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Estância V Cosmogênese | Curso Astrothon
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Estância V Cosmogênese

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Fohat, o Filho das Hierarquias Setenárias

1. Filhos da Luz 2. A raiz do Homem Espiritual se converte em Divina por meio da própria experiência Cada Átomo possui potencialmente o Eu-consciência 3. Os sete Dhyân-Budhas 4. Fohat, a Força Criadora Potencial 5. A Mente Universal representa as Legiões dos mais elevados Dhyân Chohans criadores 6. O Sistema Solar é constituído por sete Princípios Fohat, em seu aspecto secundário, é a Energia Solar 7. Os “Três” e os “Sete” grandes passos de Vishnu 8. Círculos, curvas e Chakras 9. O Sete, um Número Sagrado i 10. A Lei de Movimento vertical 11. A Evolução dos Princípios da Natureza 12. A Unidade, uma lei fundamental na Ciência Oculta 13. O Mistério do Fogo 14. O Regente Celeste dos Quatro Pontos Cardeais 11 15. O significado real do Tabernáculo 16. O caráter das Rodas Aladas 17. Os Espíritos Planetários e os Lipika 18. O Anel “Não pássaras” 19. O Dia “Vem a Nós”.

1. Os Sete Primordiais, os Sete Primeiros Alentos do Dragão de Sabedoria, produzem por sua vez o Torvelinho de Fogo com os seus Sagrados Alentos de Circulação giratória.

De todas as Estâncias, talvez seja esta a mais difícil de explicar. Seus termos somente são compreensíveis para quem esteja muito versado na fraseologia das alegorias orientais, intencionalmente obscura.

Certamente que nos será feita a seguinte pergunta: Creem os ocultistas em todos esses “Construtores”, “Lipika” e “Filhos da Luz”, como Entidades, ou não passam de simples imagens?

Responderemos: Embora concedendo que haja o emprego de certas imagens para exprimir os Poderes personificados, temos que admitir a existência daquelas Entidades, a não ser que neguemos a existência da Humanidade Espiritual dentro da Humanidade física.

Porque os exércitos dos “Filhos da Luz”, os Filhos nascidos da Mente do Primeiro Raio manifestado do Todo Desconhecido, são a raiz mesma do Homem Espiritual.

A menos que acreditemos no dogma anti-filosófico da criação de uma alma especial para cada nascimento humano, e que, desde Adão, surgem diariamente novas coleções de almas, não há como deixar de admitir o ensinamento oculto.

É o que trataremos de esclarecer em tempo e lugar convenientes. Vejamos agora qual pode ser o sentido oculto desta Estância.

Ensina a Doutrina que, para chegarem a Deuses divinos e plenamente conscientes, as Inteligências Espirituais Primárias (inclusive as mais elevadas) têm que passar pela fase humana.

E a palavra “humana” não deve aqui aplicar-se tão somente à nossa humanidade terrestre, mas igualmente aos mortais que habitam todo e qualquer mundo, ou seja, àquelas Inteligências que alcançaram o necessário equilíbrio entre a matéria e o espírito, como nós agora, que já transpusemos o ponto médio da Quarta Raça-Raiz da Quarta Ronda.

Cada Entidade deve conquistar por si mesma o direito de converter-se em um ser divino, à custa da própria experiência.

Hegel, o grande pensador alemão, deve ter conhecido ou pressentido intuitivamente essa verdade, quando disse que o Inconsciente fez evolucionar o Universo “com a esperança de adquirir clara consciência de si mesmo”, ou, por outras palavras, de se tornar Ser Humano.

Outro não é também o significado da expressão purânica, tantas vezes repetida, de que Brahmâ é constantemente “impelido pelo desejo de criar”.

Da mesma ordem de ideias é o sentido secreto da frase cabalística: “O Sopro torna-se pedra; a pedra converte-se em planta; a planta em animal; o animal em homem; o homem em espírito; e o espírito em um deus.”

Os Filhos nascidos da Mente, os Rishis, os Construtores etc., foram todos seres humanos, quaisquer que tenham sido suas formas e aspectos em outros mundos e nos Manvantaras precedentes.

Sendo de caráter eminentemente místico este assunto, é mui difícil explicá-lo em todas as suas minúcias e consequências, pois nele se acha contido todo o mistério da criação evolutiva. Uma ou duas frases deste Sloka lembram de modo vivido expressões semelhantes da Cabala e da fraseologia do Rei Salmista . Uma e outra, referindo-se a Deus, fazem do vento o seu mensageiro, e de seus “ministros um fogo abrasador”.

Mas na Doutrina Secreta isso tem um sentido figurado.

O “Torvelinho de Fogo” é a poeira cósmica incandescente, que acompanha magneticamente, como a limalha de ferro ao ímã, o pensamento diretor das “Forças Criadoras”. Contudo, esta poeira cósmica é alguma coisa mais: porque cada átomo no Universo traz em si a potencialidade da própria consciência, e em última análise, como as Mônadas de Leibnitz, é um Universo em si mesmo e por si mesmo. É um átomo e um anjo.

A esse respeito, cabe observar que um dos luminares da moderna escola evolucionista, o Sr. A. R. Wallace, demonstrando a insuficiência da “seleção natural” como fator único no desenvolvimento do homem físico, admite praticamente as ideias que vimos de expor. Sustenta que a evolução do homem foi dirigida e impulsionada por Inteligências superiores, cuja ação faz parte, integrante e necessária do plano da Natureza.

Mas, desde o momento em que se admite a intervenção de tais Inteligências em determinado ponto, é forçoso, por uma questão de lógica, estendê-la a outros pontos. Não se pode traçar nenhuma limitação divisória rígida.

2. Dele fazem o Mensageiro de sua Vontade (a). O Dzyu converte-se em Fohat: o Filho veloz dos Filhos Divinos, cujos Filhos são os Lipika, leva mensagens circulares. Fohat é o Corcel, e o Pensamento o Cavaleiro. Ele passa como um raio através de nuvens de fogo (b) 302; dá Três, Cinco e Sete 299 Salmos, CIV, 4. 300 Cumpre não perder de vista a diferença que existe entre os Construtores, os Espíritos Planetários e os Lipika. (Vejam-se os Slokas 5 e 6 deste Comentário.) 301 Isto é: que está sob a influência de seu pensamento diretor. 302 Névoas cósmicas. 249 Passos através das Sete Regiões Superiores e das Sete Inferiores303. Ergue a sua Voz para chamar as Centelhas inumeráveis304 e as reúne (c).

(a) Isto quer dizer que os “Sete Primordiais” utilizam Fohat como veículo (Vâhana, o sujeito manifestado que se torna o símbolo do Poder que dirige).

Em consequência, Fohat é chamado o “Mensageiro de sua Vontade”, o “Torvelinho de Fogo”.

(b) “Dzyu converte-se em Fohat” — a expressão explica-se por si mesma. Dzyu é o único Conhecimento Verdadeiro (mágico) ou a Sabedoria Oculta, a qual, estando em relação com as verdades eternas e com as causas primeiras, se converte quase em onipotência quando se exerce na boa direção.

Sua antítese é Dzyu-mi, que diz respeito somente às ilusões e às falsas aparências, como é o caso de nossas modernas ciências exotéricas. Ali, Dzyu é a expressão da Sabedoria coletiva dos Dhyâni-Buddhas. Porque o leitor talvez nada conheça relativamente aos Dhyâni-Buddhas, importa esclarecer, desde logo, que, segundo os orientalistas, há cinco Dhyânis, que são os Buddhas Celestes, cujas manifestações no mundo da forma e da matéria são os Buddhas humanos. Esotericamente, porém, os Dhyâni-Buddhas são sete, dos quais apenas cinco se manifestaram até o presente305, devendo vir os outros dois nas Raças-Raízes Sexta e Sétima. São eles, por assim dizer, os eternos protótipos dos Buddhas que aparecem sobre a terra, cada um dos quais possui o seu divino protótipo particular. Assim, por exemplo, Amitâbha é o Dhyâni-Buddha de Gautama Shakya-muni, por meio do qual se manifesta sempre que esta grande Alma se 303

O Mundo que vai ser. 304 Os Átomos. 305 Veja-se Esoteric Buddhism, de A. P. Sinnett; quinta edição anotada, págs. 171-173 250 encarna na terra, como o fez em Tsong-kha-pa306. Como síntese dos sete DhyâniBuddhas, Avalokiteshvara foi o primeiro Buddha (o Logos), e Amitâbha é o “Deus” interno de Gautama, que na China é chamado Amida (Buddha). Eles são, como muito bem diz o Professor Rhys Davids, as “gloriosas contrapartidas no mundo místico, livres das condições depressivas desta vida material”, de cada Buddha terreno e mortal — os Mânushi-Buddhas que foram libertados e designados para governar a Terra durante esta Ronda. São os “Buddhas de Contemplação”, todos Anupâ-daka (sem pai), isto é, nascidos de si mesmos da essência divina. O ensinamento exotérico de que cada Dhyâni-Buddha possui a faculdade de criar de si mesmo um filho igualmente celeste, um Dhyâni-Bodhisattva, que após a morte do Mânushi-Buddha deve continuar a obra deste último, apóia-se no fato de que a mais elevada Iniciação conferida por um representante do “Espírito de Buddha” (de quem dizem os orientalistas que foi o criador dos cinco Dhyâni-Buddhas!) converte o candidato virtualmente em um Bodhisattva, graças ao poder do Grande Iniciador. (c) Sendo Fohat uma das mais importantes figuras, senão a mais, da cosmogonia esotérica, deve ser minuciosamente descrito. Assim como na cosmogonia grega arcaica, que difere muito da que veio depois, Eros é a terceira pessoa da trindade primitiva, Caos — Gaea — Eros — a qual corresponde à Trindade cabalística: Ain Suph, o Todo sem limites (pois Caos é o Espaço, de χαινω, abrir por completo, estar vazio), Shekinah e o Ancião dos Dias, ou Espírito Santo —, do mesmo modo Fohat é uma coisa no Universo ainda não manifestado, e outra coisa no Mundo fenomenal e cósmico.

Neste último, ele é aquele poder oculto, elétrico e vital, que, sob a Vontade do Logos Criador, une e relaciona todas as 306 O primeiro e maior Reformador tibetano, que fundou a seita dos “Gorros Amarelos” (Gelupkas). Nasceu no distrito de Amdo, no ano 1355 de nossa era, e foi o Avatar de Amitâbha, nome celeste de Gautama Buddha. 251 formas, dando-lhes o primeiro impulso, que com o tempo se converte em lei. Mas no Universo Não Manifestado Fohat não é isso, como Eros não é o brilhante Cupido alado posterior, ou o Amor. Fohat ainda nada tem a ver com o Cosmos, porque o Cosmos não é nascido e os Deuses dormem ainda no seio do Pai-Mãe. É uma idéia filosófica abstrata; não produziu ainda nada por si mesmo, é simplesmente o poder criador potencial, em virtude de cuja ação o Númeno de todos os fenômenos futuros se divide, por assim dizer, para reintegrar-se em um ato místico supra-sensível e emitir o Raio criador. Quando o “Filho Divino” exsurge, Fohat passa então a ser a força propulsora, o Poder ativo, que é a causa de o Um converter-se em Dois e em Três (no plano cósmico da manifestação). O tríplice Um se diferencia nos Muitos, e Fohat se transforma na força que reúne os átomos elementais e faz com que se aglutinem e se combinem entre si. Vemos um eco destes antiqüíssimos ensinamentos na mitologia grega primitiva. Erebos e Nux nascem de Caos, e, sob a ação de Eros, dão, por sua vez, nascimento a Æther e a Hemera, a luz da região superior e a da região inferior ou terrestre. Às Trevas engendram a Luz. Compare-se isto com a Vontade ou o “Desejo” de criar de Brahmâ, nos Purânas; e, na cosmogonia fenícia de Sanchoniathon, com a doutrina de que o desejo, πστοζ, é o princípio da criação.

Fohat está intimamente associado com a “Vida Una”. Do Um desconhecido, a Totalidade Infinita, emana o Um manifestado ou a Divindade Manvantárica periódica; e esta é a Mente Universal, que, separada de sua FonteOrigem, é o Demiurgo ou Logos Criador dos cabalistas ocidentais, e o Brahmâ de quatro fases da religião hindu. Em sua totalidade, e se o considerarmos do ponto de vista esotérico como o Pensamento Divino manifestado, ele representa os Exércitos dos mais elevados Dhyân Choans Criadores. Simultaneamente com a evolução da 252 Mente Universal, a Sabedoria oculta de Adi-Buddha — o Supremo e Eterno — se manifesta como Avalokiteshvara (ou Ishvara manifestado), que é o Osíris dos egípcios, o Ahura-Mazda dos zoroastrianos, o Homem Celeste dos filósofos herméticos, o Logo dos platônicos e o Âtman dos vedantinos307. Pela ação da Sabedoria Manifestada, ou Mahat — representada por estes inumeráveis centros de energia espiritual no Cosmos —, o Reflexo da Mente Universal, que é a Ideação Cósmica e a Força Intelectual que acompanha esta Ideação, se converte objetivamente no Fohat do Filósofo budista esotérico. Fohat, correndo ao longo dos sete princípios do Âkâsha, atua sobre a substância manifestada, ou o Elemento Único, como dissemos anteriormente, e, diferenciando-o em vários centros de energia, põe em movimento a lei de Evolução Cósmica, que, em obediência à Ideação da Mente Universal, produz todos os diversos estados do Ser, no Sistema Solar manifestado. O Sistema Solar, trazido à existência por esses agentes, está constituído por Sete Princípios, como tudo o que faz parte daqueles centros. Tal é o ensinamento do Esoterismo transhimalaico. Cada filosofia, no entanto, tem o seu sistema de classificar ou dividir os aludidos princípios. Fohat é, portanto, a personificação do poder elétrico vital, a unidade transcendente que enlaça todas as energias cósmicas, assim nos planos invisíveis como nos manifestados; sua ação Se parece — numa imensa escala — à de uma Força viva criada pela Vontade, naqueles fenômenos em que o aparentemente subjetivo atua sobre o aparentemente objetivo e o põe em movimento.

Fohat não é só o símbolo vivo e o Receptáculo daquela Força, mas também os ocultistas o consideram como uma Entidade, que opera sobre as forças cósmicas, humanas e 307 S. Subba Row, ao que parece, o identifica com o Logos, dando-lhe este nome. Veja-se o seu artigo Lectures on the Bhagavad Gitâ, em The Theosophist, vol. IX; e também The Philosophy of the Bhagavad Gitâ, 3ª edição, Adyar, 1931. 253 terrestres, e exerce sua influência em todos esses planos. No plano terrestre, a influência se faz sentir na força magnética e ativa produzida pela vontade enérgica do magnetizador. No plano cósmico, está presente no poder construtor que, na formação das coisas — do sistema planetário ao pirilampo e à singela margarida —, executa o plano que se acha na mente da Natureza ou no Pensamento Divino, com referência à evolução e crescimento de tudo o que existe. Metafisicamente, é o pensamento objetivado dos Deuses, o “Verbo feito carne” numa escala menor, e o mensageiro da Ideação cósmica e humana; a força ativa na Vida Universal. Em seu aspecto secundário, Fohat é a Energia Solar, o fluido elétrico vital e o Quarto Princípio, o Princípio de conservação, a Alma Animal da Natureza, por assim dizer, ou a Eletricidade. Em 1882, o Presidente da Sociedade Teosófica, Coronel Olcott, foi criticado por sustentar em uma de suas conferências que a Eletricidade é matéria.

É, no entanto, o que ensina a Doutrina Oculta. Podem-se dar à Eletricidade os nomes mais cômodos de “Força” ou “Energia”, enquanto a ciência européia não souber algo mais a seu respeito; mas na realidade outra coisa não é senão matéria, tal como o Éter, por ser também atômica, a despeito de vários graus a distanciarem deste último. Parece ridículo pretender que uma coisa, por ser imponderável para a ciência, não possa ter o nome de matéria. A Eletricidade é “imaterial” no sentido de que as suas moléculas não são suscetíveis de percepção ou de experiência; sem embargo, pode ser atômica (e os ocultistas o afirmam), sendo, portanto, matéria. Conceda-se, porém, que seja anticientífico tratá-la em termos semelhantes; uma vez que a ciência a considera como fonte de Energia, ou simplesmente a chama Força e Energia, como é possível pensar em Força ou Energia sem lhe acrescentar a idéia de Matéria? 254 O matemático Maxwell, uma das maiores autoridades em assuntos de eletricidade e fenômenos elétricos, disse há alguns anos que a eletricidade é matéria, e não simplesmente movimento. “Se aceitarmos a hipótese de que as substâncias elementares são compostas de átomos, não poderemos evitar a conclusão de que a Eletricidade, positiva ou negativa, se divida também em partículas elementares definidas, que se comportam como átomos elétricos308”. Nós vamos ainda mais longe, e sustentamos que a Eletricidade não só é Substância mas a emanação de uma Entidade, que não é nem Deus nem o Diabo, mas uma daquelas inúmeras Entidades que regem e dirigem o nosso mundo, de acordo com a eterna lei do Carma.

Voltemos a Fohat. Na Índia, é ele associado a Vishnu e Surya, no caráter primitivo atribuído ao primeiro destes deuses; pois no Rig Veda Vishnu não é um Deus de categoria superior.

O nome de Vishnu procede da raiz vish, “penetrar”, e Fohat é chamado “Aquele que penetra” e o Fabricante, porque dá forma aos átomos oriundos da matéria informe309. Nos textos sagrados do Rig Veda, é também Vishnu “uma manifestação da Energia Solar”, sendo descrito como “dando três passos através das Sete regiões do Universo”; mas este Deus védico tem muito pouco de comum com o Vishnu dos tempos ulteriores. Os dois (Fohat e Vishnu) são, portanto, idênticos neste sentido particular, sendo um a cópia do outro. Os Três e os Sete “Passos” referem-se às sete esferas habitadas pelo homem, segundo a Doutrina Esotérica, assim como às sete regiões da Terra. Apesar das freqüentes objeções dos pseudo-orientalistas, as escrituras exotéricas hindus aludem claramente aos Sete Mundos ou Esferas de nossa Cadeia Planetária. É surpreendente que todos esses números se achem associados a números idênticos 308 Faraday Lectures, 1881, Helmholtz 309 É sabido que a areia, quando colocada numa placa metálica em vibração, assume uma série de figuras regulares e curvas de várias formas. Pode a Ciência dar uma explicação completa desse fato? 255 em outras cosmogonias e seus símbolos, como se pode ver pelo estudo comparado e paralelo das velhas religiões. Os “três passos de Vishnu” através das “sete regiões do Universo”, no Rig Veda, foram explicados de várias maneiras pelos comentadores, ora como significando cosmicamente o fogo, o raio e o sol, ora como tendo sido dados na terra, na atmosfera e no céu; entendendo outros que eram os “três passos do Anão” (encarnação de Vishnu); muito embora Aurna-vâbha houvesse dito em termos mais filosóficos, e corretos do ponto de vista astronômico, que significavam as diversas posições do sol: orto, zênite e ocaso. Só a Filosofia Esotérica oferece a explicação clara, se bem que o Zohar o exponha de modo bem filosófico e compreensível. Neste último se lê, efetivamente, que no princípio os Elohim (Alhim) eram chamados Echad, “Um”, ou a “Divindade, Um em Muitos”, idéia bem simples como concepção panteísta (panteísta, é claro, no seu sentido filosófico). Em seguida veio a transformação: “Jehovah é Elohim”, unificando assim a multiplicidade e dando o primeiro passo para o monoteísmo. Surge a questão: “Como Jehovah é Elohim?” E a resposta é: “Por Três Passos.” A significação é clara. Os Passos são símbolos e emblemas, mútuos e correlativos, do Espírito, da Alma e do Corpo (Homem); do Círculo transformado em Espírito, da Alma do Mundo, e de seu Corpo (a Terra). Saindo do Círculo Infinito, que nenhum homem compreende, Ain Suph, sinônimo cabalístico de Parabrahman, do Zeroâna Akerne dos masdeístas, ou de qualquer outro “Incognoscível”, converte-se em “UM” (o Echad, o Eka, o Ahu); então ele (ou aquilo) se transforma pela evolução no “Um em Muitos”, os Dhyâni-Buddhas ou Elohim, ou ainda os Amshaspends, dando seu terceiro passo na geração da carne (ou o Homem). E do Homem ou Jah-Hovah, “(macho-fêmea”), a entidade interna ou divina se converte, no plano metafísico, outra vez nos Elohim. 256

Os números 3, 5 e 7 são preeminentes na maçonaria especulativa, conforme já mostramos em Ísis sem Véu. Diz um mação: “Há 3, 5 e 7 passos para indicar um passeio circular. As três faces de 3, 3; 5, 3; e 7, 3 etc. Algumas vezes vem desta forma: 753/2 = 376.5, e 7635/2 = 3817.5; a razão de 20612/6561 pés por côvado dá as medidas da Grande Pirâmide etc.” Três, cinco e sete são números místicos; o último e o primeiro são sobremaneira venerados tanto pelos maçons como pelos parses, e o Triângulo em toda a parte é um símbolo da Divindade310. Há, naturalmente, doutores em Teologia — Cassel por exemplo — que dizem estar no Zohar a explicação e o fundamento da Trindade cristã (!). Ora, este dogma tem sua verdadeira origem no Triângulo do Ocultismo e da Simbologia arcaica dos pagãos. Os Três Passos se referem, metafisicamente, à descida do Espírito na Matéria, ou à queda do Logos, como um resplendor, primeiro no espírito, depois na alma, e por último na forma física do homem, na qual se converte em Vida. A idéia cabalística é idêntica à do Esoterismo do período arcaico. Esse Esoterismo é propriedade comum de todos: não pertence nem à Quinta Raça ariana, nem a nenhuma de suas numerosas sub-raças. Não pode ser reivindicada pelos chamados turanianos, nem pelos egípcios, chineses ou caldeus, nem por alguma das sete divisões da Quinta Raça-Raiz, pertencendo antes às Raças-Raízes 310 Veja-se The Masonic Cyclopaedia, de Mackenzie, e The Pythagorean Triangle, de Oliver. 257 Terceira e Quarta, cujos descendentes se encontram na origem da Quinta: os primitivos ários. Em todas as nações o Círculo era o símbolo do Desconhecido — o “Espaço Sem Limites”, o aspecto abstrato de uma abstração sempre presente —, a Divindade Incognoscível. Ele representa o Tempo sem limites na Eternidade. O Zeroâna Akerne é também o “Círculo sem limites do Tempo desconhecido”; deste Círculo brota a Luz radiante, o Sol Universal ou Ormuzd311 , sendo o último idêntico a Cronos em sua forma eólia, a de um círculo. Porque o Círculo é Sar e Saros, ou Ciclo. Era o Deus babilônico, cujo horizonte circular era o símbolo visível do invisível, ao passo que o Sol era o Círculo Uno, de onde procediam os Orbes cósmicos, dos quais era considerado o chefe. Zeroâna é o Chakra ou Círculo de Vishnu, o emblema misterioso que, conforme a definição de um místico, é “uma curva de natureza tal que uma de suas partes, por menor que seja, sendo prolongada indefinidamente em qualquer sentido voltaria finalmente a entrar em si mesma, formando uma só e mesma curva ou o que chamamos um círculo”. Não se pode dar melhor definição do símbolo próprio e da natureza evidente da Divindade, a qual, tendo a sua circunferência em toda a parte (o ilimitado), tem, conseqüentemente, o seu ponto central também em toda a parte; ou, por outras palavras, se encontra em cada ponto do Universo. A Divindade invisível é, assim, também os Dhyân Chohâns ou os Rishis, os sete primitivos, os nove, sem a unidade sintética, e os dez, incluindo esta última, daqui passando ao Homem. Voltando ao comentário 4º da Estância IV, compreenderá o leitor agora por que, enquanto o Chakra trans-himalaico contém inscritos | | — ou seja, o triângulo, a primeira linha, o quadrado, a segunda linha e o pentágono 311 Ormuzd é o Logos, o “Primogênito”, e o Sol. 258 (estrela de cinco pontas) com um ponto no centro, ou alguma variante —, o Círculo cabalístico dos Elohim revela, quando as letras da palavra (Alhim ou Elohim) são lidas numericamente, os famosos números 13514 ou, anagramaticamente, 31415, o π astronômico ou o significado oculto dos DhyâniBuddhas, dos Gebers, dos Giburim, dos Cabiros e dos Elohim, todos significando “Grandes Homens”, “Titãs”, “Homens Celestes” e, na terra, “Gigantes”. O Sete era um Número Sagrado em todas as nações; mas nenhuma lhe deu uso tão fisiológico e materialista quanto os hebreus. Para estes, o 7 era por excelência o número gerador, e o 9 o número masculino, o da causa, formando, segundo fazem ver os cabalistas, o “otz” (90, 70312), ou a “Árvore do Jardim do Éden”, a “dupla vara hermafrodita” da Quarta Raça. Era o símbolo do Sanctum Sanctorum, o 3 e o 4 da separação sexual. Quase todas as 22 letras do alfabeto hebraico são símbolos fálicos. Das duas letras acima, o ayin é um signo feminino negativo, simbolicamente um olho; a outra, uma letra masculina, tzâ, um anzol ou dardo para peixes. Mas para os hindus e os arianos em geral o significado era múltiplo e se referia quase totalmente às verdades puramente metafísicas e astronômicas. Seus Rishis e Deuses, seus Demônios e Heróis possuem significados históricos e éticos. Entretanto, vemos que um cabalista, comparando a Cabala e o Zohar com o Esoterismo ariano, em obra ainda inédita, declara o seguinte: “O sistema hebreu, claro, breve, acabado e preciso, sobrepuja em muito a emaranhada fraseologia dos hindus — 312 Os números estão invertidos. O correto seria (90 – tsade) e (70 – kwain). Resolvi não alterar o texto original de HPB. (Sandra). 259 como aquilo do salmista para exprimir idéia semelhante: ‘Minha boca fala com a minha língua, não conheço os teus números’ (LXXI, 15)… O emblema hindu, pela insuficiência que revela em sua estranha mistura de aspectos diversos, mostra haver copiado muita coisa de outras línguas, tal como o fizeram os gregos (os gregos embusteiros) e a maçonaria; o que, mesmo na rude pobreza monossilábica (aparente) do hebreu, evidencia que este último veio de uma antigüidade muito mais remota do que qualquer uma daquelas línguas, das quais deve ter sido a fonte (! ?) ou estará, pelo menos, mais próximo da fonte original.” Está completamente errado. Pelo visto, o nosso ilustre confrade e correspondente julga os sistemas religiosos hindus por seus Shâstras e Purânas, provavelmente pelos últimos e, sobretudo, pelas traduções modernas dos orientalistas, em que os textos foram desfigurados ao ponto de ficarem quase irreconhecíveis. É aos seus sistemas filosóficos, e principalmente aos seus ensinamentos esotéricos, que devemos recorrer, se queremos estabelecer uma comparação. Não há dúvida que a simbologia do Pentateuco e a do Novo Testamento procedem de uma origem comum. Mas certamente que a pirâmide de Queops, cujas dimensões o Professor Piazzi Smyth descobriu haverem sido todas reproduzidas no pretendido e mítico Templo de Salomão, não é de data posterior à dos livros mosaicos. Por conseguinte, se existe tanta identidade como se quer fazer acreditar, a imitação servil deve ser imputada aos judeus, e não aos egípcios. Os emblemas 260 judeus — e até mesmo a língua hebraica — não são originais. Foram tomados aos egípcios, de quem Moisés adquiriu a sua sabedoria; dos Coptos, parentes prováveis, senão antepassados, dos antigos Fenícios e dos Hicsos, que Joseph pretende sejam os antepassados dos povos egípcios313. Sim; mas quem são os pastores Hicsos? E quem os Egípcios? A história nada sabe, e as especulações e teorias se sucedem a esse respeito, segundo o gosto e as inclinações dos historiadores314. “O Khamismo, ou antigo copto, procede da Ásia Ocidental e contém algum germe do semítico, testemunhando assim a unidade primitiva de parentesco das raças arianas e semíticas”, diz Bun-sen, que situa os grandes acontecimentos do Egito em 9.000 anos antes de nossa era. A verdade é que no esoterismo arcaico e no pensamento ariano nós encontramos uma grande filosofia, ao passo que nos anais hebreus não vemos senão um surpreendente engenho para inventar apoteoses ao culto fálico e à teogonia sexual. Que os Arianos jamais fizeram basear sua religião unicamente em símbolos fisiológicos, como os antigos Hebreus, pode evidenciar-se das escrituras exotéricas hindus. É igualmente certo que os textos hindus foram escritos de maneira velada, conforme o demonstram as suas contradições, existindo uma explicação diferente em quase cada um dos Purânas ou dos poemas épicos. Lidos, porém, à luz do esoterismo, o sentido é o mesmo em todos eles. Por exemplo, em certa narrativa se enumeram sete mundos, excluindo os mundos inferiores, que são também sete; estes quatorze mundos superiores e inferiores nada têm a ver com a classificação da Cadeia Setenária, e pertencem aos mundos puramente etéreos e invisíveis. Sobre eles diremos mais tarde. Basta mostrar, no momento, que a alusão é feita intencionalmente como se pertencessem à Cadeia. “Outra enumeração dá 313 Contra Apion, I, 25. 314 Veja-se Ísis sem Véu, II, 430, 438. 261 aos sete mundos os nomes de terra, firmamento, céu, região intermediária, lugar de nascimento, mansão de bem-aventurança e habitação da verdade, colocando os Filhos de Brahmâ na sexta divisão e declarando que a quinta, Jana-loka, é aquela onde renascem os animais destruídos na conflagração geral315”. Nos capítulos seguintes sobre Simbolismo apresentaremos alguns ensinamentos realmente esotéricos. Aqueles que se acharem preparados compreender-lhes-ão o significado oculto. 3. Ele é o seu condutor, o espírito que as guia. Ao iniciar a sua obra, separa as Centelhas do Reino Inferior316, que se agitam e vibram de alegria em suas radiantes moradas317, e com elas forma os Germes das Rodas. Colocando-as nas Seis Direções do Espaço, deixa uma no Centro: a Roda Central. “Rodas”, como já explicamos, são os centros de força em torno dos quais se expande a matéria cósmica primordial, que, passando por todos os seis graus de consolidação, se torna esferoidal e termina por se transformar em globos ou esferas. Um dos princípios fundamentais da cosmogonia esotérica é que, durante os Kalpas (ou Evos) de Vida, o Movimento — que nos períodos de Repouso “pulsa e vibra através de cada átomo adormecido” — adquire uma tendência para o movimento circular, que vai sempre crescendo, desde o despertar do Cosmos até um novo “Dia”. “A Divindade se converte em um Torvelinho.” Pode-se fazer esta pergunta, que também ocorreu à autora: Quem pode averiguar a diferenciação daquele Movimento, se toda a Natureza se acha reduzida à sua essência primeira, não havendo ali ninguém para observá-la, nem sequer um 315 Veja-se Hindu Classical Dictionary de Dowson. 316 Os átomos minerais. 317 As nuvens gasosas. 262 dos Dhyân Chohans, então todos em Nirvana? Eis aqui a resposta: “Na Natureza, tudo deve ser julgado por analogia. Embora as Divindades mais elevadas (Arcanjos ou Dhyâni-Buddhas) sejam incapazes de penetrar os mistérios que se passam a distâncias incomensuráveis do nosso Sistema Planetário e do Cosmos visível, existiram, contudo, naqueles tempos antigos, grandes videntes e profetas que puderam perceber o mistério do Sopro e do Movimento, retrospectivamente, quando os sistemas de Mundos permaneciam em repouso e mergulhados em seu sono periódico.” As Rodas são também chamadas Rotas (as Rodas em movimento dos orbes celestes que tomam parte na criação do mundo), quando a significação em vista se refere ao princípio animador das estrelas e dos planetas; porque na Cabala são elas representadas pelos Auphanim, os Anjos das Esferas e das Estrelas, de que são as Almas animadoras318 . A lei do movimento rotatório na matéria primordial é uma das mais antigas concepções da filosofia grega, cujos primeiros sábios históricos eram quase todos Iniciados nos Mistérios. Os Gregos a deviam aos Egípcios, e estes aos Caldeus, que por sua vez foram discípulos dos brâmanes da Escola Esotérica. Leucipo e Demócrito de Adbera — o discípulo dos Magos — ensinaram que o movimento giratório dos átomos e das esferas existiu desde a eternidade319. Hicetas, Heráclides, Ecfanto, Pitágoras e todos os seus discípulos ensinaram a rotação da 318 Veja-se Kabbalah Denudata, “De Anima”, página 113. 319 “A doutrina da rotação da terra sobre um eixo foi ensinada por Hicetas, o Pitagórico, provavelmente 500 anos antes de nossa era. Também o foi por seu discípulo Ecfanto e por Heráclides, discípulo de Platão. A imobilidade do Sol e a revolução da terra sobre uma órbita foram expostas por Aristarco de Samos em 381 A.C., como suposições conformes aos fatos observados. A teoria heliocêntrica foi igualmente ensinada, cerca de 150 anos antes de nossa era, por Seleuco de Selêucia, às margens do Tigre.” (Pitágoras a ensinava 500 anos antes de nossa era. — H. P. B.) “Diz-se também que Arquimedes falava da teoria heliocêntrica em uma obra intitulada Psammites. A forma esférica da terra foi claramente ensinada por Aristóteles, que apresentava como prova o contorno da sombra projetada pela terra sobre a lua, durante os eclipses. (Aristóteles, De Coelo, livro II, cap. XIV). Plínio defendeu a mesma idéia (Histeria Natural, II, 65). Essas opiniões parece que ficaram perdidas para o conhecimento humano por mais de mil anos…” (Winchell, World-Life, 551-2). 263 terra; e Ariabhata da Índia, Aristarco, Seleuco e Arquimedes calcularam sua revolução tão cientificamente como o fazem hoje os astrônomos; e a teoria dos vórtices Elementais era conhecida de Anaxágoras, que a sustentava 500 anos antes de nossa era, isto é, quase 2.000 anos antes que fosse admitida por Galileu, Descartes, Swedenborg e, finalmente, com ligeiras modificações, por Sir W. Thomson320. Todas essas noções, se queremos ser justos, são ecos da doutrina arcaica, que ora pretendemos expor. Como puderam homens de ciência destes últimos séculos chegar às mesmas idéias e conclusões já ensinadas como verdades axiomáticas no recesso dos Adyta há várias dúzias de milênios? É questão de que nos ocuparemos à parte. Alguns foram a elas conduzidos pelo natural progresso da ciência física e por meio da observação independente; outros, como Copérnico, Swedenborg e alguns poucos mais, sem embargo de seus grandes conhecimentos, deveram o saber muito mais à sua intuição do que aos seus esforços diretos e pessoais através dos processos normais de estudo. Swedenborg, que não teve oportunidade de conhecer as idéias esotéricas do Budismo, chegou por si só, em suas concepções gerais, muito perto do ensinamento oculto, do que é prova o seu ensaio sobre a Teoria dos Vórtices. Na tradução de Clissold, citada pelo Professor Winchell 321, deparamos o seguinte resumo: “A causa primeira é o infinito ou ilimitado. Ela confere existência ao primeiro finito ou limitado.” [O Logos em sua manifestação e o Universo.] “O que produz um limite é 320 On Vortex Atoms. 321 Op.cit.,567. 264 análogo ao movimento.” [Veja-se Estância I supra.] “O limite produzido é um ponto, cuja essência é o movimento; mas, carecendo de partes, esta essência não é movimento efetivo, senão o seu connatus simplesmente.” [Em nossa Doutrina não é um connatus, mas uma transformação do que é Vibração Eterna no Não-Manifestado, do Movimento em vórtices no Mundo fenomenal ou manifestado.] “Daquele princípio procedem a expansão, o espaço, a forma e a sucessão ou tempo. Assim como em geometria um ponto gera uma linha, uma linha gera uma superfície, e a superfície um sólido, assim também o connatus do ponto tende para linhas, superfícies e sólidos. Em outras palavras, o Universo está contido in ovo no primeiro ponto natural. O Movimento para o qual tende o connatus é circular, pois o círculo é a mais perfeita de todas as figuras… O mais perfeito gênero de movimento deve ser o movimento circular perpétuo; isto é, um movimento provindo do centro para a periferia, e da periferia para o centro322”. Tudo isso é pura e simplesmente Ocultismo. As “Seis direções do Espaço” significam aqui o “Duplo Triângulo”, e união e fusão do Espírito puro e da Matéria, do Arûpa e do Rûpa, de que os Triângulos são um Símbolo. O Duplo Triângulo é um símbolo de Vishnu; é o Selo de Salomão e o Shrî-Antara dos brâmanes. 322 Extraído de Principia Rerum Naturalium. 265 4. Fohat traça linhas espirais para unir a Sexta à Sétima — a Coroa (a). Um Exército dos Filhos da Luz situa-se em cada um dos ângulos; os Lipika ficam na Roda Central (b). Dizem eles323: “Isto é bom.” O primeiro Mundo Divino está pronto; o Primeiro, o Segundo324. Então o “Divino Arûpa325 se reflete no Chhâyâ Loka326, a Primeira Veste de Anupâdaka (c). (a) Este traçado de “linhas espirais” se refere tanto à evolução dos Princípios do Homem como à evolução dos Princípios da Natureza; evolução que se processa gradualmente, como sucede com todas as coisas na Natureza. O Sexto Princípio do Homem (Buddhi, a Alma Divina), sendo embora um simples sopro em nossas concepções, representa, contudo, algo material quando comparado com o Espírito Divino (Âtmâ), do qual é mensageiro e veículo. Fohat, em sua qualidade de Amor Divino (Eros), o poder elétrico de afinidade e simpatia, figura alegoricamente como buscando unir o Espírito puro, o Raio inseparável do Um Absoluto, com a Alma, constituindo os dois a Mônada no Homem, e na Natureza o primeiro elo entre o sempre incondicionado e o manifestado. “O Primeiro é agora o Segundo (Mundo)” — dos Lipika: esta frase encerra a mesma idéia. (b) O “Exército” em cada ângulo é a Legião de Seres Angélicos (DhyânChohans), designados para guiar cada região e velar por ela, desde o princípio até o fim do Manvantara. São os “Vigilantes Místicos” dos cabalistas cristãos e dos 323 Os Lipika. 324 Isto é: o Primeiro é agora o Segundo Mundo. 325 O Universo sem forma do Pensamento. 326 O Mundo de Sombras da Forma Primitiva, ou o Mundo Intelectual. 266 alquimistas, e estão relacionados simbolicamente, como também astronomicamente, com o sistema numérico do Universo. Os números a que se acham associados estes Seres celestes são sumamente difíceis de explicar, pois cada número é comparável a diversos grupos de idéias distintas, conforme o grupo particular de Anjos que se pretende representar. É aí que está o nodus do estudo do simbolismo, em relação ao qual tantos sábios, incapazes de desatá-lo, preferiram fazer como Alexandre ao nó górdio; dando como resultado direto tantos conceitos e ensinamentos errôneos. (c) O “Primeiro é o Segundo”, porque o Primeiro não pode ser classificado ou considerado como tal, já que este é o reino do número em sua manifestação primária: o umbral do Mundo da Verdade ou Sat, através do qual a energia direta, que se irradia da Realidade Una (a Divindade Sem Nome), vem até nós. Ainda aqui é possível que o termo intraduzível Sat (a Seidade) dê lugar novamente a uma concepção errônea, pois o que é manifestado não pode ser Sat, mas algo fenomenal, não eterno, e em verdade nem mesmo sempiterno. É coevo e coexistente com a Vida Una, “Sem Segundo”; mas, como manifestação, é ainda Mâyâ, tal qual o resto. Este “Mundo da Verdade”, segundo o Comentário, não pode ser descrito senão como “uma estrela resplandecente, que se desprende do Coração da Eternidade: o farol da esperança, de cujos Sete Raios pendem os Sete Mundos do Ser”. Verdadeiramente é assim, uma vez que são as Sete Luzes cujos reflexos constituem as imortais Mônadas humanas, o Âtmâ, ou o Espírito radiante de toda criatura pertencente à família humana. Primeiro essa Luz Setenária; depois o “Mundo Divino” — as inumeráveis luzes acesas na Luz primordial — os Buddhis, ou Almas Divinas sem forma, do 267 último Mundo Arûpa (sem forma); a “Soma Total” na linguagem misteriosa da velha Estância. No Catecismo, assim pergunta o Mestre ao discípulo: “Levanta a cabeça, ó Lanu! Vês uma luz ou luzes inumeráveis por cima de ti, brilhando no céu negro da meianoite? “Eu percebo uma chama, ó Gurudeva! Vejo milhares de centelhas não destacadas, que nela brilham. “Dizes bem. E agora observa em torno de ti, e dentro de ti mesmo. Essa luz que arde no teu interior, porventura a sentes de alguma maneira diferente da luz que brilha em teus irmãos humanos? “Não é de modo algum diferente, embora o prisioneiro continue seguro pelo Carma e as suas vestes externas enganem os ignorantes, induzindo-os a dizer: Tua Alma e Minha Alma.” A lei fundamental da Ciência Oculta é a unidade radical da essência última de cada parte constitutiva dos elementos compostos da Natureza, desde a estrela ao átomo mineral, desde o mais elevado Dhyân Chohan ao mais humilde dos infusórios, na completa acepção da palavra, quer se aplique ao mundo espiritual, quer ao intelectual ou ao físico. “A Divindade é um ilimitado e infinito expandir-se” — 268 diz um axioma oculto —, e daí é que vem o nome de Brahmâ, conforme já tivemos ocasião de assinalar327 . Há uma profunda filosofia no culto mais primitivo do mundo: o do Sol e do Fogo. De todos os elementos conhecidos da ciência física, o Fogo é o que até agora mais tem escapado a uma análise definida. Do ar se afirma com segurança que é uma mistura de oxigênio e azoto. Consideramos o Universo e a Terra como matéria constituída de moléculas químicas definidas. Falamos das dez terras primitivas dando a cada uma delas um nome grego ou latino. Dizemos que a água é, quimicamente, um composto de oxigênio e hidrogênio. Mas que é o Fogo? É o efeito da combustão, respondem-nos com toda a seriedade. É calor, luz e movimento, e uma correlação de forças físicas e químicas em geral. Esta definição científica é filosoficamente complementada pela teológica do Dicionário de Webster, que explica o fogo como “o instrumento do castigo ou a punição do impenitente em outro estado”; o “estado” — seja dito de passagem — supõe-se que é o espiritual; mas, oh! a presença do fogo corresponderia a uma prova convincente de sua natureza material. Entretanto, referindo-se à ilusão em que incidimos ao encarar os fenômenos como coisas simples por nos serem familiares, eis o que diz o Professor Bain: “Os fatos habituais parecem não necessitar de nenhuma explicação, e servir ao mesmo tempo para explicar tudo aquilo que lhes possa ser assimilado. Assim, por exemplo, o fato da ebulição e evaporação de um líquido parece um fenômeno bem simples, dispensando qualquer explicação, 327 No Rig Veda encontramos os nome Brahmanaspati e Brihaspati, que se alternam e são equivalentes um do outro. Veja-se também Brihadâranyaha Upanishad; Brihaspati é uma divindade conhecida como o “Pai dos Deuses”. 269 mas- que explica de modo satisfatório e suficiente outros fenômenos mais raros. Que a água deva evaporar-se é uma coisa de todo compreensível ao espírito ignorante; ao passo que, para o homem que conhece a ciência física, o estado líquido é anômalo e inexplicável. Acender fogo com uma chama é uma grande dificuldade científica, embora pouca gente tenha consciência disso328.” Que diz o ensinamento esotérico a respeito do Fogo? “O Fogo é o reflexo mais perfeito e não adulterado, assim no Céu como na Terra, da Chama Una. É a Vida e a Morte, a origem e o fim de todas as coisas materiais. É a Substância divina.” Assim é que não só os adoradores do Fogo, os parses, mas até as tribos errantes e selvagens da América, que se dizem “nascidas do fogo”, demonstram mais ciência em sua fé e mais verdade em suas superstições que todas as especulações da física e da erudição moderna. O cristão que proclama “Deus é um Fogo vivente”, e fala das “Línguas de Fogo” do Pentecostes e da “sarça ardente” de Moisés, é tão adorador do fogo como qualquer “pagão”. Dentre os místicos e cabalistas, os Rosacruzes foram os que definiram mais corretamente o Fogo. “Tomai uma lâmpada de custo insignificante, alimentai-a de óleo, e podereis acender em sua chama as lâmpadas, as velas e os fogos do globo inteiro, sem que a chama diminua”. 328 Logic, II, 125. 270 Se a Divindade, o Radical Uno, é uma Substância eterna e infinita, que jamais se consome (“o Senhor teu Deus é um fogo abrasador329”), não parece razoável que se tenha como antifilosófico o ensinamento oculto, quando diz: “Assim foram formados os (Mundos) Arûpa e Rûpa: de uma Luz, sete Luzes; de cada uma das Sete, sete vezes Sete” etc. 5. Fohat dá cinco passos (a) 330, e constrói uma roda alada em cada um dos ângulos do quadrado para os Quatro Santos… e seus Exércitos (b). (a) Os “Passos”, como já explicamos no último Comentário, se referem tanto aos Princípios cósmicos como aos humanos; sendo estes últimos, segundo a divisão exotérica, três (Espírito, Alma e Corpo), e, pela classificação esotérica, sete Princípios: três Raios da Essência e quatro Aspectos 331. Os que tiverem estudado o Esoteric Buddhism do Sr. Sinnett, poderão facilmente compreender a nomenclatura. Existem, do outro lado dos Himalaias, duas escolas esotéricas, ou antes, uma escola dividida em duas seções: uma para os Lanus internos, e outra para os Cheias externos ou semilaicos; a primeira ensina uma divisão em sete Princípios humanos, e a outra em seis. Do ponto de vista cósmico, os “Cinco Passos” de Fohat significam aqui os cinco planos superiores da Consciência e do Ser; o sexto e o sétimo (contando de cima para baixo) são o astral e o terrestre, os dois planos inferiores. 329 Deuteronômio, IV, 24. 330 Após haver dado os três primeiros. 331 Os quatro Aspectos são o corpo, a sua vida ou vitalidade e o “duplo” do corpo — a tríade que desaparece com a morte da pessoa — e o Kama-Rûpa, que se desintegra no Kâma-Loka. 271 (b) Quatro “Rodas Aladas em cada ângulo… para os Quatro Santos e seus Exércitos (Legiões)”. São os “Quatro Mahârajâs” ou grandes Reis, dos Dhyân Chohans, Devas, que presidem a cada um dos quatro pontos cardeais. São os Regentes ou Anjos que governam as Forças Cósmicas do Norte, Sul, Este e Oeste; Forças que possuem cada qual uma propriedade oculta distinta. Tais Seres estão ainda relacionados com o Carma, que requer agentes físicos e materiais para executarem os seus decretos — como sejam, por exemplo, as quatro classes de ventos, aos quais a própria ciência reconhece exercerem influências nocivas e benéficas sobre a saúde dos homens e dos seres vivos em geral. Encerra uma filosofia oculta a doutrina católica romana que atribui as diversas calamidades públicas — epidemias, guerras, etc. — aos invisíveis “Mensageiros” do Norte e do Oeste. “A glória de Deus vem pelo caminho do Oriente”, diz Ezequiel332; Jeremias, Isaías e o Salmista asseguram aos seus leitores que todo o mal existente sob o Sol procede do Norte e do Oeste — o que, se aplicado à nação judia, soa como inegável profecia. E isso também explica a declaração de Santo Ambrósio333 de que aí está precisamente a razão porque “nós maldizemos o vento Norte e, na cerimônia do batismo, começamos por nos voltar para o Ocidente (sideral), a fim de melhor renunciarmos àquele que ali habita: após o que nos viramos para o Oriente”. A crença nos “Quatro Mahârâjas” — os Regentes dos quatro pontos cardeais — era universal, e ainda é partilhada pelos cristãos, que lhes chamam, segundo Santo Agostinho, “Virtudes Angélicas” e “Espíritos”, quando são eles que os invocam, e “Diabos” quando a invocação é feita pelos pagãos. Mas onde a diferença, neste caso, entre pagãos e cristãos? Escreve o erudito Vossius: 332 Capítulo III, 4. 333 Sobre Amos, IV. 272 “Apesar de Santo Agostinho dizer que todas as coisas visíveis deste mundo têm como guardião uma virtude angélica, não se deve entender que ele se refere aos indivíduos, mas sim às espécies completas das coisas, possuindo cada espécie o seu anjo particular, que a protege. Nisso está ele de acordo com todos os filósofos… Para nós, estes anjos são espíritos separados dos objetos… ao passo que para os filósofos (pagãos) eram deuses334.” Examinando o Ritual da Igreja Católica Romana no concernente aos “Espíritos das Estrelas”, vemos que estes apresentam um aspecto em que transparece um certo ar de “deuses”. E os antigos povos pagãos não lhes prestavam mais honras, nem lhes rendiam maior culto, do que o fazem atualmente, em Roma, cristãos católicos dos mais ilustres. Secundando Platão, explicava Aristóteles que ao termo στοιχεια se dava unicamente o significado de — os princípios incorpóreos localizados em cada uma das quatro grandes divisões do nosso mundo cósmico a fim de velarem sobre elas. Assim, os pagãos não adoravam nem veneravam os Elementos e os pontos cardeais (imaginários) mais do que o fazem os cristãos; aos respectivos “deuses”, que os governam, é que eles prestavam o seu culto. Para a Igreja, há duas espécies de Seres siderais: os Anjos e os Demônios. Para o cabalista e o ocultista, existe apenas uma; e não fazem diferença alguma entre os “Reitores de Luz” e os “Rectores Tenebrarum” ou Cosmocratas, que a Igreja Romana imagina e descobre nos “Reitores de Luz”, quando estes são 334 Theol. Cr., I, VIL 273 chamados por nome diferente do que ela lhes dá. Não é o Reitor ou Mahârâja quem castiga ou recompensa, com ou sem a permissão ou ordem de Deus, senão o próprio homem, com suas ações ou o Carma, atraindo individual ou coletivamente (como por vezes acontece no caso de nações inteiras) toda sorte de males e calamidades. Nós produzimos Causas, e estas despertam os poderes correspondentes do Mundo Sideral, os quais são magnética e irresistivelmente atraídos para os que deram lugar a essas causas, e então sobre eles reagem, quer se trate de pessoas que praticaram o mal ou de simples “pensadores” que alimentaram subjetivamente ações más. O pensamento é matéria, diz a ciência moderna; e Jevons e Babbage, em sua obra Principies of Science, entreviram já que “toda partícula de matéria constitui um registro de tudo o que se passa”. A ciência moderna cada dia vai penetrando mais no Malstrom do ocultismo; inconscientemente, sem dúvida, mas de maneira bem acentuada. “O Pensamento é matéria” — não, é claro, naquele sentido em que o entende o materialista alemão Moleschott, quando afirmou que “o pensamento é o movimento da matéria”, fórmula cujo absurdo não encontra símile. Os estados mentais e os físicos se acham em completa oposição. Mas isso não influi no fato de que todo pensamento, além de seu acompanhamento físico (modificação cerebral), apresenta um aspecto objetivo no plano astral, embora seja uma objetividade suprasensível para nós335 . As duas principais teorias da Ciência sobre as relações entre a mente e a matéria são o Monismo e o Materialismo. Ambas ocupam inteiramente o campo da psicologia negativa, com exceção das idéias quase ocultistas das escolas panteístas alemãs. 335 Veja-se Sinnett, The Occult World, páginas 89 e 90. 274 As opiniões dos pensadores científicos de nossos dias a respeito das relações entre o espírito e a matéria podem reduzir-se às duas hipóteses seguintes, que excluem, ambas, a possibilidade de uma alma independente, distinta do cérebro físico, por meio do qual funcione. Tais hipóteses são: I — Materialismo, teoria que considera os fenômenos mentais como produto de uma transformação molecular no cérebro, ou seja, como o resultado de uma conversão do movimento em sentimento (!). A mais extremada das escolas chegou até a identificar a mente com “uma forma particular de movimento” (!!); mas, felizmente, essa opinião é hoje qualificada como absurda pela maior parte dos homens de ciência. II — Monismo, ou doutrina da Substância Única. É a forma mais sutil da psicologia negativa, sendo chamada “materialismo dissimulado” por um de seus partidários, o Professor Bain. Esta doutrina, que se acha muito difundida, conta entre os seus defensores homens como Lewes, Spencer, Ferrier e outros; ao separar inteiramente da matéria o pensamento e os fenômenos mentais, considera-os, não obstante, como as duas faces ou aspectos de uma só e mesma substância, em determinadas condições. O pensamento como pensamento, dizem eles, é de todo diferente dos fenômenos materiais; mas deve também ser olhado como “o aspecto subjetivo do movimento nervoso”, ou o que quer que os nossos sábios pretendam significar com estas palavras. Voltemos ao Comentário relativo aos Quatro Mahârâjas. 275 Segundo Clemente de Alexandria, nos templos egípcios, uma enorme cortina separava o tabernáculo do lugar reservado aos fiéis. Também era assim entre os Judeus. Em ambos os casos, a cortina se estendia sobre cinco colunas (o Pentágono), simbolizando os nossos cinco sentidos e, esotericamente, as cinco Raças-Raízes, enquanto as quatro cores da cortina representavam os quatro pontos cardeais e os quatro elementos terrestres. O conjunto era um símbolo alegórico. É por meio dos quatro Regentes superiores dos quatro pontos cardeais e dos elementos que os nossos cinco sentidos podem conhecer as verdades ocultas da Natureza; não eram, assim, como fazia crer Clemente, os elementos per se que davam aos pagãos o Conhecimento Divino ou o Conhecimento de Deus336. Ao passo que o emblema egípcio era espiritual, o dos Judeus era puramente materialista, limitando-se em verdade a honrar os elementos cegos e “pontos imaginários”. Pois, que significava o Tabernáculo quadrado, erigido no deserto por Moisés, senão o mesmo fato cósmico? “Farás uma cortina… azul, púrpura e carmesim. . . cinco colunas de madeira de Shittin para as colunas . . . quatro anéis de bronze nos quatro cantos.. . painéis de madeira fina nos quatro lados, Norte, Sul, Oeste e Leste… do Tabernáculo… com Querubins de primoroso lavor337”. O Tabernáculo e o recinto quadrado, os Querubins e tudo o mais eram exatamente iguais aos dos templos egípcios. O formato quadrado do Tabernáculo tinha precisamente a mesma significação que hoje ainda tem no culto exotérico dos chineses e dos tibetanos. Os quatro pontos cardeais correspondiam ao mesmo sentido dos quatro lados das pirâmides, dos obeliscos e de outras construções quadrangulares. Josefo ocupa-se em explicar o assunto. Diz que as colunas do 336 Deste modo, a expressão Natura Elementorum obtinet revelationem Dei (em Stromata de Clemente, IV, 6) é aplicável a ambas as coisas ou a nenhuma. Consulte-se o Zends, vol. II, pág. 228, e Plutarco, De Iside, comparados por Layard, Académie des Inscriptions, 1854, vol. XV. 337 Êxodo, XXVI, XXVII. 276 Tabernáculo eram idênticas às que foram erguidas em Tiro aos quatro Elementos e que se achavam sobre pedestais cujos quatro ângulos davam frente para os quatro pontos cardeais; e acrescenta que “os ângulos dos pedestais tinham as quatro figuras do Zodíaco”, que representavam a mesma orientação338 . Vestígios dessa idéia podem ser encontrados nas criptas zoroastrianas, nos templos da Índia talhados na rocha e em todas as construções sagradas quadrangulares da antigüidade que se conservaram até os nossos dias. Demonstrou-o com muita precisão Layard, ao descobrir os quatro pontos cardeais e os quatro elementos primitivos nas religiões de todos os povos, sob a forma de obeliscos quadrados, pirâmides de quatro lados etc. Os quatro Mahârâjas são os regentes que governam e dirigem esses elementos e pontos. Ao leitor que desejar saber algo mais sobre eles, bastará comparar a visão de Ezequiel (cap. I) com o que se vê no Budismo chinês, inclusive em seus ensinamentos exotéricos, e examinar o aspecto exterior destes “Grandes Reis dos Devas”. Segundo a opinião do Reverendo Joseph Edkins, “eles presidem um a um dos quatro continentes em que os hindus dividem o mundo… Cada um se acha à frente de um exército de seres espirituais, que protegem a humanidade e o Budismo339”. Ressalvado o favoritismo em relação ao Budismo, é essa precisamente a missão dos Quatro Seres Celestiais. Note-se, porém, que os hindus dividem o mundo em sete continentes, tanto exotérica como esotericamente, e que os seus Devas cósmicos são em número de oito, presidindo as oito direções do vento, e não aos quatro continentes. Os “Quatro” são os protetores do gênero humano e também os agentes do Carma na Terra, enquanto que os Lipika se interessam pela humanidade futura. Ao mesmo tempo, aqueles são as quatro criaturas viventes “que se assemelham ao 338 Josefo, Antiquities, I, VIII, cap. XXII. 339 Chinese Buddhism, pág. 216. 277 homem”, na visão de Ezequiel, e que os tradutores da Bíblia chamam “Querubins”, “Serafins” etc., e os ocultistas “Globos Alados”, “Rodas Flamígeras”; sendo conhecidos no Panteão hindu sob diversos outros nomes. Todos esses Gandharvas, os “Suaves Cantores”, os Asuras, os Kinnaras e os Nâgas são descrições alegóricas dos Quatro Mahârâjas. Os Serafins são as Serpentes de Fogo do Céu, que vemos em uma passagem na qual se descreve o Monte Meru como a “exaltada massa de glória, a venerável mansão favorita dos deuses e dos cantores celestes… até onde não podem chegar os homens pecadores. .. porque se acha sob a guarda das Serpentes”. São denominados os Vingadores e as “Rodas Aladas”. Explicando assim o seu caráter e a sua missão, vejamos o que a respeito dos Querubins dizem os intérpretes cristãos da Bíblia. “A palavra significa, em hebreu, a plenitude do conhecimento; chamavam-se assim estes anjos por causa do conhecimento extraordinário que possuíam, sendo-lhes, por isso, atribuída a tarefa de punir os homens que se arrogavam o Conhecimento divino” (interpretação de Cruden, em sua Concordance, sobre o Gênesis, III, 24). Ora, por vaga que seja a informação, mostra isso que o Querubim colocado à porta do Jardim do Éden após a “Queda” sugeriu aos veneráveis intérpretes a idéia de que o castigo se relacionava com a ciência proibida ou Conhecimento divino; conhecimento que geralmente acarreta outra “Queda”, a dos deuses ou de “Deus” na estima do homem. Mas, como o bondoso Cruden nada sabia de Carma, deve-se perdoá-lo. A alegoria não deixa de ser sugestiva. Do Meru, a mansão dos Deuses, ao Éden, a distância é muito pequena; e entre as Serpentes hindus e os sete Querubins ofitas, o terceiro dos quais era o Dragão, a distância é ainda menor: guardavam uns e outros a entrada do reino do Conhecimento Secreto. Ezequiel, aliás, descreve claramente os quatro Anjos Cósmicos: 278 “Eu contemplava, e então vi um torvelinho. . . uma. . . nuvem e um fogo que a envolvia… e do meio dela saiu a imagem de quatro criaturas viventes… tinham a aparência de homens. E cada um tinha quatro rostos… e também quatro asas… e o rosto de homem340 e a cara de leão… a cara de boi e a cara de águia… E quando eu olhava as criaturas viventes, eis que surgiu uma roda sobre a Terra… para cada um dos seus quatro rostos… como se fosse uma roda no meio de outra roda… pois o espírito da criatura vivente estava na roda341.” Há três grupos principais de Construtores, e outros tantos dos Espíritos Planetários e Lipika, subdividindo-se cada grupo, por sua vez, em sete subgrupos. E impossível, mesmo em uma obra tão extensa como esta, entrar no exame minucioso dos três grupos principais, o que exigiria um volume a mais. Os Construtores são os representantes das primeiras Entidades “nascidas da Mente”, e, portanto, dos primitivos Rishis-Prajâpatis, e também dos Sete grandes Deuses do Egito, dos quais o chefe é Osíris, dos Sete Amshaspends dos zoroastrianos, com Ormuzd à frente, dos “Sete Espíritos da Face”, dos Sete Sephiroth separados da primeira Tríade etc., etc.342 340 A palavra “Homem” foi aqui substituída por “Dragão”. Compare-se com os Espíritos ofitas. Os Anjos reconhecidos pela Igreja Católica Romana, que correspondem a essas “Caras”, eram entre os ofitas: o Dragão — Rafael; o Leão — Miguel; o Touro ou Boi — Uriel; e a Águia — Gabriel. Os quatro Anjos acompanham os quatro Evangelistas, e preludiam os Evangelhos. 341 Ezequiel, I. 342 Os judeus, com exceção dos cabalistas, não possuindo nomes para designar o Oriente, o Ocidente, o Sul e o Norte, exprimiam a idéia com palavras que significavam adiante, atrás, à direita, à esquerda, e freqüentes vezes confundiam exotericamente estes termos, tornando assim ainda mais obscuros os véus da Bíblia e mais difícil a sua interpretação. Acrescente-se o fato de que, entre os quarenta e sete tradutores da Bíblia na Inglaterra, no tempo do Rei Jaime I, “só três compreendiam o hebreu, e dois deles morreram antes de concluída a tradução dos Salmos” (Royal Masonic 279 Eles constróem, ou melhor, reconstroem cada “Sistema”, após a “Noite”. O Segundo Grupo dos Construtores é o Arquiteto de nossa Cadeia Planetária, exclusivamente; e o Terceiro é o Progenitor de nossa Humanidade, o protótipo macrocósmico do microcosmo. Os Espíritos Planetários são os espíritos que animam os Astros em geral e os Planetas em particular. Regem os destinos dos homens nascidos sob uma ou outra de suas constelações. O Segundo e o Terceiro Grupos, que pertencem a outros sistemas, desempenham idênticas funções, e todos regem vários departamentos da Natureza. No Panteão hindu exotérico, são as divindades guardiãs que presidem aos oito rumos da bússola (os quatro pontos cardeais e os quatro intermediários), e são chamadas Loka-pâlas, “Sustentadores ou Guardiães do Mundo” (em nosso Cosmos visível), cujos chefes são Indra (Oriente), Yama (Sul), Varuna (Oeste) e Kuvera (Norte); os seus elefantes e as suas esposas pertencem, naturalmente, à fantasia e as idéias ulteriores, embora tenham todos uma significação oculta. Os Lipika, de que demos uma descrição no sexto parágrafo do Comentário à Estância IV, são os Espíritos do Universo; ao passo que os Construtores são apenas as nossas próprias divindades planetárias. Os primeiros pertencem à parte mais oculta da cosmogênese, sobre a qual nada podemos dizer aqui. A autora não se acha habilitada a esclarecer se os Adeptos — inclusive os de mais elevada categoria — conhecem esta ordem angélica em seus três graus completos, ou somente o grau inferior que se relaciona com os anais do nosso mundo; inclina-se, porém, a aceitar esta última hipótese. A respeito do grau mais elevado, sabe-se apenas uma coisa: os Lipika estão associados ao Carma, do qual Cyclopcedia), e facilmente se compreenderá quão pouca é a confiança que pode inspirar a versão inglesa da Bíblia. Nesta obra seguimos geralmente a versão católica romana de Douay. 280 são os Registradores diretos. Na antigüidade, o símbolo universal do Conhecimento Sagrado e Secreto era uma Árvore, entendendo-se ainda como tal uma Escritura ou um Registro. Daí advém a palavra Lipika, que significa Escritores ou Escribas; os Dragões, símbolos da Sabedoria, que guardam as Árvores do conhecimento; o Pomo “áureo” das Hespérides; as “Árvores Frondosas” e a vegetação do Monte Meru, guardadas por Serpentes. Juno dando a Júpiter, no dia do seu casamento, uma Árvore com um fruto de ouro, é outra forma de Eva oferecendo a Adão a maçã da Árvore do Conhecimento. 6. Os Lipika circunscrevem o Triângulo, o Primeiro Um343, o Cubo, o Segundo Um e o Pentágono dentro do Ovo (a) 344. É o Anel chamado “Não Pássaras”, para os que descem e sobem345, para os que, durante o Kalpa, estão marchando para o Grande Dia “Sê Conosco” (b)… Assim foram formados os Arûpa e os Rûpa346: da Luz Única, Sete Luzes; de cada uma das Sete, sete vezes Sete Luzes. As Rodas velam pelo Anel… A Estância prossegue com uma descrição minuciosa das Ordens da Hierarquia Angélica. Do Grupo de Quatro e Sete emanam os Grupos de Dez nascidos da Mente; os de Doze, de Vinte e Um etc. — todos, por sua vez, divididos em subgrupos de Héptades, Enéades e Dodécades347, e assim por diante, até perder-se o espírito nesta enumeração interminável de Exércitos e Seres celestiais, cada um com uma função peculiar no governo do Cosmos visível, durante a existência deste. 343 A linha vertical ou o número 1. 344 O Círculo. 345 Como também para os que etc. 346 O Mundo Sem Forma e o Mundo das Formas. 347 Grupos de Sete, de Nove e de Doze. 281 (a) A significação esotérica da primeira frase do Sloka é que os chamados Lipika, os Registradores do Grande Livro Cármico, constituem uma barreira intransponível entre o Ego pessoal e o Eu impessoal, que é o Número e a RaizMater do primeiro. Essa a razão da alegoria. Eles circunscrevem o mundo manifestado da matéria, dentro do Anel “Não Pássaras”. Este mundo é o símbolo objetivo do Um dividido nos Muitos, nos planos da Ilusão, de Adi (o “Primeiro”) ou de Eka (o “Um”); e este Um é o agregado coletivo, a totalidade dos principais criadores ou arquitetos do nosso Universo visível. No Ocultismo hebreu, o seu nome é Echath, feminino, “Um”, e ao mesmo tempo Echad, também “Um”, porém masculino. Os monoteístas serviram-se, e ainda se servem, do profundo esoterismo da Cabala para aplicar o nome de Sephiroth-Elohim, pelo qual é conhecida a Essência Una e Suprema, à manifestação desta, chamando-a Jehovah. Mas isto é de todo arbitrário e briga inteiramente com a razão e a lógica, porque a palavra Elohim está no plural e é idêntica ao nome plural Chiim, combinado freqüentemente com ela. A frase que se lê no Sepher Yetzirah, e também encontrada alhures, “Achath-Ruach-Elohim– Chiim”, denota, quando muito, que os Elohim são andróginos, com a quase predominância do elemento feminino, traduzindo-se: “O UM é Ela, o Espírito dos Elohim da Vida”. Como foi dito antes, Achath (ou Echath) é feminino, e Achad (ou Echad) é masculino, ambos significando Um. Demais, em metafísica oculta existem, a bem dizer, dois “Um”: o Um no plano inacessível do Absoluto e do Infinito, sobre o qual não é possível nenhuma especulação, e o segundo “Um” no plano das Emanações. O primeiro não produz emanação nem pode ser dividido, pois é eterno, absoluto e imutável; mas o segundo, sendo, por assim dizer, o reflexo do primeiro Um (pois é o Logos, ou 282 Ishvara, no Universo de Ilusão), pode fazê-lo. Emite de si mesmo os Sete Raios ou Dhyân Chohans (do mesmo modo que a Tríade Sephirothal superior produz os Sete Sephiroth inferiores); em outras palavras, o Homogêneo se converte no Heterogêneo, o Protilo se diferencia nos Elementos. Mas estes últimos, a menos que retornem ao elemento primário, jamais podem passar além do Laya ou ponto zero. Não é possível descrever melhor este aspecto metafísico do que o fez o Sr. T. Subba Row em suas conferências sobre o Bhagavad Gîtâ. “Mâlaprakriti (o véu de Parabrahman) atua como energia una através do Logos (ou Ishvara). Pois bem: Parabrahman… é a essência única, da qual emana um centro de energia, a que darei por enquanto o nome de Logos… É chamado o Verbo… pelos cristãos, e é o Christos divino que está eternamente no seio do Pai. Os budistas o chamam Avalokiteshvara… Em quase todas as doutrinas se formulou a existência de um centro de energia espiritual, inato e eterno, que existe no seio de Parabrahman durante o Pralaya, que surge como centro de energia consciente por ocasião da atividade cósmica348… ” Porque, como disse o conferencista inicialmente, Parabrahman não é isto nem aquilo; nem sequer é a consciência, pois não pode ser relacionado com a matéria, nem com o que quer que seja de condicionado. Não é nem o Eu nem o 348 The Theosophist, fevereiro de 1877, pág. 303. 178 283 Não-Eu; nem mesmo Âtmâ, mas em verdade a fonte única de todas as manifestações e modos de existência. Assim, na alegoria, os Lipika separam o mundo (ou plano) do Espírito puro do mundo da Matéria. Os que “descem e sobem” (as Mônadas que encarnam e os homens que aspiram à purificação, “que sobem”, mas que ainda não alcançaram a meta) só poderão transpor o Círculo “Não Pássaras” quando chegar o Dia “Sê Conosco”: aquele dia em que o homem, libertando-se por si mesmo dos laços da ignorância, e reconhecendo plenamente a não separatividade do Ego que está dentro de sua Personalidade (erroneamente considerada como ele próprio), em relação ao Eu Universal (Anima Supra-Mundi), imerge na Essência Una para tornarse não somente um “Conosco”, as Vidas universais manifestadas, que são uma Vida, mas esta mesma Vida. Vê-se aqui novamente que, astronomicamente, o Anel “Não Pássaras”, traçado pelos Lipika em torno do “Triângulo, do Primeiro Um, do Cubo, do Segundo Um e do Pentágono”, circunscrevendo estas figuras, contém os símbolos de 31415, ou seja, o coeficiente usado constantemente em matemática para exprimir o valor de π (pi), substituídos os algarismos pelas figuras geométricas. Segundo os ensinamentos filosóficos em geral, esse Anel se acha muito além daquela região correspondente ao que em astronomia se chama nebulosas. Mas semelhante conceito é tão errôneo quanto o da topografia e das descrições contidas nos Purânas e em outras escrituras exotéricas a respeito de 1.008 mundos dos firmamentos e mundos Devaloka. Há, sem dúvida, tanto pelos ensinamentos esotéricos como pelos profanos e científicos, mundos a distâncias de tal modo incalculáveis que a luz do mais próximo, chegando neste momento até os nossos modernos “caldeus”, pode haver partido de sua fonte muito tempo antes do dia em 284 que se pronunciaram as palavras: “Que a Luz se faça”; mas aqueles mundos não pertencem ao Devaloka, e sim ao nosso Cosmos. O químico vai até o ponto zero ou “laya” do plano material que está ao seu alcance, e aí se detém. O físico e o astrônomo fazem cálculos até bilhões de léguas além das nebulosas, mas também se detêm. Já o Ocultista semi-iniciado imaginará esse ponto “laya” como situado em algum ponto que, se não é físico, é no entanto concebível pelo intelecto humano. Mas o Iniciado perfeito sabe que o Anel “Não Pássaras” não é uma região, não pode ser medido em termos de distância, senão que existe no Absoluto e no Infinito. Neste “Infinito” do perfeito Iniciado não há altura, nem largura, nem espessura; tudo é profundidade insondável, no sentido do físico ao parametafísico. Usando a palavra “profundidade”, queremos significar abismo essencial: “em nenhuma parte e em toda a parte”; e não a profundidade da matéria física. Se se proceder a uma análise cuidadosa das alegorias exotéricas e grosseiramente antropomórficas das religiões populares, poder-se-á nelas perceber ainda a noção do Círculo “Não Pássaras”, guardado pelos Lipika. Encontrar-se-á até nos ensinamentos da seita vedantina Visishthadvaíta, a mais antropomórfica de toda a Índia. Ver-se-á aí que a alma libertada, depois de ter alcançado o Moksha, estado de bem-aventurança que significa “liberação de Bandha” ou da escravidão, desfruta a felicidade em uma região denominada Paramapada, que não é material, mas está constituída por Suddasliattav, a essência de que é formado o corpo de Ishvara, o “Senhor”. Ali, os Muktas ou Jivâtmâs (Mônadas) que alcançaram o Moksha não mais estarão submetidos às contingências da matéria nem do Carma. “Se, porém, o desejarem, com o objetivo de fazer bem ao mundo, poderão encarnar-se na 285 Terra349.” O caminho que conduz a Paramapada, ou aos mundos imateriais, chamase Devayâna. Quando o homem alcançou o Moksha, e o seu corpo morreu, “o Jiva (a Alma) vai como Sûkshma-Sharira350 do coração do corpo ao Brahmarandra na coroa da cabeça, atravessando Sushumnâ, nervo que liga o coração a Brahmarandra. Então Jiva passa através do Brahmarandra e vai à região do Sol (Sûryamandala) por intermédio dos raios solares. Depois, entra por uma mancha negra do Sol em Paramapada… O Jiva é guiado em seu caminho… pela Sabedoria Suprema adquirida mediante o Ioga351. O Jiva prossegue assim até o Paramapada com o auxílio dos Adhivâhikas (portadores durante o trânsito), conhecidos pelos nomes de Archi, Ahas… Aditya… Prajâpatis etc. Os Archis etc., que aqui se mencionam, são certas almas puras etc. etc352.” Nenhum espírito, com exceção dos “Registradores” (Lipika), transpôs jamais a linha proibida daquele Anel, e nenhum a transporá até o dia do próximo Pralaya, porque é a fronteira que separa o finito (por infinito que pareça aos olhos do homem) do que é verdadeiramente Infinito. Os Espíritos, a que se alude como 349 Estas encarnações voluntárias recebem em nossa doutrina o nome de Nirmânakâyas, os princípios espirituais que sobrevivem nos homens. 350 Sûkshma Sharira, corpo ilusório, “corpo de sonho”, de que são revestidos os Dhyânis inferiores da Hierarquia celeste. 351 Compare-se este princípio esotérico com a doutrina gnóstica de Pistis Sophia (ConhecimentoSabedoria), em que se apresenta Sophia (Achamôth) como perdida nas águas do Caos (Matéria) quando se encaminha para a Luz Suprema, e Christos libertando-a e ajudando-a a reencontrar a Senda. Considere-se que entre os Gnósticos “Christos” significava o Princípio Impessoal, o Âtman do Universo e o Âtmâ dentro da alma de cada homem, e não Jesus; se bem que no velho manuscrito copto do Museu Britânico a palavra “Christos” se acha substituída por “Jesus” e por outros termos. 352 Catechism of the Visishthadvaíta Philosophy, por N. Bhâshyacharya, M. T. S., Pandit da Biblioteca de Adyar, págs. 50-51 (1890). 286 aqueles que “descem e sobem”, são, portanto, os “Exércitos” dos Seres Celestes, assim chamados em termos genéricos. Mas, na realidade, não são nada disto. São Entidades pertencentes a mundos mais elevados na. Hierarquia do Ser, e tão incomensuravelmente elevados que para nós se afiguram Deuses e, tomados coletivamente, Deus. E nós, homens mortais, devemos assim parecer-lhes como formigas, que raciocinam pela escala de sua capacidade peculiar. Também é possível que a formiga enxergue o dedo vingador de um Deus pessoal na pata do garoto que, em dado momento e sob o impulso de fazer dano, lhe destrói o formigueiro, o trabalho de muitas semanas (que talvez correspondam a anos na cronologia dos insetos). A formiga, sentindo intensamente a imerecida calamidade, também pode, como o homem, atribuí-la a uma combinação da Providência e do pecado, e ver nela talvez a conseqüência do pecado de seus primeiros pais. Quem o sabe, quem o pode afirmar ou negar? A negativa em admitir que em todo o Sistema Solar possam existir outros seres humanos racionais e inteligentes, além de nós mesmos, constitui a maior das presunções de nossa época. Tudo o que a Ciência tem o direito de afirmar é que não existem inteligências invisíveis que vivam em condições iguais às nossas. Não pode negar, em termos categóricos, a possibilidade de que existam outros mundos dentro do Orbe, sob condições inteiramente diversas das que constituem a natureza do nosso; não pode negar também a viabilidade de uma comunicação, ainda que limitada, entre alguns desses mundos e o nosso. O maior dos filósofos europeus, Emmanuel Kant, afirma que tal comunicação não é de modo algum improvável. “Confesso” — diz ele — “que me sinto fortemente inclinado a afirmar a existência de naturezas imateriais neste 287 mundo, e a colocar minha própria alma na categoria destes seres. Um dia, não sei quando nem como, há de provar-se que a alma humana, mesmo nesta vida, está indissoluvelmente ligada a todas as naturezas imateriais do mundo espiritual, e que atua sobre elas e delas recebe impressões353.” Segundo os ensinamentos, ao mais elevado desses mundos pertencem as sete Ordens de Espíritos puramente divinos; aos seis inferiores correspondem as hierarquias que podem, em certas circunstâncias, ser vistas e ouvidas pelos homens e comunicar-se com os seus descendentes na Terra; gerações estas que se acham ligadas a elas de modo indissolúvel, pois cada princípio no homem tem sua origem direta na natureza desses grandes Seres, que nos proporcionam, cada qual na sua esfera, os nossos elementos invisíveis. A Ciência física pode especular sobre o mecanismo fisiológico dos seres vivos, e prosseguir em seus vãos esforços para explicar os nossos sentimentos, as nossas sensações mentais e espirituais, supondo-as funções de seus veículos orgânicos. Mas tudo o que era possível ser alcançado neste sentido, já o foi; e a Ciência não irá mais longe. Encontra-se em um beco sem saída, diante de um muro em que imagina inscrever grandes descobertas fisiológicas e psíquicas, quando estas últimas, como se verá depois, não passam de teias de aranha, urdidas pela fantasia e ilusão científicas. Os tecidos de nossa estrutura objetiva são os únicos que se prestam à análise e às investigações da ciência fisiológica. Os nossos Seis Princípios Superiores permanecerão sempre inacessíveis à mão guiada por um espírito hostil que ignora e despreza, de caso pensado, as Ciências Ocultas. Tudo o 353 Traume eines Geistershers, citado por C. C. Massey no seu prefácio ao Spititismus de Von Hartmann. 288 que a moderna pesquisa da fisiologia tem mostrado e podia mostrar, no que se refere aos problemas psicológicos, atenta a natureza das coisas, é que todos os pensamentos, sensações e emoções são acompanhados por uma coordenação especial das moléculas de certos nervos. A conclusão tirada por cientistas do tipo de Buchner, Vogt e outros, de que o pensamento é uma vibração molecular, exige que se faça completa abstração da realidade de nossa consciência subjetiva. (b) O Grande Dia “Sê Conosco” é, portanto, uma expressão cujo mérito único assenta em sua tradução literal. O seu significado não se revela tão facilmente ao público, que desconhece os princípios místicos do Ocultismo, ou melhor, da Sabedoria Esotérica ou “Budhismo” (com um só d). É uma expressão peculiar deste último, mas tão obscura para os profanos como a dos egípcios, para quem o mesmo Dia era denominado “Vem a Nós”, frase idêntica à primeira, se bem que, neste sentido, a palavra “Sê” possa ser perfeitamente substituída por “Fica” ou “Repousa Conosco”, uma vez que se refere àquele largo período de repouso chamado Paranirvana. “O Dia ‘Vem a Nós!’ é o dia em que Osíris disse ao Sol: Vem! Eu o vejo reencontrando o Sol no Amenti354” O Sol aqui representa o Logos (ou Christos, Horus), como Essência Central, sinteticamente, e como essência difusa de Entidades irradiadas — diferentes em substância, não em essência. Conforme disse o autor das conferências sobre o Bhagavad Gîtâ, “não se deve supor que o Logos seja um centro único de energia manifestada por Parabrahman”. Existem outros, e o seu número é quase infinito no seio de Parabrahman. Daí as expressões “O Dia do Vem a Nós”, “O Dia do Sê Conosco” etc. Assim como o Quadrado é o Símbolo das Quatro Forças ou Poderes sagrados — o Tetraktys, do mesmo modo o Círculo 354 Le Livre des Morts, Paul Pierret, capítulo XVII, pág. 61. 289 mostra o limite no seio do Infinito, que nenhum homem pode transpor, nem mesmo em espírito, como também nenhum Deva ou Dhyân Chohan. Os Espíritos dos que “descem e sobem”, durante o curso da evolução cíclica, só cruzarão o mundo “rodeado de ferro” no dia em que se acercarem do limiar de Paranirvana. Se o alcançarem, repousarão no seio de Parabrahman ou nas “Trevas Desconhecidas”, que para todos eles se tornarão em Luz, durante todo o período do Mahâpralaya, a “Grande Noite”, ou seja, durante os 311.040.000.000.000 anos de absorção em Brahman. O Dia do “Sê Conosco” é este período de Repouso, ou Paranirvana. Corresponde ao Dia do Juízo Final, que, infelizmente, tão materializado foi na religião dos cristãos355 . Na versão exotérica dos ritos egípcios, a alma de todo defunto — incluindo desde o Hierofante até o boi sagrado Ápis — se convertia em Osíris ou era “osirificada” (ensinando a Doutrina Secreta, no entanto, que a verdadeira “osirificação”, destino de todas as Mônadas, somente se dava no fim de 3.000 ciclos de Existência). Assim também sucede no caso presente. A Mônada, nascida da natureza e da essência mesma dos “Sete” (e cujo Princípio mais elevado permanece no Sétimo Elemento Cósmico), deve cumprir sua revolução setenária através dos Ciclos da Existência e das Formas, desde a mais elevada até a mais ínfima; e, depois, do homem a Deus. No umbral do Paranirvana, retoma sua Essência primitiva e volta a ser o Absoluto.

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