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Clarividência | Curso Astrothon
Curso Astrothon

Clarividência

Charles Webster Leadbeater Traduzido pelo poeta Fernando Pessoa

O QUE É A CLARIVIDÊNCIA

Literalmente, clarividência quer dizer simplesmente “ver claro”.

Poderemos, talvez, defini-la como sendo o poder de ver o que está oculto à visão física normal. Será bom explicar, também, que ela é frequentemente (se bem que não sempre) acompanhada por aquilo a que se chama “clariaudição”, ou seja, o poder de ouvir aquilo que o ouvido físico normal não pode abranger; tornaremos o termo, que constitui o título deste livro, extensivo também a esta faculdade, para que evitemos estar constantemente a empregar duas palavras onde só uma é suficiente.

Vivemos sempre cercados por um vasto mar de éter e de ar, aquele interpenetrando este, como, aliás, a toda a matéria física; e é principalmente por vibrações nesse grande mar de matéria que nos chegam as impressões do exterior. Isto sabemos todos, mas talvez a muitos de nós nunca tenha ocorrido que o número dessas vibrações a que podemos responder é na verdade pequeníssimo. Entre as vibrações excessivamente rápidas que afetam o éter há uma certa pequena secção – uma secção pequeníssima – que pode afetar a retina humana, e este gênero de vibrações produz em nós a sensação a que chamamos luz. Isto é, podemos ver só aqueles objetos de onde pode ou sair ou ser refletido esse gênero de luz.

Um nanômetro corresponde a um milionésimo de milímetro ou a um bilionésimo de metro. As cores que vemos no dia a dia encontram-se entre 400 nm e 700 nm. Abaixo deste comprimento de onda temos o infravermelho e acima o ultravioleta. Acima dos raios gama estão os raios cósmicos. De modo inteiramente análogo, o tímpano do ouvido humano é capaz de responder a um certo número pequeníssimo de vibrações relativamente lentas – suficientemente lentas para que afetem o ar que nos cerca; e, assim, os únicos sons que podemos ouvir são aqueles que são produzidos por objetos que vibram num grau dentro da gama dessas vibrações.

Em ambos os casos, sabe a ciência perfeitamente que há grande número de vibrações tanto acima como abaixo destas duas secções, e que portanto há muita luz que não podemos ver e muitos sons a que os nossos ouvidos são surdos. No caso da luz, a ação dessas vibrações superiores e inferiores é fácil de perceber nos efeitos produzidos pelos raios actínicos numa extremidade do espectro e pelos raios do calor na outra extremidade.

O fato é que existem vibrações de todos os graus concebíveis de rapidez, enchendo todo o vasto espaço que medeia entre as lentas ondas do som e as rápidas ondas da luz; nem é isso tudo, pois que há sem dúvida vibrações mais lentas do que as do som e uma infinidade delas mais rápidas do que aquelas que conhecemos sob a forma de luz.

E assim começamos a compreender que as vibrações pelas quais vemos e ouvimos são apenas como que dois pequenos grupos de poucas cordas numa harpa enorme de extensão praticamente infinita, e quando refletimos em quanto nos tem sido possível aprender e deduzir do uso desses pequenos fragmentos, entrevemos vagamente que possibilidades podiam revelar-se-nos se pudéssemos utilizar o todo vasto e maravilhoso.

Um outro fato, que tem de ser considerado em relação a este, é que diferentes indivíduos variam consideravelmente, se bem que dentro de limites relativamente pequenos, na capacidade, que têm, de responder mesmo às pouquíssimas vibrações que estão ao alcance dos nossos sentidos físicos. Não me refiro á agudeza de vista ou de ouvido que torna possível a um indivíduo ver um objeto mais indeciso ou ouvir um som mais tênue do que outro indivíduo; não se trata, de modo algum, duma questão de força de vista, mas sim de extensão de suscetibilidade.

Por exemplo: se se pegar num bom prisma de bissulfito de carbono, e com ele se lançar um espectro nítido sobre uma folha de papel branco, levando depois várias pessoas a marcar no papel os limites extremos do espectro, tal qual o veem, verificar-se-á quase sempre que o poder de visão dessas pessoas varia consideravelmente de umas para outras.

Algumas verão o violeta estender-se muito mais longe do que outras; outras haverá que, vendo muito menos do violeta do que a maioria, terão porém uma visão maior do vermelho. Alguma.- haverá, talvez, que possam ver mais do que as outras a ambas as extremidades, e estas serão quase infalivelmente aquilo a que chamamos gente sensível – susceptíveis de um alcance maior de visão do que a maioria da gente hoje em dia.

Na audição, a mesma divergência se poderá demonstrar com qualquer som que, sendo muito tênue, não esteja porém fora do alcance do ouvido – um som, por assim dizer, na fronteira da audibilidade – e ver quantas pessoas, entre várias, o conseguem ouvir. O guincho dum morcego é um bom exemplo dum som destes, e a experiência mostrará que numa noite de verão, quando o ar está cheio dos guinchos agudos, como agulhas, destes animaizinhos, muita gente haverá que nenhuma consciência tenha deles, incapaz de todo de os ouvir.

Ao atravessar um prisma a luz solar se divide nas cores do espectro visível. Ora estes exemplos mostram claramente que não há limite definido ao poder, que o homem tem, de responder às vibrações etéricas ou atmosféricas, mas que já há alguns de nós que tenham esse poder mais desenvolvido do que outros; e verificar-se-á, mesmo, que no mesmo indivíduo essa capacidade varia de umas ocasiões para outras. Não é, pois, difícil imaginarmos que um indivíduo possa desenvolver este poder de modo a vir a poder ver muita coisa que é invisível aos seus semelhantes, a ouvir muita coisa que eles não podem ouvir, visto que sabemos que existe um número enorme destas vibrações adicionais, que apenas como que esperam ser conhecidas.

As experiências feitas com os raios Roentgen (raios-x, nota do editor) dão- nos um exemplo dos resultados espantosos que se produzem quando mesmo poucas destas vibrações adicionais são trazidas para o alcance do conhecimento humano, e a transparência, a estes raios, de muitas substâncias até aqui tidas por opacas, imediatamente nos mostra pelo menos uma maneira em que se pode explicar tais fenômenos de clarividência elementar, como sejam ler uma carta fechada numa caixa ou descrever as pessoas que estão numa sala contígua. Aprender a ver pelos raios Roentgen, além de pelos vulgarmente empregados, seria bastante para tornar qualquer indivíduo capaz de executar um ato mágico dessa natureza. Até aqui temos considerado apenas uma extensão maior dos sentidos físicos do homem; e, quando refletimos que o corpo etérico dum indivíduo é na realidade apenas a parte mais tênue do seu corpo físico, e que portanto todos os órgãos dos seus sentidos contêm uma grande parte de matéria etérica em vários graus de densidade, a capacidade da qual está ainda apenas latente na maioria de nós, compreendemos que, mesmo limitando-nos a esta linha de desenvolvimento, ha já enormes possibilidades de todas as espécies abrindo- se diante de nós. Mas além e acima disto sabemos que o homem tem um corpo astral e um corpo mental; cada um dos quais pode, com tempo, ser acordado para a atividade, e por sua vez responder às vibrações da matéria do seu plano, abrindo ao Eu, à medida que ele aprende a funcionar através destes instrumentos, dois mundos inteiramente novos e imensamente maiores de conhecimento e de poder. Ora estes novos mundos, se bem que nos cerquem e uns aos outros se interpenetrem, não devem ser considerados como distintos e inteiramente desligados quanto à sua substância, mas antes como fundindo- se uns nos outros, o astral inferior formando uma série direta com o físico superior, assim como o mental inferior, por sua vez, forma uma série direta com o astral superior.

Não nos é exigido, ao pensarmos neles, que imaginemos qualquer nova e estranha espécie de matéria, mas simplesmente que consideremos a vulgar matéria física como tão tenuemente subdividida e vibrando com uma rapidez tão superior que nos revela condições e qualidades que se podem dizer inteiramente novas. Não nos é, pois, difícil compreender a possibilidade de um alargamento regular e progressivo dos nossos sentidos, de modo que, tanto pela vista como pelo ouvido, possamos apreciar vibrações muito superiores e muito inferiores àquelas que são vulgarmente conhecidas. Uma grande secção destas vibrações adicionais pertencerá ainda ao plano físico e apenas nos tornará possível obter impressões da parte etérica desse plano, que atualmente é para nós um livro fechado. Essas impressões serão ainda obtidas pela retina; afetarão, é claro, a sua matéria etérica, e não a sólida, mas podemos, ainda assim, considerá-la como agindo apenas sobre um órgão especializado para as receber, e não sobre a superfície total do corpo etérico.

Há, porém, alguns casos anormais em que outras partes do corpo etérico respondem a essas vibrações adicionais tão, ou mesmo mais, prontamente de que os olhos. Essas anormalidades são explicáveis de diversas maneiras, mas sobretudo como efeitos de qualquer parcial desenvolvimento astral, pois que se verificará que as partes sensíveis do corpo quase que invariavelmente correspondem a um ou outro dos chacras ou centros de vitalidade no corpo astral.

E ainda que, se a consciência astral não estiver ainda desenvolvida, estes centros não sejam aproveitáveis no próprio plano a que pertencem, têm, contudo, força suficiente para estimular para uma atividade maior a matéria etérica que penetram. Quando passamos a considerar os sentidos astrais propriamente ditos, os métodos de trabalho são muito diferentes. O corpo astral não tem órgãos de sentidos especializados, e é este um fato que talvez precise de ser bem esclarecido, visto que muitos estudiosos, que tentam compreender a sua fisiologia, acham que isso é difícil de conciliar com as afirmações que se têm feito, sobre a perfeita interpenetração do corpo físico pela matéria astral, sobre a exata correspondência dos dois instrumentos, e sobre o fato de que cada objeto físico tem necessariamente o seu correspondente astral.

Os quatro corpos ou planos da matéria.

Ora todas as afirmações são verdadeiras, e contudo é perfeitamente possível que as não compreendam bem indivíduos que normalmente não têm a visão astral.

Cada ordem de matéria física tem a sua ordem correspondente de matéria astral em constante comunicação com ela, nem dela pode ser separada exceto por um exercício considerável de força oculta, e, mesmo assim, só está dela separada enquanto tal força se exerce para tal fim.

Mas, apesar de tudo isso, a inter-relação das partículas astrais é muito mais lassa do que a das suas correspondentes físicas. Numa barra de ferro, por exemplo, temos uma massa de moléculas físicas na condição sólida, isto é, capazes de mudanças relativamente pequenas nas suas posições relativas, ainda que vibrando cada uma com imensa rapidez na sua esfera própria. O correspondente astral disto consiste daquilo a que muitas vezes chamamos matéria astral sólida – isto é, matéria do mais baixo e mais denso subplano do astral; mas as suas partículas constante e rapidamente estão mudando a sua posição relativa, movendo-se umas entre as outras com a mesma facilidade com que o fariam as de um líquido no plano físico.

De modo que não há associação permanente entre qualquer partícula física e aquela quantidade de matéria astral que aconteça estar sendo, em determinado momento, o seu correspondente. Isto é igualmente verdade com respeito ao corpo astral do homem, que, para os nossos fins de momento, poderemos considerar como consistindo de duas partes – o agregado mais denso que ocupa exatamente a posição do corpo físico, e a nuvem de mais tênue matéria astral que cerca esse agregado.

Em ambas estas partes, e entre as duas, está constantemente dando-se a rápida intercirculação de partículas que se descreveu, de modo que, ao observarmos o movimento das moléculas no corpo astral, constantemente nos ocorre a sua semelhança com as de água em forte ebulição.

Posto isto, facilmente se compreenderá que, conquanto qualquer órgão do corpo físico terá sempre de ter como seu correspondente uma certa quantidade de matéria astral, esse órgão não retém as mesmas partículas durante mais de uns segundos de cada vez, e por conseguinte nada há que corresponda a especialização de matéria nervosa física em nervos éticos ou auditivos, etc. De modo que, conquanto o olho ou ouvido físico tenha sempre o seu correspondente de matéria astral, esse especial fragmento de matéria astral não é mais (nem menos) capaz de responder às vibrações que produzem a visão ou a audição astral do que qualquer outro fragmento do instrumento.

Nunca se deve esquecer que, conquanto constantemente tenhamos de nos referir a “visão astral” ou “audição astral” para nos fazermos compreender, o que queremos dizer com essas expressões é a faculdade de responder a vibrações das que levam à consciência do indivíduo, quando ele funciona no seu corpo astral, informação da mesma natureza do que aquela que lhe é dada através dos seus olhos e dos seus ouvidos quando ele está no seu corpo físico.

Por onde se vê e ouve no astral?

Mas nas, inteiramente diferentes, condições astrais, não são precisos órgãos especializados para a obtenção deste resultado; há em todas as partes do corpo astral matéria capaz de responder a tais vibrações, e por isso o indivíduo funcionando nesse corpo vê da mesma maneira objetos que estão por detrás dele, por cima dele, por baixo dele, sem precisar para isso mexer a cabeça. Há, porém, um outro ponto que não seria justo omitir de todo, e esse é a questão dos chacras a que acima me referi.

Os estudantes da Teosofia conhecem bem a ideia da existência nos corpos astral e etérico do homem de certos centros de força que têm de ser, cada um por sua vez, vivificados pelo fogo da serpente à medida que o homem avança na evolução. Ainda que se não possa dizer que estes são órgãos, no sentido vulgar da palavra, pois que não é através deles que o homem vê ou ouve, como na vida física através de olhos e de ouvidos, é contudo, ao que parece, em grande parte da vivificação desses centros que o poder de exercer estes sentidos astrais depende; e à medida que cada um desses centros é vivificado, ele dá a todo o corpo astral o poder de responder a um novo grupo de vibrações.

Os sete chacras são os centros de energia do corpo humano e estão localizados ao longo da coluna vertebral. “Chacra” é uma palavra do sânscrito que significa “roda”. Segundo vários clarividentes os chacras são como vórtices rodando daí o nome “roda”. Nem têm estes centros, porém, ligada a eles qualquer agregação permanente de matéria astral. Eles são apenas vórtices na matéria do corpo – vórtices através dos quais todas as partículas alternadamente passam – pontos, talvez, nos quais a força superior de planos mais altos age sobre o corpo astral.

Mesmo esta descrição não dá senão uma ideia parcial do seu aspecto, porque, na realidade, eles são vórtices de quatro dimensões, de modo que a força que vem através deles, e é a causa da sua existência, parece surgir de parte nenhuma. Mas, seja como for, visto que todas as partículas, umas após outras, passam por cada v…

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