das explicações do verdadeiro significado oculto desse emblema religioso egípcio descobre-se facilmente. O crocodilo é o primeiro a esperar e receber os raios ardentes do sol da manhã, e logo passou a personificar o calor solar. O surgir do sol era como a chegada na terra e entre os homens “da alma divina que anima os Deuses”. Daí aquele estranho simbolismo. A múmia tomava a cabeça de um crocodilo para mostrar que era uma Alma que chegava à terra. Em todos os antigos papiros, é o crocodilo chamado Sebekh (Sétimo); a água simboliza também, esotericamente, o quinto princípio; e, conforme já dissemos, Gerald Massey demonstra que o crocodilo era considerado a “Sétima Alma, a Alma suprema das sete, o Vidente invisível”. Mesmo exoterkamente, Sekhem é a morada do Deus Khem, e Khem é Hórus que vinga a morte de seu pai Osíris, e que, portanto, castiga o homem pelos seus pecados quando ele se torna uma Alma desencarnada. Assim, o defunto “osirificado” converte-se no Deus Khem, que “ceifa o campo de Aanroo”, isto é, que colhe a sua recompensa ou o seu castigo; pois esse campo é o sítio celeste (Devachan), onde o morto recebe o trigo, o alimento da justiça divina. Supõe-se que o Quinto Grupo dos Seres Celestes encerra em si os duplos atributos dos aspectos espiritual e físico do Universo, os dois pólos por assim dizer, de Mahat, a Inteligência Universal, e a natureza dual do homem, a espiritual e 482 Ibid., 34-35. 424 a física. E é por isso que o seu número Cinco, duplicado e convertido em Dez, o relaciona com Makara, o décimo signo do Zodíaco. (g) A Sexta e a Sétima Ordens participam das qualidades inferiores do Quaternário. São Entidades conscientes e etéreas, tão invisíveis quanto o Éter; como os ramos de uma árvore, elas brotam do primeiro Grupo central dos Quatro, e por seu turno fazem brotar de si inúmeros Grupos secundários, dos quais os inferiores são os Espíritos da Natureza, ou Elementais, de espécies e variedades infinitas; desde os informes e insubstanciais — os Pensamentos ideais de seus criadores — até os atômicos, organismos invisíveis à percepção humana. Estes últimos são considerados “os espíritos dos átomos”, constituindo o primeiro degrau que antecede o átomo físico (criaturas sencientes, se não inteligentes). Todos estão sujeitos ao Carma, e devem esgotá-lo em cada ciclo. Ensina a Doutrina Secreta que não existem seres privilegiados no Universo, assim em nosso sistema como nos outros, assim nos mundos externos como nos mundos internos483 — seres privilegiados à maneira dos Anjos da religião ocidental ou dos judeus. Um Dhyân Chohan não surge ou nasce como tal, subitamente, no plano da existência, isto é, como um Anjo plenamente desenvolvido; mas veio a ser o que é. A Hierarquia Celeste do Manvantara atual ver-se-á transportada, no próximo ciclo de vida, a Mundos superiores, e dará lugar a uma nova Hierarquia composta dos eleitos de nossa humanidade. A existência é um ciclo interminável no seio da Eternidade Absoluta, em que se movem inúmeros ciclos internos, finitos e condicionados. Deuses criados como tais não demonstrariam nenhum mérito pessoal em ser Deuses. Semelhante classe de Seres — perfeitos unicamente em virtude da 483 Um Mundo considera-se “Mundo Superior” não por causa de sua localização, mas por sua essência ou qualidade. O profano, no entanto, entende esse Mundo como o “Céu”, colocando-o por cima de nossas cabeças. 425 natureza imaculada e especial que lhes fosse inerente — em face de uma humanidade que luta e sofre, e ainda das criaturas inferiores, seria o símbolo de uma injustiça eterna de caráter inteiramente satânico, um crime para todo o sempre presente. Uma anomalia e uma impossibilidade na Natureza. Portanto, devem os “Quatro” e os “Três” encarnar-se como todos os demais seres. Por outra parte, este Sexto Grupo é quase inseparável do homem, que dele retira todos os seus princípios, exceto o mais elevado e o inferior, ou seja, o seu espírito e o seu corpo: os cinco princípios humanos do meio constituem a própria essência dos Dhyânis. Paracelso dá-lhes o nome de Flagæ; os cristãos, o de Anjos da Guarda; os ocultistas, o de Pitris (Antepassados). São os Dhyân Chohans Sêxtuplos, que possuem na composição de seus corpos os seis Elementos espirituais; são, portanto, idênticos ao homem, menos o corpo físico. Só o Raio Divino, Âtman, provém diretamente do Uno. Perguntar-se-á: como pode ser? Como é possível conceber que estes “Deuses” sejam, ao mesmo tempo, suas próprias emanações e seus “Eus” pessoais? Será em sentido idêntico ao do mundo material, em que o filho é (de certo modo) o próprio pai, visto ser o seu sangue, o osso de seus ossos e a carne de sua carne? A isso respondem os Mestres: Em verdade, assim é. Mas só depois de penetrar no âmago do mistério do Ser é que se pode ter a perfeita compreensão desta verdade. 2. O Raio Único multiplica os Raios menores. A vida precede a Forma, e a Vida sobrevive ao último átomo484. Através dos Raios inumeráveis, 484 Da forma, o Sthûla Charira ou Corpo Externo. 426 o Raio da Vida, o Um, semelhante ao Fio que passa através de muitas contas485 . Este Sloka exprime o conceito — puramente vedantino, conforme já explicamos alhures — de um Fio de Vida, Sûtrâtmâ, passando através de sucessivas gerações. Como explicar? Recorrendo a uma comparação, a um exemplo familiar, ainda que necessariamente imperfeito, como todas as analogias de que dispomos. Antes de fazê-lo, porém, indagaremos se há quem tenha por antinatural, ou ainda por sobrenatural, o processo de crescimento e de transformação do feto até que se torne uma criança sadia, com várias libras de peso. De que se desenvolve ela? Da segmentação de um óvulo infinitamente pequeno e de um espermatozóide! Vemos em seguida que a criança cresce até ser um homem de cinco a seis pés de altura! O mesmo se dá com a expansão atômica e física do microscopicamente pequeno em algo de grandes proporções; do invisível à vista desarmada no que é visível e objetivo. A Ciência tem resposta para tudo isso, e acreditamos que sejam suficientemente corretas as suas teorias embriológicas, biológicas e fisiológicas, tanto quanto o possa confirmar a exata observação dos fatos. Entretanto, as duas principais dificuldades da ciência embriológica, a saber: quais são as forças que atuam na formação do feto, e qual é a causa da “transmissão hereditária” das semelhanças física, moral ou mental, nunca foram resolvidas de maneira satisfatória; e jamais o serão até o dia em que os cientistas se dignarem de aceitar as teorias ocultas. Mas, se aquele fenômeno físico a ninguém causa espanto — embora intrigue os embriólogos —, por que haveria de considerar- 485 Pérolas, no manuscrito de 1886. 427 se ou de parecer mais impossível o nosso desenvolvimento intelectual e interno, a evolução do Humano-Espiritual no Divino-Espiritual? Mal avisados estariam os materialistas e os evolucionistas da escola de Darwin se aceitassem as novas teorias do Professor Weissmann, autor de Beiträge zur Descendenzlehre, no tocante a um dos mistérios da embriologia que acabamos de mencionar, e que ele supõe ter resolvido. Ora, quando for encontrada a solução exata, terá a Ciência entrado no verdadeiro domínio do Oculto, saindo para sempre da região do transformismo, tal como ensinado por Darwin. As duas teorias são inconciliáveis, do ponto de vista do materialismo. Considerada, porém, do ponto de vista do Ocultismo, a nova teoria soluciona todos aqueles mistérios. Os que não estão a par das descobertas do Professor Weissmann — que já foi um dos mais entusiastas darwinistas — devem ler as suas obras. O filósofo e embriólogo alemão — passando sobre as opiniões de Hipócrates e Aristóteles, e seguindo em linha reta até os ensinamentos dos antigos arianos — mostra como uma célula infinitesimal, entre um milhão de outras, trabalha pela formação de um organismo, determinando por si só, e sem nenhum auxílio, pela segmentação e multiplicação constante, a imagem correta do futuro homem ou animal, com as suas características físicas, mentais e psíquicas. É essa célula que imprime, na fisionomia e na forma do novo indivíduo, os traços dos pais ou de algum ante.-passado distante; é também essa célula que transmite as idiossincrasias intelectuais e mentais dos pais, e assim sucessivamente. Semelhante plasma é a parte imortal do nosso corpo, desenvolvendo-se por um processo de assimilações sucessivas. A teoria de Darwin, que considera a célula embriológica como a essência ou o extrato de todas as demais células, foi posta de lado, por incapaz de explicar as transmissões hereditárias. Só há duas maneiras de esclarecer o mistério da 428 hereditariedade: ou a célula germinal é dotada da faculdade de atravessar todo o ciclo de transformações que conduz à elaboração de um organismo separado, e depois à reprodução de células germinais idênticas; ou estas células germinais não têm, de modo algum, sua gênese no corpo do indivíduo, mas procedem diretamente da célula germinal hereditária, transmitida de pai a filho através de muitas gerações. Foi esta última hipótese a admitida por Weissmann, e em que baseou os seus trabalhos, sustentando que tal célula representa a parte imortal do homem. Até aí, muito bem: mas, uma vez aceita essa teoria — que é quase correta —, como explicarão os biologistas o primeiro aparecimento daquela célula eterna? A não ser que o “homem” cresça à semelhança do imortal “Topsy” e não tenha nascido, mas caído das nuvens, como terá surgido nele aquela célula embriológica? Completai o Plasma Físico a que nos vimos referindo, a “Célula Germinal” do homem inclusive todas as suas potencialidades, com o “Plasma Espiritual”, digamos assim, ou o fluido que contém os cinco princípios inferiores do Dhyâni de Seis Princípios, e tereis em vossas mãos o segredo, se fordes bastante espiritual para compreendê-lo. Vejamos agora a comparação prometida. Quando a semente do homem é lançada no terreno fértil da mulher animal, não poderá germinar se não tiver sido frutificada pelas cinco virtudes [o fluido ou emanação dos princípios] do Homem Sêxtuplo Celeste. Esta ê a razão por que Microcosmo ê representado como um Pentágono dentro do Hexágono em forma de estrela, o Macrocosmo486 . 486 Ανθρωποζ, uma obra sobre Embriologia oculta, livro I. 429 As funções de Jiva sobre a terra são de caráter quíntuplo. No átomo mineral está ele relacionado com os princípios inferiores dos Espíritos da Terra [os Sêxtuplos Dhyânis]; na célula vegetal, com o segundo dos mesmos princípios, Prâna [a Vida]; no animal, com os princípios anteriores mais o terceiro e o quarto; no homem, deve o germe receber a frutificação de todos os cinco, pois sem isso ele não nascerá superior ao animal487 . Assim, é só no homem que o Jiva está completo. Quanto ao seu sétimo princípio, não é senão um dos Raios do Sol Universal. Toda criatura racional recebe como empréstimo temporário aquilo que deve um dia retornar à sua fonte. O corpo físico, esse é formado pelas Vidas terrestres inferiores, através da evolução física, química e fisiológica. “Os Bem-aventurados nada têm a ver com as depurações da matéria” — diz a Cabala no Livro dos Números caldeu. Importa isso em dizer: A Humanidade, em sua primeira forma prototípica e de sombra, é uma criação dos Elohim de Vida ou Pitris; em seu aspecto qualitativo e físico, é a progênie direta dos “Antepassados”, os Dhyânis inferiores ou Espíritos da Terra; e deve sua natureza moral, psíquica e espiritual a um grupo de Seres divinos, cujo nome e características serão dados nos volumes III e IV. Os homens, coletivamente, representam o trabalho de Legiões de espíritos vários; distributivamente, são os Tabernáculos dessas legiões; em caráter ocasional e individualmente, são os veículos de alguns desses Espíritos. Em nossa Quinta Raça atual, tão materializada, o Espírito terreno da Quarta Raça tem ainda uma 487 Isto é, será um idiota de nascença. 430 grande influência; mas já nos aproximamos dos tempos em que o pêndulo da evolução se inclinará para cima, reconduzindo a humanidade ao nível espiritual da primitiva Terceira Raça-Raiz. Durante a sua infância, a humanidade se compunha inteiramente daquela Legião Angélica — os Espíritos que habitavam e animavam os monstruosos tabernáculos de barro da Quarta Raça, construídos e constituídos por milhões e milhões de Vidas, como também o são agora os nossos corpos. Daremos depois a explicação, ainda neste Comentário. A ciência, percebendo vagamente a verdade, pode encontrar bactérias e outros seres microscópicos no corpo humano, não vendo neles senão visitantes acidentais e anormais, aos quais se atribuem as enfermidades. O Ocultismo, que descobre uma Vida em cada átomo ou molécula, seja no corpo humano, seja no mineral, no ar, no fogo e na água, afirma que todo o nosso corpo é composto destas Vidas, e que, comparada a elas, a mais diminuta das bactérias visíveis ao microscópio é tão grande como o elefante ao lado do menor dos infusórios. Os “tabernáculos” aperfeiçoaram-se em contextura e em simetria da forma, crescendo e desenvolvendo-se com o Globo em que se acham; mas o progresso físico se fez a expensas do Homem Interno Espiritual e da Natureza. Os três princípios intermédios, na terra e no homem, se tornaram cada vez mais materiais com a sucessão das Raças, e a Alma retraiu-se para dar lugar à Inteligência Física; convertendo-se a essência dos Elementos nos elementos materiais e compostos que hoje conhecemos. O Homem não é, nem poderia ser, o produto completo do “Senhor Deus”; mas é o filho dos Elohim, tão arbitrariamente transpostos para o número singular e o gênero masculino. Os primeiros Dhyânis, que receberam a missão de “criar” o homem à sua imagem, podiam tão somente projetar as próprias sombras a fim de 431 que, como em um modelo delicado, sobre elas trabalhassem os Espíritos da Natureza. O homem é, sem dúvida alguma, formado fisicamente pelo barro da Terra; mas os seus criadores e construtores foram muitos. Tampouco se pode dizer que “o Senhor Deus insuflou em suas narinas o Sopro da Vida”, a menos que se identifique Deus com a “Vida Una”, onipresente, embora invisível; e a menos que se atribua a “Deus” a mesma operação para cada “Alma Vivente” — sendo esta a Alma Vital (Nephesh), e não o Espírito Divino (Ruach), que só ao homem confere o grau divino da imortalidade, não alcançável por nenhum animal, enquanto animal, neste ciclo de encarnação. A confusão do “Sopro da Vida” com o “Espírito” imortal deve-se à impropriedade das expressões usadas pelos judeus e, ainda agora, pelos nossos metafísicos ocidentais, incapazes de compreender e, conseqüentemente, de admitir mais que um homem trino e uno: Espírito, Alma e Corpo. A mesma coisa se dá com os teólogos protestantes, que, ao traduzir certo versículo do Quarto Evangelho488 , lhe desvirtuaram por completo o significado. Diz a tradução errônea: “o vento sopra onde ele quer”, em vez de “o espírito vai aonde ele quer”, como está no original e também na tradução da Igreja grega oriental. O erudito e filosófico autor de New Aspect of Life procura incutir em seus leitores que ó Nepesh Chiah (Alma Vivente), segundo os hebreus, “Proveio ou foi produzido pela infusão do Espírito ou Sopro de Vida no corpo do homem em desenvolvimento, e tomou o lugar do Espírito no Eu assim constituído; de modo que o Espírito se perdeu e desapareceu na Alma Vivente.” 488 João, III, 8. 432 Entende o mesmo autor que se deve considerar o corpo humano como uma matriz, na qual e da qual a Alma — que ele parece colocar acima do Espírito — se desenvolve. Considerada funcionalmente, e do ponto de vista da atividade, é inegável que a Alma está situada mais alto que o Espírito, neste mundo finito e condicionado de Mâyâ. A Alma — diz ele — “é produzida em último lugar, do corpo animado do homem”. O autor, simplesmente, identifica o “Espírito” (Âtmâ) com o “Sopro de Vida”. Os ocultistas orientais não estarão de acordo com essa opinião, que se funda no errôneo conceito de que Prâna e Âtmâ (ou Jivâtmâ) são uma só e mesma coisa. O autor apóia o argumento mostrando que, para os antigos hebreus, gregos e mesmo latinos, Ruach, Pneuma e Spiritus significavam Vento — sendo certo que assim era para os judeus, e provável que também o fosse para os gregos e romanos, existindo uma relação suspicaz entre a palavra grega anemos (vento) e a latina animus (alma). Tudo isso assenta numa sutileza de raciocínio; mas é difícil encontrar um campo de batalha adequado para decidir a questão, pois, segundo parece, o Dr. Pratt é um metafísico prático, uma espécie de cabalista positivista, ao passo que os metafísicos orientais, especialmente os vedantinos, são todos idealistas. Os ocultistas pertencem também à escola vedantina puramente esotérica; e, muito embora designem a Vida Una (Parabrahman) como o Grande Sopro e o Torvelinho, separam da matéria, por completo, o sétimo princípio, negando que tenha relação ou conexão com ela. Assim, reina uma confusão quase inextricável na filosofia das relações entre o lado psíquico, espiritual e mental do homem e as suas funções físicas. Melhor compreensão não se observa na atualidade quanto à antiga psicologia ária ou à egípcia; e é impossível que sejam assimiladas sem que se aceite o setenário 433 esotérico ou, pelo menos, a divisão quinaria vedantina dos princípios humanos internos. Sem isso, nunca se poderão compreender as relações metafísicas e as puramente psíquicas — e mesmo as fisiológicas — entre os Dhyân Chohans ou Anjos, em um plano, e a humanidade, em outro. Nenhuma obra esotérica oriental (ariana) foi até agora publicada; mas possuímos os papiros egípcios, que falam claramente dos sete princípios ou das “Sete Almas do Homem”. O Livro dos Mortos dá uma lista completa das “transformações” por que passa cada Defunto quando se vai despindo, um por um, de todos aqueles princípios (materializados, para maior clareza, em entidades ou corpos etéreos). É preciso lembrar, a quantos pretendem provar que os antigos egípcios não ensinavam a Reencarnação, que a “Alma” (o Ego ou Eu) do Defunto, segundo aquele livro, passa a viver na Eternidade; que é imortal, “coetânea da Barca Solar”, ou seja, do Ciclo da Necessidade, desaparecendo com ela. Essa “Alma” surge do Tiaou, o Reino da Causa da Vida, e se une com os vivos na Terra, durante o dia, para regressar toda noite ao Tiaou. Aí estão expressas as existências periódicas do Ego489 . A sombra, a Forma astral é aniquilada, “devorada pelo Ursæus490” ; os Manes serão aniquilados; os dois Gêmeos (o Quarto e o Quinto Princípios) serão dispersados; mas a Alma-Pássaro, “a Andorinha Divina e o Uræus de Chama” (Manas e Âtmâ-Buddhi) viverão na Eternidade, porque são os maridos de sua mãe. Outra analogia significativa entre o esoterismo ário ou bramânico e o egípcio é que o primeiro chama “Antepassados Lunares” do homem aos Pitris, e os egípcios faziam do Deus-Lua, Tath-Esmun, o primeiro antecessor humano. 489 Cap. CXLVIII 490 Cap. CXLIX, 51 434 Este Deus-Lua “exprimia os Sete poderes da natureza, que lhe eram anteriores e nele estavam sintetizados como as suas sete almas, que ele, como o Oitavo, exteriorizava. (Daí a oitava esfera)… Os sete raios do Heptakis caldeu, ou Iao,… sobre as pedras gnósticas, indicam o mesmo setenário de almas… Via-se a primeira forma do místico Sete figurada no céu pelas sete grandes estrelas da Ursa Maior, a constelação consagrada pelos egípcios à Mãe do Tempo e dos sete Poderes Elementais491”. Como o sabe perfeitamente todo hindu, essa mesma constelação representa na índia os Sete Rishis, sendo chamada Riksha e Chitrashikandin. O semelhante só produz o semelhante. A Terra dá ao Homem o seu corpo; os Deuses (Dhyânis) lhe dão os seus cinco princípios internos, a sobra psíquica, da qual aqueles Deuses são, com freqüência, o princípio animador. O Espírito (Âtman) é uno e inseparável. Não está no Tiaou. Mas, que é o Tiaou? As constantes alusões ao Tiaou no Livro dos Mortos encerram um mistério. Tiaou é o caminho do Sol noturno, o hemisfério inferior ou a região infernal dos egípcios, que estes situavam no lado oculto da lua. No Esoterismo deles, o ser humano saía da Lua (um tríplice mistério, astronômico, fisiológico e psíquico, a um só tempo), atravessava todo o ciclo da existência, e voltava depois ao lugar de seu nascimento, para dele sair outra vez. Via-se, por isso, o Defunto chegando ao Ocidente, sendo julgado perante Osíris, ressuscitando como o Deus Hórus e descrevendo círculos em torno dos céus siderais, o que é uma 491 The Seven Souls of Man, pág. 2, conferência de Gerald Massey. 435 assimilação alegórica a Ra, o Sol; atravessando o Nut, o Abismo Celeste, e voltando mais uma vez a Tiaou — à semelhança de Osíris, que, como Deus da vida e da reprodução, reside na Lua. Plutarco492 apresenta os egípcios celebrando uma festa denominada “O Ingresso de Osíris na Lua”. No Ritual493′ é prometida a vida depois da morte; e a renovação da vida é posta sob a proteção de Osíris-Lanu, porque a Lua era o símbolo da renovação da vida ou reencarnação, por causa de suas fases de crescente, minguante, desaparecimento e ressurgimento em cada mês. Está dito no Dankmoe494: “Oh! Osíris-Lunus! tu que refazes a tua primavera!” E Sabekh diz a Seti I495: “Tu te renovas a ti mesmo, como o Deus Lunus quando era criança.” Vê-se ainda mais claramente em um papiro do Louvre496: “Acasalamentos e concepções abundam quando ele (Osíris-Lunus) é visto nesse dia, nos céus.” Diz Osíris: “Oh! raio único e resplandecente da Lua! Eu saio das multidões (de estrelas) que giram em círculos…. Abre-me o Tisou, por Osíris N. Eu sairei de dia para a tarefa que tenho de fazer entre os vivos497”, ou seja, para dar lugar a concepções. Osíris era “Deus manifestado na geração”, pois conheciam os antigos muito mais que os modernos as verdadeiras influências ocultas do disco lunar sobre os mistérios da concepção. Nos sistemas mais antigos a Lua figura sempre com gênero masculino. O Soma dos hindus, por exemplo, é uma espécie de Don Juan sideral, um “Rei” e o pai, ainda que ilegítimo, de Buddha — a Sabedoria. Isto se refere ao Conhecimento Oculto, à sabedoria adquirida mediante um completo conhecimento dos mistérios lunares, inclusive os da geração sexual. E posteriormente, quando a Lua foi associada com as deusas femininas — Diana, Ísis, 492 De Isidi et Osiride, XLIII. 493 Cap. XLI. 494 IV, 5. 495 Abydos, de Mariette, lâmina 51. 496 P.Pierret, Études Egyptologiques. 497 Ritual, cap. II. 436 Artemisa, Juno etc. —, esta conexão também se fundava em um conhecimento completo da fisiologia e da natureza feminina, tanto física como psíquica. Se, nas escolas dominicais, em vez de inúteis lições da Bíblia se ensinasse astrologia — pelo menos a parte referente às propriedades ocultas da Lua em suas influências sobre a geração — às multidões de pobres e famintos, então não haveria muito que temer quanto ao crescimento excessivo da população, nem se precisaria recorrer à discutível literatura malthusiana. Porque é a Lua com suas conjunções que regula as concepções — todo astrólogo da índia sabe disso. Durante as Raças anteriores, e até o começo da atual, os que se permitiam relações conjugais em certas fases lunares, que as tornavam estéreis, eram considerados feiticeiros e pecadores. Mas esses pecados da antigüidade, originados pelo abuso do conhecimento oculto, seriam ainda preferíveis aos crimes que se praticam em nossos dias, decorrentes da completa ignorância de tais influências. Primeiro que tudo, o Sol e a Lua eram as únicas divindades visíveis e (por seus efeitos tangíveis, por assim dizer) psíquicas e fisiológicas — o Pai e o Filho —, ao passo que o Espaço ou o Ar em geral, ou aquela extensão dos Céus que os egípcios chamavam Nut, era o Espírito oculto ou o Sopro dos dois. O Pai e o Filho se alternavam em suas funções, e operavam juntos harmonicamente em suas influências sobre a natureza terrestre e a humanidade; sendo por isso considerados como um, embora fossem dois como Entidades personificadas. Ambos eram masculinos, e ambos exerciam funções distintas, mas complementares entre si, na causa geradora da humanidade.. Tudo isso eram aspectos astronômicos e cósmicos, considerados e expressos em linguagem simbólica, passando a teológicos e dogmáticos em nossas últimas raças. 437 Mas, por trás desse véu de símbolos cósmicos e astrológicos, estavam os mistérios ocultos da antropografia e da gênese primordial do homem.

A esse respeito, nenhum conhecimento de simbologia, nem mesmo o da chave da linguagem simbólica pós-diluviana dos judeus, pode servir-nos de auxílio, salvo no tocante ao que foi exposto nas escrituras nacionais para usos exotéricos e que, apesar de velado com muita habilidade, não representa senão uma parcela mínima da história real e primitiva de cada povo, referindo-se muitas vezes, como nas escrituras dos hebreus, só à vida humana terrestre da nação, e não à sua vida divina. O elemento psíquico e espiritual pertencia aos mistérios e à iniciação. Havia coisas que jamais eram escritas em papiros ou pergaminhos, mas gravadas em rochas e nas criptas subterrâneas, como na Ásia Central. Entretanto, houve um tempo em que o mundo inteiro possuía “uma só língua e um só conhecimento”, e o homem sabia então mais do que hoje acerca de sua origem; sabia que o Sol e a Lua, por mais importante que fosse o papel que exerceram na constituição, crescimento e evolução do corpo humano, não foram os agentes diretos que o fizeram aparecer sobre a Terra. A verdade é que tais agentes são os Poderes vivos e inteligentes que os ocultistas chamam Dhyân Chohans. A propósito, um ilustre admirador do Esoterismo judaico noz diz que: “A Kabbalah reza expressamente que Elohim é uma ‘abstração geral’, o que em matemática chamamos ‘um coeficiente constante’ ou uma ‘função geral’, não particular, que entra em toda construção; ou seja, a razão geral de 1 a 31415, os números Elohísticos (e astros-Dhyânicos).” 438 A isso responde o ocultista oriental: Conforme; é uma abstração para os nossos sentidos físicos. Mas, para nossas percepções espirituais, e para nossa visão espiritual interna, o Elohim ou Dhyânis não são mais abstrações que a nossa alma e o nosso espírito. Rejeitar um é rejeitar o outro, pois o que constitui em nós a Entidade que sobrevive é, em parte, a emanação direta daquelas Entidades celestes, e, em parte, também elas próprias. Uma coisa é certa: os judeus conheciam perfeitamente a feitiçaria e diversas forças maléficas; mas, com exceção de alguns de seus grandes profetas e videntes, como Daniel e Ezequiel — pertencendo Enoch a uma raça muito anterior e não a uma nação particular, senão a todas, como um caráter genérico —, sabiam muito pouco do Ocultismo realmente divino, nem dele queriam ocupar-se; o seu caráter nacional opunha-se a tudo o que se não relacionasse diretamente com os seus interesses étnicos de tribo e individuais, do que dão testemunho seus próprios profetas e as maldições que proferiam contra as raças “que não dobravam a cerviz”. Mas a Cabala ainda mostra claramente a relação direta que existe entre os Sephiroth, ou Elohim, e os homens. Isto posto, quando nos for demonstrado que a identificação cabalística de Jehovah com Binah, um Sephira feminino, encerra outro significado sub-oculto, então, e só então, poderemos os ocultistas conferir a palma da perfeição aos cabalistas. Até lá, sustentaremos que Jehovah, no sentido abstrato de “um Deus vivo”, é um número simples, uma ficção metafísica, não passando a realidade senão quando posto em seu verdadeiro lugar como emanação e como Sephira, e temos o direito de afirmar que o Zohar, pelo menos segundo o testemunho do próprio Livro dos Números, expressava em sua origem, antes que os cabalistas cristãos o desfigurassem, e expressa ainda, doutrina idêntica à nossa, a saber: que o Homem provém, não de um Homem Celeste único, mas de um Grupo Setenário de Homens 439 Celestes ou Anjos. Igual ensinamento se encontra em Pimandro, o Pensamento Divino. 3. Quando o Um se converte em Dois, aparece o Triplo (a), e os Três498 são Um; é o nosso Fio, ó Lanu! o Coração do Homem-Planta, chamado Saptaparma (b). (a) “Quando o Um se converte em Dois, o Triplo aparece”; isto é, quando o Um Eterno deixa cair o seu reflexo na região da Manifestação, este reflexo, o Raio, diferencia a Água do Espaço; ou, usando as palavras do Livro dos Mortos: “O Caos cessa ao influxo do Raio Fulgente de Luz Primordial, que dissipa toda a escuridão com o auxílio do grande poder mágico do Verbo do Sol (Central).” O Caos torna-se andrógino; a Água é incubada pela Luz, e o Ser Trino dela exsurge como o “Primogênito”. “Ra (Osíris-Ptah) cria seus próprios membros (à semelhança de Brahmâ), criando os Deuses destinados a personificar suas fases” durante o Ciclo499. O Ra egípcio, saindo do Abismo, é a Alma Divina Universal em seu aspecto manifestado, e o mesmo é Nârâyana, o Purusha “que está oculto no Âkâsha e presente no Éter”. Tal é a explicação metafísica, e ela se reporta ao princípio mesmo da Evolução, ou, mais propriamente, da Teogonia. O significado da Estância, considerada de outro ponto de vista, em suas relações com o mistério do homem e sua origem, é ainda mais difícil de compreender. A fim de formar um conceito claro do que significa o Um converter-se em Dois e em seguida transformar-se em Triplo, é preciso que o estudante, antes de mais nada, se inteire perfeitamente do que 498 Unidos entre si. 499 Op. cit., XVII, pág. 4. 440 entendemos pelo nome de Rondas. Se ler o Esoteric Buddhism — que foi o primeiro ensaio de um esboço aproximado da Cosmogonia arcaica — verá que Ronda é a evolução em série da Natureza material nascente, nos sete Globos de nossa Cadeia500, com seus reinos mineral, vegetal e animal (incluído o homem neste último e à sua frente), durante o período completo de um Ciclo de Vida, chamado pelos brâmanes um “Dia de Brahmâ”. Corresponde, em resumo, a uma revolução da “Roda” (nossa Cadeia Planetária), a qual se compõe de sete Globos ou sete “Rodas” separadas (empregada agora a palavra em outro sentido). Quando a evolução desceu, na matéria, do Globo A ao. Globo G ou Z, uma Ronda se completou. Na metade da Quarta revolução, ou seja, de nossa Ronda atual, “a evolução atingiu o ponto culminante de seu desenvolvimento físico, coroando sua obra com o homem físico perfeito, e daí em diante inicia a volta para o espírito”. Não se faz mister insistir neste ponto, que já foi bem explicado no Esoteric Buddhism. O que não ficou suficientemente esclarecido, dando ensejo a vários mal-entendidos, foi a origem do homem; estamos agora em condições de trazer um pouco mais de luz sobre essa questão, o bastante, pelo menos, para tornar mais compreensível a Estância, pois o assunto somente terá explicação completa na ocasião própria — nos volumes III e IV. 500 Vários críticos hostis pretenderam provar que a nossa primeira obra Ísis sem Véu, não aludiu nem aos Sete Princípios do homem, nem à constituição setenária de nossa Cadeia. Muito embora naquele livro só pudéssemos fazer uma breve indicação da doutrina, há nele muitas passagens que se referem claramente à constituição sétupla do homem e da Cadeia. Falando sobre os Elohim (volume II, pág. 420), dissemos: “Eles permanecem sobre o sétimo céu (ou mundo espiritual), pois que, segundo os cabalistas, são os que formaram, sucessivamente, os seis mundos materiais, ou melhor, os projetos de mundos que precederam o nosso, sendo este o sétimo.” O nosso Globo, no diagrama que representa a Cadeia, é naturalmente o sétimo e o inferior, não obstante ser o quarto no arco descendente da matéria, dado o caráter cíclico da evolução dos Globos. Dissemos ainda (II, 367): “Segundo as crenças egípcias, do mesmo modo que em todas as demais crenças baseadas na filosofia, não era o homem simplesmente… uma união de alma e corpo; era uma trindade, pois se lhe acrescentava o espírito. Ensinava mais a doutrina que o homem possuía… corpo… forma astral ou sombra… alma animal… alma superior… inteligência terrestre… (e) um sexto princípio etc.”; e o sétimo é o ESPIRITO. Tão claramente, se acham ali mencionados esses princípios que até no índice (II, 683) se lê: “Os Seis Princípios do Homem”, sendo que o sétimo é, na realidade, a síntese dos seis — não propriamente um princípio, mas uma centelha do TODO ABSOLUTO. 441 Cada Ronda, no arco descendente, é uma repetição, de maneira mais concreta, da Ronda anterior; e cada Globo, até a nossa quarta Esfera, a Terra atual, é uma cópia mais densa e material da Esfera que a precede, em sua ordem sucessiva nos três planos superiores501. Passando ao arco ascendente, a evolução espiritualiza e eteriza, por assim dizer, a natureza geral das coisas, colocando-as no mesmo nível do plano em que se acha o globo gêmeo, no arco oposto; daí resultando que, ao chegar ao sétimo Globo, em qualquer das Rondas, a natureza de tudo o que evoluciona retorna à condição existente no ponto de partida, com a adição, em cada vez, de um grau novo e superior nos estados de consciência. É claro, portanto, que a chamada “origem do homem” neste Planeta, na presente Ronda ou Ciclo de Vida, deve ocupar o mesmo lugar e a mesma ordem — salvo quanto a certos aspectos atinentes às condições de lugar e de tempo — que na Ronda precedente. Cabe ainda explicar e lembrar que, assim como o trabalho de cada Ronda está a cargo de um Grupo diferente dos chamados Criadores ou Arquitetos, assim também sucede em relação a cada Globo, que se acha sob a vigilância e a direção de Construtores e Supervisores especiais: os diversos Dhyân Chohans. “Criadores” não é a palavra correta, pois nenhuma religião, nem mesmo a seita dos Visishthadvaitis da Índia (que antropomorfiza o próprio Parabrahman), acredita na criação ex-nihilo dos judeus e cristãos, e sim na evolução de materiais preexistentes.

O Grupo da Hierarquia incumbido de “criar” os homens é, portanto, um Grupo especial; e desenvolveu o homem-tipo neste Ciclo, precisamente como o fez um Grupo ainda mais elevado e espiritual na Terceira Ronda. Mas, como aquele (Veja-se o Diagrama III, pág. 393) Grupo é o Sexto na escala descendente da espiritualidade (sendo o sétimo e último o dos Espíritos Terrestres, ou Elementais, que formam, constroem e condensam gradualmente o corpo físico do homem), não pode elaborar senão a forma etérea do homem futuro, uma cópia sutil, transparente, pouco visível, dos seres que compõem o mesmo Grupo.

À Quinta Hierarquia (os seres misteriosos que presidem à constelação do Capricórnio, Makara ou “Crocodilo”, na índia e no Egito), compete a tarefa de animar a forma animal, vazia e etérea, dela fazendo o Homem Racional. Este é um dos assuntos sobre os quais muito pouco se pode dizer ao público em geral. É realmente um mistério, mas somente para aqueles que se obstinam em rejeitar a existência de Seres Espirituais, conscientes e intelectuais no Universo, limitando a Consciência plena ao homem e assim mesmo como uma “função do cérebro” unicamente.

Muitas daquelas Entidades Espirituais se encarnaram corporalmente no homem, desde que este apareceu; e, sem embargo, existem ainda, tão independentes como antes, no infinito do Espaço. Mais claramente: uma dessas Entidades invisíveis pode estar corporalmente presente na Terra, sem contudo abandonar a sua condição e as suas funções nos planos supra-sensíveis. Se há necessidade de alguma explicação, só nos cabe pedir a atenção do leitor para casos análogos registrados no “Espiritismo”, embora sejam muito raros, pelo menos no que se refere à natureza da Entidade que se encarna ou se incorpora temporariamente no médium.

Porque os chamados “espíritos”, que podem algumas vezes apoderar-se do corpo do médium, não são as Mônadas ou Princípios Superiores de personalidades desencarnadas. Tais “espíritos” só podem ser Elementares ou Nirmânakâyas. Da mesma forma que certas pessoas, seja em virtude de uma constituição peculiar, seja pelo poder do conhecimento místico que tenham adquirido, podem ser vistas em seu “duplo” num lugar, quando o seu corpo se acha a muitas milhas de distância, fato semelhante pode também acontecer com Seres superiores.

O homem, filosoficamente considerado, é, em sua forma exterior, simplesmente um animal, apenas um pouco mais perfeito que o seu antepassado da Terceira Raça, parecido com o pitecóide. É um Corpo vivo, não um Ser vivente, por isso que a percepção da existência, o “Ego Sum”, necessita da consciência de si mesmo, e um animal não pode ter senão a consciência direta ou o instinto. Sabiam isto muito bem os antigos, tanto assim que os próprios cabalistas consideravam a alma e o corpo duas vidas independentes uma da outra. Em New Aspects of Life, o autor expõe o seguinte ensinamento cabalístico: “Sustentam eles que, funcionalmente, o Espírito e a Matéria, quando possuíam uma opacidade e uma intensidade correlativa, tendiam a unir-se; e que os Espíritos criados, então resultantes, eram constituídos, no estado de desencarnados, por uma gama que reproduzia as diferentes opacidades e transparências do Espírito elemental ou incriado. Afirmam também que esses Espíritos, em estado de desencarnados, atraíam, apropriavam, digeriam e assimilavam o Espírito e a Matéria elementais que tinham condição conforme à deles… Que, portanto, existia uma grande diferença nas condições dos Espíritos criados, e que, na associação íntima entre o mundo do Espírito e o mundo da Matéria, os Espíritos mais densos, no estado de desencarnados, eram atraídos para a parte mais densa do mundo material, e tendiam, assim, para o centro da Terra, onde encontravam ambiente mais apropriado ao seu estado; ao passo que os Espíritos mais transparentes passavam para a aura que circunda o planeta, sendo que os mais diáfanos encontravam seu domicílio no satélite.”

Refere-se isso exclusivamente aos nossos Espíritos Elementais, e nada tem a ver com as Forças Inteligentes Planetárias, Siderais, Cósmicas ou interetéricas, ou “Anjos”, como as denomina a Igreja Romana. Os cabalistas judeus, e especialmente os ocultistas práticos que se dedicavam à magia cerimonial, só levaram em conta os Espíritos dos Planetas e os chamados “Elementais”. Assim, o que precede abrange apenas uma parte dos ensinamentos esotéricos.

A Alma, cujo veículo corpóreo é o envoltório astral, etéreo-substancial, pode morrer, continuando o homem, não obstante, a viver sobre a terra. Quer dizer: pode a alma libertar-se do tabernáculo e abandoná-lo por diversas razões, tais como a loucura, a depravação espiritual e física etc.

A possibilidade de que a Alma (isto é, o Ego eterno, espiritual) reside nos mundos invisíveis, enquanto seu corpo continua a viver na terra, é uma doutrina eminentemente oculta, máxime nas filosofias chinesa e budista.

Há muitos homens sem alma entre nós, sabendo-se que este fenômeno ocorre com pessoas materializadas e perversas ao último ponto, assim como entre aqueles “que se adiantaram em santidade e não mais retornam”. Por conseguinte, o que os homens viventes (Iniciados) podem fazer, com maior razão e mais facilmente o podem os Dhyânis, livres que estão do embaraço representado por um corpo físico. Esta era a crença dos pré-diluvianos, e hoje ganha rapidamente terreno também na moderna sociedade inteligente, entre os “espiritistas”, sendo ainda admitida nas Igrejas Grega e Romana, quando ensinam a ubiquidade de seus Anjos.

Os zoroastrianos consideravam os seus Amshaspends como entidades duplas (Ferouers), aplicando esta dualidade — em sua filosofia esotérica pelo menos — a todos os habitantes espirituais e invisíveis dos inumeráveis mundos objetivos do espaço. Em uma nota de Damáscio (século VI) a respeito dos oráculos caldeus, temos um amplo testemunho da universalidade desta doutrina; eis o que ele diz: “Nestes oráculos, os sete Cosmocratas do Mundo (as “Colunas do Mundo” a que também se refere São Paulo) são duplos: uma parte está à frente do governo dos Mundos superiores, espirituais e siderais; e a outra tem a missão de velar sobre os mundos materiais.” Idêntica é a opinião de Jâmblico, que traça uma distinção bem nítida entre os Arcanjos e os Arcontes503 . O que antecede naturalmente é aplicável à distinção feita entre os graus ou ordens dos Seres Espirituais, e neste sentido o interpreta e ensina a Igreja Católica Romana; pois, ao mesmo tempo em que ela considera os Arcanjos como espíritos divinos e santos, denuncia os respectivos “Duplos” como Demônios. Mas a palavra Ferouer não deve ser entendida com esse sentido: significa tão-somente o reverso ou o lado oposto de um atributo ou qualidade. Assim, quando o ocultista diz que “o Demônio é o inverso de Deus” — o mal, o reverso da medalha — não pretende significar duas realidades separadas, senão dois aspectos ou facetas da mesma Unidade. Ora, o melhor dos homens, posto ao lado de um Arcanjo (tal como o descreve a Teologia), havia de parecer um ente infernal. Donde se vê que, se 503 De Mysteriis, II, 3. 446 existe algum motivo para depreciar um “duplo” inferior, imerso muito mais profundamente na matéria que o seu original, bem poucas razões haverá para classificá-lo como demônio — e é isto precisamente o que fazem os católicos romanos, contra toda a lógica. Essa identidade entre o Espírito e seu “Duplo” material — no homem é o inverso — explica melhor ainda a confusão, a que já nos referimos nesta obra, quanto aos nomes e individualidades, e também quanto ao número, dos Rishis e dos Prajapatis, sobretudo os do Período da Satya Yuga e os do Período do Mahâbharata. E lança mais luz sobre o que ensina a Doutrina Secreta em relação aos Manus-Raízes e Manus-Sementes. Segundo a Doutrina, não só esses Progenitores da nossa humanidade têm o seu protótipo nas Esferas Espirituais, mas também o possui todo ser humano, sendo o protótipo deste último a essência mais elevada de seu Sétimo Princípio. Assim, de sete os Manus passam a ser quatorze, sendo o “Manu-Raiz” a Causa Primeira e o Manu-Semente o seu efeito; e, a contar do Satya Yuga (o primeiro período) até o Período Heróico, os Manus ou Rishis chegam ao número de vinte e um. (b) A última frase da Sloka mostra quanto são antigas a crença e a doutrina de que o homem é sétuplo em sua constituição. O “Fio” do Ser, que anima o homem e que passa através de todas as suas personalidades ou renascimentos na Terra — alusão ao Sutrâtmâ —, o “Fio” que enlaça todos os “Espíritos”, é feito da essência do Trino, do Quádruplo e do Quíntuplo, os quais contêm todos os que os precedem. Panchâshikha504, segundo o Padma Purâna505, é um dos sete Kumaras que vão a Shveta–Dvipa para adorar Vishnu. Veremos mais adiante qual a conexão 504 Panchâshikha (sânscrito): uma coleção de cinqüenta. 505 Asiatic Researches, XI, 99-100. 447 existente entre os castos e “celibatários” Filhos de Brahmâ, que se negam a “multiplicar”, e os mortais terrestres. É evidente, porém, que o “Homem-Planta, Saptaparna”, se relaciona com os Sete Princípios, e que o homem é comparado a essa planta de sete folhas, tão sagrada entre os budistas. A alegoria egípcia do Livro dos Mortos, quando à “recompensa da Alma”, faz lembrar também a nossa Doutrina Setenária, e a exprime em termos bastante poéticos. Concede-se ao Defunto um lote de terra no campo de Aanroo, onde os Manes, as sombras divinizadas dos mortos, colhem a messe das ações que semearam na vida: o trigo de sete côvados de altura, que cresce em um terreno dividido em sete e em quatorze partes. Esse trigo é o alimento que os fará viver e prosperar ou que os matará no Amenti, reino do qual o campo de Aanroo é só uma das regiões. Porque, como diz o hino506, ali o Defunto ou é destruído ou se converte em Espírito puro por toda a Eternidade, como conseqüência das “sete vezes setenta e sete vidas” passadas ou por passar na Terra. A imagem do trigo, que se colhe como fruto de nossas ações, é muito sugestiva. 4. É a Raiz que jamais perece; a Chama de Três Línguas e Quatro Mechas (a). As Mechas são as Centelhas que partem da Chama de Três Línguas507 projetada pelos Sete — dos quais é a Chama — Raios de Luz e Centelhas de uma Lua que se reflete nas Ondas moventes de todos os Rios da Terra (b)508 . (a) A “Chama de Três Línguas” que jamais se extingue é a Tríade espiritual e imortal: Âtmâ-Buddhi-Manas, ou melhor, a colheita deste último, 506 Cap. XXXII, 9. 507 Sua Tríade Superior. 508 Bhumi ou Prithivi. 448 assimilada pelos dois primeiros, depois de cada vida terrestre. As “Quatro Mechas” que surgem e desaparecem são o Quaternário — os quatro princípios inferiores, inclusive o corpo. “Eu sou a Chama de Três Mechas, e as minhas Mechas são imortais” — diz o Defunto. “Eu entro no domínio de Sekhem (o Deus cujas mãos espalham as sementes da ação produzida pela alma desencarnada) e na região das Chamas que destruíram os seus adversários (isto é, que se libertaram das Quatro Mechas geradoras do pecado)509.” “A Chama de Três Línguas das Quatro Mechas” corresponde às quatro Unidades e aos três Binários da Árvore Sephirothal. (b) Assim como milhares de centelhas reluzentes dançam sobre as águas de um oceano por cima do qual brilha somente uma lua, do mesmo modo as nossas personalidades transitórias — invólucros irreais do imortal Ego-Mônada — rodopiam e tremeluzem nas ondas de Mâyâ. Surgem, e permanecem sobre as “Águas Correntes” da Vida durante o período de um Manvantara, à semelhança das miríades de cintilações produzidas pelos raios da lua enquanto a Rainha da Noite irradia o seu esplendor; e depois desaparecem, sobrevivendo tão-somente os “Raios” — símbolos de nossos Egos espirituais e eternos — que regressam à Fonte Materna e se tornam unos com ela, como eram dantes. 5. A Centelha pende da Chama pelo mais tênue fio de Fohat. Ela viaja através dos Sete Mundos de Mâyâ (a). Detém-se no Primeiro510, e é um Metal e 509 Livro dos Mortos, I, 7. Compare-se também com os Mistérios de Rostan. 510 Reino 449 uma Pedra; passa ao Segundo511, e eis uma Planta, a Planta gira através de sete mutações, e vem a ser um Animal Sagrado (b) 512. Dos atributos combinados de todos esses, forma-se Manu513, o Pensador. Quem o forma? As Sete Vidas e a Vida Una (c). Quem o completa? O Quíntuplo Lha. E quem aperfeiçoa o último Corpo? O Peixe, o Pecado e Soma… (d) 514 . (a) A expressão “através dos Sete Mundos de Mâyâ” refere-se aos sete Globos da Cadeia Planetária e às sete Rondas, ou às quarenta e nove estações da existência ativa que se apresentam ante a “Centelha” ou Mônada, no início de cada Grande Ciclo de Vida ou Manvantara. O “Fio de Fohat” é o Fio de Vida já mencionado anteriormente. Temos aqui o maior dos problemas filosóficos: a natureza física e substancial da Vida. Nega a ciência moderna a natureza independente da Vida; e a nega por ser incapaz de compreendê-la. Os que acreditam na reencarnação e no Carma são os únicos que têm uma vaga percepção de que todo o segredo da vida está na série ininterrupta de suas manifestações, seja no corpo físico, seja fora dele. Porque, se: A vida, qual cúpula de cristais multicores, Tinge a resplandecente alvura da Eternidade515 , é, contudo, em si mesma, uma partícula dessa Eternidade. E só a Vida pode compreender a Vida. 511 Reino 512 A primeira Sombra do Homem Físico. 513 O Homem. 514 A Lua 515 Shelley, Adonais. 450 Que é aquela “Centelha” que está suspensa da “Chama”? É Jiva, a Mônada em conjunção com Manas, ou melhor, com o aroma deste último, aquilo que sobrevive de cada Personalidade quando é meritória, e que pende de Âtmâ-Buddhi, a Chama, pelo Fio da Vida. De qualquer maneira, e seja qual for o número de princípios em que se divida o homem, fácil é demonstrar que esta doutrina era ensinada por todas as religiões antigas, desde a religião védica até a dos egípcios, desde a de Zoroastro até a dos judeus. Quanto a esta última, temos sobejas provas nas obras cabalísticas. Todo o sistema dos números cabalísticos se baseia no Setenário divino suspenso da Tríade (formando assim a Década), e nas suas permutações 7, 5, 4 e 3, que, finalmente, se fundem todas no próprio Um: o círculo infinito e sem limites. Diz o Zohar: “A Divindade (a presença sempre invisível) manifesta-se por intermédio dos Dez Sephiroth, que são as suas testemunhas radiantes. Do Oceano da Divindade flui uma caudal chamada Sabedoria, que verte suas águas em um lago chamado Inteligência. Deste receptáculo promanam, como sete canais, os Sete Sephiroth… Porque dez equivale a sete: a Década contém quatro Unidades e três Binários.” Os dez Sephiroth correspondem aos membros do Homem. “Quando eu (os Elohim) formei Adão Kadmon, o Espírito do Eterno brotou de seu Corpo, qual um relâmpago, 451 irradiando subitamente sobre as ondas Sete milhões de estrelas, e os meus dez Esplendores eram os seus Membros.” Mas nem a Cabeça nem os Ombros de Adão Kadmon podem ser vistos; e, assim, lê-se no Siphra Dzenioutha, o “Livro do Mistério Oculto”: “No começo do Tempo, depois que os Elohim (os “Filhos de Luz e de Vida”, ou os Construtores) formaram da Essência Eterna os Céus e a Terra, construíram os Mundos de seis em seis.” O sétimo é Malkuth, que é a nossa Terra516, em seu plano, o mais inferior de todos os planos de existência consciente. O Livro dos Números caldeu contém uma explicação minuciosa de tudo isso. “A primeira tríade do Corpo de Adão Kadmon (os três planos superiores, dos sete)517 não pode ser vista antes que a alma se encontre em presença do Ancião dos Dias.” Os Sephiroth dessa Tríade superior são: 1º) “Kether (a Coroa), representada pela fronte do Macroposopo; 2º) Chokmah (a Sabedoria, Princípio Masculino), representado pelo seu ombro direito; 3º) Binah (a Inteligência, Princípio feminino), representada pelo ombro esquerdo.” Vêm depois os sete Membros, ou Sephiroth nos planos da manifestação; sendo a totalidade destes quatro planos 516 Veja-se Mantuan Codex. 517 A formação da “Alma Vivente”, ou Homem, expressaria a idéia com maior clareza. “Alma Vivente”, na Bíblia, é sinônimo de Homem. Corresponde aos nossos sete “Princípios”. 452 representada por Microposopo, a Face Menor ou Tetragrammaton, o Mistério de “quatro letras”. “Os sete Membros manifestados e os três ocultos constituem o Corpo da Divindade.” Assim, nossa Terra, Malkuth, é a um só tempo o sétimo e o quarto Mundo. É o sétimo quando se conta a partir do primeiro Globo de cima, e o quarto se pela ordem dos planos. Foi gerado pelo Sexto Globo (ou Sephira), chamado Yezud, “Fundação”, ou, como figura no Livro dos Numeras, “por meio de Yezud, Ele (Adão Kadmon) fecunda a Heva primitiva (Eva ou a nossa Terra)”. Esta é a explicação, vertida para linguagem mística, de que Malkuth (chamado a Mãe Inferior, Matrona, Rainha e o Reino da Fundação) seja representado como a esposa do Tetragrammaton ou Microposopo (o Segundo Logos), o Homem Celeste. Quando estiver livre de toda impureza, unir-se-á ao Logos Espiritual, o que se dará na Sétima Raça da Sétima Ronda, após a regeneração, no dia do “Sábado”. Porque o “Sétimo Dia”, repetimos, tem uma significação oculta que os nossos teólogos não suspeitam. “Quando Matronitha, a Mãe, é separada e posta face a face com o Rei, na excelência do Sábado, todas as coisas se convertem em um corpo518.” Converter-se em um corpo significa que tudo é de novo reabsorvido no Elemento Uno, tornando-se Nirvânis os espíritos dos homens e voltando outra vez os elementos de todas as coisas ao que eram antes: o Protilo ou Substância não diferenciada. “Sábado” quer dizer Repouso ou Nirvana. Não é o “sétimo dia” após seis dias, mas um período cuja duração equivale à dos sete “dias”, ou qualquer 518 Ha Idra Zuta Kadisha, XXII, pág. 746. 453 período composto de sete partes. Assim, um Pralaya tem a mesma duração de um Manvantara, ou melhor, uma Noite de Brahmâ é igual ao seu Dia. Se os cristãos querem seguir os costumes judeus, devem adotar-lhes o espírito, e não a letra morta. Deveriam trabalhar durante uma semana de sete dias, e descansar sete dias. Que a palavra “Sábado” tinha uma significação mística, demonstra-se no pouco apreço de Jesus por esse dia e também pelo que se lê em Lucas519. Sábado é tomado ali como a semana inteira. Veja-se o texto grego, em que a semana é denominada “Sábado”; literalmente: “Eu jejuo duas vezes no sábado.” Paulo, que era Iniciado, o sabia perfeitamente quando falava do repouso e da felicidade eterna nos Céus como de um Sábado520: “E sua felicidade será eterna, pois eles serão sempre (um) com o Senhor, e gozarão de um Sábado eterno521.” A diferença entre a Cabala e a Vidya Esotérica arcaica — considerandose a Cabala tal como se contém no Livro dos Números caldeu, e não como se mostra em sua cópia deturpada, a Cabala dos místicos cristãos — é realmente insignificante, consistindo tão só em divergências de forma e de expressão sem maior importância. Por exemplo: o Ocultismo oriental refere-se à nossa Terra como sendo o Quarto Mundo (o mais baixo de todos), acima do qual se situam os seis outros Globos, três em cada lado da curva. Por sua vez, o Zohar menciona a Terra como o inferior ou o Sétimo, acrescentando que dos outros seis dependem todas as coisas nela existentes (Microposopo). A “Face Menor (menor porque manifestada e finita) é formada de seis Sephiroth” — diz o mesmo livro. “Sete Reis surgem e morrem no Mundo três vezes destruído (Malkuth, nossa Terra é destruída em cada uma das Rondas por que passa); e seus reinos (os dos sete Reis) serão 519 XVIII, 12. 520 Hebreus, IV. 521 Cruden, sub voce. 454 aniquilados522.” É uma alusão às Sete Raças, das quais cinco já apareceram e duas estão ainda por vir nesta Ronda. As narrações alegóricas xintoístas a respeito da cosmogonia e da origem do homem, no Japão, falam dessa mesma crença. O Capitão C. Pfoundes, que durante cerca de nove anos estudou, nos mosteiros do Japão, a religião que está no fundo de todas as diferentes seitas ali existentes, diz o seguinte: “Esta é a idéia xintoísta da criação: Saindo do Caos (Kon-ton), a Tetra (In) era o sedimento precipitado, e os Céus (Yo) as essências etéreas que se elevaram; o Homem (Jin) apareceu entre os dois. O primeiro homem foi chamado Kuni-to ko tatchino-mikoto, dando-se-lhe ainda outros cinco nomes; e então surgiu a raça humana, de macho e fêmea. Isanagi e Isanami procriaram Tenshoko doijin, o primeiro dos cinco Deuses da Terra.” Estes “Deuses” correspondem simplesmente às nossas Cinco Raças, sendo Isanagi e Isanami duas espécies de “Antepassados”, as duas Raças anteriores que deram nascimento ao homem animal e ao homem racional. Mostraremos nos volumes III e IV que o número sete e a doutrina da constituição setenária do homem ocupavam um lugar preeminente em todos os sistemas secretos, e desempenha um papel tão importante na Cabala ocidental quanto no Ocultismo oriental. 522 Livro dos Números, I, VII, 3. 455 Eliphas Lévi diz que o número sete “é a chave da criação mosaica e dos símbolos de todas as religiões”. Expõe como a Cabala segue fielmente a mesma divisão setenária do homem, pois o diagrama que apresenta em sua Clef des Grands Mystères523 é setenário, conforme se pode ver à mais simples inspeção, apesar de se achar habilmente velado o pensamento exato. A mesma coisa ocorre com o diagrama “A Formação da Alma” incluído na Kabbalah Unveiled de Mathers524. que o extraiu da mencionada obra de Lévi, embora seja diferente a interpretação. Na página seguinte reproduzimos este último diagrama, com os nomes cabalísticos seguidos da respectiva denominação ocultista. Eliphas Lévi designa por Nephesh o que nós chamamos Manas, e viceversa. Nephesh é o Sopro de Vida (animal) no homem, o Sopro de Vida (instintiva) no animal; e Manas é a Terceira Alma — humana em seu aspecto luminoso, e animal em suas relações com Samael ou Kâma. Nephesh é, na realidade, o “Sopro de Vida” (animal) insuflado em Adão, o Homem de Barro; e, portanto, a Centelha Vital, o Elemento animador. Sem Manas, a “Alma Racional” ou Mente — que no quadro de Lévi é incorretamente chamada Nephesh —, Âtmâ-Buddhi permanece irracional neste plano e não pode atuar. Buddhi é o Mediador Plástico, e não Manas, que não passa de médium inteligente entre a Tríade Superior e o Quaternário Inferior. São muitas, porém, as curiosas e estranhas transformações que se vêem nas obras cabalísticas, prova convincente da lamentável confusão em que incide essa literatura. Nós não aceitamos tal classificação, a não ser exclusivamente para mostrar os pontos em que coincide com a nossa. 523 Pág. 389. 524 Lâmina VII, pág. 37. 456 Figura 6: DIAGRAMA IV A TRÍADE SUPERIOR – Imortal525 Vamos agora apresentar um quadro comparativo entre as explicações do sábio Eliphas Lévi a respeito do seu diagrama e o que ensina a Doutrina Secreta. Lévi faz também uma distinção entre a Pneumática oculta e a cabalística. 525 A Tríade está separada do Quaternário Inferior, porque esse último se dissocia após a morte. 457 Quadro 2 Diz Eliphas Lévi, o cabalista: Dizem os teósofos: PNEUMÁTICA CABALÍSTICA 1. A Alma (ou Ego) é uma luz velada, e esta luz é tríplice. 2. Neshamah — O Espírito puro. 3. Ruach — A Alma ou Espírito. 4. Nephesh — O Mediador Plástico526 5. A vestimenta da Alma é o córtex (corpo) da Imagem (Alma Astral). 6. A Imagem é dupla, porque reflete o bem e o mal. 7. (A Imagem; o Corpo.) PNEUMÁTICA ESOTÉRICA 1. A mesma coisa: porque é Âtmâ-Buddhi-Manas. 2. A mesma coisa527 . 3. A Alma Espiritual. 4. O Mediador entre o Espírito e o Homem: a Sede da Razão, a Mente, no homem. 5. Correto. 6. Isto é por demais apocalíptico, sem nenhuma utilidade. Porque o astral reflete tanto o homem bom como o mau; o homem que ou tende sempre para a Tríade Superior ou, do contrário, desaparece com o Quaternário. 7. A Imagem Terrestre. PNEUMÁTICA OCULTA (Segundo Eliphas Lévi) 1. Nephesh é imortal, porque renova sua vida pela destruição das formas. (Mas Nephesh, o “Sopro da Vida”, é uma denominação errônea e uma inútil confusão para o estudante.) 2. Ruach progride pela evolução das idéias (!). 3. Neshamah é progressivo, sem esquecimento nem destruição. 4. A Alma possui três habitações. 5. São tais habitações: o Plano dos Mortais, o Éden Superior e o Éden Inferior. 6. A Imagem (o homem) é uma esfinge que propõe o enigma do nascimento. 7. A Imagem fatal (a Astral) confere a Nephesh suas aptidões; mas Ruach é capaz de substituída com a Imagem conquistada em consonância com as inspirações de Neshamah. PNEUMÁTICA OCULTA (Segundo os ocultistas) 1. Manas é imortal, porque em cada nova encarnação acrescenta algo de si mesmo a Âtmâ-Buddhi; e deste modo, assimilando-se à Mônada, participa de sua imortalidade. 2. Buddhi se torna consciente pelo que assimila de Manas com a morte do homem, após cada encarnação nova. 3. Âtmâ nem progride, nem esquece, nem recorda. Não pertence a este plano: mas é um Raio de Luz eterna que brilha através da escuridão da matéria, quando esta última se inclina para ele. 4. A Alma — coletivamente como Tríade Superior — vive em três planos, além do quarto, a esfera terrestre; e existe eternamente no mais elevado dos três. 5. São tais habitações: a Terra, para o homem físico ou Alma animal; Kâma-Loka (Hades, Limbo), para o homem desencarnado ou o seu “cascão”; o Deva-chan, para a Tríade Superior. 6. Correto. 7. O Astral, por meio de Kâma (o Desejo), atrai continuamente Manas para a esfera das paixões e desejos materiais. Mas se o homem melhor, ou Manas, se esforça por escapar à atração fatal, e orienta suas aspirações para Âtmâ (Neshamah), então Buddhi (Ruach) vence, levando consigo Manas para o Reino do Espírito Eterno. 526 Eliphas Lévi, intencionalmente ou não, confundiu os números. Para nós, o seu número 2 é o número 1 (o Espírito); e, fazendo de Nephesh, ao mesmo tempo, o Mediador Plástico e a Vida, ele em verdade só enumera seis princípios, porque repete os dois primeiros. 527 O Esoterismo ensina a mesma coisa. Manas, porém, não é Nephesh, nem este último é o princípio astral, e sim o Quarto Princípio e também o Segundo, Prâna; pois Nephesh é o “Sopro de Vida” no homem, assim como no animal e no inseto; da vida física e material, que em si mesma não possui nenhuma espiritualidade. 458 É evidente que o cabalista francês ou não conhecia suficientemente a verdadeira doutrina ou pretendeu modificá-la por motivos particulares e para ajustála a suas próprias idéias. Vejam-se, por exemplo, as afirmações que ele faz ainda sobre este assunto, adiante transcritas; ao lado, constam as observações que a nós, ocultistas, cabe formular em resposta ao falecido cabalista e seus seguidores. Quadro 3 1. O corpo é o molde de Nephesh; Nephesh, o molde de Ruach; Ruach, o molde das vestes de Neshamah. 2. A Luz (a Alma) personifica-se em se revestindo (com um corpo); e a personalidade só subsiste enquanto a veste se mantém perfeita. 3. Os Anjos aspiram a tornar-se homens; um homem perfeito, um homem-Deus, está acima de todos os Anjos. 4. Em cada 14.000 anos a Alma rejuvenesce, e repousa no sonho ditoso do esquecimento. 1. O corpo segue os impulsos, bons ou maus, de Manas; Manas procura seguir a Luz de Buddhi, mas freqüentemente falha. Buddhi é o molde das “vestes” de Âtmâ, pois Âtmâ não é o corpo, nem forma, nem coisa, e Buddhi não é o seu veículo senão em sentido figurado. 2. A Mônada se converte em um Ego pessoal quando se encarna; e algo desta personalidade persiste por intermédio de Manas, quando este é bastante perfeito para assimilar Buddhi. 3. Correto. 4. Durante um grande período, uma “Grande Idade” ou um Dia de Brahmâ, reinam 14 Manus; depois vem o Pralaya, quando todas as Almas (Egos) repousam no Nirvana. Tais são as cópias desfiguradas da Doutrina Esotérica, na Cabala. Voltemos, porém, ao Sloka 5 da Estância VII528 . (b) Há um conhecido aforismo cabalístico que diz: “A pedra se converte em planta; a planta em animal; o animal em homem; o homem em espírito; e o espírito em um deus.” A “Centelha” anima sucessivamente todos os reinos, antes de penetrar e animar o homem divino; e entre este e o seu predecessor, o homem animal, existe todo um mundo de diferença. O Gênesis começa a sua antropologia no ponto errado — evidentemente para velar a verdade — e não conduz a parte alguma. Seus primeiros capítulos jamais visaram a representar, nem sequer como alegoria remota, a criação de nossa Terra. Registram um conceito metafísico de um 528 Veja-se, on Vol. III, Estância X: “Os Primitivos Manus da Humanidade”. 459 período indefinido da eternidade, quando a lei de evolução promovia ensaios sucessivos para a formação do Universo. A idéia está claramente exposta no Zobar. “Houve antigos mundos, que pereceram logo depois de virem à existência; não tinham forma, e eram chamados “Centelhas”. Como as faíscas que se espalham por todos os lados, quando o ferreiro malha o ferro rubro. Aquelas Centelhas eram os mundos primordiais, que não podiam durar, porque o Sagrado Ancião (Sephira) ainda não havia assumido a sua forma (de andrógino, ou de sexos opostos) como Rei e Rainha Sephira e Kadmon); e o Mestre ainda se não havia disposto à obra529.” Se o Gênesis tivesse principiado por onde devia, sua narrativa mencionaria em primeiro lugar o Logos Celeste, o “Homem Celeste”, que se desenvolve como Unidade Múltipla de Logos, Logos que aparecem em sua totalidade — como o primeiro “Andrógino” ou Adão Kadmon, o “Fiat Lux” da Bíblia, conforme já vimos — após o sono praláico, o sono que funde em Um todos os Números dispersos sobre o plano mayávico, à semelhança dos glóbulos de mercúrio que em um prato se confundem numa só massa. Mas semelhante transformação não se passou em nossa Terra, nem em qualquer plano material, e sim nos abismos do Espaço, onde se efetua a primeira diferenciação da eterna Raiz da Matéria. Em nosso Globo nascente, as coisas sucederam de maneira diferente. A Mônada ou Jiva, como dissemos em Ísis sem Véu530, foi precipitada inicialmente, pela Lei de Evolução, na forma mais baixa da matéria: o mineral. Encerrada na pedra (ou no que iria tornar-se mineral e pedra na Quarta Ronda), e depois de um giro sétuplo, daí a Mônada desliza para fora como um líquen, por assim dizer. E, passando através de todas as formas de matéria vegetal, e depois ao que se chama 529 Zohar, “Idra Suta”, livro III, pág. 292, b. 530 II, 302. 460 de matéria animal, alcança o ponto em que se deve converter, digamos assim, no germe do animal que se transformará em homem físico. Tudo isso, até a Terceira Raça, é sem forma, como matéria, e insensível, como consciência. Porque a Mônada ou Jiva, per se, não pode ser considerada sequer como Espírito: é um Raio de Luz, um Sopro do Absoluto, ou antes, algo na condição de Absoluto; e a Homogeneidade Absoluta, não tendo nenhuma relação com o finito, condicionado e relativo, é inconsciente em nosso plano. Assim, além do material de que necessita para sua futura forma, requer a Mônada: (a) um modelo espiritual ou protótipo, para dar configuração àquele material; e (b) uma consciência inteligente, para guiar a sua evolução e progresso; — coisas que não possui a Mônada homogênea nem a matéria viva desprovida de mente. O Adão de barro necessita que lhe seja insuflada a Alma da Vida: os dois princípios do meio, que são a vida senciente do animal irracional e a Alma Humana. Quando o homem, de andrógino potencial que era, vem a separar-se em macho e fêmea, então, e só então, adquire uma Alma consciente, racional e individual (Manas), “o princípio ou inteligência dos Elohim”, devendo, para isso, comer o fruto do Conhecimento, produzido pela Árvore do Bem e do Mal. Como obtém tudo isso? A Doutrina Oculta ensina que, enquanto a Mônada cumpre o seu ciclo de descida na matéria, esses mesmos Elohim ou Pitris — os Dhyân Chohans inferiores — evolucionam pari passu com ela, num plano mais elevado, descendo também em relação à matéria no seu próprio plano de consciência, até atingirem certo ponto, em que se encontram com a Mônada encarnante não mentalizada, imersa na matéria inferior; e, enlaçando-se as duas potencialidades, Espírito e Matéria, tal união produz aquele símbolo terrestre do “Homem Celeste” do espaço: o homem perfeito. 461 Na Filosofia Sânkhya alude-se a Purusha (Espírito) como algo que só pode atuar quando apoiado sobre os ombros de Prakriti (Matéria), sendo esta última, por sua vez, inerte e insensível quando abandonada a si mesma. Na Filosofia Secreta, porém, ambos são havidos como separados por gradações. Espírito e Matéria, conquanto em sua origem sejam uma só e a mesma coisa, têm cada qual o seu processo evolutivo, uma vez que se acham no plano da diferenciação, processo que segue direções contrárias: o Espírito caindo gradualmente na matéria, e esta subindo progressivamente à sua condição original, a de Substância espiritual e pura. Os dois são inseparáveis; e, contudo, sempre separados. No plano físico, dois pólos semelhantes se repelem sem cessar, ao passo que o positivo e o negativo se atraem mutuamente; é assim que também se comportam o Espírito e a Matéria, um em relação ao outro, pois são os dois pólos da mesma Sabedoria homogênea, o Princípio-Raiz do Universo. Portanto, ao soar à hora em que Purusha deve subir aos ombros de Prakriti para a formação do Homem Perfeito — o Homem rudimentar das duas e meia primeiras Raças, sendo tão-somente o primeiro que evoluciona gradualmente para o mais perfeito dos mamíferos —, os Antecessores Celestes (Entidades de Mundos anteriores, na índia chamadas os Shishta) entram nesse nosso plano e encarnam no homem físico ou animal, como os Pitris o haviam feito anteriormente para a formação deste último. Assim, os dois processos que culminam nas duas “criações” — a do homem animal e a do homem divino — diferem consideravelmente. Os Pitris projetam, de seus corpos etéreos, símiles deles próprios, ainda mais etéreos e sutis — o que hoje chamaríamos “duplos” ou “formas 462 astrais”, à sua própria imagem531, Isso dá à Mônada sua primeira habitação, e à matéria cega um modelo sobre o qual ela pode daí em diante construir. Mas o Homem este ainda incompleto. Em todas as escrituras arcaicas ficou impresso o selo desta doutrina, desde o Svâyambhuva Manu532, de quem descenderam os sete Manus ou Prajâpatis primitivos (cada um dos quais deu nascimento a uma Raça primitiva de homens), até o Codex Nazaræus, no qual Karabtanos, ou Fetahil, a matéria cega e concupiscente, engendra em sua Mãe Spiritus sete Figuras, cada qual representando o progenitor de uma das sete Raças primitivas. “Quem forma a Manu (o Homem), quem forma o seu corpo? A Vida e as Vidas. O Pecado533 e a Lua.” Aqui Manu representa o homem espiritual e celeste, o Ego real que não morre em nós e que é a emanação direta da “Vida Una” ou Divindade Absoluta. Quanto aos nossos corpos físicos exteriores, a habitação ou tabernáculo da Alma, a Doutrina ministra uma estranha lição; tão estranha que, ainda quando explicada por completo e compreendida de maneira cabal, só poderá ser plenamente comprovada pela Ciência exata do futuro. Já tivemos oportunidade de dizer que para o Ocultismo não existe nada inorgânico no Cosmos. A expressão “substância inorgânica”, usada pela Ciência, significa apenas que a vida latente, adormecida nas moléculas da chamada “matéria inerte”, é incognoscível. Tudo é vida, e cada átomo, mesmo o do pó mineral, é uma vida, muito embora paire acima de nossa compreensão e percepção, por situar-se fora dos limites das leis conhecidas pelos que não admitem o Ocultismo. “Os 531 Leia-se em Ísis sem Véu (vol. II, págs. 297-303) a doutrina do Codex Nazaræus; todos os princípios de nossos ensinamentos ali se encontram sob uma forma ou alegoria diferente. 532 Manu, Livro I. 533 A palavra “Pecado” (Sin) é bastante curiosa, mas tem uma relação particular e oculta com a Lua; sendo, aliás, o seu equivalente caldeu. 463 próprios átomos” — diz Tyndall — “parece que possuem o desejo instintivo de viver.” Donde vem, portanto, indagamos nós, essa tendência da matéria para “assumir a forma orgânica”? Porventura será explicável de outro modo que não o dos ensinamentos da Ciência Oculta? Os mundos, para o profano, estão construídos com os Elementos conhecidos. Segundo o conceito de um Arhat, estes Elementos, coletivamente, são uma Vida Divina; distributivamente, no plano das manifestações, são as inumeráveis massas de Vidas.

O Fogo somente é UM no plano da Realidade Única: no da Existência manifestada, e portanto ilusória, suas partículas são Vidas ígneas, que vivem e existem às expensas das outras Vidas que elas consomem. São, por isso, chamadas “os Devoradores”… Cada coisa visível neste Universo é constituída por vidas semelhantes, desde o homem primordial, divino e consciente, até os agentes inconscientes que elaboram a matéria… Da vida una, sem forma e incriada, procede o Universo de Vidas. Primeiro, manifestou-se do Abismo [Caos] o Fogo frio e luminoso [luz gasosa?], o qual formou os Coágulos no Espaço [nebulosas irredutíveis, talvez?]. Estes combateram, é um grande calor se desenvolveu nos encontros e colisões, produzindo a rotação. Surgiu então o primeiro Fogo material manifestado, as Chamas ardentes, os Vabagundos do Céu [cometas]. O calor gera vapor úmido; este forma água sólida (?), e depois névoa seca, 464 em seguida névoa líquida, aquosa, que apaga o luminoso resplendor dos Peregrinos [Cometas?], e forma Rodas sólidas e líquidas [Globos de matéria]. Bhûmi [a Terra] aparece com seis irmãs. Estas produzem, com seu movimento contínuo, o fogo inferior, o calor e uma névoa aquosa, que dá lugar ao Terceiro Elemento do Mundo — a água; e do sopro de tudo nasce o ar [atmosférico]. Estes quatro são as quatro Vidas dos quatro primeiros Períodos [Rondas] do Manvantara. Os três últimos seguir-se-ão. O Comentário alude, no início, às “inumeráveis massas de Vidas”. Estaria Pasteur dando inconscientemente o primeiro passo no rumo do Ocultismo, ao declarar que, se ousasse exprimir todas as suas idéias sobre o assunto, diria que as células orgânicas são dotadas de uma força vital cuja atividade continua após cessarem de receber o fluxo de oxigênio, e que por isso não rompe suas relações com a própria vida, a qual é mantida pela influência daquele gás? “Acrescentaria eu” — continua dizendo Pasteur — “que a evolução do germe se realiza mediante fenômenos complicados, entre os quais devemos incluir a fermentação”; e a vida, segundo Claude Bernard e Pasteur, não passa de um processo de fermentação. Que existem na Natureza Seres ou Vidas que podem viver e desenvolver-se sem ar, mesmo em nosso Globo, é o que ficou demonstrado por aqueles homens de ciência. Pasteur descobriu que muitas vidas inferiores, tais como os vibriônios e certos micróbios e bactérias, podem existir sem o ar, que, pelo contrário, os extermina. Extraem o oxigênio necessário à sua multiplicação das várias substâncias que os rodeiam. Ele deu-lhes os nomes de aeróbios, seres que se nutrem com os tecidos 465 de nossa matéria quando esta última deixa de fazer parte de um todo integral e vivente (correspondendo assim ao que a Ciência chamou, aliás de modo anticientífico, “matéria morta”), e anaeróbios. Os primeiros absorvem o oxigênio e contribuem em grande escala para a destruição da vida animal e dos tecidos vegetais, proporcionando à atmosfera materiais que entram depois na formação de outros organismos; os segundos destroem, ou melhor, aniquilam finalmente a chamada substância orgânica, sendo impossível a decomposição última sem a sua participação. Certas células-germes, como as da levedura de cerveja, se desenvolvem e se multiplicam no ar; mas, quando dele privadas, se adaptam por si mesmas à vida sem ar e se convertem em fermentos, absorvendo oxigênio das substâncias que entram em contato com elas e que são assim destruídas. As células, nas frutas, quando lhes falta o oxigênio livre, atuam como fermentos e provocam a fermentação. “Neste caso, portanto, a célula vegetal manifesta sua ação vital como um ser anaeróbio. Por que, então, deve a célula orgânica constituir uma exceção?” — pergunta o professor Bogoludof. Pasteur fez ver que, nas substâncias dos nossos tecidos e órgãos, a célula, não encontrando suficiente oxigênio, estimula a fermentação do mesmo modo que a célula da fruta; e Claude Bernard acredita que a idéia de Pasteur sobre a formação de fermentos encontrou aplicação e confirmação no aumento de uréia que se verifica no sangue durante o estrangulamento. A vida, por conseguinte, está em toda a parte no Universo, e — é o que ensina o Ocultismo — também existe no átomo. “Bhûmi aparece com seis irmãs” — diz o Comentário. Reza um ensinamento védico que “há três Terras, correspondentes aos três Céus, e que nossa Terra, a quarta, é chamada Bhûmi.” Esta é a explicação dada pelos nossos orientalistas ocidentais exotéricos. Mas o significado esotérico e a alusão contida 466 nos Vedas se referem à nossa Cadeia Planetária: “três Terras”, no arco descendente, e “três Céus”, que são também três Terras ou Globos — muito mais etéreas, porém — no arco ascendente ou espiritual. Pelas três primeiras nós descemos na matéria; pelas outras três ascendemos ao Espírito; o Globo inferior, nossa Terra, constitui, por assim dizer, o ponto de inflexão, e contém potencialmente tanto o Espírito como a Matéria. Ocupar-nos-emos disso mais tarde. O ensinamento geral do Comentário é que cada nova Ronda desenvolve um dos Elementos compostos, tais como são hoje conhecidos pela ciência (que rejeita a primitiva nomenclatura, preferindo subdividi-los segundo os seus componentes). Se a Natureza no plano manifestado é um “Eterno vir a ser”, então aqueles Elementos têm que ser considerados do mesmo ponto de vista: devem evolver, progredir e crescer até o fim do Manvantara. Assim, a Primeira Ronda não desenvolveu senão um Elemento, uma só natureza e uma só humanidade, naquilo que se pode chamar um aspecto da Natureza, ou o que alguns denominam, de modo algo anticientífico (embora de fato assim possa ser), “espaço de uma dimensão”. A Segunda Ronda manifestou e desenvolveu dois Elementos, o Fogo e a Terra; e sua humanidade (se é possível dar o nome de humanidade a seres que viviam em condições hoje ignoradas pelo homem), adaptada às circunstâncias então vigentes na Natureza, era “uma espécie de duas dimensões”, para de novo empregarmos uma expressão familiar em um sentido estritamente figurado, o único de que nos podemos servir corretamente. Os processos de desenvolvimento natural que estamos agora considerando vêm elucidar e ao mesmo tempo desacreditar a especulação habitual sobre os atributos de um espaço com Duas, três, quatro e até mais dimensões; mas, 467 de passagem, vale a pena chamar a atenção para o significado real da intuição correta, embora incompleta, que tem inspirado (entre os espíritas, os teósofos e alguns eminentes homens de ciência)534 o uso da expressão moderna “quarta dimensão do espaço”. Antes de tudo, carece de maior importância o absurdo superficial de supor-se que o espaço pode ser mensurado em uma dimensão qualquer. Aquela frase familiar não pode ser mais que um modo de abreviar o aspecto mais completo da questão: a “Quarta dimensão da matéria no Espaço535”. Esta última forma, porém, ainda que ampliada, continua sendo uma expressão pouco feliz, porquanto, se é exato que o progresso da evolução pode levar-nos a conhecer novas qualidades características da matéria, aquelas com as quais já nos achamos familiarizados são, na realidade, mais numerosas que as correspondentes às três dimensões. As qualidades, ou (o que talvez seja um termo mais apropriado), as características da matéria, devem sempre ter uma relação direta e clara com os sentidos do homem. A matéria possui extensão, cor, movimento (movimento molecular), sabor e odor, faculdades que correspondem aos sentidos existentes no homem; a próxima característica a desenvolver — e que por enquanto denominaremos “Permeabilidade” — corresponderá ao próximo sentido que o homem deve adquirir, e que chamaremos “Clarividência Normal”. Desse modo, quando alguns audazes pensadores buscavam ansiosamente uma quarta dimensão do espaço, para explicar a passagem da matéria através da matéria e a produção de nós em uma corda sem fim, o que realmente lhes escapava era uma sexta característica da matéria. Em verdade as 534 A teoria do Prof. Zollner foi muito bem recebida por vários sábios, que são também espiritistas: os Professores Butlerof e Wagner, de São Petersburgo, por exemplo. 535 “Dar realidade às abstrações é o erro do Realismo: o Espaço e o Tempo são, com freqüência, considerados à parte de todas as experiências concretas da mente, em vez de serem generalizações destas últimas em certos aspectos.” (Bain, Logic, parte II, pág. 319.) 468 três dimensões pertencem a um só dos atributos ou características da matéria, a extensão; e com razão o senso comum se insurge contra a idéia de que, seja qual seja a condição das coisas, possam existir mais do que as três dimensões de comprimento, largura e espessura. Estes termos e a própria palavra “dimensão” estão associados a um estado de pensamento, a um grau de evolução, a uma qualidade característica da matéria. Enquanto existirem unidades de medida entre os recursos do Cosmos, para serem aplicadas à matéria, não será possível medi-las senão de três modos, e nada mais; assim como, desde o tempo em que surgiu pela primeira vez no entendimento humano a noção de medida, nunca foi possível aplicála senão apenas em três sentidos. Estas considerações, todavia, não implicam de maneira alguma infirmar a certeza de que, no curso do tempo, à medida que se desdobrem as faculdades humanas, também se multipliquem as características da matéria. Vale ainda notar que aquele modo de expressar é muito menos correto do que o usado correntemente quando se diz que o Sol “nasce” ou “se põe”. Retornemos agora ao exame da evolução material através das Rondas. Conforme dissemos, a matéria, na Segunda Ronda, pode ser considerada como de duas dimensões, em sentido figurado. Mas cumpre advertir uma coisa. Esta expressão livre e figurada pode considerar-se — até certo ponto, como vimos — equivalente à segunda característica da matéria, a que corresponde à segunda faculdade perceptiva ou segundo sentido do homem. Esses dois graus conexos da evolução acham-se, porém, associados aos processos em curso dentro dos limites de uma só Ronda. A sucessão dos aspectos primários da Natureza, a que está ligada a sucessão das diferentes Rondas, tem relação, repetimos, com o desenvolvimento dos Elementos (em sentido oculto): Fogo, Ar, Água, Terra. 469 Estamos ainda na Quarta Ronda, e o nosso catálogo não vai além deste ponto. A ordem em que acabamos de nomear os Elementos é a correta do ponto de vista esotérico e nos Ensinamentos Secretos. Milton estava certo quando falou das “Potências do Fogo, do Ar, da Água e da Terra”. A Terra, tal como a vemos hoje, não existia antes da Quarta Ronda, que foi o período em que surgiu a nossa Terra geológica, há centenas de milhares de anos. O Globo era, diz o Comentário, “incandescente, frio e radiante, como os seus homens e animais etéreos, durante a Primeira Ronda” (o que para a nossa ciência atual parece contraditório ou paradoxal); “luminoso e mais denso e pesado na Segunda Ronda; aquoso durante a Terceira”. Inverteu-se, deste modo, a ordem dos Elementos.

Os centros de consciência da Terceira Ronda, destinados a desenvolver-se na humanidade que hoje conhecemos, chegaram à percepção do Terceiro Elemento, a Água. Se tivéssemos que basear as nossas conclusões nos dados e informações dos geólogos, diríamos que não existia água verdadeira, mesmo durante o período carbonífero. Afirma-se que massas gigantescas de carbono, anteriormente difundidas na atmosfera sob a forma de ácido carbônico, foram absorvidas pelas plantas, ao mesmo tempo em que uma grande parte desse gás se misturava com a água. Ora, se assim foi, se devemos crer que todo o ácido carbônico que serviu para formar as plantas e deu nascimento ao carbono betuminoso, à linhita etc., e que contribuiu para a formação dos calcários etc.; se devemos crer, dizíamos, que todo ele se encontrava em suspensão na atmosfera sob a forma gasosa, teriam então existido mares e oceanos de ácido carbônico líquido! 470 Mas, como poderia o período carbonífero ser precedido pelos períodos devoniano e siluriano — o dos Peixes e Moluscos —, em face daquela teoria? Ademais, a pressão barométrica devia ser, há esse tempo, várias vezes superior à pressão de nossa atmosfera atual. Como podiam suportá-la organismos tão simples como os de certos peixes e moluscos? Existe um livro curioso de Blanchard acerca da Origem da Vida, em que ele aponta algumas estranhas contradições e confusões nas teorias de seus colegas. Recomendamos essa obra à atenção do leitor. Os centros de consciência da Quarta Ronda acrescentaram um estado de matéria, a Terra, aos outros três elementos em sua atual transformação. Em suma: nas Rondas precedentes, nenhum dos chamados Elementos existia tal como é hoje. Quanto esteja ao nosso alcance, o fogo devia ser o Âkâsha puro, a Primeira Matéria do “Magnum Opus” dos Criadores e Construtores, aquela Luz Astral que o paradoxal Eliphas Lévi ora chama “Corpo do Espírito Santo”, ora “Baphomet”, o “Bode Andrógino de Mendés”; o AR devia ser o azoto, o “Sopro dos Sustentáculos da Cúpula Celeste”, na alegoria dos místicos maometanos; a água, aquele fluido primordial que, segundo Moisés, foi necessário para formar uma “Alma Vivente”. Estariam, assim, explicadas as discrepâncias flagrantes e as asserções anticientíficas que constam do Gênesis. Separe-se o primeiro capítulo do segundo; leia-se o primeiro como a escritura dos eloístas, e o segundo como a dos jeovistas, estes muito posteriores àqueles. Ver-se-á, lendo nas entrelinhas, que é sempre a mesma a ordem em que apareceram as coisas criadas: Fogo (Luz), Ar, Água, Homem (ou Terra). 471 Porque a frase do primeiro capítulo (o eloísta): “No princípio, Deus criou o Céu e a Terra”, é uma tradução errônea; não eram o céu e a terra, mas o Céu duplex; o Céu duplicado, o superior e o inferior, ou seja, o desdobramento da Substância Primordial, que era luminosa em sua parte superior, e obscura na parte inferior (o Universo manifestado), em seu duplo aspecto — o invisível (para os sentidos) e o visível (para nossas percepções). “Deus separou a luz das trevas”, e criou depois o firmamento (Ar). “Que haja um firmamento no meio das águas, e separe as águas das águas”, isto é, “as águas que estavam sob o firmamento” (nosso Universo manifestado e visível) “das águas sobre o firmamento” (os planos de existência invisíveis para nós). No capítulo seguinte (o jeovista), as plantas e as ervas são criadas antes da água, da mesma forma que, no primeiro, a luz é criada antes do sol. “Deus fez a terra e os céus e todas as plantas do campo, antes que elas existissem na terra, e todas as ervas do campo, antes que elas brotassem, porque o Senhor Deus (Elohim) ainda não havia feito chover sobre a terra etc.” — um absurdo, a não ser que se admita a explicação esotérica. As plantas foram criadas antes de as haver sobre a terra, porque então não existia a terra tal como é hoje; e a erva do campo antes de brotar como o faz agora, na Quarta Ronda. Analisando e explicando a natureza dos Elementos invisíveis e do “Fogo Primordial” a que nos temos referido, Eliphas Lévi dá a este último, invariavelmente, o nome de “Luz Astral”; para ele é o “Grande Agente Mágico”. Sem dúvida que assim é, mas tão-só no que concerne à Magia Negra e aos planos inferiores do que chamamos Éter, cujo númeno é o Âkâsha; até isso, porém, seria considerado inexato pelos ocultistas ortodoxos. A “Luz Astral” é simplesmente a antiga “Luz Sideral” de Paracelso; e dizer que “tudo o que existe 472 dela evolveu, e que ela conserva e reproduz todas as formas”, como aquele escreve, é enunciar uma verdade só no que respeita à segunda proposição. A primeira é errônea, porque, se tudo quanto existe houvesse evolvido por intermédio ou através do mencionado agente, este não seria a Luz Astral, já que a Luz Astral não é mais que o veículo de todas as coisas ou, quando muito, o espelho em que se reflete o todo. Eliphas Lévi a considera, com razão, “uma força da Natureza”, por meio da qual “um homem, que a dominasse…, poderia semear a confusão no mundo e transformar a sua face”, pois que é o “Grande Arcano da Magia Transcendente”. Citando as palavras do grande cabalista ocidental, nos termos em que foram traduzidas536, conseguiremos talvez explicar melhor, com o acréscimo eventual de uma ou duas palavras a fim de fazer ressaltar a diferença entre as versões ocidentais e as orientais do mesmo assunto. Diz o autor, a propósito do Grande Agente Mágico: “Esse fluido ambiente, que impregna todas as coisas, esse raio destacado do esplendor do Sol [Central ou Espiritual]… fixado pelo peso da atmosfera (?!) e pela força da atração central… a Luz Astral, esse éter eletromagnético, esse calórico vital e luminoso, é representada nos monumentos antigos pelo cinto de Ísis que se enrosca ao redor de dois pólos… e nas teogonias antigas pela serpente que devora a própria cauda, emblema da prudência e de Saturno [emblema do infinito, da imortalidade e de Cronos — o Tempo — e não do Deus Saturno ou do planeta]. É o dragão alado de Medéia, a 536 The Mysteries of Magic, por A. E. Waite. 473 serpente dupla do caduceu e o tentador do Gênesis; mas é também a serpente de bronze de Moisés rodeando o Tau… finalmente, é o diabo do dogmatismo exotérico, e é, em verdade, a força cega [não é cega, e Lévi bem o sabia] que as almas devem vencer a fim de se libertarem das cadeias da Terra; porque, se o não fizerem, serão absorvidas pelo mesmo poder que primeiro as produziu, e voltarão ao fogo central e eterno.” Pareceu, em certo momento, que esse grande Arqueu havia sido descoberto por e para um só homem — J. W. Keeley, de Filadélfia. Para outros, no entanto, esta descoberto, embora deva permanecer quase inútil. “Até lá chegarás…” Tudo aquilo é prático e correto, salvo um erro que já explicamos. Eliphas Lévi incorre em grave equívoco ao identificar sempre a Luz Astral com o que nós chamamos Âkâsha. No volume IV diremos o que ela realmente é. Mais adiante escreve Eliphas Lévi: “O Grande Agente Mágico é a quarta emanação do princípio de vida [nós dizemos que é a primeira no Universo interno, e a segunda no Universo externo, o nosso], de que o Sol é a terceira forma… porque o astro do dia [o Sol] não é mais que o reflexo e a sombra material do verdadeiro Sol Central que ilumina o mundo intelectual [invisível] do Espírito, sendo ele próprio um fulgor emanado do Absoluto537.” 537 Ibidem, pág. 70. 474 Tudo está certo até aqui. Quando, porém, o mais autorizado dos cabalistas ocidentais acrescenta que a Luz Astral, entretanto, “não é o Espírito imortal, como acreditaram os Hierofantes da Índia”, nós respondemos que ele calunia estes Hierofantes, que nunca disseram semelhante coisa; e são as próprias escrituras purânicas exotéricas que desmentem por completo a imputação. Nenhum hindu jamais confundiu Prakriti com o “Espiritual Imortal” — e a Luz Astral está somente um grau acima do plano inferior de Prakriti, isto é, do Cosmos material. Prakriti foi sempre havida como Mâyâ, Ilusão, estando fadada a desaparecer com tudo o mais, inclusive os Deuses, na hora do Pralaya. E o Âkâsha, que não é, como vimos, nem mesmo o Éter, com mais forte razão não poderia ser a Luz Astral. Os que são incapazes de penetrar além da letra morta dos Purânas fazem, freqüentemente, confusão entre o Âkâsha, Prakriti, o Éter, e até mesmo o céu visível. É verdade que todos quantos traduziram invariavelmente a palavra Âkâsha por “Éter” — Wilson por exemplo —, vendo que o Âkâsha era chamado “a causa material do som” (aliás, sua única propriedade), imaginaram, em sua ignorância, que era “material” no sentido físico. É verdade ainda que, se as qualidades características devem ser tomadas literalmente, então — uma vez que nada de material ou físico, e, portanto, de condicionado e temporal, pode ser imortal (segundo a metafísica e a filosofia) — a conseqüência seria que o Âkâsha não é nem infinito nem imortal. Mas tudo isso está errado, visto que Pradhâna (a Matéria Primordial) e o Som (como propriedade) foram mal interpretados: a primeira palavra (Pradhâna) é 475 certamente sinônima de Mûlaprakriti e de Âkâsha, e a segunda (Som) o é de Verbum, o Verbo ou Logos. Fácil é demonstrá-lo com o que se lê na seguinte passagem do Vishnu Purâna538: “Não existia nem dia nem noite, nem céu nem terra, nem trevas nem luz, nem o que quer que fosse, exceto apenas o Uno, que é inacessível à inteligência, ou seja, o que Brahman, e Pums (Espírito) e Pradhâna (Matéria Primordial). Ora, que é Pradhâna, senão Mûlaprakriti, a Raiz de Tudo, sob outro aspecto? Porque, conquanto mais adiante ali se mencione que Pradhâna se funde na Divindade, como todas as coisas, para ficar tão somente o Uno Absoluto, durante o Pralaya, é aquele considerado como infinito e imortal. Eis a tradução literal: “Um Espírito Brahma Prâdhânika: AQUILO era”; e o comentarista interpreta a palavra composta como um substantivo, e não como um derivado que se empregou à guisa de atributo, isto é, como “algo unido a Pradhâna”. Deve-se ainda ter presente que o sistema purânico é dualista, e não evolucionista; e que a esse respeito muita coisa mais se encontrará, do ponto de vista esotérico, no sistema Sânkhya, e mesmo no Mânava-Dharma-Shâstra, por muito que este último difira do primeiro. Assim, Pradhâna, inclusive nos Purânas, é um aspecto de Parabrahman, não uma evolução, e deve ser idêntico à Mûlaprakriti vedantina. “Prakriti, em seu estado primário, é Âkâsha” — diz um sábio vedantino539. É quase a Natureza abstrata. O Âkâsha, portanto, é Pradhâna sob outra forma; e como tal não pode ser o Éter, o agente sempre invisível, que a própria Ciência física corteja. Não é tampouco a Luz Astral. É, como já o dissemos, o númeno do sétuplo Prakriti 538 Wilson, I, 23-24. 539 Five Years of Theosophy, pág. 169. 476 diferenciado540, a sempre imaculada “Mãe” do “Filho” que não tem pai e que se torna “Pai” no plano manifestado inferior. Pois Mahat é o primeiro produto de Pradhâna ou Âkâsha; e Mahat — a Inteligência Universal, “cuja propriedade característica é Buddhi” — outro não é senão o Logos, dando-se-lhe os nomes de Ishvara, Brahma, Bhâva etc.541. Em resumo, é o “Criador” ou a Mente Divina em sua função criadora, a “Causa de todas as coisas”. É o “Primogênito”; dizem os Purânas que “a Terra e Mahat são as fronteiras externa e interna do Universo”, ou, em nossa linguagem, os pólos positivo e negativo da Natureza dual (abstrata e concreta) — e acrescentam: “Deste modo — assim como as sete formas [princípios] de Prakriti foram contadas de Mahat para a Terra — assim, no período da dissolução (elemental) (pratyâhâra), aqueles sete voltam a entrar sucessivamente uns nos outros. O Ovo de Brahma (Sarva — manala) se dissolve com suas sete zonas (Dvipa), sete oceanos, sete regiões etc542.” São estas as razões por que os Ocultistas não podem dar ao Âkâsha o nome de Luz Astral ou o de Éter. A sentença “Na casa de meu Pai há muitas moradas” pode ser comparada ao provérbio ocultista “Em casa de nossa Mãe há 540 Na filosofia Sânkhya, os sete Prakritis ou “produções produtivas” são: Mahat, Ahamkâra e os cinco Tanmâtras. Veja-se Sânkhya Kârikâ, III, e o respectivo comentário. 541 Veja-se Linga Purâna, Seção Primeira, LXX, 12 e seguintes, e Vâyu Purâna, cap. IV; mas sobretudo o primeiro Purâna, Seção Primeira, VIII, 67-74. 542 Vishnu Purâna, livro VI, cap. VI. Não há por que dizê-lo aos hindus, que sabem de cor os seus Purânas; mas é útil recordar aos nossos orientalistas, e aos ocidentais que consideram como autoridades as traduções de Wilson, que na tradução inglesa do Vishnu Purâna ele incorreu em contradições e erros crassos. Neste assunto dos sete Prakritis ou das sete zonas do Ovo de Brahma, por exemplo, há duas versões em completa divergência. No vol. I, pág. 40, diz-se que o Ovo é revestido exteriormente de sete invólucros. Wilson interpreta assim: “por Água, Ar, Fogo, Éter e Ahamkâra” — embora não exista a última palavra nos textos sânscritos. E no vol. V, pág. 198, do mesmo Purâna, se vê escrito: “Desta maneira foram as sete formas da Natureza (Prakriti), contadas de Mahat para a Terra.” (?) Entre Mahat ou Mahâ-Buddhi e “Água etc.” a diferença é demasiado grande. 477 sete moradas” ou planos, o inferior dos quais — a Luz Astral — está acima e ao redor do nosso.

Os elementos, sejam simples ou compostos, não podem ter permanecido sempre os mesmos desde o começo da evolução de nossa Cadeia. No Universo todas as coisas progridem constantemente durante o Grande Ciclo; e nos ciclos menores passam sem cessar por fases ascendentes e descendentes.

A Natureza jamais permanece estacionaria durante o Manvantara; não se limita a ser, mas está continuamente vindo-a-ser.

A vida mineral, vegetal e animal não para de adaptar seus organismos aos Elementos predominantes na ocasião; e por isso aqueles Elementos eram então apropriados para ela, como o são agora para a vida da humanidade presente. Só no decorrer da próxima Ronda — a Quinta — é que o quinto Elemento, o Éter, o corpo grosseiro do Âkâsha (se assim podemos qualificá-lo), tornando-se uma coisa familiar da Natureza para todos os homens, como para nós é o ar atualmente, deixará de ser o “agente” hipotético de tantas coisas, como hoje é considerado. E só durante aquela Ronda serão suscetíveis de completa expansão os sentidos mais elevados, a cujo desenvolvimento e evolução o Âkâsha preside. Na Ronda atual, conforme já tivemos oportunidade de dizer, e quando chegar o momento adequado, é possível que o mundo venha a familiarizar-se com o conhecimento parcial da Permeabilidade, esta característica da matéria que deverá desenvolver-se ao mesmo tempo que o sexto sentido. Mas, com o Elemento seguinte a ser acrescentado aos nossos recursos durante a próxima Ronda, a Permeabilidade se tornará uma característica tão manifesta da matéria que as 543 Também assim é para o grande metafísico Hegel. Para ele a Natureza é um perpétuo vir-a-ser. Este é um conceito puramente esotérico. A Criação ou Origem, no sentido cristão da palavra, é absolutamente inconcebível. Como diz aquele pensador: “Deus (o Espírito Universal) faz-se objetivo como Natureza, para dela emergir em seguida.” 478 formas mais densas desta Ronda hão de parecer, às percepções do homem, como um simples obstáculo comparável a um nevoeiro espesso dos nossos tempos. E agora voltemos ao Ciclo de Vida. Sem entrar na descrição minuciosa das vidas Superiores, vamos concentrar a nossa atenção nos Seres terrenos e na própria Terra. Esta última, segundo os ensinamentos, foi construída para a Primeira Ronda pelos “Devoradores”, que desintegram e diferenciam os germes de outras Vidas nos Elementos; e é de supor que o façam de modo semelhante ao dos aeróbios, no estado presente do mundo, quando minam e desorganizam a estrutura química de um organismo, transformando a matéria animal e dando nascimento a substâncias de constituição variável. O Ocultismo repugna, assim, a chamada Idade Azóica da ciência, mostrando que em tempo algum deixou de existir vida sobre a Terra. Onde quer que haja um átomo de matéria, uma partícula ou molécula, ainda que em estado super-gasoso, aí existe vida, latente ou inconsciente que seja. Tudo o que deixa o Estado Laya entra na Vida ativa, e é atraído ao torvelinho do MOVIMENTO [o Dissolvente Alquímico da Vida]; Espírito e Matéria são dois aspectos do UNO, que não é nem Espírito nem Matéria, sendo ambos a VIDA ABSOLUTA, latente… O Espírito é a primeira diferenciação do [e no] ESPAÇO; e a Matéria é a primeira diferenciação do Espírito. O que não ê nem Espírito nem Matéria é AQUILO, a CAUSA sem Causa do Espírito e da 479 Matéria, que são a Causa do Cosmos. E aquilo, nós O chamamos a VIDA UNA ou o Sopro Intra-cósmico544 . Repetimos: os semelhantes devem produzir os semelhantes. A Vida Absoluta não pode produzir um átomo inorgânico, seja simples ou complexo; e ainda no estado Laya existe a vida, exatamente do mesmo modo que o homem imerso em profundo sono cataléptico continua um ser vivente, embora com todas as aparências de um cadáver. Quando os “Devoradores” — em que os homens de ciência, se assim o preferirem, poderão ver, com alguma dose de razão, átomos da Névoa de Fogo, ao que nada objetarão os ocultistas — quando os “Devoradores”, dizíamos, diferenciam os “Átomos de Fogo”, por um processo especial de segmentação, estes últimos se convertem em Germes de Vida, que se aglutinam de acordo com as leis da coesão e da afinidade. Então os Germes de Vida produzem Vidas de outra espécie, que atuam na estrutura de nossos Globos. Assim, o Globo, na Primeira Ronda, tendo sido construído pelas primitivas Vidas de Fogo (isto é, tendo sido formado como esfera), não possuía solidez nem qualidades, salvo um resplendor frio, sem forma, sem cor; e só no final da Primeira Ronda é que veio a desenvolver um Elemento, o qual, de Essência simples, e por assim dizer, inorgânica, se converteu agora, em nossa Ronda, no fogo que nós conhecemos em todo o Sistema. A Terra estava em seu primeiro Rûpa, cuja essência é o Princípio Akhâshico chamado***, a que hoje se dá o nome de Luz Astral (erroneamente, aliás) e que Eliphas Lévi chama “Imaginação da Natureza”, evitando provavelmente o verdadeiro nome. 544 Livro de Dzyan, Com. III, pág. 18. 480 A respeito da Luz Astral, diz o mesmo Eliphas Lévi em seu Prefácio à Histoire de Ia Magie: “É por meio desta força que todos os centros nervosos se comunicam secretamente entre si; dela nascem a simpatia e a antipatia; dela provêm os nossos sonhos, e é ela que provoca os fenômenos da segunda vista e das visões extra-naturais… A Luz Astral [operando sob o impulso de vontades poderosas]… destrói, coagula, separa, quebra e reúne todas as coisas… Deus a criou no dia em que disse: “Fiat Lux”… É dirigida pelos Egrégoras, isto é, os chefes das almas, que são os espíritos da energia e da ação545.” Eliphas Lévi devia ter acrescentado que a Luz Astral, ou Substância Primordial (se é dela realmente que se trata) corresponde ao que, sob o nome de Luz (Lux), e segundo a explicação esotérica, é o corpo daqueles mesmos Espíritos e sua própria essência. Nossa Luz física é a manifestação em nosso plano e a radiação refletida da Luz Divina que emana do corpo coletivo daqueles que são chamados “as Luzes” e “as Chamas”. Mas nenhum outro cabalista jamais demonstrou tanto engenho e eloqüência, como Eliphas Lévi, para amontoar contradição sobre contradição e acumular paradoxo sobre paradoxo, em uma mesma frase. Ele conduz o leitor através dos mais encantadores vales, para depois abandoná-lo sobre um rochedo estéril e deserto. Diz o Comentário: 545 Pág. 19. 481 É por meio das radiações dos sete Corpos das sete Ordens de Dhyânis que nascem as sete Quantidades Distintas [Elementos], cujo movimento e união harmoniosa produzem o Universo manifestado da Matéria. A Segunda Ronda traz a manifestação do segundo Elemento — o ar, que asseguraria vida contínua a quem o usasse em estado de pureza. Na Europa somente dois ocultistas o descobriram e dele fizeram, em parte, aplicação prática, embora sua composição sempre fosse conhecida entre os mais altos Iniciados orientais. O ozônio dos químicos modernos é veneno, se comparado com o verdadeiro Dissolvente Universal; e deste nunca se poderia cogitar, se não existisse na Natureza. …A partir da segunda Ronda, a Terra — até então um feto na matriz do Espaço — principiou sua existência real; já havia ela desenvolvido a Vida individual senciente, seu segundo Princípio. O segundo [Princípio] corresponde ao sexto; o segundo é Vida contínua; o outro, a Vida temporal. A Terceira Ronda desenvolveu o terceiro Elemento — a ÁGUA; e a quarta transformou o fluido gasoso e a forma plástica do nosso Globo na esfera material grosseira, revestida de uma crosta dura, em que hoje vivemos. “Bhûmi” havia adquirido seu quarto Princípio. Pode-se objetar que assim não foi observada a lei de analogia, em que tanto vimos insistindo. Puro engano. Só no fim do Manvantara, 482 depois da Sétima Ronda, é que a Terra (ao contrário do homem) alcançará sua verdadeira e definitiva forma — o seu corpo-concha. Tinha razão Eugênio Filaletos quando afirmava aos seus leitores, “sob a sua palavra de honra”, que ninguém ainda vira a “Terra”, isto é, a Matéria, em sua forma essencial. O nosso Globo, até agora, se acha no estado Kâmarûpico, o do Corpo Astral de Desejos do Ahamkâra, o cego Egotismo, a produção de Mahat no plano inferior. Não é a matéria, constituída de moléculas — e muito menos o corpo humano, Shûla Sharira — que é o mais grosseiro de todos os nossos “princípios”; esta qualificação corresponde, na realidade, ao Princípio médio, o verdadeiro centro animal, sendo o nosso corpo apenas o seu invólucro, o agente e instrumento irresponsável, por cujo intermédio se manifesta a besta que está em cada um de nós. Todo teósofo intelectual compreenderá o que queremos dizer. Assim, a idéia de que o tabernáculo humano é construído por Vidas inumeráveis, exatamente como o foi a crosta rochosa de nossa Terra, em nada repugna aos verdadeiros místicos. E a Ciência não tem como objetar ao ensinamento; porque, se o microscópio não pode jamais descobrir o último átomo vivo ou a última expressão da vida, tal circunstância não basta para refugar a doutrina. (c) Ensina a Ciência que nos organismos do homem e do animal, tanto vivos como mortos, formigam centenas de bactérias de espécies as mais diversas; que somos ameaçados externamente cada vez que respiramos, com a invasão de micróbios, e internamente por leucomaínas, aeróbios, anaeróbios e muita coisa mais. Mas a Ciência ainda não foi ao ponto de afirmar, como o faz a Doutrina Oculta, que os nossos corpos, assim como os dos animais, as plantas e as pedras, são 483 inteiramente formados de semelhantes seres, os quais, com exceção de suas espécies maiores, não podem ser observados pelo microscópio. No que se refere à parte puramente animal e material do homem, a Ciência está a caminho de descobertas que irão corroborar plenamente essa teoria. A Química e a Fisiologia são os dois grandes magos do futuro, destinados a abrir os olhos da humanidade para as grandes verdades físicas. Cada dia que passa mais se demonstra a identidade entre o animal e o homem físico, entre a planta e o homem, entre o réptil e a sua furna, a rocha, e o homem. Pois que há identidade entre os componentes físicos e químicos de todos os seres, a ciência química pode muito bem concluir que não existe diferença alguma entre a matéria de que se compõe o boi e a que forma o homem. Mas a Doutrina Oculta é muito mais explícita. Diz ela: não só a composição química é a mesma, senão que as mesmas Vidas Invisíveis e infinitesimais formam os átomos dos corpos da montanha e da margarida, do homem e da formiga, do elefante e da árvore que o abriga do sol. Toda partícula, chamem-na orgânica ou inorgânica, é uma Vida. Todo átomo ou molécula no Universo dá ao mesmo tempo a vida e a morte às formas, pois constrói, mediante agregação, os universos e os efêmeros veículos destinados a acolher as almas que transmigram, assim como destrói e muda eternamente as formas, despedindo as almas de suas habitações provisórias. Cria e mata, gera e extermina, traz à existência e aniquila este mistério dos mistérios, que é o corpo vivente do homem, do animal ou da planta, em cada instante no tempo e no espaço; engendra igualmente a vida e a morte, a beleza e a fealdade, o bem e o mal, e ainda as sensações agradáveis e desagradáveis, as benéficas e as maléficas. 484 É aquela vida misteriosa, representada coletivamente por miríades incontáveis de Vidas, que segue, em seu próprio caminho, a lei do atavismo, até aqui incompreensível; que reproduz os traços de família, como também os que encontra impressos na aura dos geradores de cada ser humano futuro. Um mistério, em suma, ao qual dispensaremos maior atenção em outra parte. Podemos, por enquanto, dar um exemplo, a título de ilustração. A ciência moderna começa a descobrir que a ptomaína, o alcalóide venenoso gerado pela matéria em decomposição e pelos cadáveres (e uma vida também), extraído com a ajuda do éter volátil, produz um aroma tão penetrante como o da flor de laranjeira mais louça; mas que, privado de oxigênio, esse mesmo alcalóide ora deixa evolar-se o mais agradável dos perfumes, que lembra o das flores mais delicadas, ora exala o mais repulsivo e nauseante dos odores. Suspeitase que aquelas flores devem à ptomaína o seu agradável aroma. A essência venenosa de certos fungos é quase idêntica à peçonha da cobra da Índia, a mais mortífera das serpentes. Os sábios franceses Arnaud, Gautier e Villiers encontraram na saliva de homens vivos um alcalóide venenoso igual ao expelido pelo sapo, a salamandra, a cobra e o trigonocéfalo de Portugal. Provado está que um veneno dos mais letais, chame-se ptomaína, leucomaína ou alcalóide, é gerado pelos homens, animais e plantas vivas. Gauties também descobriu na carne fresca e nos miolos do boi um alcalóide e veneno, que ele denominou xantocreatinina, semelhante à substância extraída da saliva venenosa dos répteis. Supõe-se que os tecidos musculares — os mais ativos dos órgãos da economia animal — sejam os geradores ou fatores de venenos que têm a mesma importância que o ácido carbônico e a uréia nas funções da vida, e são os produtos finais da combustão interna. E, muito embora não esteja ainda de todo positivado que os venenos possam ser gerados 485 pelo sistema animal dos seres vivos, sem a participação e a intervenção dos micróbios, é indubitável que o animal produz substâncias venenosas em seu estado fisiológico, isto é, durante a vida. Tendo assim descoberto os efeitos, resta à Ciência remontar às causas primárias. Não poderá jamais encontrá-las sem o auxílio das ciências antigas, a alquimia, a física e a química ocultas. Quanto a nós, sabemos que toda alteração fisiológica, além dos fenômenos patológicos ou enfermidades — (sem falar na própria vida, ou melhor, nos fenômenos objetivos da vida, provocados por certas condições e modificações nos tecidos do corpo, que permitem ou obrigam a ação vital neste último) —, sabemos que tudo isso se deve àqueles “Criadores” e “Destruidores” invisíveis, aos quais se dá o nome tão vago e genérico de micróbios. Poder-se-ia imaginar que essas Vidas Ígneas e os micróbios da ciência são a mesma coisa. Não o são. As Vidas Ígneas constituem a sétima e a mais elevada subdivisão do plano da matéria546, e correspondem, no indivíduo, à Vida Una do Universo, ainda que unicamente nesse plano da matéria. Os micróbios da ciência estão na primeira e mais baixa subdivisão do segundo plano, o do Prâna material ou Vida. O corpo físico do homem sofre uma completa mudança de estrutura cada sete anos, e a sua destruição e conservação devem-se às funções alternadas das Vidas ígneas, como Destruidores e Construtores. São Construtores sacrificando-se elas próprias, sob a forma de vitalidade, para conter a influência destruidora dos micróbios; e, proporcionando a estes o necessário, obrigam-nos, mediante esse freio, a construírem o corpo material e suas células. São Destruidores quando o freio desaparece, e os micróbios, carentes da energia vital para construir, são deixados 546 O plano da substância física. 486 em liberdade e se convertem em agentes de destruição. Assim, durante a primeira metade da vida do homem, ou seja, nos cinco primeiros períodos de sete anos, estão as Vidas Ígneas indiretamente ocupadas na construção do corpo material do homem; a Vida percorre a curva ascendente, com a sua força utilizada para construir e fazer crescer. Passado esse período, principia a idade da retrocessão: esgotandose a energia no trabalho das Vidas Ígneas, inicia-se a obra da destruição e da decadência. Pode ver-se aqui uma analogia com os acontecimentos cósmicos da descida do Espírito na matéria, durante a primeira metade de um Manvantara (assim planetário como humano), e sua ascensão na segunda metade, a expensas da matéria. Tais considerações são aplicáveis somente ao plano da matéria; mas a influência restritiva das Vidas Ígneas na ínfima subdivisão do segundo plano (os micróbios) encontra confirmação no fato, descrito na teoria de Pasteur, de que as células dos órgãos, quando lhes falta o oxigênio suficiente, se adaptam a esta situação e fabricam fermentos, os quais, absorvendo oxigênio das substâncias com que entram em contato, as destroem. Deste modo começa o processo de destruição pela célula que priva sua vizinha da fonte de vitalidade, quando é insuficiente a provisão; e a ruína, uma vez iniciada, segue em progressão constante. Experimentadores como Pasteur são os melhores amigos dos Destruidores, auxiliando-os, e seriam os piores inimigos dos Construtores se estes últimos não fossem ao mesmo tempo destruidores. Seja como for, uma coisa é certa: o conhecimento das causas primárias e da essência última de cada Elemento, de suas Vidas, suas funções, propriedades e condições de alteração, constitui a base da magia. Paracelso foi, durante os últimos séculos da era cristã, talvez o único 487 ocultista da Europa que estava a par desse mistério. Se mão criminosa lhe não houvesse posto termo à vida, antes do tempo que a Natureza lhe assinara, a Magia fisiológica teria muito menos segredos para o mundo civilizado do que os tem agora. (d) Mas — poder-se-á perguntar — que tem a ver a Lua com tudo isso? Que relação têm “o Peixe, o Pecado, e Soma (a Lua)”, da frase apocalíptica da Estância, com os micróbios da vida? Com os micróbios, nada, exceto que estes se servem do tabernáculo de barro preparado para eles; com o Homem perfeito e divino, tudo, porque “o Peixe, o Pecado e a Lua constituem, unidos, os três símbolos do Ser imortal547 Kis tudo o que podemos dizer. A autora não tem a pretensão de saber, a respeito desses estranhos símbolos, mais do que o que se pode Inferir das religiões exotéricas — ou do mistério, talvez, que existe por trás do Avatâra Matsya (Peixe) de Vishnu, do Oannes caldeu, do Homem-Peixe representado pelo signo imperecível do Zodíaco, Piseis, e que o Antigo e o Novo Testamento fazem evocar nas figuras de Josué, “Filho de Num (o Peixe)”, e Jesus; do alegórico “Pecado” ou Queda do Espírito na Matéria; e da Lua, no que se relaciona com os Antepassados Lunares, os Pitris. Por enquanto, talvez convenha lembrar ao leitor que, ao passo que os Deuses Lunares estavam associados, em todas as mitologias, e particularmente na dos gregos, com os nascimentos, por causa da influência da Lua sobre as mulheres e sobre a concepção, o liame real e oculto do nosso satélite com a fecundação é até 547 Nota da tradução francesa (vol. I, 4.a edição, 1924, pág. 258): Um de nossos companheiros (da Seção Francesa da S. T.), no curso da revisão que se propôs fazer, juntamente com outro, na primeira edição da tradução francesa da Doutrina Secreta, indicou à Sra. Annie Besant uma retificação para ser levada a efeito nesta obra. A Sra. Besant, no número de outubro de 1905, págs. 167-168, da Teosophical Review, aprovou a retificação, manifestando-se nos seguintes termos: “Um distinto correspondente francês me fez observar (a propósito das palavras que terminam a Estância VII, § 5.°, e do comentário de H. P. B. na página 284 da 3ª edição de The Secret Doctrine) que, no tocante à trindade caldéia: Oannes, Sin e Samas — Peixe, Lua, Sol —, seria conveniente substituir a palavra Soma por Samas; e acrescentou ele: ‘Isto constitui boa prova de que H.P.B. não compôs nem inventou as Estâncias de Dzyan, que, na realidade, foram por ela recebidas e interpretadas’.”. 488 hoje completamente ignorado pela fisiologia, que considera superstições grosseiras todas as práticas populares relacionadas com o assunto. Porque seja inútil discutir o caso em todas as suas minúcias, só de passagem nos detemos aqui para dizer umas breves palavras sobre a simbologia lunar e mostrar que aquela superstição faz parte das mais antigas crenças, inclusive do Judaísmo, que é a base do Cristianismo. Para os israelitas, a principal função de Jehovah era a de dar filhos; e o esoterismo da Bíblia, interpretado cabalisticamente, demonstra, sem sombra de dúvida, que o Sanctum Sanctorum do Templo não era outra coisa senão o símbolo da matriz. Isso está hoje provado, de modo insofismável, pela leitura numérica da Bíblia em geral e do Gênesis em particular. A idéia, herdaram-na os Judeus, certamente dos Egípcios e Hindus, pois o “Sanctum Sanctorum” está simbolizado pela Câmara do Rei na Grande Pirâmide. Para maior elucidação do assunto, e ao mesmo tempo salientar a enorme diferença no espírito da interpretação e no significado especial dos aludidos símbolos entre os antigos ocultistas orientais e os cabalistas judeus, encaminhamos o leitor à Seção que trata do “Sanctum Sanctorum” no volume IV. O culto fálico não se desenvolveu senão após a perda das chaves que davam a real significação dos símbolos. Foi o último e o mais fatal desvio do caminho da verdade e do saber divino, para a via lateral da ficção548, alçada à categoria de dogma por obra da falsificação humana e da ambição hierárquica. 548 A Sra. Besant conclui a sua comunicação com estas linhas: “Assim resumo os diversos reparos que o correspondente me dirigiu sobre este assunto. Os Gregos davam o nome de Oannes, o Eanunu dos Assírios, ao que os Egípcios chamavam Toth, o Deus da Sabedoria, que ensina as artes e as ciências. Ele flutua no Caos primordial, é o ‘Espírito’, o Terceiro Logos. Sin é o Deus Lunar, a Sabedoria, chamado Nannar, o resplandecente, andrógino algumas vezes, e adorado sob o nome de Istar; representa o Segundo Logos. Samas é o Deus Solar, Adar ou Adra, o Fogo perpétuo, inextingüível, o equivalente caldeu do Primeiro Logos. A substituição de Soma por Samas seria racional e tornaria inteligível a frase de H.P.B.” A aprovação da Sra. Besant à retificação proposta pareceu-nos útil assinalar e sobretudo inserir aqui. 489 6. Desde o Primeiro Nascido549, o Fio que une o Vigilante Silencioso à sua Sombra torna-se mais e mais forte a cada Mutação550. A Luz do Sol da manhã se transformou no esplendor do meio-dia… Esta frase: “o Fio que une o Vigilante Silencioso à sua Sombra torna-se mais e mais forte a cada Mutação” é outro mistério psicológico que encontrará sua explicação nos volumes III e IV. Por ora bastará dizer que o “Vigilante” e suas “Sombras” (sendo estas tão numerosas quanto as reencarnações da Mônada) não constituem mais que um. O Vigilante, ou o Divino Protótipo, ocupa o degrau superior da escala; a Sombra, o inferior. Por outro lado, a Mônada de cada ser vivente — a menos que a torpeza moral deste venha a romper o laço, fazendo-o extraviar-se e perder-se na “Senda Lunar”, consoante a expressão oculta — é um Dhyân Chohan individual; distinto dos outros, e com uma espécie de individualidade espiritual que lhe é peculiar, durante um determinado Manvantara. O seu Princípio Espiritual (Âtman) é, naturalmente, uno com o Espírito Universal Único (Paramâtman); mas o Veículo (Vâhan), que é o seu tabernáculo, Buddhi, faz parte integrante daquela Essência Dhyân-Chohânica. Nisto é que reside o mistério da ubiqüidade, a que já nos referimos em páginas anteriores. “Meu Pai, que está no céu, e eu somos um551” — diz a Escritura Sagrada dos cristãos; e aqui, pelo menos, ela é o eco fiel do ensinamento esotérico. 7. “Eis a tua Roda atual” — diz a Chama à Centelha. “Tu és eu mesma, minha imagem e minha sombra. Eu revesti-me de ti, e tu és o meu Vahân552 até 549 O Primeiro Homem ou o Homem Primitivo. 550 Reencarnação. 551 João, X, 30. 552 Veículo. 490 o dia ‘Sê Conosco’, quando voltarás a ser eu mesma, e os outros tu mesma e eu.” (a) Então os Construtores, metidos em sua primeira Vestimenta, descem à radiante Terra, e reinam sobre os homens — que são eles mesmos… (b). (a) O dia em que a Centelha retornará à Chama, em que se dará a fusão do Homem com o seu Dhyân Chohan, “eu mesmo e outros, tu mesmo e eu”, como diz a Estância, significa que no Paranirvâna (quando o Pralaya tiver reconduzido não só os corpos materiais e psíquicos, mas também os próprios Egos espirituais, ao seu princípio original) as Humanidades passadas, presentes e até mesmo futuras, assim como todas as coisas, não formarão mais do que uma só unidade. Tudo será reabsorvido pelo Grande Sopro. Ou, em outras palavras: “Dar-se-á a fusão de tudo em Brahman”, ou seja, na Unidade Divina. Será isso o aniquilamento, como pensam alguns? Ou é ateísmo, conforme pretendem outros críticos — os que adoram uma divindade pessoal e crêem num paraíso anti-filosófico? Nem uma nem outra coisa. Será mais que inútil insistir nessa questão de ver um suposto ateísmo no que é espiritualismo no mais alto sentido. Supor que o Nirvana é aniquilamento, equivale a considerar também aniquilado um homem que está imerso em profundo sono, sem sonhos, um destes sonos que não deixam a mínima impressão na memória e no cérebro físico, por se achar então o “Eu Superior” da pessoa adormecida em seu estado original de Consciência Absoluta. Mas este exemplo corresponde apenas a um aspecto da questão — o mais material; porque reabsorção não é, de maneira alguma, “um sono sem sonhos”, mas, antes pelo contrário, Existência Absoluta, uma unidade não condicionada ou um estado que a linguagem humana é de todo incapaz de 491 descrever. Estado do qual não se pode formar um conceito aproximado ou parecido senão mediante as visões panorâmicas da Alma, através das ideações espirituais da Mônada divina. Com a reabsorção, não se perde a Individualidade, nem sequer a essência da Personalidade (se alguma restar). Pois o estado paranirvânico, embora infinito do ponto de vista humano, tem um limite na Eternidade. Depois de o haver alcançado, a Mônada ressurgirá dali como um ser mais perfeito ainda, num plano muito mais elevado, para recomeçar o seu ciclo de atividade. A mente humana, em seu estado atual de desenvolvimento, pode apenas chegar a estas alturas do pensamento; não pode ir além. Vacila diante das bordas do Absoluto e da Eternidade incompreensíveis. (b) Os “Vigilantes” reinam sobre os homens durante todo o período do Satya Yuga e dos Yugas menores, até o início da Terceira Raça-Raiz; e são sucedidos pelos Patriarcas, os Heróis e os Manes, como nas Dinastias egípcias enumeradas pelos sacerdotes, a Sólon, até o rei Menes e os Reis humanos de outras nações. Todos foram cuidadosamente anotados. Segundo os simbologistas, essa idade poética e mitológica não passa naturalmente de um conto de fadas. Mas é de ver que existem, nos anais de todas as nações, crônicas e tradições que falam daquelas dinastias de Reis Divinos, de Deuses que reinaram entre os homens, assim como de seus sucessores, os Heróis ou Gigantes. E é difícil compreender como seria possível a todos os povos que vivem sob o sol — alguns separados por vastos Oceanos, e pertencentes a hemisférios opostos — inventar 492 idênticos “contos de fadas”, em que os acontecimentos obedecem à mesma ordem553 . Seja como for que a Doutrina Secreta ensine a história — a qual, com ser esotérica e tradicional, não é menos digna de fé que a história profana —, assistenos o direito de sustentar as nossas crenças, tanto quanto um sectário religioso tem o de sustentar as suas, e um céptico as suas opiniões. E a Doutrina Secreta diz que os Dhyâni-Buddhas dos dois Grupos superiores — a saber, os Vigilantes e os Arquitetos — deram reis e chefes divinos às múltiplas e diferentes Raças. Os últimos destes governantes ensinaram à humanidade as artes e as ciências, e os primeiros revelaram as grandes verdades espirituais dos mundos transcendentes às Mônadas encarnadas que acabavam de deixar seus veículos nos Reinos inferiores, e haviam, assim, perdido toda lembrança de sua origem divina. Desse modo, como diz a Estância, “descem os Vigilantes sobre a radiante Terra, e reinam sobre os homens, que são eles mesmos”. Os Reis concluíram o seu ciclo na Terra e em outros Mundos, nas Rondas precedentes. Nos Manvantaras futuros, eles serão guindados a Sistemas superiores ao nosso Mundo planetário; e o seu lugar será ocupado pelos Eleitos de nossa humanidade, os Precursores no difícil e árduo caminho do Progresso. Os homens do nosso próprio Ciclo de Vida serão, no próximo grande Manvantara, os instrutores e guias de uma humanidade cujas Mônadas podem estar agora aprisionadas — semi-conscientes — nos espécimes mais inteligentes do reino animal, enquanto os seus princípios inferiores animam, talvez, os exemplares mais elevados do reino vegetal. 553 Veja-se, por exemplo, a obra Sacred Mysteries among the Mayas and the Quiches, de Auguste Le Plongeon, em que se mostra a identidade dos ritos e crenças do Egito com os dos povos ali descritos. Os antigos alfabetos hieráticos dos maias e dos egípcios são quase iguais. 493 Assim marcham os ciclos da evolução setenária, na Natureza Sétupla: a natureza espiritual ou divina, a psíquica ou semi-divina, a intelectual, a passional, a instintiva ou “cognicional”, a semi-corporal e a puramente material ou física. Todas elas evolucionam e progridem ciclicamente, passando de uma para outra, em um duplo sentido, centrífugo e centrípeto, uno em sua essência última, e sétuplo em seus aspectos. Destes, o inferior é, naturalmente, o que depende dos nossos cinco sentidos, que em verdade são sete, conforme mostraremos mais adiante, baseados nos mais antigos Upanishads. Isso em relação às vidas individual, humana, senciente, animal e vegetal, cada uma delas o microcosmo de seu macrocosmo superior. Dá-se o mesmo quanto ao Universo, que se manifesta periodicamente, tendo por objetivo o progresso em conjunto das Vidas inumeráveis — as expirações da Vida Una; a fim de que, através do perpétuo Vir-a-ser, cada um dos átomos deste mesmo Universo infinito, passando do informe e do intangível, pelas complexas naturezas do “semi-terrestre”, à matéria em plena geração, para depois retroceder e tornar a subir a estados ainda mais elevados e mais próximos da meta final; a fim de que — repetimos — possa cada átomo alcançar, por meio de esforços e méritos individuais, aquele estado em que voltará a ser o todo uno e Incondicionado. Mas, entre o Alfa e o, Omega, se estende o áspero “Caminho”, eriçado de espinhos, que primeiro se dirige para baixo, e depois Sobe em espiral para o alto da colina, Sim, sem cessar, até alcançar o topo… 494 Ao iniciar a longa viagem, o Peregrino está imaculado; descendo cada vez mais na matéria pecaminosa, e associando-se a cada um dos átomos do Espaço manifestado, só depois de chegar ao fundo do vale da matéria, e de haver lutado e sofrido através de cada uma das formas do ser e da vida, pode ele identificar-se com a humanidade coletiva: percorreu então a primeira metade do seu ciclo. Essa humanidade, ele a fez segundo a sua própria imagem. A fim de ganhar a senda do progresso, e subir sempre, até alcançar a sua verdadeira pátria, o “Deus” tem ainda que escalar, com o sofrimento, o caminho escarpado do Gólgota da Vida. É o martírio da existência consciente de si mesma. Como Vishvakarman, tem que sacrificar-se, ele próprio, para redimir todas as criaturas, para ressuscitar, de entre as Vidas Múltiplas, a Vida Una. Então, há a sua real ascensão para os céus, onde imerge na incompreensível Existência e Bem-Aventurança Absolutas do Paranirvâna, e reina incondicionalmente; e de onde voltará a descer na próxima “Vinda”, que uma parte da humanidade, atendo-se à letra morta, espera como o “Segundo Advento”, e outra parte como o último “Kalki Avatar”. 495 RESUMO “A História da Criação e do Mundo, desde sua origem até a época presente, compõe-se de sete capítulos. O capítulo sétimo ainda não foi escrito.” T. Subba Row554 Esforçamo-nos por escrever o primeiro dos “sete capítulos”, e agora o damos por terminado. Falha e incompleta que seja a exposição, representa, em todo caso, uma aproximação — no sentido matemático — do que constitui a base mais antiga de todas as cosmogonias. Ousada é a tentativa de expressar em língua européia o vasto panorama da Lei, que eterna e periodicamente se manifesta; Lei impressa nas mentes plásticas das primeiras Raças dotadas de Consciência, por aqueles que a reflitam da Mente Universal. Empreendimento ousado, porque nenhuma linguagem humana, com exceção do sânscrito, que é o idioma dos Deuses, permite fazê-lo com a exatidão suficiente. Que a intenção, porém, sirva de escusa para os defeitos da obra. Como conjunto, nem o que precede nem o que deverá seguir-se podem ser encontrados em parte alguma. Estes ensinamentos não figuram em nenhuma das seis escolas filosóficas da Índia, porque em verdade, pertencem a uma sétima 554 The Theosophist, 1881. 496 escola, que é a síntese das outras, a saber: a Doutrina Oculta. E não se acham escritos em nenhum velho e carunchoso papiro do Egito, nem foram gravados em ladrilho ou muro de granito da Assíria. Os Livros da Vedanta — “a última palavra do saber humano” — apresentam só o aspecto metafísico da cosmogonia do mundo; e o seu inestimável tesouro, os Upanishads (sendo Upani-shad uma palavra composta que significa o domínio da ignorância pela revelação do conhecimento secreto e espiritual), requer hoje a posse de uma chave-mestra, que permita ao estudante apreender-lhe o sentido em sua plenitude. A autora pede vênia para dar aqui a explicação que, a esse respeito, lhe foi transmitida pelo Mestre. O nome Upanishads é comumente traduzido como “doutrina esotérica”. Esses tratados fazem parte do Shruti ou Conhecimento “revelado” — em uma palavra, a Revelação — e são geralmente anexados à parte bramânica dos Vedas, como sua terceira divisão. “[Ora,] os Vedas possuem duas significações bem distintas: uma expressa pelo sentido literal das palavras, a outra indicada pelo metro e o svara (entonação), que são como que a vida dos Vedas… É claro que os sábios pandits e os filósofos negam que o svara tenha alguma relação com a filosofia ou as antigas doutrinas esotéricas. Mas a misteriosa conexão existente entre svara e luz é um de seus mais profundos segredos555.” 555 T. Subba Row, Five Years of Theosophy, pág. 154. 497 Os orientalistas enumeram 150 Upanishads e consideram os mais antigos como escritos provavelmente uns 600 anos antes de nossa Era. Mas os textos autênticos não correspondem nem à quinta parte daquele número. Os Upanishads são para os Vedas o que a Cabala é para a Bíblia dos judeus. Expõem a explicam a significação secreta e mística dos textos védicos. Tratam da origem do Universo, da natureza da Divindade, do Espírito e da Alma, e também da relação metafísica entre a Mente e a Matéria. Em resumo: CONTÊM o princípio e o fim de todo o conhecimento humano; mas cessaram de o REVELAR desde os tempos de Buddha. De outra forma, não poderiam os Upanishads ser considerados esotéricos, já que hoje se acham integrando os Livros Sagrados bramânicos, ao alcance de qualquer pessoa, inclusive dos Mlechchhas (os sem casta) e dos orientalistas europeus. Mas há, em todos os Upanishads, indícios constantes e invariáveis de sua antiga origem, e que provam: (a) que algumas de suas partes foram escritas antes de o sistema de castas transformar-se na instituição tirânica que ainda perdura; (b) que a metade de seus textos foi eliminada, sendo que alguns foram reescritos e abreviados. “Os grandes Mestres do Conhecimento Superior e os brâmanes vão ali constantemente aos reis Ksha-triyas (casta militar) para se tornarem seus discípulos”. Observa com muita justeza o Professor Cowell que os Upanishads “respiram um espírito completamente diferente (do de outros escritos bramânicos), uma liberdade de pensamento que se não vê em nenhuma obra anterior, salvo nos próprios hinos do Rig Veda”. O segundo fato se explica por uma tradição registrada em um dos manuscritos que se referem à vida de Buddha: a de que os Upanishads foram originariamente anexados aos Brâhmanas no início de uma reforma que conduziu ao exclusivismo do atual sistema de castas entre os brâmanes, alguns 498 séculos após a invasão da Índia pelos “Duas vezes nascidos”. Os textos estavam completos naquela época e serviram para instruir os Chelas que se preparavam. para a Iniciação. Assim foi enquanto os Vedas e os Brâhmanas permaneceram como propriedade única e exclusiva dos brâmanes do templo, enquanto ninguém mais, estranho à casta sagrada, tinha o direito de estudá-los ou até mesmo de os ler. Surgiu então Gautama, o Príncipe de Kapilavastu. Tendo aprendido toda a sabedoria bramânica dos Rahasya ou dos Upanishads, e vendo que os ensinamentos mui pouco ou nada diferiam dos ministrados pelos “Mestres da Vida”, residentes nas montanhas nevadas dos Himalaias556, o Discípulo dos brâmanes, não se conformando em que a Sabedoria Sagrada fosse negada a todos, com exceção destes últimos, resolveu divulgá-la, a fim de salvar o mundo inteiro. E então os brâmanes, ante a iminência de verem cair os seus Conhecimentos Sagrados e a sua Sabedoria Oculta nas mãos dos Mlechchhas, encurtaram e resumiram os textos dos Upanishads, que em sua origem continham três vezes a matéria dos Vedas e Brâhmanas reunidos; e o fizeram sem mudar uma só palavra dos textos. Destacaram simplesmente dos manuscritos as partes mais importantes, aquelas onde se achava a última palavra sobre o Mistério da Existência. A chave do código secreto dos brâmanes ficou, daí em diante, na posse exclusiva dos Iniciados; e eles puderam, assim, negar publicamente a exatidão dos ensinamentos de Buddha, invocando os Upanishads, em que se guardava perpétuo silêncio a respeito das questões principais. Tal é a tradição esotérica de além-Himalaia. 556 Também chamados “Filhos da Sabedoria” e da “Névoa de Fogo”, e “Irmãos do Sol”, nos Anais chineses. Consta dos manuscritos da biblioteca sagrada da província de Fo-Kien, que Si-dzang (Tibete) é a grande sede da sabedoria oculta, desde tempos imemoriais, muito anteriores a Buddha. Conta-se que o imperador Yu, o “Grande” (2207 anos antes de nossa Era), místico piedoso e grande Adepto, adquiriu sua sabedoria dos “Grandes Mestres das Montanhas Nevadas” em Si-dzang. 499 Sri Shankarâcharya, o maior Iniciado que viveu nos tempos históricos, escreveu muitos Bhâshyas (Comentários) acerca dos Upanishads. Mas os seus tratados originais, como há razões para crer, ainda não caíram nas mãos dos filisteus, pois são conservados ciosamente nos mosteiros (mathams). E existem razões ainda mais ponderosas para acreditar-se que os preciosos Bhâshys sobre a Doutrina Esotérica dos brâmanes, de autoria do maior de seus expositores, continuarão sendo, por muitos séculos, letra morta para a maior parte dos hindus, exceto para os brâmanes Smârtavas. Esta seita, fundada por Shankarâcharya, e de muita influência ainda na Índia Meridional, é atualmente a única que produz estudantes com discernimento bastante para compreender a letra morta dos Bhâshyas. Isso porque, segundo a informação que tivemos, são os únicos que contam, de quando em quando, com verdadeiros Iniciados na direção de seus “mathams”, como, por exemplo, no Shringa-giri dos Ghats ocidentais de Misore. Por outro lado, não existe, nessa casta tão intransigentemente exclusivista dos brâmanes, seita mais fechada que a dos Smârtavas; e a reticência de seus membros, quanto a dizerem algo sobre os seus conhecimentos da ciência oculta e a Doutrina Secreta, somente pode ser igualada ao seu saber e à sua altivez. Eis por que a autora da presente exposição deve esperar, desde logo, que as suas afirmativas encontrem a mais viva oposição e sejam até mesmo desmentidas. Não é que exista qualquer pretensão à infalibilidade ou à exatidão absoluta em tudo o que se diz nesta obra. Mas, em razão das dificuldades inerentes aos assuntos versados e às limitações quase insuperáveis da língua inglesa, como de todos os demais idiomas europeus, para a expressão de certas idéias, é mais que provável não tenha a autora conseguido dar melhor e mais clara forma às suas 500 explicações; sendo certo que ela fez tudo o que podia, em tão desfavoráveis circunstâncias — e mais não se pode exigir de nenhum escritor. Recapitulemos, para mostrar quanto é difícil, senão impossível, fazer completa justiça aos temas ora interpretados, tal a sua magnitude: 1º. A Doutrina Secreta é a Sabedoria acumulada dos séculos, e a sua cosmogonia, por si só, é o mais prodigioso e acabado dos sistemas, ainda que velado, como se encontra, no exoterismo dos Purânas. Mas tal é o poder misterioso do simbolismo oculto que os fatos, que ocuparam a atenção de gerações inumeráveis de videntes e profetas iniciados, para os coordenar, classificar e explicar, durante as assombrosas séries do progresso evolutivo, estão todos registrados em algumas poucas páginas de signos geométricos e de símbolos. A visão cintilante daqueles Iniciados foi até ao próprio âmago da matéria, descobriu e perscrutou a alma das coisas, ali onde um observador comum e profano, por mais arguto que fosse, não teria percebido senão a tessitura externa da forma. Mas a ciência hodierna não crê na “alma das coisas”, e por isso repugnará todo o sistema da cosmogonia antiga. É inútil dizer que tal sistema não é o fruto da imaginação ou da fantasia de um ou mais indivíduos isolados; que se constitui dos anais ininterruptos de milhares de gerações de videntes, cujas experiências cuidadosas têm concorrido para verificar e comprovar as tradições, transmitidas oralmente de uma a outra raça primitiva, acerca dos ensinamentos de Seres superiores e excelsos que velaram sobre a infância da Humanidade. 501 Durante muitos séculos, os “Homens Sábios” da Quinta Raça, pertencentes ao grupo sobrevivente que escapou do último cataclismo e das convulsões dos continentes, passaram a vida aprendendo, e não ensinando, Como o faziam? Examinando, submetendo a provas e verificando, em cada um dos departamentos da Natureza, as tradições antigas, por meio das visões independentes dos grandes Adeptos, isto é, dos homens que desenvolveram e aperfeiçoaram, no mais alto grau possível, seus organismos físico, mental, psíquico e espiritual. O que um Adepto via só era aceito depois de confrontado e comprovado com as visões de outros Adeptos, obtidas em condições tais que lhes conferissem uma evidência independente — e por séculos de experiências. 2º. A Lei fundamental do sistema, o ponto central de onde tudo surgiu e para onde tudo converge e gravita, e sobre o qual repousa toda a sua filosofia, é o princípio substancial, Uno, Homogêneo, Divino: a Causa Radical Única. … Alguns, cujas lâmpadas tinham mais brilho, Foram guiados, de uma causa a outra causa, Ao manancial secreto da Natureza: E viram que deve existir Um Princípio primordial… Chama-se “Princípio Substancial” porque, convertendo-se em “Substância” no plano do Universo manifestado (que não passa de uma ilusão), continua a ser um “Princípio” no Espaço visível e invisível, abstrato, sem começo nem fim. É a Realidade onipresente; impessoal, porque imanente em tudo e em 502 cada uma das coisas. Sua impessoalidade é o conceito fundamental do sistema. Está latente em cada átomo do Universo; e é o próprio Universo557 . 3º. O Universo é a manifestação periódica daquela Essência Absoluta e desconhecida. Dar o nome de “Essência” é, contudo, pecar contra o espírito mesmo da filosofia. Porque, embora seja aqui o substantivo um derivado do verbo esse, “ser”, não pode haver identificação com nenhuma espécie de “seres” concebíveis pela inteligência humana. Define-se melhor dizendo que AQUILO não é Espírito nem Matéria, mas ambos ao mesmo tempo. Parabrahman e Mûlaprakriti são na realidade UM, se bem que apareçam como Dois no conceito Universal do Manifestado, inclusive no do Logos UNO, ou “Manifestação” primeira, em que — como explica o sábio autor das “Notas sobre o Bhagavad Gitâ” — “aquilo” surge objetivamente como Mûlaprakriti, e não como Parabrahman; como o seu Véu, e não como a Realidade Una, que está por trás e é incondicionada e absoluta. 4º. O Universo, com tudo o que nele se contém, é chamado Mâyâ porque nele tudo é temporário, desde a vida efêmera do pirilampo até a do sol. Comparado à eterna imutabilidade do UNO e à invariabilidade daquele Princípio, o Universo, com suas formas transitórias e sempre cambiantes, certamente não parecerá, ao espírito de um filósofo, valer mais que um fogo-fátuo. Entretanto, o Universo é suficientemente real para os seres conscientes que o habitam, e que são tão ilusórios quanto ele próprio. 5º. Tudo no Universo, em todos os seus reinos, é consciente, isto é, dotado de uma consciência que lhe é peculiar em seu próprio plano de percepção. Devemos capacitar-nos de que, só porque nós, humanos, não percebemos sinal algum de consciência na pedra, por exemplo, não é isso razão para concluirmos que 557 Veja-se o Vol. II, Parte II, Seção III, “A Substância Primordial e o Pensamento Divino”. 503 nenhuma consciência existe ali. Não há matéria “morta” ou “cega”, como não há também Lei “cega” ou “inconsciente”. Na Filosofia Oculta não há lugar para conceitos que tais; ela não se preocupa jamais com as aparências exteriores; para ela têm mais realidade as essências numênicas que suas contrapartidas objetivas. Assemelha-se neste ponto aos nominalistas da Idade Média, para quem os universais eram as realidades, e os particulares só existiam nominalmente e na imaginação do homem. 6º. O Universo é elaborado e dirigido de dentro para fora. O que está em baixo é como o que está em cima, assim no céu como na terra; e o homem, microcosmo e cópia em miniatura do macrocosmo, é o testemunho vivo desta Lei Universal e do seu modus-operandi. Observamos que todo movimento externo, ação ou gesto, quer seja voluntário ou mecânico, mental ou orgânico, é precedido e produzido por um sentimento ou emoção interna, pela vontade ou volição, e pelo pensamento ou mente. Pois que nenhum movimento ou alteração exterior, quando é normal, se pode verificar no corpo externo do homem, sem que o provoque um impulso interno, comunicado por uma daquelas três funções, assim também sucede no Universo externo ou manifestado. Todo o Cosmos é dirigido, vigiado e impulsionado por uma série quase interminável de Hierarquias de Seres sencientes, cada qual com uma missão a cumprir, e que — seja qual for o nome que lhes dermos, Dhyân-Chohans ou Anjos — são os “Mensageiros” (exclusivamente no sentido de agentes das Leis Cármica e Cósmica). Variam ao infinito os seus respectivos graus de consciência e de inteligência; e chamar Espíritos Puros a todos eles, sem qualquer toque terrestre, aquele toque “que o tempo costuma imprimir em suas presas”, é simplesmente uma 504 licença poética. Porque cada um destes Seres — ou foi um homem num Manvantara anterior, ou vai sê-lo no atual ou em Manvantara futuro. Quando não são homens incipientes, são homens aperfeiçoados; e, em suas esferas superiores e menos materiais, não diferem moralmente dos seres humanos terrestres senão em que se acham livres do sentimento da personalidade e da natureza emocional humana — duas características puramente terrenas. Os últimos, isto é, os “aperfeiçoados”, estão para sempre libertos daquele sentimento, porquanto: (a) já não possuem corpos carnais, este peso que entorpece a Alma; (b) não encontrando obstáculos o elemento espiritual puro, ou estando mais livre, são menos influenciados por Mâyâ que o homem, a não ser que este seja um Adepto, isto é, capaz de manter completamente separadas suas duas personalidades (a espiritual e a física). As Mônadas incipientes, por nunca terem possuído corpos humanos, não podem experimentar nenhum sentimento de personalidade ou de Ego–ismo. Sendo o que se entende por personalidade uma limitação e uma relação, ou, conforme a definiu Coleridge, “a individualidade existente por si mesma, tendo, porém, uma natureza como base”, a palavra não pode obviamente aplicar-se a entidades nãohumanas; mas, tal como o atestam gerações de Videntes, nenhum daqueles seres, superiores ou inferiores, possui individualidade ou personalidade como Entidade separada, no sentido em que o homem afirma: “Eu sou eu, e não outro.”

Por outras palavras, eles não têm consciência daquele separatividade tão característica que se observa nos homens e nas coisas da terra. A Individualidade é um traço distintivo de suas respectivas Hierarquias, e não de suas unidades; e esse traço varia somente com a categoria do plano a que pertencem as mesmas Hierarquias: quanto mais próximo da região da Homogeneidade e do Divino, tanto 505 mais pura e menos acentuada é a Individualidade da Hierarquia. São seres finitos sob todos os aspectos, salvo no tocante aos seus princípios superiores (as Centelhas imortais, que refletem a Chama Divina Universal); individualizados e separados tão-só nas esferas da Ilusão, por uma diferenciação que é tão ilusória quanto o resto. São “Seres Viventes”, porque são correntes projetadas da Vida Absoluta sobre a tela cósmica da Ilusão; Seres nos quais a vida não pode extinguirse antes que esteja extinto o fogo da ignorância naqueles que sentem essas “Vidas”. Tendo surgido a existência sob a influência vivificante do Raio incriado — reflexo do grande Sol central que cintila sobre as praias do Rio da Vida — há neles o Princípio Interno, que pertence às Águas da imortalidade, embora a sua vestimenta diferenciada seja tão perecível como o corpo do homem. Tinha, pois, razão Young ao dizer que: Os Anjos são homens de uma ordem superior… e nada mais. Não são os Anjos “ministros” nem “protetores”, não são tampouco “Arautos do Altíssimo”, e muito menos os “Mensageiros da Ira” de Deus, criados pela imaginação do homem. Pedir a proteção deles é tão insensato quanto supor que se possa captar-lhes a simpatia mediante qualquer espécie de propiciação; pois eles, do mesmo modo que os homens, são criaturas sujeitas à imutável Lei Cármica e Cósmica. A razão é óbvia. Não possuindo nenhum elemento de personalidade em sua essência, não podem ter nenhuma das qualidades pessoais que os homens atribuem, nas religiões exotéricas, ao seu Deus antropomórfico — um Deus ciumento e exclusivista que se regozija e se enraivece, que se compraz com os sacrifícios e que é mais despótico em sua vaidade do que qualquer homem estulto e finito. 506

O homem, sendo um composto das essências de todas aquelas Hierarquias celestes, pode, como tal, alcançar um grau superior, em certo sentido, ao de qualquer uma das Hierarquias ou Classes ou de suas combinações respectivas. Está escrito: “O homem não pode nem propiciar nem comandar os Devas.” Mas, paralisando sua personalidade inferior, e chegando assim ao pleno conhecimento da não-separatividade entre o seu Eu Superior e o ser Absoluto pode o homem, até mesmo durante a sua vida terrestre, tornar-se como “Um de Nós”.

De modo que, alimentando-se com o fruto do conhecimento que dissipa a ignorância, o homem se converte em um dos Elohim ou Dhyânis; e, uma vez no plano destes, o espírito de Solidariedade e de perfeita Harmonia que reina em todas as Hierarquias deve estender-se a ele e protegê-lo em todos os sentidos.

A principal dificuldade que impede aos homens de ciência crer nos espíritos divinos, assim como nos espíritos da Natureza, está no seu materialismo. E o maior obstáculo a que os espiritistas acreditem naquelas entidades, ao passo que conservam uma fé cega nos “Espíritos” dos mortos, é a ignorância geral em que se acha todo o mundo (exceto alguns ocultistas e cabalistas) quanto à verdadeira essência da Matéria.

É da aceitação ou não da teoria da Unidade de tudo na Natureza, em sua essência última, que depende principalmente a crença ou a incredulidade da existência, ao nosso redor, e outros seres conscientes além dos espíritos dos mortos. É na exata compreensão da Evolução primitiva do Espírito – Matéria, e de sua essência real, que deve o estudante apoiar-se para a gradual elucidação da Cosmogonia Oculta, sendo esse o único índice seguro que pode guiá-lo em seus estudos ulteriores.

Em verdade, conforme vimos de mostrar, cada um dos chamados “Espíritos” é ou um homem desencarnado ou um homem futuro. Porque, desde o mais elevado Arcanjo (Dhyân-Chohan) até o último Construtor consciente (a classe inferior das Entidades Espirituais), todos estes são homens que viveram em outros Manvantaras, em evos passados, nesta ou em outras Esferas; e os Elementais inferiores, semi-inteligentes e não-inteligentes, são todos homens futuros.

Para o ocultista, a circunstância de um Espírito ser dotado de inteligência representa, por si só, a prova de que este Ser foi um homem, havendo adquirido essa inteligência e o seu conhecimento através do ciclo humano. No Universo só existe uma Onisciência e Inteligência indivisível e absoluta, que vibra em cada um dos átomos e dos pontos infinitesimais de todo o Cosmos — do Cosmos que não tem limites e ao qual se dá o nome de Espaço, considerado independentemente de todas as coisas nele contidas. Mas a primeira diferenciação do seu reflexo no Mundo manifestado é puramente Espiritual, e os Seres nela gerados não são providos de uma consciência que tenha qualquer relação com a consciência que nós conhecemos. Não podem possuir consciência ou inteligência humana senão adquirindo-a pessoal e individualmente. Será, talvez, um mistério; não deixa, porém, de ser um fato para a Filosofia Esotérica, e até um fato dos mais aparentes. A ordem inteira da Natureza atesta que há uma progressiva marcha que tende para uma vida superior. Existe um plano ou desígnio na ação das forças, inclusive aquelas que parecem as mais cegas. O processo integral da evolução, com suas adaptações intermináveis, é uma prova disso. As leis imutáveis que eliminam as espécies fracas, para dar lugar às fortes, e que asseguram “a sobrevivência dos mais aptos”, por cruéis que sejam em sua ação imediata, cooperam todas no sentido da grande meta final.

O fato mesmo de que ocorrem adaptações, de que os mais aptos são os que sobrevivem na luta pela existência, demonstra que a chamada “Natureza inconsciente” é, na realidade, um complexo de forças manejadas por seres semi-inteligentes (Elementais), sob a direção de Elevados Espíritos Planetários (Dhyân-Chohans), que formam coletivamente o Verbo manifestado do Logos Não-manifestado, constituindo ao mesmo tempo a Mente do Universo e sua Lei imutável.

A Natureza, tomada em seu sentido abstrato, não pode ser “inconsciente”, sendo, como é, a emanação da Consciência Absoluta e, portanto, um de seus aspectos no plano da manifestação. Onde está aquele que se atreve a negar ao vegetal, e mesmo ao animal, uma consciência própria? Tudo o que ele pode dizer é que essa consciência transcende os limites de sua compreensão. Três distintas representações do Universo, em seus três aspectos distintos, são impressas em nosso pensamento pela Filosofia Esotérica: o Preexistente, o Sempre Existente (do qual promanou o primeiro) e o Fenomenal (o mundo da ilusão, o reflexo, a sombra do anterior). Durante esse grande mistério, esse grande drama da vida, que nós conhecemos pelo nome de Manvantara, o Cosmos real é como os objetos colocados atrás de uma tela branca, sobre a qual projetam sombras. Os personagens e os objetos verdadeiros permanecem invisíveis, enquanto os fios condutores da evolução são manejados por mãos também invisíveis. Os homens e as coisas representam apenas os traços deixados sobre o fundo branco pelo reflexo das realidades dissimuladas por trás das redes de Mahâmâyâ, a Grande Ilusão. Assim o ensinaram todas as filosofias e todas as religiões, pré-diluvianas como pós-diluvianas, na Índia e na Caldéia; assim o ensinaram os sábios da China e os da Grécia. Nos dois primeiros países aqueles três Universos eram simbolizados, nos ensinamentos exotéricos, pelas três Trindades que emanam do eterno Germe central e com ele constituem uma Unidade Suprema: a Tríade inicial, a manifestada e a criadora, ou os Três em Um. A última 509 não é senão o símbolo, em sua expressão concreta, das duas primeiras, que são ideais. Aí está por que a Filosofia Esotérica supera a necessidade desta concepção puramente metafísica, e só ao primeiro Universo chama o Sempre Existente. Tal é a opinião de cada uma das seis grandes escolas da filosofia hindu558 — os seis princípios daquele corpo–unidade da Sabedoria, do qual a Gnose, o Conhecimento oculto, é o sétimo. A autora destas linhas espera que, por superficial que tenha sido a elaboração dos comentários das Sete Estâncias, seja o suficiente, nesta parte cosmogônica da obra, para mostrar que os ensinamentos arcaicos são, em sua própria esfera, mais científicos (no moderno sentido da palavra) do que outra qualquer Escritura antiga, considerada e julgada no seu aspecto exotérico. Como, porém — e já o declaramos anteriormente —, esta obra silencia muito mais coisas do que as que expõe, convidamos o estudante a que utilize sua própria intuição. O nosso principal escopo é esclarecer alguns ensinamentos que já vieram à luz, por vezes mui incorretamente, a nosso pesar; suplementar com informações adicionais, se e quando possível, os conhecimentos antes sugeridos, e defender a nossa doutrina dos ataques violentos do sectarismo hodierno, e mui especialmente do Materialismo destes últimos tempos, tantas vezes rotulado erroneamente de Ciência, quando em verdade só as palavras “sábios” e “semisábios” deveriam ter a responsabilidade das inúmeras teorias ilógicas apresentadas ao mundo. Em sua grande ignorância, o público, ao mesmo tempo que aceita cegamente tudo o que provém das “autoridades”, e julga de seu dever considerar como fato comprovado todo ditame oriundo de um homem de ciência; o 558 Nyâya, Vaishishika, Sânkhya, Ioga, Mimâmsâ e Vedanta. 510 público, dizíamos, habituou-se a zombar de tudo o que dimana de fontes “pagãs”.

Por esse motivo, e como os sábios materialistas só podem ser combatidos com suas próprias armas — as da controvérsia e da discussão —, julgamos conveniente inserir em cada volume um Apêndice559, em que são contrastadas as respectivas opiniões para mostrar como até as grandes autoridades podem errar frequentemente. Acreditamos que seja útil e eficaz pôr em relevo os pontos fracos de nossos adversários e demonstrar como os seus repetidos sofismas, que se pretende passar por dieta científico, são inexatos. Nós nos apoiamos em Hermes e na “Sabedoria” hermética, em seu caráter universal; eles se apoiam em Aristóteles, contra a intuição e a experiência dos séculos, imaginando que a verdade é propriedade exclusiva do mundo ocidental. Daí a divergência. Disse Hermes: “O conhecimento difere muito da razão, porque a razão pertence ao que está acima dela; mas o conhecimento é o termo da razão”, isto é, o fim da ilusão de nosso cérebro físico e de sua inteligência; sublinhando assim fortemente o contraste entre o saber laboriosamente adquirido por meio dos sentidos e da mente (Manas) e a onisciência intuitiva da Alma Espiritual e Divina (Buddhi). Seja qual for a sorte reservada a este trabalho em um futuro distante, esperamos haver provado os seguintes fatos pelo menos: 1º. A Doutrina Secreta não ensina o Ateísmo, salvo no sentido expresso pela voz sânscrita Nâstika, ou repúdio dos ídolos, inclusive todo o qualquer Deus antropomórfico. Nesta acepção, todos os ocultistas são Nâstikas. 2º. Ela admite um Logos, ou um “Criador” coletivo do Universo; um Demiurgo, no mesmo sentido em que se fala de um “Arquiteto” como “Criador” de 559 Veja-se o Vol. II, Parte III, e o Vol. IV, Parte III. 511 um edifício, muito embora o Arquiteto nunca houvesse tocado em uma pedra sequer, mas simplesmente elaborado o plano, deixando todo o trabalho manual ao cuidado dos operários. Em nosso caso, foi o plano traçado pela Ideação do Universo, e a obra da construção entregue às Legiões de Forças e de Potestades inteligentes. Mas aquele Demiurgo não é uma Divindade pessoal, isto é, um Deus extra-cósmico imperfeito, e sim a coletividade dos Dhyân-Chohans e das demais Forças. 3º. Os Dhyân-Chohans possuem um caráter dual, sendo compostos de (a) a Energia bruta, irracional, inerente à Matéria; e (b) a Alma Inteligente ou Consciência Cósmica, que guia e dirige aquela energia, e que é o Pensamento Dhâyn-Chohânico, refletindo a ideação da Mente Universal. Daí resulta uma série perpétua de manifestações físicas e de efeitos morais sobre a Terra, durante os períodos manvantáricos, estando tudo subordinado ao Carma. Como tal processo nem sempre é perfeito; e como, por muitas que sejam as provas de existir uma Inteligência diretora por trás do véu, nem por isso deixa de haver defeitos e lacunas, rematando muitas vezes em insucessos evidentes; segue-se que nem a Legião coletiva (Demiurgo), nem qualquer das Potências que atuam, individualmente consideradas, comportam honras e cultos divinos. Todos têm, no entanto, direito à reverência e à gratidão da Humanidade; e o homem deve sempre esforçar-se por ajudar a evolução divina das Idéias, tornando-se, na medida de seus recursos, um colaborador da Natureza em sua tarefa cíclica. Só o incognoscível Karana, a Causa sem Causa de todas as causas, deve ter o seu santuário e o seu altar no recinto sagrado e inviolável do nosso coração; invisível, intangível, não mencionado, salvo pela “voz tranqüila e silenciosa” de nossa consciência espiritual. Os que o adoram devem fazê-lo na quietude e na solidão sacrossanta de suas Almas; de modo que o Espírito de cada um seja o único mediador entre eles e o Espírito Universal, não 512 tendo por sacerdotes senão as suas boas ações, e sendo as suas tendências pecaminosas as únicas vítimas expiatórias visíveis e tangíveis, oferecidas em holocausto à Presença. “E, quando orares, não sejas como os hipócritas… mas entra em tua câmara interna e, fechando a porta, ora a teu pai que está em segredo560.” Nosso Pai se acha dentro de nós “em segredo”: é o nosso Sétimo Princípio, que está na “câmara interna” da percepção de nossa Alma. O “Reino de Deus” e do Céu está em nós — disse Jesus — e não fora. Por que são os cristãos assim tão cegos ao significado evidente das palavras de sabedoria, que se comprazem em repetir mecanicamente? 4º. A Matéria é Eterna. É o Upâdhi ou a Base Física, de que se serve a Mente Universal para nela construir as suas Ideações. Por isso, sustentam os esoteristas que não há matéria inorgânica ou “morta” na Natureza; que a distinção feita pela Ciência entre matéria orgânica e matéria inorgânica é tão infundada quanto arbitrária e irracional. Seja qual for o pensamento da Ciência — e a Ciência exata é mulher volúvel, como todos nós sabemos pela experiência —, o Ocultismo sabe e ensina coisa diferente, como sempre o fez desde tempos imemoriais — desde Manu e Hermes até Paracelso e seus sucessores. Assim falou Hermes, o Três vezes Grande: “Oh! filho meu! a matéria evolve; primeiramente era; porque a matéria é o veículo para a transformação. Vir-a-ser é o modo de atividade do Deus incriado que tudo prevê. Havendo sido dotada com o germe do que virá a ser, a matéria [objetiva] 560 Mateus, VI, 5-6 513 é conduzida ao nascimento, porque é modelada pela força criadora segundo as formas ideais. A Matéria, ainda não gerada, não tinha forma; ela evolve quando é posta em ação561 .” A excelente tradutora e compiladora dos Fragmentos Herméticos, Dra. Anna Kingsford, consigna a explicação em uma de suas notas: “O Dr. Ménard observa que a mesma palavra em grego significa nascer e vir a ser. A idéia é esta: o material que compõe o mundo é eterno em sua essência, mas, antes da criação ou do “vir a ser”, se acha em uma condição passiva ou imóvel. ‘Era’, portanto, antes de ser posta em ação; agora ‘vem a ser’, evolve, ou seja, é móvel e progressiva.” E acrescenta a Dra. Anna Kingsford a seguinte doutrina — puramente vedantina — da filosofia hermética: “A Criação é, por conseguinte, o período de atividade [Manvantara] de Deus, que, segundo o pensamento hermético [ou: de AQUELE que, segundo o vedantino], tem dois modos: Atividade ou Existência, Deus em evolução (Deus explicitus); e Passividade do Ser (Pralaya), Deus em involução (Deus implicitus). Ambos os modos são perfeitos e completos, 561

Veja-se Hermes Trismegisto, trad. francesa de Louis Rénard, 1867, Livro IV, cap. VIII, pág. 250. 514 como o são os estados de vigília e de sono, no homem. Fichte, o filósofo alemão, descrevia o Ser (Sein) como Uno, que só conhecemos por meio da existência (Dasein), como o Múltiplo. Este ponto de vista é inteiramente hermético.

As “Formas Ideais”… são as ideias – arquétipos ou formativas dos neoplatônicos; os conceitos eternos e subjetivos das coisas existentes na Mente Divina antes da “criação” ou do vir a ser562.” Ou, como na filosofia de Paracelso: “Todas as coisas são o produto de um esforço criador universal… Nada existe morto na Natureza Tudo é orgânico e vivo, e por isso o mundo inteiro parece ser um organismo vivente563.” 5º. O Universo desabrolhou do seu plano ideal, mantido através da Eternidade na Inconsciência do que os Vedantinos chamam Parabrahman. Esta proposição é praticamente idêntica às conclusões da mais elevada filosofia ocidental: “As Ideias inatas, eternas e existentes por si mesmas” de Platão hoje retomadas por Von Hartmann. O “Incognoscível” de Herbert Spencer tem apenas uma débil semelhança com aquela Realidade transcendente em que acreditam os ocultistas, e que parece, muitas vezes, tão-só a personificação de “uma força oculta por trás dos fenômenos”, uma Energia infinita e eterna, da qual todas as coisas 562 The Virgin of the World, tradução da Dra. Anna Kingsford, págs. 134-5. 563 Paracelsus, Franz Hartmann, M.D., pág. 44. 515 procedem; ao passo que o autor da Filosofia do Inconsciente se aproxima muito mais (apenas sob este aspecto) da solução do grande Mistério, tanto quanto a um mortal é dado fazê-lo. Raros foram os que, na filosofia antiga como na da Idade Média, ousaram tratar desse tema ou sequer sugeri-lo. Paracelso o menciona incidentemente, e suas idéias estão admiravelmente sintetizadas pelo Dr. Franz Hartmann, M.S.T., no seu livro Paracelsus, que há pouco citamos. Todos os cabalistas cristãos bem compreenderam o pensamento básico oriental. O Poder ativo, o “Movimento Perpétuo do Grande Sopro”, desperta o Cosmos na aurora de cada novo Período, pondo-o em ação por meio das duas Forças contrárias, a centrípeta e a centrífuga, que são o masculino e o feminino, o positivo e o negativo, o físico e o espiritual; ambas constituindo a Força Primordial una, e deste modo tornando-a objetiva no plano da Ilusão. Em outras palavras, esse duplo movimento transfere o Cosmos do plano do Ideal eterno ao da manifestação finita, ou do plano Numênico ao Fenomenal. Tudo o que é, foi e será EXISTE eternamente, inclusive as inumeráveis Formas, que são finitas e perecíveis tãosomente em seu aspecto objetivo, mas não em seu aspecto ideal. Eles existiram como Idéias na Eternidade, e, quando desaparecerem, subsistirão como Reflexos. O Ocultismo ensina que nenhuma forma pode ser conferida ao que quer que seja, pela Natureza ou pelo homem, sem que já exista o seu tipo ideal no plano subjetivo. Mais ainda: que nenhuma forma ou figura pode penetrar na consciência do homem, ou desenvolver-se em sua imaginação, sem preexistir como protótipo, ao menos como aproximação. Nem a forma do homem, nem as de qualquer animal, planta ou pedra, foram jamais “criadas”; e só em nosso plano é que começaram a “vir a ser”, isto é, a objetivar-se em seu presente estado material, ou a expandir-se 516 de dentro para fora: desde a essência mais sublimada e supra-sensível até o seu aspecto mais denso. Assim, as nossas formas humanas já existiam na Eternidade como protótipos astrais ou etéreos; e foi por estes modelos que os Seres Espirituais ou Deuses — cuja missão era trazê-los à existência objetiva e à vida terrestre — desenvolveram, de sua própria essência, as formas protoplasmáticas dos Egos futuros. Depois, quando pronto esse Upâdhi ou modelo-base humano, as Forças terrestres naturais começaram a operar sobre aqueles modelos supra-sensíveis, que continham, além de seus elementos próprios, os de todas as formas vegetais do passado e animais do futuro neste Globo. Portanto, o invólucro exterior do homem passou por cada um dos corpos vegetais e animais, antes de assumir a forma humana. Como tudo isto vai ser descrito minuciosamente nos Comentários dos volumes III e IV, não há necessidade de nos alongarmos mais sobre o assunto. Segundo a filosofia hermética e cabalística de Paracelso, o Yliaster ou protomatéria (antecessor do Protilo recentemente introduzido na química pelo Sr. Crookes) fez brotar de si mesmo o Cosmos. “Quando se deu a criação [evolução], o Yliaster se dividiu; ele se fundiu e se dissolveu, por assim dizer, fazendo brotar [de dentro] de si mesmo o Ideos ou Caos (Mysterium Magnum, Iliados, Limbus Major ou Matéria Primordial). Esta Essência Primordial é de natureza monística e se manifesta não só como atividade vital ou força espiritual, poder oculto, incompreensível e indescritível, mas também como a matéria vital de que se compõe a substância de todos os seres vivos. 517 Nesse Limbus ou Ideos de matéria primordial… única matriz de todas as coisas criadas, acha-se contida a substância de todas as coisas. Descrevem-no os antigos como o Caos… de onde surgiu a existência o Macrocosmo, e depois cada ser separadamente, por divisão e evolução nos Mysteria Specialia564. Todas as coisas e todas as substâncias dementais nele estavam contidas in-potentia, mas não in-actu565.” A isso observa com razão o tradutor, Dr. Franz Hartmann, que “parece haver-se Paracelso adiantado de três séculos na descoberta da potencialidade da matéria”. Esse Magnus Limbus ou Yliaster de Paracelso é, pois, nada menos que o nosso velho amigo “pai-Mãe”, dentro, antes de aparecer no Espaço566. É a Matriz Universal do Cosmos, personificada sob o duplo aspecto de Macrocosmo e Microcosmo (ou o Universo e o nosso Globo)567 por Aditi-Prakriti, a Natureza espiritual e física. Assim é que vemos explicado em Paracelso que: “O Magnus Limbus é o viveiro de onde saíram todas as criaturas — do mesmo modo que de uma semente minúscula se desenvolve uma árvore; com a diferença, porém, de que o grande Limbus tem sua origem na Palavra de Deus, 564 A palavra Mysterium é assim explicada pelo Dr. Hartmann, segundo os textos de Paracelso, que ele tinha diante de si: De acordo com o eminente Rosacruz, “Mysterium é tudo aquilo que é capaz de desenvolver algo que aí se acha apenas em estado de germe. Uma semente é o Mysterium de uma planta, o ovo é o de um pássaro etc.” 565 Op. cit., págs. 41-42. 566 Veja-se a Estância II etc. 567 Foram somente os cabalistas da Idade Média que, seguindo o exemplo dos judeus e de um ou dois neoplatônicos, aplicaram o termo Microcosmo ao homem. A filosofia antiga chamava à Terra o Microcosmo do Macrocosmo, e considerava o homem o produto dos dois. 518 ao passo que o Limbus menor (a semente ou o esperma terrestre) o tem na Terra. O grande Limbus é o germe de onde saíram todos os seres, e o pequeno Limbus é cada ser final que reproduz a sua forma, depois de ter sido produzido pelo grande. O pequeno possui todas as qualidades do grande, no mesmo sentido em que um filho tem um organismo semelhante ao do pai… Quando… Yliaster se dissolveu, Ares, o poder divisor, diferenciador e individualizador [Fohat, outro velho amigo]… começou a atuar. Toda a produção se realizou como conseqüência da separação. Do Ideos saíram os elementos Fogo, Água, Ar e Terra, cujo nascimento, todavia, não ocorreu de modo material ou por simples separação, mas espiritual e dinamicamente [nem mesmo por combinações complexas, como a mistura mecânica, oposta à combinação química], à semelhança do fogo que brota de uma pederneira ou da árvore que surge de uma semente, embora originariamente não houvesse fogo na pedra nem árvore na semente. ‘O Espírito é vivente, e a Vida é Espírito; e a Vida e o Espírito [PrakritiPurusha?] produzem todas as coisas, mas são, em essência, um e não dois…’ Os elementos também possuem, cada qual, seu próprio Yliaster, porque toda a atividade da matéria, em cada forma, não é senão um eflúvio da mesma fonte. Mas, assim como da semente brotam as raízes com suas fibras, depois o tronco com seus ramos e suas folhas, e por fim as flores e as sementes, do mesmo modo todos os seres 519 provieram dos Elementos e se compõem de substâncias elementares, que podem dar nascimento a outras formas, com os caracteres de seus pais568. Os Elementos, mães de todas as criaturas, são de uma natureza invisível e espiritual, e possuem alma569 Todos eles brotam do Mysterium Magnum.” Compare-se com o Vishnu Purâna: “De Pradhâna [a Substância Primordial], presidida por Kshetrajna [“o espírito encarnado”?], provém o desenvolvimento desigual (Evolução) dessas qualidades… Do grande Princípio (Mahat), a Inteligência [Universal, ou a Mente]… procede a origem dos elementos sutis e dos órgãos do sentido570…” Pode-se assim demonstrar que todas as verdades fundamentais da Natureza eram universais na antigüidade, e que as idéias gerais sobre o Espírito, a Matéria e o Universo, ou sobre Deus, a Substância e o Homem, eram idênticas. Estudando as duas filosofias religiosas mais antigas do mundo, o hinduísmo e o hermetismo, facilmente se reconhece a sua identidade. Isto se torna evidente a quem lê a última tradução dos “Fragmentos Herméticos”, que anteriormente citamos e que se deve à nossa amiga cuja perda deploramos, a Dra. Anna Kingsford. Embora os textos hajam sido mutilados e deturpados em sua passagem por mãos sectárias gregas e cristãs, soube a 568 “Essa doutrina, exposta há trezentos anos” — observa o tradutor —, “é Idêntica à que revolucionou o pensamento moderno, depois de transformada e elaborado por Darwin. É também a de Kapila, na filosofia Sânkhya.” 569 O Ocultismo oriental diz que são guiados e impulsionados por Seres Espiritual, os Operários dos mundos invisíveis, por detrás do véu da Natureza Oculta, nu Natureza in abscondito. 570 Wilson, I, II (vol. I, pág. 35). 520 tradutora, com muito engenho e intuição, senhorear os pontos obscuros, procurando clareá-los por meio de explicações e notas. Diz ela: “A criação do mundo visível pelos ‘deuses ativos’ ou Titãs, como agentes do Deus Supremo571, é uma idéia puramente hermética, que se depara em todos os sistemas religiosos, e que se harmoniza com as modernas investigações científicas (?), quando estas nos mostram o Poder Divino atuando em toda parte por meio das Forças naturais.” Citemos da mesma tradução: “Este Ser Universal, que está em tudo e tudo contém, põe em movimento a alma e o mundo, tudo o que a Natureza encerra. Na unidade múltipla da vida universal, as inumeráveis individualidades, que se distinguem por suas variações, são, contudo, unidas de maneira tal que o conjunto é uno, e tudo procede da Unidade572.” Vemos ainda, em outra tradução: 571 É uma expressão freqüente nos “Fragmentos” e à qual nos opomos. A Mente Universal não é um Ser ou “Deus”. 572 The Virgin of the World, pág. 47; “Asclépios”, parte primeira. 521 “Deus não é uma Mente, mas a causa da existência da Mente; não é um Espírito, mas a causa do Espírito; não é a Luz, mas a causa da Luz573.” Estas palavras mostram claramente que o “Divino Pimandro”, apesar de alterado em algumas passagens com certos “polimentos” cristãos, foi escrito por um filósofo, ao passo que a maior parte dos “Fragmentos Herméticos” é obra de sectários pagãos que manifestavam tendência em admitir um Ser Supremo antropomórfico. Contudo, são as duas obras o eco da Filosofia Esotérica e dos Purânas hindus. Comparem-se duas invocações, uma dirigida ao “Todo Supremo” hermético, e a outra ao “Todo Supremo” dos arianos posteriores. Diz um fragmento hermético citado por Suídas: “Eu te imploro, oh Céu! obra sacrossanta do grande Deus; eu te imploro, Voz do Pai, pronunciada no princípio, quando o mundo universal foi formado; eu te imploro, pelo Verbo, Filho único do Pai, que sustenta todas as coisas; sê propício, sê propício574.” Essa invocação é precedida pelo seguinte “Assim, a Luz Ideal existia antes da Luz Ideal, e a Inteligência luminosa da Inteligência existiu sempre, e sua 573 Divine Pymander, IX, pág. 64. 574 The Virgin of the World, pág. 153. 522 unidade não era senão o Espírito envolvendo o Universo. Fora de quem [do qual] não há Deus, nem Anjos, nem outra qualquer essência,, porque Ele [Aquilo] é o Senhor de todas as coisas, e o Poder e a Luz: e tudo depende d’Ele [Aquilo], e esta n’Ele [Aquilo].” Mas o próprio Trismegisto contradiz esse conceito, quando diz “Falar de Deus é impossível. Pois o corpóreo não pode exprimir o incorpóreo… O que não possui corpo, nem aparência, nem forma, nem matéria, não pode ser percebido pelos sentidos. Eu compreendo, Tatios, eu compreendo que o impossível de definir, isso é Deus575.” A contradição entre os dois trechos é evidente, e demonstra: (a) que Hermes era um pseudônimo genérico, adotado por uma série de gerações de místicos de todos os matizes; e (b) que é preciso usar de muita ponderação e discernimento antes de aceitar um daqueles fragmentos como preceito esotérico, tão-só em razão de sua inegável antigüidade. Compare-se agora o que ficou transcrito com uma invocação do mesmo gênero que se encontra nas Escrituras hindus — sem dúvida tão antigas, senão muito mais, do que os tais fragmentos. Parâshara, o “Hermes” ariano, instrui a Maitreya, o Asclépios hindu, e invoca a Vishnu em sua tríplice hipóstase: 575 Op. cit., págs. 139-140. Fragmento de “Phwsical Eclogues” e “Florilegium” de Stobaeus. 523 “Glória a Vishnu, o imutável, o eterno, o supremo, aquele cuja natureza é universal, o todo-poderoso; a ele, que é Hiramyagarbha, Hari e Shankara [Brahma, Vishnu e Shiva], o criador, o preservador e o destruidor do mundo; a Vâsudeva, o libertador (de seus adoradores); a ele, cuja essência é ao mesmo tempo simples e múltipla, sutil e corpórea, contínua e descontínua; a Vishnu, causa da emancipação final. Glória ao supremo Vishnu, causa da criação, da existência e do fim deste mundo; que é a raiz do mundo, e que o encerra576.” É uma invocação grandiosa, que contém um profundo sentido filosófico; mas, para as massas profanas, sugere um Ser antropomórfico, tal como a oração hermética. Devemos respeitar o sentimento que ditou a ambas; entretanto, não podemos deixar de considerá-las em completo desacordo com o seu significado oculto, e até mesmo com o expresso no referido traindo hermético, onde se diz: “Trismegisto: A realidade, filho meu, não é deste mundo, nem pode sê-lo… Nada é real sobre a terra; só existem aparências… Ele [o Homem] não é real, filho meu, como homem. O real consiste unicamente no real, e permanece sendo o que é… O homem é transitório, e portanto não é real; não é mais que aparência, e aparência é a suprema ilusão. Tatios: Então, meu Pai, não são reais os corpos celestes, pois que também variam? 576 Vishnu Purâna, I, II, Wilson, I, págs. 13-15. 524 Trismegisto: O que está sujeito ao nascimento e à transformação não é real… Há neles uma certa falsidade, porque são também variáveis… Tatios: E que é, então, ó meu Pai, a Realidade Primordial? Trismegisto: Quem [O que] é único e só, ó Tatios! Quem [O que] não é feito de matéria, nem está em corpo algum. Quem [O que] não tem cor riem forma, não muda nem é transmitido, mas que É sempre577.” O que está inteiramente conforme ao ensinamento vedantino. A idéia principal está oculta; e muitas são as passagens dos Fragmentos Herméticos que pertencem à Doutrina Secreta. Esta última ensina que todo o Universo é regido por Forças e Poderes inteligentes e semi-inteligentes, como desde o início assinalamos. A Teologia cristã admite e até impõe semelhante crença, mas estabelece uma divisão arbitrária entre esses Poderes, chamando-os “Anjos” e “Demônios”. A Ciência nega a existência de ambos, e ridiculariza a idéia. Os espiritistas crêem nos “Espíritos dos Mortos”, não admitindo, além destes, nenhuma outra espécie ou classe de seres invisíveis. Os ocultistas e os cabalistas são, portanto, os únicos intérpretes racionais das antigas tradições, que agora culminaram na fé dogmática de uns e na negativa não menos dogmática de outros. Porque ambos os lados, a fé e a incredulidade, não abrangem senão um modesto ângulo dos horizontes infinitos das manifestações espirituais e físicas; e ambos têm razão, cada qual em seu restrito ponto de vista, 577 Op. cit., págs. 135-138. 525 mas deixam de tê-la quando julgam poder circunscrever o todo dentro de seus próprios e acanhados limites especiais — porque jamais o conseguirão. Sob este aspecto, a Ciência, a Teologia e até mesmo o Espiritismo não denotam mais sabedoria que o avestruz, quando esconde a cabeça na areia aos seus pés, julgando que nada mais existe além do seu próprio ponto de observação e da reduzida área ocupada por sua obtusa cabeça. Como as únicas obras que atualmente existem sobre o assunto ora examinado, ao alcance do profano pertencente às raças “civilizadas” do Ocidente, são os livros, ou melhor, os Fragmentos Herméticos já mencionados, nós podemos, no presente caso, compará-los com os ensinamentos da Filosofia Esotérica. Citar outras obras com o mesmo objetivo seria inútil, pois que o público nada sabe acerca dos livros caldeus que, traduzidos para o árabe, se acham em mãos de alguns Iniciados sufis. Devemos recorrer, para a comparação, às “Definições de Asclépios”, tais como foram recentemente compiladas e comentadas pela Dra. Anna Kingsford, M.S.T.; algumas de suas sentenças coincidem de maneira notável com a Doutrina Esotérica oriental. Apesar de não serem poucas as passagens em que se observa a impressão inconfundível de um dedo cristão posterior, as características dos Gênios e dos Deuses são ali, de um modo geral, as dos ensinamentos orientais, ainda que, no tocante a outros pontos, haja proposições que se distanciam largamente de nossas doutrinas. Em relação aos Gênios, os filósofos herméticos chamavam Theoi (Deuses), Gênios e Daimones às entidades que nós denominamos Devas (Deu ses), Dhyân-Chohans, Chitkala (o Kwan-Yin dos budistas) etc. Os Daimones correspondem (no sentido socrático e ainda no sentido teológico, oriental e latino) aos espíritos tutelares da raça humana, “aqueles que moram na vizinhança dos 526 imortais, de onde velam sobre as coisas humanas”, como disse Hermes. Esotericamente são chamados Chitkala, alguns dos quais são os que deram ao homem, de sua própria essência, os princípios quarto e quinto, e outros são os chamados Pitris. Explicaremos isto quando chegarmos à produção do homem completo. A raiz do nome é Chit, “aquilo que determina a escolha, para o uso da alma, das conseqüências das ações e das espécies de conhecimentos”; ou seja: a consciência, a voz interior do homem. Entre os Yogis, Chit é sinônimo de Mahat, a Inteligência primeira e divina; mas, na Filosofia Esotérica, Mahat é a raiz de Chit, o seu germe, e Chit578 é uma qualidade de Manas em conjunção com Buddhi, uma qualidade que atrai a si, por afinidade espiritual, um Chitkala, quando se desenvolve suficientemente no homens. Eis por que se diz que Chit579 é uma voz que adquire vida mística, convertendo-se em Kwan-Yin.

EXCERTOS DE UM COMENTÁRIO PRIVADO MANTIDO EM SEGREDO ATÉ AGORA580

XVII. A Existência Inicial, na primeira aurora do Mahâmanvantara [após o Mahâpralaya que sucede a cada Idade de Brahmâ], é uma qualidade espiritual consciente. Nos mundos manifestados [Sistemas Solares], ela é, em sua Subjetividade Objetiva, qual a nuvem de um Sopro Divino, aos olhos do vidente em êxtase. Saindo do Laya581, difunde-se pelo 578 Conhecer, ser sabedor ou consciente 579 Chitti: juízo, compreensão, sabedoria. 580 Este ensinamento não se refere a Prakriti-Purusha além dos limites de nosso pequeno Universo. 581 O estado de quietação final; a condição Nirvânica do Sétimo Princípio. 527 Infinito como um fluido espiritual incolor. Esta no Sétimo plano e em seu Sétimo Estado, em nosso Mundo Planetário582 . XVIII. É Substância para nossa visão espiritual. Não pode ser assim chamada pelos homens em seu estado de vigília; e, por isso, em sua ignorância, a denominaram “Espírito de Deus”. XIX. Existe em toda a parte e forma o primeiro Upâdhi [Fundação] sobre o qual nosso Mundo [Sistema Solar] foi construído. Fora deste último, só se pode encontrar, em sua prístina pureza, entre [os Sistemas Solares ou] as Estrelas do Universo, os mundos já formados ou em via de formação; permanecendo em seu seio, entretanto, os que ainda se acham em Laya. Como sua substância difere da que se conhece na Terra, os habitantes desta última, vendo através dela, crêem, em sua ilusão e ignorância, que é um espaço vazio. Em todo o Ilimitado [Universo], não existe sequer a espessura de um dedo de espaço vazio… XX. A Matéria ou Substância é setenária em nosso mundo, como também o é além dele. Cada um de seus estados ou princípios possui, ainda, sete graus de densidade. Sûrya [o Sol], em seu reflexo visível, exibe o primeiro grau, ou o inferior dos sete estados, que é a ordem mais elevada da presença Universal, o puro entre os puros, o primeiro Sopro manifestado do Sempre Não-Manifestado Sat [Asseidade]. 582 Todo este ensinamento é ministrado em nosso plano de consciência. 528

Todos os Sóis centrais físicos ou objetivos são, em sua substância, o estado inferior do primeiro princípio do Sopro. Nenhum deles é mais que o Reflexo de seus Primários, que se acham ocultos à vista de todos, menos à dos Dhyân-Chohans, cuja substância corpórea pertence à quinta divisão do sétimo princípio da Substância-Mãe e é, portanto, quatro graus mais elevada que a substância solar refletida. Assim como existem sete Dhâtu (substâncias principais no corpo humano), do mesmo modo existem Sete Forças no Homem e na Natureza inteira. XXI. A essência real do [Sol] Oculto é um núcleo da Substância-Mãe583. E o Coração é a Matriz de todas as Forças vivas e existentes em nosso Universo Solar. É o Centro de onde se disseminam, em suas jornadas cíclicas, todos os Poderes que põem em ação os Átomos, no exercício de suas funções, e o Foco no qual se reúnem de novo em sua Sétima Essência, de onze em onze anos. Se alguém te contar que viu o Sol, zomba dele584, como se houvesse dito que o Sol se move realmente em seu curso diurno… XXIII. É por causa da natureza setenária do Sol que os antigos a ele se referem dizendo que é arrastado por sete cavalos, como nos versos dos Vedas; ou, ainda, que, apesar de identificado com os sete Ganas [Classes de Seres], em sua revolução, ê distinto 583 Ou seja: o “sonho da Ciência”, a verdadeira matéria primordial homogênea, que nenhum mortal pode tornar objetiva nesta Raça, nem mesmo na presente Ronda. 584 “Vishnu, em sua forma de energia ativa,, nunca se levanta nem se põe, e é ao mesmo tempo o Sol sétuplo e distinto dele” — diz o Vishnu Purana, II, XI (Wilson, II, XI, 296). 529 destes585, como em verdade o é; e também que possui sete Raios, como efetivamente possui… XXV. Os Sete Seres que estão no Sol são os Sete Sagrados, nascidos por si mesmos em virtude do poder inerente à Matriz da Substância-Mãe.

São eles que enviam as sete Forças principais, chamadas Raios, que no começo do Pralaya se concentrarão em sete novos Sóis para o próximo Manvantara. A energia, da qual elas surgem à existência consciente em cada Sol, é o que alguns chamam Vishnu, que é o SOPRO DO ABSOLUTO. Nós lhe chamamos a Vida Una Manifestada — também ela é um reflexo do Absoluto. XXVII.

Nunca se deve mencionar este último em palavras ou em frases, PARA QUE NÃO ARREBATE ALGUMAS DE NOSSAS ENERGIAS ESPIRITUAIS, que aspiram ao seu estado, gravitando sempre para ELE espiritualmente e de modo progressivo, como gravita, cosmicamente, todo o universo físico para o seu centro manifestado. XXVIII. A primeira (a Existência Inicial), que se pôde denominar, durante esse estado de existência, a VIDA UNA, é, conforme se explicou, um véu para objetivos de criação ou formação. Ela se manifesta em sete estados, os quais, com as 585 “Assim como um homem, ao aproximar-se de um espelho colocado sobre um móvel, contempla nele a sua própria imagem, da mesma forma a energia (ou reflexo) de Vishnu (o Sol) nunca se encontra separada, mas permanece no Sol (como num espelho que ali estivesse colocado).” (Ibid., loc. cit.) 530 subdivisões setenárias, constituem os Quarenta e Nove Fogos a que se referem os livros sagrados. XXIX. O primeiro é a “Mãe” [MATÉRIA Prima]. Subdividindo-se em sete estados primários, vai descendo por ciclos; quando se consolida como matéria densa586, gira em torno de si mesma, e anima, com a sétima emanação do último, o primeiro e inferior elemento [a serpente que morde a própria cauda]. Em uma Hierarquia, ou Ordem de Existência, a sétima emanação do seu último princípio é: (a) No Mineral, a Centelha que nele se acha latente, sendo chamada à sua transitória vida pelo Positivo que desperta o Negativo [e assim sucessivamente] … (b) Na Planta, é aquela Força vital e inteligente que anima a semente e a faz desabrolhar na folha de uma erva, numa raiz ou num rebento. É o germe que se converte no Upâdhi dos sete princípios do ser em que habita, exteriorizando-os à medida que o último cresce e se desenvolve. (c) N Animal, ela procede do mesmo modo. É o seu Princípio de Vida e a sua força vital; o seu instinto e as suas qualidades; as suas características especiais p as suas idiossincrasias. (d) Ao Homem, ela dá tudo aquilo que concede às demais unidades manifestadas da Natureza; mas nele desenvolve, a mais, o reflexo de todos os seus “Quarenta e Nove Fogos”… 586 Compare-se com a “Natureza” hermética descendo ciclicamente na matéria, ao encontrar o “Homem Celeste”. 531 Cada um de seus sete princípios ê o herdeiro universal dos sete princípios da “Grande Mãe”, e deles participa. O sopro de seu primeiro princípio ê o seu Espírito [Âtmâ]. Seu segundo princípio é Buddhi [Alma]; nós o classificamos erroneamente como sétimo. O terceiro lhe proporciona a Matéria Cerebral, no plano físico, e a Mente, que a movimenta [ que é a Alma Humana — H.P.B.] segundo suas características orgânicas. (e) É a Força diretora dos Elementos cósmicos e terrestres. Reside no Fogo, convertido do estado latente em existência ativa; pois todas as sete subdivisões do. . . princípio residem no Fogo terrestre. Rodopia com a brisa, sopra com o furacão e põe em movimento o ar, elemento que também participa de um dos seus princípios. Procedendo por ciclos, regula o movimento da água, atrai e repele as ondas587, de acordo com leis fixas, das quais o seu sétimo princípio ê a alma animadora. (f) Seus quatro princípios superiores contêm o Germe dos que virão a ser os Deuses Cósmicos; seus três princípios inferiores produzem as Vidas dos Elementos [Elementais]. (g) Em nosso Mundo Solar, a Existência Una é o Céu e a Terra, a Raiz e a Flor, a Ação e o Pensamento. Está no Sol e também no pirilampo. Nem um só átomo lhe pode escapar. É por isso que os antigos sábios a chamaram, com toda a razão, o Deus manifestado na Natureza… 587 Os autores das linhas acima conheciam perfeitamente a causa física das marés, das ondas, etc. O Comentário se refere ao Espírito que anima todo o corpo solar cósmico; sempre que usadas expressões semelhantes, do ponto de vista místico, o significado é o mesmo. 532 Talvez seja interessante aproveitar esta oportunidade para lembrar ao leitor o que T. Subba Row disse a respeito dessas Forças, definidas misticamente: “Kanyâ [o sexto signo do Zodíaco, ou Virgo] significa uma virgem e representa Shakti ou Mahâmâyâ. O signo em apreço é o sexto Râshi ou divisão, e indica a existência de seis forças primordiais na Natureza [sintetizadas pela Sétima]…” Os Shâktis se apresentam na seguinte ordem: “1º. Parâshakti — Literalmente, a grande ou suprema força. Significa e inclui os poderes da luz e do calor. 2º. Jnânashakti — Literalmente, o poder da inteligência, da sabedoria ou verdadeiro conhecimento. Tem dois aspectos: I. Eis algumas de suas manifestações, guando colocado sob a influência ou o domínio de condições materiais: (a) o poder da mente para interpretar as nossas sensações; (b) seu poder para recordar idéias passadas (memória) e dar origem a expectativas futuras; (c) o poder que resulta do que os psicólogos modernos chamam “leis de associação” e que permite à mente formar relações persistentes entre Vários grupos de sensações e de possibilidades de sensações, gerando assim a idéia ou noção de um objeto externo; (d) o 533 poder de relacionar nossas idéias umas com as outras por meio do laço misterioso da memória, fazendo surgir deste modo a noção do eu ou da individualidade. II. Eis agora algumas de suas manifestações, quando se liberta dos liames da matéria: (a) Clarividência; (b) Psicometria. 3º. Ichchhâshakti — Literalmente, o poder da vontade. Sua manifestação mais comum é a geração de certas correntes nervosas, que põem em movimento os músculos necessários para executar as determinações da vontade. 4º. Kriyâshakti — O misterioso poder do pensamento, que lhe permite produzir resultados externos, fenomenais, perceptíveis, graças à energia que lhe é inerente. Sustentavam os antigos que uma idéia qualquer se manifestará exteriormente se a atenção for concentrada intensamente nela.

Da mesma forma, uma volição intensa será seguida da realização do desejo. É por meio de Ichchhâskti e de Kriyâshakti que o Iogue geralmente consegue realizar os seus prodígios. 5º. Kundalini Shakti — O poder ou a força que se move segundo uma trajetória curva ou serpentina. É o Princípio Universal de Vida que se manifesta por toda a parte na Natureza. Esta força abrange as duas grandes forças de 534 atração e repulsão. A eletricidade e o magnetismo são apenas duas de suas manifestações. É o poder que leva a efeito aquele “acordo contínuo das relações internas com as relações externas”, que é a essência da vida, segundo Herbert Spencer, e o “acordo contínuo das relações externas com as relações internas”, que é o fundamento da transmigração das almas, Punarjanman (Renascimento), nas doutrinas dos filósofos hindus. O Iogue deve subjugar por completo esta força, antes de poder alcançar Moksha. 6º. Mantrikâshakti — Literalmente, a força ou o poder das letras, da palavra ou da música. Todo o antigo Mantra Shâstra se ocupa desta força e de suas manifestações… A influência da música é uma de suas manifestações mais comuns. O poder maravilhoso do nome inefável é o coroamento deste Shakti. Só em parte tem a Ciência moderna investigado a primeira, a segunda e a quinta das forças que acabamos de mencionar; quanto às demais, é, porém, total a sua ignorância. As tais forças são representadas, em sua unidade, pela Luz Astral. [Daiviprakriti, a Sétima, é a Luz do Logos.]588″ Fizemos a transcrição acima para mostrar quais são as verdadeiras idéias hindus sobre este assunto. Tudo isso é de caráter esotérico, não correspondendo, entretanto, nem à décima parte do que se poderia dizer. Por exemplo, os seis nomes 588 Five Years of Theosophy, págs. 110-111, artigo “Os Doze Signos do Zodíaco”. 535 das seis forças nomeadas são as das seis Hierarquias de Dhyân-Chohans, sintetizadas por sua Primária, a sétima, que personifica o Quinto Princípio da Natureza Cósmica, ou a “Mãe” em seu sentido místico. Só a enumeração dos poderes do Ioga exigiria dez volumes. Cada uma das forças tem à sua frente uma Entidade Consciente e vivente, da qual é uma emanação. Mas comparemos as palavras de Hermes, o Três Vezes Grande, com o Comentário já citado: “A criação da vida pelo sol é tão contínua quanto a luz: nada a detém, nada a limita. Em torno dele, como uma legião de satélites, estão inumeráveis coros de Gênios. Estes habitam na vizinhança dos Imortais, e dali velam sobre as coisas humanas. Executam a vontade dos Deuses [Carma], por meio de tempestades, raios, incêndios e terremotos, e também de fomes e guerras, para castigo da impiedade589 … É o sol que conserva e alimenta todas as criaturas; e, assim como o Mundo Ideal, que rodeia o mundo sensível, povoa este último com a plenitude e a universal variedade das formas, do mesmo modo o sol, envolvendo tudo em sua luz, dá lugar ao nascimento e desenvolvimento das criaturas, em toda a parte… Sob suas ordens está o coro dos Gênios, ou antes, os coros, pois ali há muitos e diversos, e seu número corresponde ao das estrelas. Cada estrela tem na água Gênios, bons e maus por natureza, ou melhor, por sua ação, visto que a ação 589 Vejam-se as Estâncias III e IV e os Comentários respectivos, especialmente os referentes às Estância IV, quanto aos Lipika e aos quatro Mahârâjas, os agentes do Carma. 536 é a essência dos Gênios… Todos estes Gênios presidem aos negócios do mundo590; eles abalam e derrubam a constituição dos estados e dos indivíduos; imprimem a sua marca em nossas almas, estão presentes em nossos nervos, em nossa medula, em nossas veias, em nossas artérias e em nossa própria substância cerebral… No momento em que um de nós recebe a vida e o ser, fica aos cuidados dos Gênios [Elementais] que presidem aos nascimentos591, e que se acham classificados abaixo dos poderes astrais [Espíritos astrais sobre-humanos]. Eles mudam perpetuamente, nem sempre de maneira idêntica, mas girando em círculos592 . Insinuam-se através do corpo em duas partes da Alma, a fim de que esta possa receber de cada um deles o cunho da energia que lhe é própria. Mas a parte racional da Alma não está sujeita aos Gênios; é destinada a receber [o] Deus593, que a ilumina como um raio de sol. Poucos são os iluminados, e os Gênios se afastam deles, porque nem os Gênios nem os Deuses dispõem de poder em presença de um só raio de 590 E os “Deuses” ou Dhyânis também, e não somente os Gênios ou “Forças dirigidas”. 591 Isto significa que, sendo o homem composto de todos os Grandes Elementos (Fogo, Ar, Água, Terra e Éter), os Elementais que pertencem a cada um desses Elementos se sentem atraído para o homem, em razão de sua coessência. O Elemento que predominar na constituição de um ser regulará o comportamento que ele há de ter na vida. Por exemplo, se no indivíduo tem preponderância o Elemento terreno (o gnômico), os Gnomos farão com que ele seja dado- à acumulação de metais, moedas, riquezas, etc. “O homem animal é filho dos elementos animais de que proveio a sua Alma (Vida), e os animais são o espelho do homem” — dizia Paracelso. (De Fundamento Sapientiae). Paracelso era cauteloso, e tinha necessidade de que a Bíblia coincidisse inteiramente com as suas palavras; e por isso não dizia tudo. 592 Progressos cíclicos em desenvolvimento. 593

O Deus no homem, e com frequência a encarnação de um Deus, um Dhyân-Chohan altamente espiritual, além da presença de seu próprio Sétimo Princípio. Mas todos os outros homens, corpo e alma, são dirigidos por Gênios, aos quais aderem, e que lhes influenciam as ações… Os Gênios têm, pois, domínio sobre as coisas mundanas, e os nossos corpos são os seus intrumentos 595.” O que acabamos de transcrever, salvo em alguns pontos de caráter sectário, representa a crença universal, comum a todos os povos, até cerca de um século atrás. Crença que ainda é igualmente ortodoxa, em suas linhas e traços gerais, tanto entre os pagãos como entre os cristãos, à exceção de uns poucos materialistas e homens de ciência. Sim, porque, sejam os Gênios de Hermes e os seus “Deuses” chamados “Poderes das Trevas” e “Anjos”, como nas Igrejas latina e grega; ou “Espíritos dos Mortos”, como no Espiritismo; ou Bhûts, Devas, Shaitan e Djin, como na Índia e nos países muçulmanos — todos eles são uma e a mesma coisa: ILUSÃO. Que não haja, porém, nenhum mal-entendido a este respeito, como ultimamente tem acontecido por parte de escolas ocidentais em relação à grande doutrina filosófica dos vedantinos. Tudo o que é, emana do ABSOLUTO, que, por força mesmo deste qualificativo, é a única Realidade; e assim tudo aquilo que é estranho ao Absoluto, a esse Elemento causativo e gerador, deve ser uma ilusão, sem nenhuma sombra de dúvida. Isto, porém, do ponto de vista exclusivamente metafísico. Um homem que se tenha em conta de mentalmente são, e que seja também assim considerado pelos 594 Mas qual é o “Deus” de que se cogita aqui? Não será o Deus-“Pai” da ficção antropomórfica, porquanto esse Deus é a coletividade dos Elohim, não tendo existência fora da Legião. Demais, um Deus tal é finito e imperfeito. É aos altos Iniciados e Adeptos que se faz referência com aqueles “homens pouco numerosos”. E são precisamente estes os que acreditam em “Deuses” e que não conhecem outro Deus senão uma Divindade Universal não relacionada nem condicionada. 595 The Virgin of the World, págs. 104-5, “As Definições de Asclépios”. 538 outros, classificará igualmente como ilusão e des-varios as visões de um irmão louco (alucinações que podem fazer a vítima muito feliz ou sumamente infeliz, conforme o caso). Mas onde está o louco para quem as horríveis sombras de sua mente transtornada, suas ilusões, não sejam para ele tão efetivas e reais quanto as coisas vistas por seu médico ou seu enfermeiro? Tudo é relativo neste Universo; tudo é ilusão. Mas a impressão experimentada em qualquer dos planos é uma realidade para o ser que a percebe e cuja consciência pertença ao mesmo plano; muito embora essa impressão, encarada de um ponto de vista puramente metafísico, possa não apresentar nenhuma realidade objetiva. Não é, porém, contra os metafísicos, senão contra os físicos e os materialistas, que o ensinamento Esotérico tem de combater; e para estes a Luz, a Força Vital, o Som, a Eletricidade e até mesmo a força tão objetivamente atuante do Magnetismo não possuem nenhuma existência objetiva, não passando simplesmente de “modos de movimento”, “sensações e afecções da matéria”. Nem os ocultistas em geral, nem os teósofos, rejeitam, como alguns erroneamente supõem, as idéias e as teorias dos sábios modernos, só porque suas opiniões estejam em conflito com a Teosofia. A primeira regra de nossa Sociedade é dar a César o que é de César. Os teósofos, portanto, são os primeiros a reconhecer o valor intrínseco da Ciência. Mas, quando os seus sumos-sacerdotes querem resolver a consciência em uma secreção da matéria cinzenta do cérebro, e todas as coisas da Natureza em um modo de movimento, nós protestamos contra semelhante doutrina, por antifilosófica, contraditória em si mesma e simplesmente absurda, vista pelo ângulo científico, tanto e até mais que sob o aspecto oculto do conhecimento esotérico. 539 Pois a verdade é que a Luz Astral dos cabalistas tão ridicularizados encerra estranhos e misteriosos segredos para aqueles que nela podem ver; e os mistérios ocultos sob as suas ondas em constante movimento ali permanecem, não importa o que diga toda a coorte de materialistas e motejadores. A Luz Astral dos cabalistas tem sido incorretamente equiparada ao “Éter”, confundindo-se este último com o Éter hipotético da Ciência; e alguns teósofos se referem aos dois como sendo sinônimos de Âkâsha. É um grande erro. O autor de A Rational Refutation escreve o seguinte, confirmando assim, inconscientemente, o Ocultismo: “As propriedades características do Âkâsha evidenciam como é incorreto representá-lo pelo “éter”. Em dimensão é ele… infinito; não é constituído de partes; e a cor, o sabor, o odor e a tangibilidade não lhe pertencem. Até esse ponto corresponde exatamente ao tempo, ao espaço, a Ishvara [o “Senhor”, ou antes, a potência criadora e a alma — Anima mundi] à alma. Sua especialidade, que o distingue dos anteriores, consiste em ser a causa material do som. A não ser por isto, poderia ser considerado como o vácuo596.”

O vácuo, não haja dúvida, principalmente para os racionalistas.

Em todo caso, certo é que o Âkâsha produz o vácuo no cérebro de um materialista. Não obstante, se bem que o Âkâsha não seja o Éter da Ciência (nem sequer o Éter do ocultista, que o define como apenas um dos princípios do Âkâsha), é seguramente, 596 Pág. 120. 540 junto com o seu primário, a causa do som: a causa psíquica e espiritual, mas de modo algum a causa material. A relação entre o Éter e o Âkâsha pode ser definida aplicando-se a ambos, Âkâsha e Éter, as palavras com que os Vedas se referem a Deus: “Assim, ele mesmo era, em verdade, (seu próprio) filho”, um sendo o produto do outro e, não obstante, ele mesmo. Pode ser um enigma difícil para o profano, mas facílimo de entender por um hindu, ainda que não seja místico. Os segredos da Luz Astral, juntamente com muitos outros mistérios, permanecerão ignorados pelos materialistas de nossos tempos, do mesmo modo que a América não passava de um mito para os europeus durante os primeiros tempos da Idade Média, apesar de haverem escandinavos e noruegueses alcançado aquele antiquíssimo “Novo Mundo” muitos séculos antes, ali se estabelecendo. Mas, assim como nasceu um Colombo para descobri-lo novamente e para obrigar o Velho Mundo a crer nos antípodas, igualmente nascerão sábios que hão de descobrir as maravilhas que os ocultistas vêm afirmando existirem nas regiões do Éter, com seus vários e multiformes habitantes e Entidades conscientes. Então, nolens volens, a Ciência terá que aceitar a antiga “superstição”, como já o fez com outras muitas. E, uma vez que se veja forçada a admiti-la, é bem provável que os seus sábios professores — a julgar pela experiência do passado, como no caso do Mesmerismo ou Magnetismo, hoje rebatizado com o nome de Hipno-tismo — perfilhem o fato e rejeitem a denominação. A escolha do novo nome dependerá, por sua vez, dos “modos de movimento” — a nova definição dos antiquíssimos “processos físicos automáticos entre as fibrilas nervosas do cérebro” (científico) de Moleschott —; e é também mui provável que venha a depender da última refeição tomada por quem lhe der o nome, já que, segundo o fundador do novo Esquema Hilo-Idealista, 541 “cerebração é genericamente o mesmo que quilificação597”. Desse modo, se houvéssemos de crer nesta última e disparatada proposição, o novo nome da verdade arcaica dependeria da inspiração gástrica do padrinho, e só então é que verdades semelhantes lograriam a possibilidade de se tornarem científicas! Mas, por desagradável que seja às maiorias, geralmente cegas, a VERDADE tem sempre encontrado os seus campeões, dispostos a morrer por ela, e não estará entre os ocultistas quem há de protestar contra a sua adoção pela Ciência, sob qualquer nome que seja. Entretanto, até o momento em que ela venha impor-se ao conhecimento e à aprovação dos homens de ciência, muitas coisas ocultas serão relegadas, como o têm sido os fenômenos espíritas e outras manifestações psíquicas, para finalmente serem apropriadas por seus ex-detratores sem o menor reconhecimento ou gratidão. Grande foi a importância do Nitrogênio no progresso da ciência química; mas Paracelso, que o descobriu, é ainda hoje classificado como “charlatão”. Quão profundamente verdadeiras são as palavras de H. T. Buckle, em sua History of Civilization, quando diz: “Em virtude de circunstâncias ainda desconhecidas [a provisão cármica], de onde cm onde aparecem grandes pensadores que, consagrando suas vidas a um objetivo único, são capazes de acelerar o progresso da humanidade, fundando uma religião ou filosofia, graças à qual efeitos importantes podem manifestar-se. Mas, se perquirirmos a história, veremos claramente que, embora a gênese de uma nova opinião possa ser assim atribuída a um só homem, o 597 National Reformer, 9 de janeiro de 1887; artigo “PhrenoKosmo-Biology”, pelo Dr. Lewins. 542 resultado por ela produzido depende do caráter do povo em que tenha sido divulgada. Se uma religião ou filosofia é por demais avançada em relação ao povo, não poderá ter nenhuma repercussão no momento, devendo esperar598 que os espíritos estejam suficientemente amadurecidos para recebêla… Toda ciência e toda fé têm os seus mártires. Segundo o curso ordinário das coisas, passam algumas gerações, e vem depois outro período em que estas mesmas verdades são havidas como fatos normais; e, um pouco mais tarde, surge mais outro período durante o qual são proclamadas necessárias, e até as inteligências mais obtusas se admiram de que algum dia houvesse sido possível negá-las599.” Pode ser que as mentes das gerações contemporâneas não estejam de todo maduras para receber as verdades ocultas. É bem provável que esta seja a conclusão dos pensadores avançados da futura Sexta Raça-Raiz, quando lançarem um olhar retrospectivo sobre a história da aceitação plena e incondicional da Filosofia Esotérica. Até lá, as gerações de nossa Quinta Raça continuarão a extraviar-se pelos desvãos dos preconceitos e das prevenções. Em toda a parte as ciências ocultas se verão apontadas pelo dedo do desprezo, e todos procurarão ridicularizá-las e amesquinhá-las, em nome e para maior glória do Materialismo e de sua pretendida Ciência. Estes volumes, entretanto, respondem por antecipação a várias das futuras objeções científicas, indicando as verdadeiras posições recíprocas da 598 É a lei cíclica; mas esta lei é freqüentemente transgredida pela obstinação humana. 599 Vol. I, pág. 256. 543 acusação e da defesa. Os teósofos e os ocultistas são levados ao banco dos réus pela opinião pública que só desfraldar a bandeira das ciências indutivas. Estas últimas devem, pois, ser examinadas, cumprindo fixar até que ponto os seus feitos e as suas descobertas no domínio da lei natural entram em conflito, não tanto com o que pretendemos, mas com os fatos da Natureza. Soou a hora de ver se os muros da moderna Jerico são assim tão inexpugnáveis que nenhum som da trombeta ocultista possa fazê-los desmoronar. Deve ser cuidadosamente examinado tudo o que se refere às chamadas “Forças”, notadamente a Luz e a Eletricidade, e à constituição do globo solar; assim como as teorias relativas à gravitação e às nebulosas. Impende analisar a natureza do Éter e de outros elementos, confrontando-se os ensinamentos científicos com os ocultistas, e revelando-se ao mesmo tempo alguns princípios, até agora secretos, do ocultismo. Faz uns quinze anos, foi a autora a primeira a repetir, com os cabalistas, os sábios Preceitos do Catecismo Esotérico: “Cerra os teus lábios, para que não fales sobre isto [o mistério], e o teu coração, para que não penses em voz alta; e, se o teu coração não te obedecer, trata de reconduzi-lo ao seu lugar, porque tal é o objetivo de nossa aliança600.” E também das Regras da Iniciação: 600 Sepher Yetzireh. 544 Este é um segredo que dá a morte; cala a tua boca, para que o não reveles ao vulgo; comprime o teu cérebro, para que alguma coisa não possa escapar e cair em mãos profanas. Poucos anos depois, uma ponta do Véu de Ísis pôde ser levantada; e agora chegou a vez de um puxão ainda maior. Mas os antigos erros consagrados pelo tempo — inclusive aqueles que se mostram cada dia mais claros e evidentes — permanecem dispostos em ordem de batalha, hoje como ontem. Guiados por um cego instinto de conservação, pela vaidade e pelos preconceitos, estão constantemente alerta, prontos para sufocar toda verdade que, despertando de seu profundo sono secular, reclame a admissão. Assim tem sido sempre, desde que o homem se animalizou. Se o trazer à luz algumas destas antigas verdades, e verdades bem antigas, pode ocasionar a morte moral de quem as revele, também é certo que pode dar a Vida e a Regeneração a todo aquele que esteja apto a tirar proveito do pouco que lhe é revelado. 545

NOTAS ADICIONAIS

601 Introdução, pág. 129, nota. Há dois Kali-Yugas distintos. 1º. O Kali Yuga astronômico, que começou no ano 3102 a.C, época mui provavelmente fixada em 499 A.D., sob Ãryabhata I. Trata-se de um início irreal do Kali Yuga (17-18 de fevereiro de 3102 a.C), resultante, sem dúvida, de cálculo retroativo, segundo as conclusões de Bentley, Burgens etc; e eu adoto plenamente este ponto de vista. Diz Burgens: “Não sei como se possa pôr em dúvida que a época tenha sido encontrada por meio de calculo astronômico retroativo”. De acordo com essa estimativa do Kali Yuga, 5.000 anos transcorreram em 1899-1900 A.D. ou 1921 do ano Shâka. Não encontrei nenhuma indicação epigráfica, ou de outra espécie, quanto ao cálculo sobre este Kali Yuga, anteriormente à época de Ãryabhata I, isto é, antes de 499 A.D. 2º. O outro Kali Yuga, a que se referem o Mahâbharata e os Purânas, principiou em 7 de janeiro do ano 2454 a.C, dia do solstício de inverno, e da lua cheia perto da estrela Regulus. Seguiu-se depois um período de sandhi (intervalo) de 100 anos, durante o qual se deu a batalha de Bhârata, em 2449 a.C, e a morte de Shri Krishna, em 2413 a.C. 5.000 anos deste Kali Yuga terão decorrido daqui a 609 anos, ou seja, em 2547 A.D. Foi este o Kali Yuga real que pessoalmente aceitei em todas as minhas investigações. (Nota escrita por Probodh Chandra Sen Gupta, a pedido do Sr. Hirendranath Datta.) 601 Infelizmente, essas notas finais não puderam ser localizadas. Creio, que nessa edição, os editores se esqueceram de atualizar o número das páginas (Sandra). 546 Referência a Ísis sem Véu, pág. 83. Veja-se a segunda nota ao pé da página. O nome é usado no sentido da palavra grega αυθρωποζ (anthropos). O Mestre K. H. escreveu, acerca de Ísis sem Véu em geral, e daquela passagem em particular: “Graças à ajuda dos revisores, poucos enganos reais escaparam, como o da página 1, capítulo I, volume I, em que se mencionou a Divina Essência como emanando de Adão, quando é o inverso.” Consulte-se The Mahâtmâ Letters, pág. 45, 2ª edição, 1930. Ancient Fragments, de Cory, pág. 184. Na edição nova e ampliada de E. Richmond Hodges, de 1876, é diferente a paginação; contém ela 203 páginas, ao passo que a primitiva edição se compunha de mais de 300. O editor de 1876 diz no Prefácio, pág. XII, que omitiu: (a) o Prefácio de Cory, e (b) as especulações Neo-platônicas do final do livro. A Santa Assembléia Menor, pág. 195. A Santa Assembléia Menor é a parte III, fólios 287 a 296-b do Zohar; vejase Kabbala Denudata, de Rosenroth, Formus Secundus, Parte II, págs. 347-598 — diz A. E. Waite em The Secret Doctrine in Israel, cap. 3, pág. 45. 547 Jod, Vau e duas vezes Hé, pág. 209, nota 72. Tem-se objetado que Jod (+ 10), Vau ( = 6) e duas vezes Hé (cada Hé = 5) perfazem 26, e não 21. Possivelmente o valor de um Hé foi omitido para os objetivos numéricos que a Sra. Blavatsky tinha em mente. Manadas aprisionadas, pág. 184, tomo 2. No último período do primeiro parágrafo constam as palavras: “…cujas Mônadas podem estar agora aprisionadas — semiconscientes — nos espécimes mais inteligentes do reino animal, enquanto os seus princípios inferiores animam, talvez, os exemplares mais elevados do reino vegetal.” Tem-se observado e insistido que as últimas palavras estariam melhor assim: “… enquanto os seus espécimes inferiores animam, talvez, as mais altas espécies do mundo vegetal.” Nota: Kali Yuga deveria ser, em todos os casos, ortografado com um a breve. Kali quer dizer contenda, luta; kâlâ, kâlî, negro, escuro. 548

BIBLIOGRAFIA

Foram verificadas as citações dos seguintes livros:

Ain-i-Akhari, tradução de H. Blochmann, M. A. Calcutá, Baptist Union Press, 1872. Anugîtâ, trad. de K. T. Telang. Da série Sacred Books of the East, editor Max Müller, Oxford, Clarendon Press, 1908. Buddhism, Chinese, Rev. J. Edkins. Londres, Kegan Paul, Trench, Trübner and Co., Pop. Ed. Buddhism Esoteric, A. P. Sinnett. Londres, Chapman and Hall, Ltd., 5ª edição, 1885. Consciousness, A Study in, Annie Besant. Londres, The Theosophical Publishing Society, 1904. Cory’s Ancient Fragments. Edição nova e ampliada. Londres, Reeves and Turner, 1876. De Rerum Natural, Lucrécio. Leipzig, A. B. G. Teubner, 1909. Egypt’s Place in History, C. C. J. Bunsen, tradução de C. H. Cottrell. Londres, Longmans, Green and Longmans, 1848. 549 Five Years of Theosophy, Londres, Reeves and Turner, 1885. God,The Book of, O Londres, Reeves and Turner. Heroes and Hero Worship, e Past and Present, Thomas Carlyle. Londres, Chapman and Hall, 1874. Ísis Unveiled, A Master Key to the Mysteries of Ancient and Modern Science, H.P. Blavatsky, Nova Iorque, J. W. Bouton, 1893. Josephus; Against Apion. Obras completas de Flávio Josefo; trad. de Wm. Whiston, M. A., Londres, T. Nelson and Sons, 1854. Kabalah Unveiled, The, S. L. Macgregor Mathers. Londres, George Redway, 1887. Kaushitaki Brâhmana, Das, Ed. B. Lindner, Ph. D. Jena, Hermann Costenoble,1887. Legends and Theories of the Buddhists, Spence Hardy. Londres, Williams and Norgate, 1866. Life and Religion, New Aspects of, Henry Pratt, M. D. Lond. e Edin., Williams and Norgate, 1886. Livre des Morts, Le, Paul Pierret. Paris, Ernest Leroux, 1882. 550 Logic, Alexander Bain, LL. D. Londres, Longmans, Green, Reade & Dyer, 1873. Magic, The Mysteries of, A. E. Waite. Londres, Kegan Paul, Trench, Trübner and Co., ed. 1897. Mahâtmâ Letters to A. P. Sinnett, The, Londres, Rider and Co., 1930. Man, Fragments of Forgotten History, por Dois Cheias. Londres, Reeves and Turner, 1885. Mystères de l’Horoscope, Les, Ely Star, Paris, Durville, 1887. Mythology, Dowson’s Dictionary of Hindu, Londres, Trübner and Co., 1879. Natural Gênesis, The, Gerald Massey, 2 vols., Londres, Williams and Norgate, 1883. Occult World, The, A. P. Sinnett. Londres, Trübner and Co., 1884, 4ª edição. Paracelsus, Franz Hartmann, M. D., Londres, George Redway, 1887. Pymander, The Divine, trad. do Dr. Everard E. Hargrave Jennings. Londres, George Redway, 1884. Quadrature of the Circle, The, John A. Parker. Nova Iorque, John Wiley and Son. 551 Religion and Science, History of the Conflict between, J. W. Draper. Londres, Kegan Paul Trench, Trübner and Co., Ltd., 1890. Rig Veda Brâhmanas, trad. de A. Berriedale Keith, D.C.L., D. Litt. Harvard University Press, Cambridge, Mass., 1920. Sacred Books of the East, Max Müller. Oxford, Clarendon Press, 1908. Sod, The Son of the Man, S. F. Dunlap. Londres, Williams and Norgate, 1861. Source of Measures, The, J. Ralston Skinner (MS.). Spirit History of Man, Vestiges of the, S. F. Dunlap. Nova Iorque, D. Appleton and Co., 1858. Virgin of the World, The, trad. da Dra. Anna Kingsford. Londres, George Redway, 1885. Vishnu Purâna, trad. de H. H. Wilson, M. A., F. R. S., Londres, Trübner & Co., 1864. Visishtadvaita Philosophy, A Catechism of the, N. Bhashyâchârya, F. T. S. Madras, Sociedade Teosófica, 1890. 552 World-Life, or Comparative Geology, Alexander Winchell, LL. D. Chicago. S. C. Griggs & Co., 1883. REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS MODERNAS Sobre teorias científicas modernas, relacionadas com os assuntos tratados neste volume, podem ser consultadas as seguintes obras: The March of Science. Primeira Revista Qüinqüenal, 1931-1935, por vários autores, publicada sob a autoridade do Conselho da Associação Britânica para o Progresso da Ciência. Seção I. “Física Cósmica”. Sir James Jeans, D. SC, Sc. D., LL. D., F. R. S. Londres. Sir Isaac Pitman & Sons Ltd., 1937. The Earth and Its Rhythms, Prof. Charles Schurchert e Clara M. Le Vene. Nova Iorque, D. Appleton & Co., 1931. The Universe Around Us. Sir James Jeans, D. Sc, Sc. D., LL. D., F. R. S. Cambridge University Press, 1933. Evolution in the Light of Modem Knowledge, J. H. Jeans, H. Jeffreys, G. Elliot Smith etc. Edimburgo, Blackie & Sons. Kosmos, Willem de Sitter, Diretor da Universidade de Leyden. Oxford, Clarendon Press. 553 The Web of the Universe, E. L. Gardner. Londres, The Theosophical Publishing House, 1936. The Solar System and Its Origin, H. N. Russell. Londres, Macmillan, 1937. The Theosophist, junho de 1938. “The Expanding Universe”, W. I. Pugh. Adyar, Madras, The Theosophical Publishing House. Artigos em Nature, 1936-1938. Londres, Macmillan & Co.

LIVROS ADICIONAIS PARA REFERÊNCIA

The Theosophical Glossary, H.P.Blavatsky. Londres, The Theosophical Publishing Society, 1892. Indian Philosophy, S. Radhakrishnan. Londres, George Allen and Unwn Ltd., 2 vols. I Vol. publicado em 1923. Edição revista, 1929. II Vol. publicado em 1927. Edição revista, 1931. The Six Systems of Indian Philosophy, Rt. Hon. Prof. Max Müller. Londres, Longmans, Green & Co., 1928. Primeira edição em 1899. The Philosophy of the Upanishads, Sir S. Radhakrishnan. Londres, George Allen and Unwin Ltd. Primeira edição, 1924. Segunda edição revista, 1935. 554 The Twelve Principal Upanishads, notas dos Comentários de Shankarâchârya, explicações de Ânandagiri. Edição de Tookaram Tatya, F. T. S., 1891. Reedição de The Theosophical Publishing House, Adyar, 3 volumes, 1931. The Wisdom of the Upanishads, Annie Besant. Adyar. The Theosophical Publishing House, 1925. The Thirty Minor Upanishads, tradução inglesa. K. Narayanaswamy Aiyar. Adyar. The Theosophical Publishing House, 1914. Para outras traduções e livros a respeito dos Upanishads, consulte-se o Catálogo da Biblioteca de Adyar. Hymns of the Rig Veda (2 vols.); Hymns from the Sama Veda; Hymns from the White Atharva Veda, Hymns from the White Yajur Veda — todos traduzidos do sânscrito por R. T. H. Griffith, M. A., C. I. E. Benares. E. J. Lazarus Co., 1917-1927. Vedanta Doctrine of Sri Sankarâchârya. Texto e tradução de A. Mahâdtva Sâstri, B. A., compreendendo: (a) Dakshinamurti Stotra de Sankara; (b) Pranavavartika de Suresvarâchârya; e (c) Dakshinamurti Upanishad. Madras, V. Ramaswamy Sastrulu and Sons, 1920. The Vedânta according to Shankara and Râmânuja, de Sir S. Radhakrishnan. Londres, George Allen and Unwin Ltd., 1928. 555 Sanâtana Dharma (Hinduísmo). Compêndio de Religião e Ética Hindu. Benares, The Board of Trustees, Central Hindu College, 1904. The Orion, ou Pesquisas sobre a Antigüidade dos Vedas; Bál Gangâdhar Tilak, B. A., LL. B. Bombaim, 1893. A Study of the Bhâgavad Purâna, Purnendu Narayan Sinha, M. A., B. L. Benares, 1901. Reimpressão de The Theosophical Publishing House, Adyar, 1938. The Sânkhya Kârika de Isvara Krishna. Traduzido do sânscrito por Henry Thomas Colebrooke. Bombaim, Rajaram Tookaram, 1924. Viveka-Chúdâmani, ou A Sublime Jóia da Sabedoria. Texto em Devanâgiri e tradução de Mohini M. Chatterji. Adyar, The Theosophical Publishing House. Reimpressão, 1932. Sri Bhâshyam, tradução inglesa por Diwan Bahadur V. K. Ramanujâchari. Publicado pelo autor em Kumbakonam. “É o Comentário de Sri Râmânuja sobre os BrahmaSutras de Badarâyana, alis Vyâsa. Estes Sütras representam um Comentário das últimas partes dos Vedas, conhecidas por Upanishads.” 3 vols., 1930. The Bhâgavad Gitâ, com o texto sânscrito, tradução livre para o inglês, tradução palavra por palavra, e uma Introdução à Gramática Sânscrita. Annie Besant & Bhâgavad Dâs. Londres & Benares, The Theosophical Publishing Society, 1905; reimpressão, 1926. 556 The Philosophy of the Bhâgavad Gitâ, T. Subba Row. Adyar, The Theosophical Publishing House. Reimpressão, 1931. Esoteric Christianity, Annie Besant. Londres, The Theosophical Publishing Society, 1898; reimpressão, 1914. Fragments of a Faith Forgotten, G. R. S. Mead. Londres, John M. Watkins. Hymns of Hermes, G. R. S. Mead. Londres, The Theosophical Publishing House, 1907. The Building of the Kosmos, Annie Besant. Adyar, The Theosophical Publishing House, 1894. The Evolution of Life and Form, Annie Besant, The Theosophical Publishing House. Benares & Londres, 1905. The Great Plan, Annie Besant. Adyar, The Theosophical Publishing House, 1921. Esoteric Writings, T. Subba Row. Adyar, The Theosophical Publishing House, 1931. Paradoxes of Higbest Sciences, Eliphas Lévi. Adyar, The Theosophical Publishing House, 1922. 557 First Príncipes of Theosophy, C. Jinarâjadâsa, M. A. (Cantab). Adyar, The Theosophical Publishing House. Primeira edição, 1938. Tibetan Yoga and Secret Doctrine, W. Y. Evans-Wentz, M. A., D. Litt., D. Sc, Londres, Oxford University Press, 1935. The Tibetan Book of the Dead, W. Y. Evans-Wantz, M. A., D. Litt., D. Sc. Londres, Oxford University Press, 1927. Com relação às Escrituras hindus, confucionistas, zoroastristas, budistas, islamistas, jainistas, etc, veja-se: The Sacred Books of the East — Série, edição de Max Müller, nos anos de 1906 e seguintes. Oxford, Clarendon Press. 558

GLOSSÁRIO DE TERMOS EMPREGADOS NAS SETE PRIMEIRAS ESTÂNCIAS DO LIVRO DE DZYAN ESTÂNCIA I

AH-HI — Hierarquia de seres espirituais. Em sua totalidade são as Forças ou Potestades inteligentes que presidem às chamadas “leis da Natureza”.

GRANDES CAUSAS DA DESGRAÇA — Os doze nidânas ou causas da existência, segundo a filosofia budista.

SETE SENHORES SUBLIMES — Os sete Logos planetários. As divindades que presidem às cadeias planetárias. Os Arcanjos Criadores dos cristãos. Os Ameshas pends dos zoroastrianos. PARANISHPANNA — A Perfeição Absoluta ou Paranirvâna. O estado que se alcança no fim de um grande período de atividade ou Mahâmanvantara.

OLHO ABERTO DE DANGMA — Chamado na índia o “Olho de Shiva”. Significa a intensa visão espiritual do Adepto ou Jivanmukta. Não é a clarividência ordinária, mas a faculdade de intuição espiritual, por cujo intermédio se obtém direto e seguro conhecimento. ALAYA — A Alma do Universo, a Super-Alma, segundo Emerson. 559

PARAMARTHA — Consciência e Existência Absolutas, o mesmo que Inconsciência e Não-Ser Absolutos.

ANUPÀDAKA — Sem pais, nascido sem progenitores. É o nome que na terminologia teosófica se dá ao segundo plano cósmico, onde a Mônada humana tem a sua verdadeira morada. Empregado na Estância para designar o Universo em sua eterna condição arúpica, antes de ser modelado pelos Construtores.

ESTÂNCIA II CONSTRUTORES — Os arquitetos de nossos sistemas planetários. Hierarquias de Inteligências espirituais relacionadas com a formação da matéria dos diferentes planos e a elaboração das formas (veja-se Genealogia do Homem, de Annie Besant).

DEVAMÂTRI — A “Mãe dos Deuses”. Aditi ou o espaço cósmico.

SVABHÂVAT — A essência plástica que enche o Universo. Sinônimo de Mûlaprakriti, ou seja, a Raiz da Matéria, não sendo, porém, matéria. Na Estância, De-vamâtri e Svabhâvat são descritas como se ainda não estivessem animadas pelo poder vibratório dos Construtores.

MATRIPADMA — Literalmente, Mãe-Lótus. O lótus é um antigo símbolo oriental do Cosmos, que se tornou popular porque a semente do lótus contém a miniatura 560 perfeita da futura planta; indica, portanto, que os protótipos espirituais de todas as coisas já existem no mundo invisível antes de se materializarem na terra.

REGAÇO DE MÂYÂ — A grande ilusão. A manifestação ou aparência, por trás da qual está a única Realidade.

OS SETE — Veja-se: “Sete Senhores Sublimes”, na Estância I. ESTÂNCIA III SÉTIMA ETERNIDADE — O mesmo que evo ou grande período. Manvantara.

OVO VIRGEM — Ovo eterno, do mundo ou do universo. Antigo símbolo típico da origem do universo procedente da matéria não diferenciada do espaço. Tal como no germe fecundado do ovo, com o despertar da energia cósmica criadora têm início a ação e a reação, surgindo do “vazio arúpico” as formas do Cosmos. O processo que se observa no desenvolvimento da célula germinal é o que dá melhor ideia da obra dos construtores invisíveis que atuam nos raios do Ovo do Mundo.

OEAOHOO — Nome místico de sete vogais que significa o Uno, o Pai-Mãe dos Deuses, o “Seis em Um”, ou a Raiz Setenária, da qual tudo procede. Em outra acepção, é o nome da Vida Única manifestada, da eterna Unidade vivente.

LANU — Estudante ou discípulo. 561

OEAOHOO, O MAIS JOVEM — Parece referir-se ao Ishvara de nosso universo, o Logos do sistema solar.

O PAI-MÃE URDE UMA TELA — Em relação ao sloka 10.°, recomendamos ao leitor que observe o processo microscópico da célula e do tecido formado entre os dois corpos polares (negativo e positivo) de uma célula viva.

OS FILHOS — As Potestades, Inteligências ou Deuses dos elementos.

FOHAT — A Doutrina Secreta o define dizendo que é a força inteligente que enlaça o Espírito com a Matéria. É a ponte através da qual passam as ideias da Mente a imprimir-se na substância cósmica como leis da Natureza. Fohat é a energia dinâmica da “ideação cósmica”. Em outros ensinamentos, Fohat é a “eletricidade cósmica”, e neste sentido convém lembrar a relação que existe entre a eletricidade e a atividade cerebral. (Veja-se o sloka 2.° da Estâ ncia V.) Nota: Diz-se que o sloka 1° desta Estância alude ao desenvolvimento das forças criadoras de acordo com a lei primária dos números; ao ressurgir das legiões de entidades cuja consciência fora absorvida na do Logos solar durante a noite do Pralaya ou período de não-manifestação.

ESTÂNCIA IV FILHOS DO FOGO — Em outras escrituras são chamados As Chamas, Filhos da Mente, Pitris Agnishvatta, etc. São os que modelam a mente do homem; os Dispensadores do Fogo Divino. Em todas as religiões e mitologias, o Fogo simboliza a 562 Divindade. (Vejam-se as Estâncias IV e VII do terceiro volume, e consulte-se a Genealogia do Homem, de Annie Besant.) OI-HA-HOU — Segundo a definição da Doutrina Secreta, é “a permutação de Oeaohoo, e entre os ocultistas da índia setentrional significa literalmente um torvelinho ou ciclone; mas na Estância indica o eterno e incessante movimento… É o eterno Kârana, a causa sempre ativa”.

ADI-SANAT — Literalmente, ancião primevo. O termo corresponde ao cabalístico “Ancião dos Dias”.

OS FILHOS, OS SETE COMBATENTES, O UM, O OITAVO EXCLUÍDO — Refere-se o sloka à formação do sistema solar, não segundo a hipótese de Laplace, mas pela condensação da matéria cometária, de cuja massa giratória se desprendeu em primeiro lugar o nosso sol.

OS LIPIKA — Literalmente, escribas ou registradores do Carma; os ajustadores ou “assessores” do destino que cada homem constrói para si mesmo. Nota: Os slokas 3° e 4° desta Estância enumeram a ordem em que surgem os diversos graus e hierarquias das Potestades espirituais. “Esferas, Triângulos, Cubos, Linhas e Modeladores referem-se às ordens da matéria elemental, isto é, os tattvas da filosofia hindu”. (Veja-se: Evolução da Vida e da Forma, de Annie Besant, e As forças Sutis da Natureza, de Rama Prasad.) 563 E

STÂNCIA V O TORVELINHO DE FOGO — Fohat ou Mensageiro dos Deuses.

DZYU CONVERTE-SE EM FOHAT — O verdadeiro conhecimento ou sabedoria oculta se converte em Fohat, ou energia criadora ativa do pensamento.

TRÊS, CINCO E SETE PASSOS ATRAVÉS DAS SETE REGIÕES SUPERIORES E DAS SETE INFERIORES — Trata-se dos planos e subplanos do cosmos solar.

CENTELHAS — Átomos. RODAS — Centros de força, em redor dos quais se forma a matéria cósmica que, passando por sucessivos estados de consolidação, vem finalmente a constituir os globos.

DIVINO ARUPA — O Universo de Pensamento sem forma.

CHÂYÂ LOKA — O mundo nebuloso de forma primária.

OS QUATRO SANTOS — Os quatro Mahârâjas, Devas, Anjos ou Regentes, que superintendem e governam as forças cósmicas dos quatro pontos cardeais. A cristandade romana mantém esta crença em conformidade com o ocultismo oriental. Os governantes dos quatro pontos cardeais são, de acordo com a tradição cristã: Norte: Arcanjo Gabriel 564 Este: Arcanjo Miguel Sul: Arcanjo Rafael Oeste: Arcanjo Uriel

O ANEL “NÃO PASSARÁS” — Tem vários significados ocultos. Na Estância, a interpretação exata corresponde a limite de consciência de todas as entidades que pertencem ao nosso sistema. Se considerarmos a vasta área do sistema solar coexistente com a aura do Logos solar, a superfície desta grande esfera será o Anel “Não Passarás”, ou o extremo limite da consciência de todas as entidades em evolução no sistema, porque nessa aura “vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”.

KALPA — Período de manifestação.

O GRANDE DIA “SÊ CONOSCO” — O descanso de Pralaya, ou Paranirvâna, que corresponde ao Dia do Juízo dos cristãos.

ESTÂNCIA VI KWAN-YIN, KWAN-SHAI-YIN, KWAN-YIN-TIEN — H. P. Blavatsky diz que esta Estância foi traduzida de um texto chinês, e que os nomes citados não têm equivalentes nos idiomas europeus; não sendo permitido tornar pública a verdadeira nomenclatura esotérica.

SIEN TCHAN — O nosso Universo. 565 O VELOZ E RADIANTE UM — Fohat.

CENTROS DE LAYA — Pontos ou núcleos em que tem início a diferenciação.

GERMES ELEMENTAIS — Os átomos da ciência.

DOS SETE — Os “Elementos” necessários para completar os sentidos. TSAN — Fração.

NA QUARTA — A Quarta Raça ou Raça Atlante. (Veja-Se A Doutrina Secreta, volume III, para maiores informações.)

AS RODAS MAIS ANTIGAS — Os Mundos ou Globos desta Cadeia Planetária, em seus primeiros períodos de manifestação.

COMBATES RENHIDOS — As antigas cosmogonias e mitologias nos falam da “Guerra no Céu”. Eis o que diz o Comentário ocultista: “Disseminados pelo Espaço, sem ordem nem sistema, os Germes do Mundo entram em frequentes colisões antes da junção final, e depois se convertem em vagabundos (cometas). Então começam os combates e as lutas. Os mais antigos (corpos) atraem os mais jovens, enquanto outros os repelem. Muitos sucumbem devorados pelos companheiros mais fortes. Os que escapam vão constituir-se em Mundos.” Tudo isso, bem considerado, deve ter relação com certos problemas astronômicos ainda não resolvidos. 566

PEQUENA RODA — É a nossa Cadeia de Globos. Nota: A fraseologia do 4° sloka desta Estância deve ser cuidadosamente examinada à luz dos modernos conceitos astronômicos, que estão invalidando a hipótese de Laplace sobre a formação do sistema solar. Difere, neste ponto, o argumento das Estâncias. Os versículos restantes, transcritos no volume I de A Doutrina Secreta, dizem respeito tão somente à evolução de nossa terra e aos seus habitantes.

ESTÂNCIA VII QUARTO RAIO — Nossa Terra; o quarto Globo da Cadeia.

ESPÍRITO-MÃE — Atman. ESPIRITUAL — Atma-Buddhi.

PRIMEIRO SENHOR — Ishvara ou Logos Solar. SETE RADIANTES — Os Sete Logos Planetários ou Logos criadores.

BHÜMI — A Terra. SAPTAPARNA — Planta sagrada de sete folhas, que simboliza o homem como ser constituído de sete princípios.

CHAMA DE TRÊS LÍNGUAS — A imortal Tríade Espiritual: Atma-Buddhi-Manas. 567

MECHAS E CENTELHAS — As Mônadas humanas.

SETE MUNDOS DE MÂYÂ — Os sete Globos da Cadeia Planetária, e também as sete Rondas.

O QUÍNTUPLO LHA — Os Filhos da Mente ou Pitris Agnishvâtta.

PEIXE, PECADO E SOMA — Três ocultos “símbolos do Ser imortal”, sobre os quais não dá o Comentário maiores explicações. PRIMEIRO NASCIDO — O Homem primitivo. Pode também significar a Primeira Raça.

VIGILANTE SILENCIOSO — A Mônada. O Deus interno do homem. SOMBRA — Os veículos transitórios da Mônada.

MUTAÇÃO — Reencarnação ou renascimento.

VAHAN — Veículo.

CONSTRUTORES — Nesta passagem, são os Seres Celestiais que se encarnaram entre as primeiras raças humanas, para governá-las e instruí-las, na qualidade de Reis Divinos, Sacerdotes ou Chefes. 568 Nota: O 1.° sloka da Estância se refere às Hierarqu ias de Potestades criadoras. (Para o estudo desta Estância será conveniente consultar a obra Genealogia do Homem, de Annie Besant.)

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