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Estância VI Cosmogênese | Curso Astrothon
Curso Astrothon

Estância VI Cosmogênese

Nosso Mundo, Seu Crescimento e Desenvolvimento

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Para outras informações sobre esta expressão peculiar “o Dia do Sê Conosco”, veja-se também The Funerary Ritual of the Egyptians, pelo Visconde de Rougé. 290 1. Pelo poder da Mãe de Misericórdia e Conhecimento (a), Kwan-Yin — a Trina de Kwan-Shai-Yin (b) — Fohat, o Sopro de sua Progênie, o Filho dos Filhos, tendo feito sair das profundezas do Abismo356 inferior a Forma Ilusória de Sien-Tchan357 e os Sete Elementos. Como a Estância foi traduzida do texto chinês, conservaram-se os nomes dados como equivalentes dos termos originais. Declinar a verdadeira nomenclatura esotérica só serviria para confundir o leitor. A doutrina bramânica não possui equivalentes para aqueles termos: Parece que Vâch, sob muitos aspectos, se aproxima da Kwan-Yin chinesa; mas na índia não existe um culto regular de Vâch sob este nome, como há na China o de Kwan-Yin. Nenhum sistema religioso exotérico adotou jamais um Criador feminino; a mulher, desde o início das religiões populares, foi sempre considerada e tratada como inferior ao homem. Na China e no Egito é que Kwan-Yin e Isis foram equiparadas aos deuses masculinos. O Esoterismo não leva em conta os sexos. Sua Divindade mais elevada carece de sexo e de forma: não é nem Pai nem Mãe, e os seus primeiros seres manifestados, celestes e terrestres, só gradualmente passam a ser andróginos, para finalmente se separarem em dois sexos distintos. (a) A “Mãe de Misericórdia e de Conhecimento” é chamada a “Trina” de Kwan-Shai-Yin, porque em suas correlações metafísicas e cósmicas é a “Mãe, a Esposa e a Filha” do Logos, da mesma forma que nas últimas versões teológicas se converteu em “Pai, Filho e Espírito Santo (feminino)” — a Shakti ou Energia —, a 356 O Caos. 357 Nosso Universo. 291 Essência dos Três. Assim, no Esoterismo dos vedantinos, Daiviprakriti, a Luz manifestada por meio de Ishvara, o Logos358, representa ao mesmo tempo a Mãe e a Filha do Logos, ou Verbo de Parabrahman; ao passo que, nos ensinamentos trans-himalaicos (e na hierarquia de sua teogonia alegórica e metafísica), é a “Mãe” ou Matéria abstrata e ideal, Mûlaprakriti, a Raiz da Natureza; do ponto de vista metafísico, uma correlação de Âdi-Bûtha, manifestada no Logos, Avalokiteshvara; e no sentido puramente oculto e cósmico, Fohat, o “Filho do Filho”, a energia andrógina que provém daquela “Luz do Logos” e que se manifesta no plano do Universo objetivo como a Eletricidade, tanto latente como revelada, que é a Vida. Diz T. Subba Row: “A evolução principia pela energia intelectual do Logos… e não simplesmente pelas potencialidades contidas em Mûlaprakriti. Essa Luz do Logos é o liame… entre a matéria objetiva e o pensamento subjetivo de Ishvara (ou Logos). É chamada Fohat em vários livros budistas. É o instrumento por meio do qual o Logos opera359.” (b) “Kwan-Yin-Tien” significa o “Céu Melodioso do Som”, a morada de Kwan-Yin, ou a “Voz Divina”. Esta “Voz” é um sinônimo do Verbo ou Palavra, a “Linguagem”, a expressão do Pensamento. Pode-se ver aí a conexidade e a origem da Bath-Kol hebréia, a “Filha da Voz Divina”, ou o Verbo, ou o Logos masculino e feminino, o “Homem Celeste”, Adão-Kadmon, que é ao mesmo tempo Sephira. A última foi seguramente precedida pela Vâch hindu, a deusa da Linguagem ou da 358 The Theosophist, fevereiro de 1887, pág. 305. 359 Op. cit., pág. 306. 292 Palavra. Porque Vâch — a filha e porção feminina, como já se disse, de Brahmâ, “gerada pelos deuses” — é, juntamente com Kwan-Yin, com Ísis (também filha, esposa e irmã de Osíris) e outras deusas, o Logos feminino, por assim dizer, a deusa das forças ativas da Natureza, a Palavra Voz ou Som, e a Linguagem. Se Kwan-Yin é a “Voz Melodiosa”, Vâch é a “vaca melodiosa que dá o alimento e a água (o princípio feminino), sob a forma de leite… quem nos nutre e sustenta” como nossa Mãe-Natureza. Ela está associada a Prajâpati na obra da criação. É fêmea ou macho ad libitum, como Eva o é com Adão. É uma forma de Aditi — o princípio superior ao Æther — de Âkâsha, síntese de todas as forças da Natureza. Assim, Vâch e Kwan-Yin são, ambas, o poder mágico do Som Oculto na Natureza e no Æther, aquela “Voz” que faz sair do Caos e dos Sete Elementos o Sien-Tchan, a forma ilusória do Universo. Vê-se, por isso, em Manu, Brahmâ (ou o Logos) dividindo o seu corpo em duas partes, masculina e feminina, e criando nesta última (que é Vâch) a Virâj, o qual é ele próprio, ou Brahmâ, novamente. Eis como um sábio vedantino e ocultista se externa a respeito daquela “deusa”, explicando as razões por que Îshvara (ou Brahmâ) é chamado o Verbo ou Logos — em última análise, porque lhe dão o nome de Shabda Brahman: “A explicação que vou apresentar há de parecer sobremodo mística; mas, embora mística, tem uma significação das mais transcendentes, se devidamente compreendida. Diziam os nossos escritores antigos que há quatro espécies de Vâch (vejam-se o Rig Veda e os Upanishads). Vaikhari Vâch é como preferimos dizer. Cada espécie de Vaikhari Vâch existe 293 inicialmente em sua forma Madhyama, depois na de Pashyanti, e finalmente em sua forma Para360. A razão pela qual este Pranava se chama Vâch está em que os quatro princípios do grande Cosmos correspondem a essas quatro formas de Vâch. Por outra parte, todo o sistema solar manifestado existe em sua forma Sûkshma na luz ou na energia do Logos, porque a sua energia é arrebatada e transferida para a matéria cósmica… Todo o Cosmos em sua forma objetiva é Vaikhari Vâch, a luz do Logos é a forma Madhyama, o próprio Logos é a forma Pashyanti, e Parabrahman é o aspecto Para de Vâch. À luz desta explicação devemos procurar compreender certos ensinamentos de vários filósofos, segundo os quais o Cosmos manifestado é o Verbo manifestado como Cosmos361.” 2. O Veloz e Radiante Um produz os Sete Centros Laya (a) 362, contra os quais ninguém prevalecerá até o Grande Dia “Sê Conosco”; e assenta o Universo sobre estes Eternos Fundamentos, rodeando Sien-Tchan com os Germes Elementais (b). (a) Os Sete Centros Laya são os sete pontos zero, tomando a palavra zero no mesmo sentido que lhe dão os químicos. Em Esoterismo indica o ponto em que se começa a contar a escala de diferenciação. A partir destes Centros — além dos quais a Filosofia Esotérica nos permite captar os vagos contornos metafísicos dos “Sete Filhos” de Vida e de Luz, 360 Madhya entende-se como algo cujo princípio e cujo fim são desconhecidos, e Para significa infinito. Estas expressões se referem ao infinito e à divisão do tempo. 361 Op. Cit., pág. 307. 362 Do sânscrito Laya, o ponto da matéria em que cessou toda a diferenciação. 294 os Sete Logos dos pensadores herméticos e de outros filósofos — tem início a diferenciação dos Elementos que entram na constituição do nosso sistema solar. Tem-se perguntado com freqüência qual a definição exata de Fohat, e quais os seus poderes e funções, visto parecer que exerce os atributos de um Deus pessoal semelhante ao das religiões populares. A resposta vem de ser dada no comentário à Estância V. Conforme foi expresso com muita justeza nas Conferências sobre o Bhagavad-Gîtâ: “Todo o Universo deve necessariamente existir na fonte una de energia, de onde emana esta luz (Fohat).” Quer consideremos como sete ou somente como quatro os princípios do Cosmos e do homem, as forças da Natureza física são sete; e afirma a mesma autoridade que “Prajnâ, ou a capacidade de percepção, existe sob sete diferentes aspectos, que correspondem a outras tantas condições da matéria”. Porque, “assim como o ser humano se compõe de sete princípios, assim também a matéria diferenciada do sistema solar existe em sete condições diferentes363”. O mesmo ocorre em relação a Fohat, que tem vários significados, como já dissemos. Fohat é chamado o “Construtor dos Construtores”. A força que personifica formou a nossa Cadeia Setenária. E Um e Sete; e na esfera cósmica está por trás de todas as manifestações conhecidas como luz, calor, som, coesão etc. etc.; sendo o “espírito” da eletricidade, que é a Vida do Universo. Como abstração, nós o chamamos a Vida Una; como Realidade objetiva e evidente, falamos de uma escala setenária de manifestação, que começa no grau superior com a Causalidade Una e Incognoscível, e termina como Mente e Vida Onipresentes, imanentes em cada átomo de Matéria. Assim, enquanto a Ciência fala de uma evolução através da matéria grosseira, das forças cegas e do movimento inconsciente, os Ocultistas 363 Five Years of Theosophy: artigo “Deus Pessoal e Impessoal”, pág. 200. 295 indicam a Lei Inteligente e a Vida Senciente, acrescentando que Fohat é o Espírito que conduz e guia tudo isso. Não é, entretanto, um Deus pessoal, mas a emanação daqueles outros Poderes que existem por trás dele, denominados pelos cristãos os “Mensageiros” do seu Deus (na realidade, dos Elohim, ou melhor, de um dos Sete Criadores chamados Elohim), e que nós designamos como o Mensageiro dos Filhos primordiais da Vida e da Luz. (b) Os “Germes Elementais”, de que Fohat semeou Sien-Tchan (o Universo), desde Tien-Sin (os “Céus da Mente” ou o que é absoluto), são os Átomos da Ciência e as Mônadas de Leibnitz. 3. Dos Sete364 — primeiro Um manifestado, Seis Ocultos; Dois manifestados, Cinco ocultos; Três manifestados, Quatro ocultos; Quatro produzidos, Três ocultos; Quatro e Um Tsan365 revelados, Dois e Meio ocultos; Seis para serem manifestados, Um deixado à parte (a). Por último, Sete Pequenas Rodas girando; uma dando nascimento a outra (b). (a) Se bem que as Estâncias se refiram a todo o Universo após um Mahâpralaya (Dissolução Universal), esta frase, como todo estudante de ocultismo pode ver, também diz respeito, por analogia, à evolução e à formação final dos Sete Elementos primitivos (embora compostos) de nossa Terra. Destes Elementos, quatro se acham atualmente manifestados em sua plenitude, enquanto o quinto, o Éter, só o está em parte; como chegamos apenas à segunda metade da Quarta Ronda, o quinto Elemento não deverá manifestar-se plenamente senão na Quinta Ronda. Os 364 Elementos. 365 Fração 296 Mundos, o nosso inclusive, foram, nos seus primórdios, como germes, naturalmente desenvolvidos do Elemento Um em sua segunda fase (o “Pai-Mãe”, a Alma diferenciada do Mundo, não o que Emerson chama “Super-Alma”), quer se dê a esta fase o nome de poeira cósmica ou névoa de fogo, segundo a Ciência, quer se dêem os de Âkâsha, Jivâtmâ, Luz Astral Divina ou “Alma do Mundo”, segundo o Ocultismo. Mas este primeiro estádio da Evolução foi seguido por outro, com o transcurso do tempo. Nem mundos nem corpos celestes podiam ser construídos no plano objetivo antes que os Elementos se houvessem diferenciado suficientemente do Ilus primitivo, em que faziam quando repousavam em Laya. Este último termo é sinônimo de Nirvana. É, realmente, a dissociação nirvânica de todas as substâncias, que retornam, depois de um ciclo de vida, ao estado latente de sua condição primária. É a sombra luminosa, mas incorpórea, da matéria que foi; o reino do negativo, onde, durante o período de repouso, permanecem latentes as Forças ativas do Universo. Por falar em Elementos, hoje se reprocha aos antigos o haverem “suposto que os elementos eram simples e indecomponíveis”. As sombras de nossos antepassados pré-históricos poderiam devolver a censura aos nossos físicos modernos, agora que as novas descobertas da química levaram o Dr. Crookes, F.R.S., a admitir que a Ciência ainda se encontra a mil léguas de conhecer a natureza complexa da molécula mais simples. Por ele sabemos que a molécula realmente simples e por completo homogênea é terra incógnita para a química. “Onde podemos traçar a linha?” — pergunta. “Não há meio algum de sair desta perplexidade? Será preciso que os exames elementares sejam de tal modo severos que só permitam a aprovação de 60 a 70 candidatos, ou devemos, ao revés, abrir as portas a fim de que o número de admissões fique limitado tão-somente pelo número 297 de pretendentes?” E então o sábio químico, citando exemplos surpreendentes, declara: “Vejamos o caso do ítrio. Possui um peso atômico definido e apresenta todas as características de um corpo simples, parecendo um elemento ao qual poderíamos, é verdade, acrescentar alguma coisa, mas do qual nada poderíamos tirar. Não obstante, o ítrio, este elemento suposto tão homogêneo, quando submetido a determinado processo de fracionamento, resolve-se em partes que não são absolutamente idênticas entre si e que mostram uma graduação em suas propriedades. Vejamos também o caso do didímio. Era um corpo que apresentava, igualmente, todas as características reconhecidas de um elemento. Com muita dificuldade conseguiu-se separá-lo de outros corpos que o semelham em muitos aspectos, e durante essa operação passou pelos mais severos tratamentos e foi objeto de exames os mais rigorosos. Surgiu então outro químico que, submetendo esse pretenso corpo homogêneo a um processo especial de fracionamento, o decompôs em dois corpos, o praseodímio e o neodímio, entre os quais são perceptíveis certas diferenças. Demais, não temos ainda a certeza de que o praseodímio e o neodímio sejam corpos simples. Pelo contrário, também mostram tendências de fracionamento. Ora, se o que se supõe ser um elemento dá origem, quando 298 submetido a certo tratamento, a moléculas dessemelhantes, temos o direito de indagar se resultados idênticos não seriam obtidos com outros elementos, talvez com todos, uma vez tratados convenientemente. Podemos igualmente perguntar em que ponto seria preciso deter o processo de classificação, processo que, está visto, pressupõe variações entre as moléculas individuais de cada espécie. E nestas sucessivas separações deparamos, como é natural, corpos que se aproximam cada vez mais uns dos outros366.” Repetimos: não se justifica a censura irrogada aos antigos. Os filósofos iniciados da antigüidade, pelo menos, não devem ficar sob aquela increpação: foram eles que, desde o começo, inventaram as alegorias e os mitos religiosos. Se ignorassem a heterogeneidade dos Elementos, não teriam criado personificações do Fogo, da Água, do Ar, da Terra e do Æther; os seus deuses e deusas cósmicos não teriam sido favorecidos com a posteridade composta de tantos filhos e filhas, que não representam senão outros elementos oriundos de cada um dos Elementos respectivos. A alquimia e os fenômenos ocultos teriam sido uma ilusão e um logro, mesmo em teoria, se os antigos ignorassem as potencialidades, as funções correlativas e os atributos de cada elemento que entra na composição do Ar, da Água, da Terra e também do Fogo. Este último, ainda hoje, é terra incógnita para a ciência moderna, que se vê forçada a dar-lhe nomes como movimento, evolução da luz e do calor, estado de ignição etc.; em uma palavra, a defini-lo por seus aspectos exteriores, visto ignorar-lhe a verdadeira natureza. 366 Discurso presidencial perante a Sociedade Real de Química, em março de 1888. 299 Mas o de que a ciência moderna não parece ter-se dado conta é que, por diferenciados que fossem aqueles simples átomos químicos — os quais a filosofia arcaica chamada “os criadores de seus respectivos progenitores”, pais, irmãos e maridos de suas mães, sendo estas mães filhas de seus próprios filhos, como Aditi e Daksha, por exemplo —, por diferenciados que fossem, no início, aqueles elementos, não eram os corpos compostos que a ciência de nossos dias conhece sob este nome. Nem a Água, nem o Ar, nem a Terra (sinônimo dos sólidos em geral) existiam em sua forma atual, representando os três únicos estados de matéria reconhecidos pela ciência; porque todos eles, até mesmo o Fogo, são produções já recombinadas pelas atmosferas de globos completamente formados, de modo que, nos primeiros períodos da formação da Terra, eram algo de todo em todo sui generis. Agora, que as condições e as leis do nosso Sistema Solar se acham plenamente desenvolvidas, e que a atmosfera de nossa terra, como as de todos os demais globos, se tornou, por assim dizer, um cadinho próprio, ensina a Ciência Oculta que através do espaço ocorre uma contínua troca de moléculas, ou melhor, de átomos, que se correlacionam permutando assim, em cada planeta, os seus combinados equivalentes. Alguns homens de ciência, dentre os mais eminentes físicos e químicos, começam a suspeitar esse fato, que os ocultistas conhecem desde há séculos. O espectroscópio apenas mostra a similaridade provável (como evidência externa) da substância terrestre e da substância sideral; é incapaz de ir mais longe ou de esclarecer se os átomos gravitam ou não, uns em relação aos outros, da mesma maneira e nas mesmas condições em que se presume que o fazem, física e quimicamente, em nosso planeta. A escala de temperatura, do mais alto ao mais baixo grau que se possa conceber, admite-se que é a mesma em todo o Universo; entretanto, as suas propriedades, salvo as de dissociação e reassociação, 300 diferem em cada planeta; e, assim, entram os átomos em novas formas de existência, formas que não são nem conhecidas nem sequer imaginadas pela ciência física. Conforme já dissemos em Five Years of Theosophy (pág. 242), a essência da matéria cometária, por exemplo, “é inteiramente diversa das características químicas e físicas conhecidas pelos cientistas mais ilustres de nossa terra”. E essa mesma matéria, durante sua rápida passagem através de nossa atmosfera, experimenta certas modificações em sua natureza. Em conseqüência, os elementos do nosso planeta, assim como os de todos os seus irmãos do nosso Sistema Solar, diferem tanto uns dos outros, em suas combinações, como diferem dos elementos cósmicos situados além de nossos limites solares. Tal coisa é ainda corroborada pelo mesmo homem de ciência, que, no discurso já citado, se refere à declaração de Clerk Maxwell de que “os elementos não são absolutamente homogêneos”. Escreve ele: “É difícil conceber a seleção e a eliminação de variedades intermediárias; porque — onde essas moléculas eliminadas terão ido parar, se, como temos razões para crer, o hidrogênio etc., das estrelas fixas se compõe de moléculas em tudo idênticas às nossas?… Para começo de conversa, nós poderíamos pôr em dúvida esta identidade molecular absoluta, visto que até agora não dispomos de outros meios para determiná-la senão os que nos proporciona o espectroscópio; e, por outro lado, admite-se que, para poder comparar e discernir com precisão os espectros de dois corpos, é preciso examiná-los sob idênticos estados de temperatura, de pressão 301 e todas as demais condições físicas. A verdade é que temos visto no espectro solar raios que ainda não foi possível identificar.” Segue-se, portanto, que os elementos do nosso planeta não podem ser tomados como estalão aferidor na comparação com os de outros mundos. Pois cada mundo tem o seu Fohat, que é onipresente em sua própria esfera de ação. Existem, porém, tantos Fohats quantos são os mundos, e cada um deles varia em poder e em grau de manifestação. Os Fohats individuais perfazem um Fohat universal e coletivo — o aspecto-entidade da Não-Entidade una e absoluta, que é a Asseidade absoluta, Sat. Está escrito que “milhões e milhões de mundos são produzidos em cada Manvantara”. Deve haver, por isso, muitos Fohats, que nós consideramos como Forças conscientes e inteligentes. Isto, sem dúvida, a malgrado das mentalidades científicas. Não obstante, os ocultistas, que têm boas razões para tal, consideram como verdadeiros estados da Matéria, ainda que supra-sensíveis, todas as forças da Natureza; e como objetos suscetíveis de percepção para os seres dotados dos sentidos adequados. Encerrado no Seio da Eterna Mãe, em seu estado prístino e virginal, todo átomo nascido além dos umbrais do seu reino está votado a uma incessante diferenciação. “A Mãe dorme, mas está sempre respirando.” E a cada expiração envia ao plano de manifestação os seus produtos protéicos, os quais, arrastados pela onda da correnteza, são disseminados por Fohat e conduzidos para esta ou aquela atmosfera planetária ou para o espaço além. Uma vez apreendido por uma dessas atmosferas, o átomo se perde, desaparecendo sua pureza original de maneira definitiva, a não ser que o acaso o dissocie daquela, levando-o a uma 302 “corrente de efluxo” (termo ocultista que significa um processo inteiramente diverso daquele que a expressão implica ordinariamente), quando ele pode ser novamente arrastado à fronteira em que antes havia sucumbido, e tomar o rumo, não do Espaço de cima, mas do Espaço interior, sendo posto em um estado de equilíbrio diferencial e felizmente reabsorvido. Se um ocultista-alquimista, verdadeiramente sábio, se dispusesse a escrever “a Vida e as Aventuras de um Átomo”, expor-se-ia ao supremo desprezo do químico moderno, mas, quem sabe? Talvez viesse a granjear mais tarde a sua gratidão. Efetivamente, se por acaso sucedesse que este químico imaginário, tocado pela intuição, se decidisse a fugir por um momento à rotina convencional da “ciência exata”, à semelhança dos antigos alquimistas, é bem possível que a sua audácia fosse recompensada. Seja como for: “O Sopro do PaiMãe sai frio e radiante, torna-se quente e corrompido, e depois esfria novamente, purificando-se no eterno seio do Espaço interno” — diz o Comentário. O Homem absorve ar puro e fresco no alto da montanha, e o expira quente, impuro e transformado. Da mesma forma, representando a atmosfera superior a boca de cada globo, e a inferior os seus pulmões, o homem do nosso planeta não respira senão as impurezas da “Mãe”; e por isso “está condenado a morrer nele”. Aquele que pudesse transformar o indolente oxigênio em ozônio com certo grau de atividade alquímica, reduzindo-o à sua essência pura (e há meios para fazê-lo), teria assim descoberto um sucedâneo do “Elixir da Vida” e poderia prepará-lo para usos práticos. (b) O processo especificado pelas palavras “Pequenas Rodas… uma dando nascimento a outra” ocorre na sexta região a contar de cima e no mais material dos planos do mundo, dentre todos os do Cosmos manifestado — o nosso 303 plano terrestre. As “Sete Rodas” são a nossa Cadeia Planetária. Como “Rodas” se entendem geralmente as várias esferas e centros de força; mas no presente caso se referem ao nosso Anel setenário. 4. Ele as constrói à semelhança das Rodas mais antigas367 , colocando-as nos Centros Imperecíveis (a). Como as constrói Fohat? Ele junta a Poeira de Fogo. Forma Esferas de Fogo, corre através delas e em seu derredor, insuflando-lhes a vida; e em seguida as põe em movimento: umas nesta direção, outras naquela. Elas estão frias, ele as aquece. Estão secas, ele as umedece. Brilham, ele as ventila e refresca (b). Assim procede Fohat, de um a outro Crepúsculo, durante Sete Eternidades368 . (a) Os Mundos são construídos “à semelhança das Rodas mais antigas”, isto é, das que existiram nos Manvantaras precedentes e entraram em Pralaya; pois a Lei que rege o nascimento, o crescimento e a morte de tudo o que há no Cosmos, desde o Sol até o vagalume que voa sobre a relva, é Una. Há um incessante trabalho de perfeição em cada coisa nova que surge; mas a Substância-Matéria e as Forças são sempre as mesmas. E essa Lei opera em cada planeta por meio de várias leis menores. Os “Centros (Laya) Imperecíveis” têm grande importância, e é preciso que a sua significação seja bem compreendida, se queremos possuir um conceito claro da cosmogonia arcaica, cujas teorias são hoje apresentadas pelo Ocultismo. Neste momento, uma coisa pode afirmar-se: os Mundos não são construídos nem sobre os 367 Mundos. 368 Um período de 311.040.000.000.000 anos, segundo os cálculos bramânicos. 304 Centros Laya, nem por cima, nem dentro deles, pois o ponto zero é uma condição e não um ponto matemático. (b) Tenha-se presente que Fohat, a Força construtora da Eletricidade Cósmica, conforme se diz metaforicamente, brotou — como Rudra da cabeça de Brahmâ — “do Cérebro do Pai e do Seio da Mãe”, e depois se metamorfoseou em macho e fêmea, ou seja: polarizou-se em eletricidade positiva e negativa. Ele tem Sete Filhos, que são seus Irmãos. Fohat vê-se obrigado a nascer mais de uma vez: sempre que dois de seus “Filhos-Irmãos” se deixam aproximar demasiado um do outro, quer seja para se abraçarem, quer para se combaterem. Para evitá-lo, ele une e consocia aqueles cujas naturezas são opostas, e separa os de temperamentos semelhantes. Como é fácil perceber, isto se refere à eletricidade gerada pela fricção, e à lei de atração entre dois objetos de polaridade contrária, e de repulsão entre os de polaridade idêntica. Os Sete “Filhos-Irmãos”, no entanto, representam e personificam as sete formas de magnetismo cósmico denominadas em Ocultismo prático os “Sete Radicais”, e cujos resultados cooperativos e ativos são, entre outras energias, a Eletricidade, o Magnetismo, o Som, a Luz, o Calor, a Coesão etc. A Ciência Oculta os define como efeitos supra-sensíveis em seu aspecto oculto, e como fenômenos objetivos no mundo dos sentidos; os primeiros requerem faculdades anormais para que possam ser percebidos; os últimos são cognoscíveis pelos nossos sentidos físicos ordinários. Todos eles são emanações de qualidades espirituais ainda mais supra-sensíveis, não personificadas, mas pertencentes a Causas reais e conscientes. Tentar uma descrição de tais Entidades seria mais do que inútil. 305 Deve o leitor atentar em que, segundo os nossos ensinamentos, que consideram este Universo fenomenal como uma grande Ilusão, quanto mais próximo um corpo se encontre da Substância Desconhecida, tanto mais ele se acerca da Realidade, por estar mais distanciado deste mundo de Mâyâ. Conseqüentemente, embora a constituição molecular de tais corpos não possa ser deduzida de suas manifestações neste plano de consciência, possuem eles, do ponto de vista do Adepto ocultista, uma estrutura nitidamente objetiva, se não material, no Universo relativamente numénico, oposto ao fenomenal ou externo. Podem os homens de ciência, se lhes aprouver, chamá-los força ou forças geradas pela matéria, ou ainda “modos de movimento” da matéria; o Ocultismo vê nesses efeitos os “Elementais” (forças), e, nas causas diretas que os produzem, Obreiros Divinos e inteligentes. A conexão íntima dos Elementais, guiados pela mão infalível dos Regentes — a correlação, poderíamos dizer —, com os elementos da Matéria pura manifesta-se como fenômenos terrestres, tais como a luz, o calor, o magnetismo, etc. É verdade que nunca estaremos de acordo com os substancialistas americanos369, para quem toda força ou energia, seja luz, calor, eletricidade ou coesão, é uma “entidade”: seria o mesmo que dizer que o ruído produzido pelo rodar de uma carruagem é uma entidade — confundindo e identificando assim o “ruído” com o “condutor” que está fora ou como o Dono, a “Inteligência Diretora”, que se acha dentro do veículo. Mas damos, certamente, aquele nome aos “condutores” e às “Inteligências diretoras”, os Dhyân Chohans regentes, como já dissemos. Os Elementais, as Forças da Natureza, são as causas secundárias que atuam invisíveis, ou melhor, imperceptíveis; e que, por sua vez, são os efeitos de causas primárias, por trás do Véu de todo fenômeno terrestre. A eletricidade, a luz, o 369 Veja-se Scientific Arena, revista mensal dedicada aos ensinamentos filosóficos do dia e à sua influência sobre o pensamento religioso. Nova Iorque, A. Wilford Hall, Ph. D., LL. D., editor (julho, agosto e setembro de 1886). 306 calor, etc., foram com razão chamados os “Espectros ou Sombras da Matéria em Movimento”, ou seja, dos estados supra-sensíveis da matéria, de que só podemos perceber os efeitos. Para ampliar o conceito, voltemos à comparação anterior. A sensação da luz é, como o ruído das rodas em movimento, um efeito puramente fenomenal e sem realidade alguma fora do observador. A causa imediata que provoca a sensação é comparável ao condutor — um estado supra-sensível da matéria em movimento, uma força da Natureza ou um Elemental. Mas, por trás deste — do mesmo modo que do interior da carruagem o seu proprietário dirige o condutor — se encontra a causa mais elevada e numênica: a Inteligência, cuja essência irradia aqueles estados da “Mãe”, que geram os incontáveis milhares de milhões de Elementais ou Espíritos psíquicos da Natureza, assim como cada gota de água gera seus infusórios físicos infinitesimais370 . É Fohat quem guia a transferência dos princípios de um a outro planeta, de um astro ao seu astro-filho. Quando um planeta morre, seus princípios essenciais são transferidos a um centro Laya ou de repouso, cuja energia potencial, latente até então, desperta para a vida, principiando a desenvolver-se em um novo corpo sideral. É curioso observar que os físicos, apesar de confessarem honestamente sua completa ignorância a respeito da verdadeira natureza da própria matéria terrestre (sendo a matéria primordial considerada mais como um sonho do que como uma realidade), se constituam, nada obstante, em juízes no tocante àquela matéria, decidindo o que ela pode ou não pode fazer em suas combinações várias. Os cientistas conhecem da matéria apenas a epiderme, mas isto não impede que 370 Veja-se o Vol. II, Parte III, Seção XIV, “Deuses, Mônadas e Átomos”. 307 dogmatizem. É um “modo de movimento” e nada mais! Mas a “força” inerente ao sopro de uma pessoa, ao expulsar da superfície de uma mesa um grão de poeira, é também, não há como- negar, um “modo de movimento”; e é igualmente inegável que não significa uma qualidade da matéria ou das moléculas do grão de poeira, senão que emana da Entidade viva e pensante que soprou, fosse o impulso consciente ou inconsciente. Em verdade, atribuir à matéria — este algo a respeito do qual tão pouco se sabe até agora — uma qualidade inerente chamada Força, cuja natureza é ainda menos conhecida, vale por criar uma dificuldade muito mais séria que a de aceitar a intervenção de nossos “Espíritos da Natureza” em todos os fenômenos naturais. Os Ocultistas — que, exprimindo-se corretamente, não diriam que a matéria é indestrutível e eterna, mas tão-somente a substância ou essência da matéria (isto é, Mûlaprakriti, a Raiz de tudo) — afirmam que todas ás chamadas Forças da Natureza: a eletricidade, o magnetismo, a luz, o calor etc., longe de serem modos de movimento de partículas materiais, são in esse, ou seja, em sua constituição última, os aspectos diferenciados daquele Movimento Universal que foi examinado e discutido nas primeiras páginas deste volume. Quando se diz que Fohat produz “Sete Centros Laya”, isto quer dizer que, para propósitos formativos ou criadores, a Grande Lei (os teístas podem chamá-la Deus) detém, ou antes, modifica o seu movimento perpétuo sobre sete pontos invisíveis dentro da área do Universo Manifestado. “O Grande Sopro cava, através do Espaço, sete buracos em Laya, para fazê-los girar durante o Manvantara” — diz o Catecismo Oculto. Já dissemos que Laya é o que a Ciência poderia chamar o ponto ou a linha zero; o reino do negativo absoluto, ou a única Força absoluta verdadeira, o Número do Sétimo Estado daquilo que, em nossa ignorância, 308 designamos e reconhecemos como “Força”; ou ainda o número da Substância Cósmica Não-Diferenciada, que, em si, é um objeto inacessível e incognoscível para a percepção finita; a raiz e a base de todos os estados de objetividade e também de subjetividade; o eixo neutro, não um dos muitos aspectos, mas o seu centro. Com o fito de elucidar a significação do que precede, tentemos imaginar um “centro neutro” — o sonho daqueles que buscam descobrir o movimento perpétuo. Um “centro neutro” é, sob certo aspecto, o ponto limite de um grupo qualquer de sentidos. Figuremos, por exemplo, dois planos consecutivos de matéria, correspondendo cada qual a um grupo apropriado de órgãos de percepção. Vemonos obrigados a admitir que entre estes dois planos de matéria se processa uma incessante circulação; e se acompanharmos os átomos e as moléculas do plano inferior, por exemplo, em suas transformações ascendentes, chegarão estas a um ponto além do qual ficarão inteiramente fora do alcance da ordem de faculdades de que dispomos no plano inferior. Para nós, efetivamente, a matéria do plano superior ali se desvanece ante a nossa percepção; mais propriamente, passa ao plano superior, e o estado de matéria que corresponde a semelhante ponto de transição deve por certo possuir propriedades especiais, não fáceis de descobrir. Sete destes “Centros Neutros371” são, portanto, produzidos por Fohat; e tão logo, na expressão de Milton, Perfeitas fundações são assentadas Para nelas erguer-se a construção… Fohat incita a matéria à atividade e à evolução. 371 Tal é, segundo cremos, o nome dado pelo Sr. J. W. Keely, de Filadélfia, inventor do famoso “Motor”, aos por ele também chamados “Centros Etéricos”; motor que, conforme esperavam seus admiradores, iria revolucionar a força motriz do mundo. 309 O Átomo Primordial (Anu) não pode ser multiplicado, nem em seu estado pré-genético nem no primogenético; e por isso é chamado a “Soma Total”, em sentido figurado, está claro, pois esta “Soma Total” carece de limites. O que para o físico, que só conhece o mundo de causas e efeitos visíveis, é o abismo do nada, para o ocultista é o Espaço sem limites do Plenum Divino. Entre muitas outras objeções à doutrina da evolução e involução perpétuas, ou reabsorção, do Cosmos — processo que, segundo a doutrina bramânica esotérica, não tem começo nem fim — argumenta-se que tal não pode ser, porquanto, “segundo todos os princípios da filosofia científica moderna, esgotarse é uma necessidade imperiosa para a Natureza”. Se a tendência da Natureza para esgotar-se constitui realmente uma forte objeção à cosmogonia oculta, é o caso de perguntarmos: como explicam os vossos positivistas, livres pensadores e homens de ciência a massa de sistemas siderais em atividade que nos rodeia? Eles tiveram a eternidade para se “esgotarem”; por que então o Cosmos já se não converteu numa imensa massa inerte? Supõe-se que a Lua é um astro morto, esgotado, mas isto não passa de uma hipótese; e não parece que a astronomia conheça muita coisa a respeito de astros mortos372. A pergunta não encontra resposta. Mas, deixando-a de lado, importa observar que a idéia do esgotamento da “energia transformável”, em nosso pequeno sistema, se baseia única e exclusivamente no enganoso conceito de um “sol incandescente ao vermelho-branco”, que irradia incessantemente o seu calor pelo espaço, sem receber compensação. A isto respondemos que a Natureza entra em declínio e desaparece do plano objetivo tão-somente para de novo surgir do plano subjetivo, após um período de repouso, e subir ainda mais alto. O nosso 372 A Lua está morta apenas no que respeita aos seus “princípios” internos — isto é, psiquicamente e espiritualmente, por absurda que pareça esta afirmativa. Fisicamente, assemelha-se a um corpo paralisado pela metade. A ela faz referência o Ocultismo (e com razão) como a “Mãe Insana”, a grande lunática sideral. 310 Cosmos e a nossa Natureza não se esgotarão senão para reaparecer num plano mais perfeito, depois de cada Pralaya. A Matéria dos filósofos orientais não é a “matéria” e a Natureza dos metafísicos ocidentais. Pois, que é a Matéria? E, sobretudo, que é a nossa filosofia científica, senão aquilo que tão precisa e cortesmente Kant definiu como “a ciência dos limites de nosso conhecimento”? Qual o resultado das inúmeras tentativas da Ciência para enlaçar, unir e definir todos os fenômenos da vida orgânica, por meio de manifestações puramente físicas e químicas? Simples especulações em geral, meras bolhas de sabão que se desvanecem uma após outra, antes que os homens de ciência possam descobrir fatos reais. Para evitar tudo isso, alcançando o conhecimento muito maior progresso, bastaria que a Ciência e a sua filosofia se abstivessem de aceitar hipóteses baseadas em hipóteses tão limitadas e incompletas a respeito da sua “matéria”. O caso de Urano e Netuno — cujos satélites, em número de quatro e um respectivamente, se acreditava que girassem em suas órbitas de Oriente para Ocidente, enquanto todos os outros satélites giram de Ocidente a Oriente — é um exemplo bem ilustrativo da pouca confiança que devem inspirar todas as especulações a priori, ainda quando apoiadas em cálculos matemáticos os mais exatos. A famosa hipótese da formação do nosso Sistema Solar por meio de anéis nebulares, apresentada por Kant e Laplace, fundamentava-se principalmente no pressuposto de que todos os planetas giram num mesmo sentido. E foi neste fato, matematicamente demonstrado no tempo de Laplace, que o grande astrônomo se apoiou, calculando de acordo com a teoria das probabilidades, para apostar três milhões contra um em que o próximo planeta a ser descoberto teria em seu sistema a mesma peculiaridade de movimento para o Este. As leis imutáveis das 311 matemáticas científicas “foram derrotadas pelas experiências e observações posteriores”. Esta idéia do erro de Laplace prevalece ainda em nossos dias; mas alguns astrônomas conseguiram finalmente demonstrar (?) que o erro consistiria em admitir-se que Laplace havia cometido um engano, e agora se fazem tentativas para corrigir o lapso, sem chamar muito a atenção. Mais de uma surpresa desagradável desse gênero aguarda as hipóteses dos nossos sábios, mesmo aquelas de caráter puramente científico. E quantas outras desilusões não será lícito esperar nas questões que tangem à natureza oculta e transcendente das coisas? Como quer que seja, o Ocultismo ensina que o chamado “movimento retrógrado” é um fato. Se nenhuma inteligência do plano físico é capaz de contar os grãos de areia que cobrem alguns quilômetros de praia, nem de penetrar a natureza íntima e a essência de coisas assim tão concretas, que são palpáveis e visíveis na mão do naturalista, como pode um materialista limitar as leis que governam as mudanças de estado e de existência dos átomos no Caos primordial? Como pode saber algo de seguro a respeito das capacidades e das potências dos átomos e moléculas, antes e depois de entrarem na formação dos mundos? Estas moléculas imutáveis e eternas (muito mais numerosas no espaço que os grãos de areia nas praias do oceano) podem diferir em sua constituição conforme os limites de seus planos de existência, como a substância da alma difere de seu veículo, o corpo. Sabemos que cada átomo tem sete planos de ser ou de existência; e que cada plano está regido por suas leis específicas de evolução e de absorção. Os astrônomos, geólogos e físicos, ao pretenderem decidir da idade do Sistema Solar, sem que possuam uma data sequer aproximada para marcar-lhes o ponto de 312 partida, distanciam-se cada vez mais, em cada nova hipótese, das fronteiras da realidade, e perdem-se nos abismos insondáveis da ontologia especulativa373 . A Lei de Analogia, no plano de estrutura dos sistemas transolares e dos planetas intra-solares, não se aplica necessariamente às condições finitas a que estão sujeitos os corpos físicos neste nosso plano de existência. Na Ciência Oculta, esta Lei de Analogia é a primeira e a mais importante das chaves para a física do Cosmos; faz-se necessário, porém, estudá-la em todas as suas minúcias, e “dar sete voltas à chave” antes que seja possível compreendê-la. A Filosofia Oculta é a única ciência capaz de ensiná-la. Isso, posto, como pode alguém contestar a proposição dos Ocultistas de que “o Cosmos é eterno em sua coletividade não condicionada, e finito somente em suas manifestações condicionadas”, apoiando-se na observação física unilateral de que “a Natureza tem necessidade de esgotar-se374”? UMA DIGRESSÃO Com o quarto Sloka termina a parte das Estâncias que se refere à Cosmogonia do Universo após o último Mahâpralaya ou Dissolução Universal — aquela dissociação geral que, soada a hora, arrebata do Espaço, quais folhas secas, todas as coisas diferenciadas, dos Deuses aos átomos. A partir daquele versículo, as Estâncias só se ocupam, em geral, do nosso Sistema Solar e das Cadeias Planetárias que lhe dizem respeito, e, em 373 Depositando os ocultistas a mais completa confiança na exatidão dos seus anais astronômicos e matemáticos, calculam a idade da humanidade e afirmam que o homem (com sexos separados) existe na presente Ronda precisamente desde a 18.618.727 anos, de acordo com os ensinamentos bramânicos e também com alguns calendários hindus. 374 A continuação do comentário à Estância VI se encontra mais adiante. 313 particular, da história do nosso Globo (o quarto) e de sua Cadeia. Todos os versículos que se seguem neste volume tratam unicamente da evolução de nossa Terra ou que nela tem curso. Há, com relação a esta última, uma proposição estranha — estranha apenas do ponto de vista científico moderno, entenda-se — que devemos dar a conhecer. Antes, porém, de apresentar ao leitor teorias novas e algo surpreendentes, é preciso dizer algumas palavras à guisa de explicação. É imperioso fazê-lo, porque tais teorias não somente se acham em oposição ao que ensina a ciência de hoje, mas também contradizem em certos pontos afirmações anteriores de outros teósofos, que declaram baseadas as suas informações na mesma autoridade que nós invocamos375 . Isso pode dar a impressão de que existe uma contradição formal entre os expositores da mesma doutrina, quando na realidade a divergência se deve a que estavam incompletos os dados recebidos pelos escritores precedentes, o que os levou a deduzir conclusões errôneas e a fazer especulações prematuras, no afã de darem ao público um sistema completo. Assim, o leitor que já esteja iniciado em Teosofia não se deve surpreender de encontrar nestas páginas a retificação de alguns ensinamentos contidos em várias obras teosóficas, e também o esclarecimento de certos pontos que ficaram obscuros, por estarem certamente incompletos. Muitas foram as questões em que nem sequer tocou o autor de Esoteric Buddhism, a melhor e a mais esmerada de todas as obras do gênero. Por outra parte, ele próprio introduziu várias noções errôneas, que agora urge apresentar sob a verdadeira luz mística, quanto seja capaz de fazê-lo quem escreve as presentes linhas. 375 Em Esoteric Buddhism, 1883, por A. P. Sinnett, e em Man, Fragments of Forgotten History, por Dois Chelas, 1885. 314 Permitam-nos, pois, uma breve interrupção entre os Slokas que acabamos de comentar e os que vêm depois — já que são de imensa duração os períodos cósmicos que os separam. Com isso teremos suficiente tempo para uma vista panorâmica sobre alguns aspectos da Doutrina Secreta que foram expostos ao público sob uma luz mais ou menos incerta e por vezes errônea. ALGUNS CONCEITOS TEOSÓFICOS PRIMITIVOS ERRÔNEOS REFERENTES AOS PLANETAS, ÀS RONDAS E AO HOMEM Entre as onze Estâncias omitidas, há uma que dá ampla descrição da formação sucessiva das Cadeias Planetárias, depois de haver começado a primeira diferenciação cósmica e atômica do Acosmismo primitivo. É inútil falar de “leis instituídas quando a Divindade se prepara para criar”; porque as “leis”, ou melhor, a Lei é eterna e incriada; e, além disso, a Divindade é a Lei, e vice-versa. Por outro lado, a eterna Lei una desenvolve todas as coisas, na Natureza que há de manifestar-se, sobre a base de um princípio sétuplo; e este princípio rege as inumeráveis Cadeias circulares de Mundos, compostas de sete Globos graduados nos quatro planos inferiores do Mundo de Formação (os outros três pertencem ao Universo Arquétipo). Destes sete Globos, um somente, o inferior e o mais material de todos, se acha no nosso plano ou ao alcance dos nossos meios de percepção; os outros seis estão fora deste plano, sendo portanto invisíveis ao olho terrestre. Cada uma das Cadeias de Mundos é o produto e a criação de outra, inferior e morta: é a sua reencarnação, digamos assim. Mais claramente: Segundo os ensinamentos, cada um dos planetas — dos quais se diz que apenas sete são sagrados, por serem regidos pelos Deuses ou Regentes mais 315 elevados (e não porque nada soubessem os antigos a respeito dos outros)376 — cada um dos planetas, dizíamos, conhecido ou não conhecido, é setenário, como o é também a Cadeia a que pertence a Terra377. Por exemplo, todos os planetas, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno etc., e a nossa Terra, são visíveis para nós (como o nosso Globo provavelmente o é para os habitantes daqueles, se os há) porque se acham todos no mesmo plano; ao passo que os globos superiores e companheiros de tais planetas estão em planos inteiramente inacessíveis aos nossos sentidos terrestres. Como as suas posições relativas serão indicadas mais adiante, inclusive no diagrama que acompanha os comentários à Estância VI, não se faz mister acrescentar aqui senão algumas palavras de explicação. Os companheiros invisíveis correspondem de maneira bem singular ao que denominamos “os sete princípios do Homem”. Os sete estão em três planos materiais e um espiritual, correspondendo aos três Upâdhis (bases materiais) e a um veículo espiritual (Vâhana) dos sete princípios da divisão humana. Se, para podermos formar uma concepção mais clara, imaginarmos os princípios humanos dispostos em um esquema, obteremos o seguinte diagrama de correspondências: Figura 1: DIAGRAMA I PRINCÍPIOS HUMANOS DIVISÕES PLANETÁRIAS 1 2 7 1 376 Nos Livros Secretos são mencionados muito mais planetas que nas obras astronômicas modernas. 377 Veja-se Esoteric Buddhism. (1) Espírito (2) Alma Upâdhi do Espírito 316 3 4 6 2 5 6 5 3 7 4 Como o nosso método é proceder dos Universais para os Particulares, em vez de seguir o processo indutivo de Aristóteles, os números estão ordenados em sentido inverso. O Espírito vem em primeiro lugar — e não no sétimo, como se procede usualmente, mas como, em verdade, não se deveria fazer. Os Princípios Humanos, tais como enumerados no Esoteric Buddhism e em outros são: 1º Âtmâ; 2º Buddhi (Alma Espiritual); 3º Manas (Alma Humana); 4º Kâma Rûpa (Veículo dos Desejos e Paixões); 5º Prâna; 6º Linga Sharira; 7º Sthûla Sharira. As linhas negras horizontais378 dos Globos inferiores são os Upâdhis, no caso dos Princípios humanos, e os planos no caso da Cadeia Planetária. Quanto 378 Troquei as “linhas negras” por cores, que escurecem de um estágio para outro como acontecia com as linhas. Nada mais foi alterado. (Sandra) (3) Mente (4) Alma animal Upâdhi da mente (5) Vida (6) Corpo Astral Upâdhi da Vida (7) Corpo Físico Upâdhi de todos os princípios Descida da Matéria Nossa Terra ou qualquer Planeta visível Ascensão para o Espírito 317 aos Princípios humanos, conforme se vê, o quadro não os apresenta exatamente em ordem; mostra, porém, a correspondência e a analogia, para as quais desejamos chamar a atenção do leitor. Verá este que se trata da descida do Espírito na matéria, do ajustamento dos dois (tanto no sentido místico como no físico) e de sua conjunção para a grande “luta pela existência” que aguarda ambas as Entidades. Parecerá talvez estranho o emprego da expressão “Entidade” com referência a um Globo; mas os filósofos antigos, que viam na Terra um enorme “animal”, eram mais sábios no seu tempo do que os modernos geólogos em nossos dias; e Plínio, que chamava a Terra nossa boa Mãe e nutriz, e o único elemento que não é inimigo do homem, falava com mais veracidade do que Watts, que imaginava ver nela o escabelo de Deus. Pois a Terra não é senão o escabelo do homem em sua ascensão para as regiões superiores, o vestíbulo …das gloriosas mansões para onde acorre sem cessar agitada multidão. Mas isto serve apenas para mostrar quão admiravelmente a Filosofia Oculta esclarece e ordena todas as coisas da Natureza, e como os seus princípios são mais lógicos do que as especulações hipotéticas e sem vida da ciência física. Aprendendo tudo isso, o místico ficará mais bem preparado para assimilar o ensinamento oculto, não importando que os seguidores da ciência moderna possam (e tudo indica que o farão) considerá-lo absurdo e sem sentido. O ocultista sustenta que a teoria ora exposta é muito mais filosófica e provável que outra qualquer. É mais lógica, em todo caso, que a teoria recentemente aventada de que a 318 Lua é um fragmento projetado da Terra, quando esta era um globo em estado de fusão. Diz Samuel Laing, autor de Modern Science and Modern Thought: “As conclusões astronômicas são teorias baseadas em dados de tal modo incertos que, enquanto em alguns casos oferecem cifras incrivelmente reduzidas, como a de 15 milhões de anos para todo o processo de formação do sistema solar, em outros chegam a resultados de uma extensão de tempo quase inimaginável, quando, por exemplo, supõem que a Lua foi projetada da Terra em época na qual o período de rotação desta última era de três horas, ao passo que o máximo retardamento observado exigiria 600 milhões de anos para fazê-la girar em vinte e três horas em lugar de vinte e quatro379.” E se os físicos insistem em especulações desse jaez, por que zombar da cronologia dos hindus, tachando-a de exagerada? Diz-se ainda que as Cadeias Planetárias têm os seus Dias e as suas Noites, isto é, períodos de atividade ou vida e períodos de inércia ou morte; e que se comportam no céu como os homens na terra; que engendram Cadeias semelhantes, envelhecem e se extinguem fisicamente, sobrevindo na progênie os seus princípios espirituais. 379 Op. cit., pág. 48. 319 Sem nos abalançarmos à tarefa sobremodo difícil de explicar o processo em todas as suas minúcias cósmicas, podemos dizer o suficiente para que se tenha uma idéia aproximada a esse respeito. Quando uma Cadeia Planetária se encontra em sua última Ronda, o seu Globo A, antes de extinguir-se por completo, envia toda a sua energia e todos os seus princípios a um centro neutro de força latente, um centro “laya”, assim animando e chamando à vida um novo núcleo de substância ou matéria não diferenciada. Suponhamos que uma evolução semelhante houvesse ocorrido na Cadeia Lunar Planetária; suponhamos ainda, para argumentar, que a Lua seja muito mais velha que a Terra (apesar de a teoria de Darwin, que citaremos mais adiante, ter sido recentemente abandonada, e de não se achar o fato ainda determinado pelo cálculo matemático). Imaginemos os seis Globos companheiros da Lua — em períodos anteriores à evolução do primeiro Globo de nossa Cadeia setenária — ocupando, uns em relação aos outros, as mesmas posições que ocupam atualmente os Globos companheiros da Terra em nossa Cadeia Planetária380. Será então fácil imaginar o Globo A da Cadeia Lunar dando vida ao Globo A da Cadeia Terrestre, e morrendo depois; em seguida, o Globo B da primeira transmitindo sua energia ao Globo B da nova Cadeia; depois, o Globo C da Cadeia Lunar criando o seu descendente, a esfera C da Cadeia Terrestre; e, finalmente, a Lua (nosso satélite) enviando toda a sua vida, energia e poderes ao Globo mais baixo de nossa Cadeia Planetária, o Globo D, nossa Terra — vertendo-os, assim, em um novo centro e tornando-se virtualmente um planeta morto, no qual a rotação quase que cessou, após o nascimento do nosso Globo. A Lua é, sem dúvida, o satélite da Terra; mas isto não invalida a teoria de que ela deu tudo à Terra, exceto o seu cadáver. 380 Veja-se, em Esoteric Buddhism, “A Constituição do Homem” e “a Cadeia Planetária”. 320 Para que a teoria de Darwin subsistisse, houve mister de rebuscar, além da hipótese de que falamos, hoje relegada, outras especulações ainda mais abstrusas. Diz-se que a Lua esfriou seis vezes mais depressa que a Terra381. “Se a Terra se solidificou há quatorze milhões de anos, a Lua não terá mais de onze milhões e dois terços de um milhão de anos a partir daquela época…” etc. E se a nossa Lua não passa de um salpico de barro procedente da Terra, por que não tirar uma conclusão análoga para as Luas dos outros planetas? Respondem os astrônomos: “Não o sabemos.” Por que Vênus e Mercúrio não têm satélites, e, se tais satélites existem, como teriam sido formados? Não o sabem os astrônomos, porque — dizemos nós — a Ciência possui apenas uma chave (a chave da matéria) para abrir os mistérios da Natureza; ao passo que a Filosofia Oculta dispõe de sete chaves e pode explicar o que a Ciência não consegue ver. Mercúrio e Vênus não têm satélites, mas tiveram “pais”, exatamente como a Terra. Ambos são muito mais antigos que a Terra. E, antes de que esta chegue à sua Sétima Ronda, sua mãe, a Lua, ter-se-á dissolvido no ar sutil, como sucederá ou não, conforme o caso, com as “Luas” dos demais planetas, pois há planetas que possuem várias Luas — mistério ainda não decifrado por nenhum Édipo da Astronomia. A Lua é hoje o frio resíduo, a sombra arrastada pelo corpo novo para o qual se fez a transfusão de seus poderes e princípios de vida. Está agora condenada a seguir a Terra durante longos evos, atraindo-a e sendo por ela atraída. Incessantemente vampirizada por sua filha, vinga-se impregnando-a com a influência nefasta, invisível e venenosa que emana do lado oculto de sua natureza. Pois é um Corpo morto, e no entanto vive. As partículas do seu cadáver em decomposição estão cheias de vida ativa e destruidora, embora o corpo que elas 381 World-Life, de Winchell. 321 anteriormente formavam esteja sem alma e sem vida. Em conseqüência, suas emanações ao mesmo tempo são benéficas e maléficas — circunstância que encontra seu paralelo na terra, no fato de que é nas sepulturas onde as ervas e as plantas medram e se desenvolvem com mais viço, sem embargo das exalações morbígenas dos cadáveres nos cemitérios. Como os fantasmas e vampiros, a Lua é amiga dos feiticeiros e inimiga dos imprudentes. Desde as eras arcaicas até os tempos mais próximos, conhecidas são a sua natureza e as suas propriedades, tanto pelas feiticeiras da Tessália e por alguns dos atuais praticantes do tantrismo na Bengala, como por todos os Ocultistas; mas para os físicos permanecem um livro fechado. Tal é a Lua, considerada dos pontos de vista astronômico, geológico e físico. Quanto à sua natureza metafísica e psíquica, deve, nesta obra, continuar sendo um segredo oculto, como o foi em Esoteric Buddhism, em que pese à ousada afirmação, contida nesta última, de que “já não há muito mistério, no enigma da oitava esfera382”. É esta uma das questões “sobre as quais os Adeptos se mostram muito reservados em suas comunicações a discípulos não iniciados”; e, já que eles não sancionaram nem autorizaram informações públicas sobre esse ponto, é preferível dizer o menos possível. Contudo, sem tocar no terreno interdito da “oitava esfera”, parece útil mencionar alguns fatos relacionados com as ex-mônadas da Cadeia Lunar (os “Antepassados Lunares”), porque desempenham importante papel na Antropogênese, de que nos iremos ocupar. Isto nos leva diretamente à constituição setenária do homem; e, como ultimamente tem havido certa discussão sobre a melhor maneira de classificar-se a divisão da entidade microscópica, acrescentamos 382 Pág. 113 (5ª edição). 322 a seguir dois sistemas, para tornar mais fácil a comparação. O pequeno artigo aqui incluído se deve à pena de T. Subba Row, sábio vedantino. Prefere ele a divisão bramânica do Râja Yoga. Do ponto de vista metafísico, assiste-lhe toda a razão. Mas, por ser uma questão de simples escolha e conveniência, adotamos a classificação trans-himalaica, consagrada pelo tempo, da “Escola Esotérica Arhat”. O quadro seguinte e o seu texto explicativo foram copiados de The Theosophist, de Madras, e figuram também em Five Years of Theosophy383 . Quadro 1: DIVISÃO SETENÁRIA EM DIFERENTES SISTEMAS HINDUS Eis, em forma tabular, as classificações dos Princípios do Homem, adotadas pelos instrutores Budistas e Vedantinos. BUDISMO ESOTÉRICO VEDANTA TARAKA RAJA YOGA 1. Sthûla Sharina Annamayakosha384 2. Prâna386 3. Veículo de Prâna387 Prânamayakosha Sthûlopâdhi385 383 Págs. 185-6. 384 Kosha é “envoltura” literalmente, a envoltura de cada princípio. 385 Sthûla-uphâdi ou base do princípio. 323 4. Kâma Rûpa (a) Volições e sentimentos etc. Mânomayakosha 5. Mente (B) Vijnânam Vijnânamaykosha Sukshmopâdhi 6. Alma espiritual388 Anandamayakosha Kâranophâdhi 7. Âtmâ Âtmâ Âtmâ “Vê-se por este quadro que o terceiro princípio da classificação budista não é mencionado separadamente na divisão vedantina, por ser simplesmente o veículo de Prâna. Vê-se também que o quarto princípio foi incluído no terceiro Kosha (Envoltura), porque tal princípio não é senão o veículo do poder volitivo, o qual não passa de uma energia mental. Cabe ainda observar que o Vijnânamayakosha é considerado como distinto do Mânomayakosha, por isso que, após a morte, se verifica uma divisão entre a parte inferior da mente (parte que possui maior afinidade com o quarto princípio do que com o sexto) e a parte superior (que está vinculada ao sexto e é a base real da individualidade espiritual e superior do homem). Devemos também assinalar que a classificação constante da última coluna é a melhor e a mais simples para todas as questões práticas relacionadas com o Râja Yoga. Apesar de existirem sete princípios no homem, não há senão três Upâdhis (bases) distintos em cada um dos quais possa o Âtmâ operar independentemente do resto. Um Adepto pode separar os três 386 A Vida. 387 Corpo Etéreo ou Linga Sharira. 388 Buddhi. 324 Upâdhis sem o perigo de morrer, mas não pode separar os sete princípios, sem destruir a sua constituição.” O leitor estará agora mais apto a discernir que entre os três Upâdhis do Râja Yoga, mais o Âtmâ, e os nossos três Upâdhis, mais o Âtmâ e as três divisões adicionais, a diferença é de pouca monta. Além disso, como na índia, de um e outro lado dos Himalaias, nas escolas de Patanjali, de Aryâsanga ou da Mahâyâna, todo Adepto deve tornar-se um Râja Yogi, cumpre-lhe portanto aceitar a classificação Taraka Râja em princípio e em teoria, sem embargo de que possa recorrer a outra para fins práticos e ocultos. Assim, pouco importa que se mencionem três Upâdhis com seus três aspectos, mais o Âtmâ, a síntese eterna e imortal, ou que se fale de “Sete Princípios”. Para esclarecimento daqueles que não leram ou compreenderam bem, nos escritos teosóficos, a doutrina referente às Cadeias Setenárias de Mundos no Cosmos Solar, vamos dar aqui um resumo dos ensinamentos. 1. Tudo, no Universo metafísico como no Universo físico, é setenário. Atribuemse, por isso, a cada corpo sideral, a cada planeta, visível ou invisível, seis Globos companheiros. A evolução da vida se efetua, nestes sete Globos ou corpos, do primeiro ao sétimo, em Sete Rondas ou Ciclos. 2. Os Globos são formados por um processo que os Ocultistas denominam “renascimento das Cadeias Planetárias (ou Anéis)”. Quando a Sétima e última Ronda de um dos Anéis se inicia, o Globo superior ou primeiro, A (e como ele todos os demais sucessivamente, até o último), em vez de entrar num período mais ou menos longo de repouso, ou de “Obscurecimento”, como nas Rondas 325 precedentes, começa a desgastar-se. A Dissolução Planetária (Pralaya) aproxima-se: a sua hora soou, deve transferir sua vida e energia a outro planeta389 . 3. A Terra, como representante visível dos globos-companheiros, invisíveis e superiores, seus “Senhores” ou “Princípios”, deve existir, do mesmo modo que os demais, durante sete Rondas. Nas três primeiras, ela se forma e se consolida; na quarta, alcança estabilidade e sua máxima consistência; nas três últimas, retorna gradualmente à sua primeira forma etérea: espiritualizase, por assim dizer. 4. Sua humanidade só se desenvolve plenamente na Quarta Ronda — que é a nossa Ronda atual. Até esse quarto Ciclo de Vida, dá-se-lhe tal nome de “Humanidade” unicamente por falta de outro melhor. Assim como a lagarta se converte em crisálida e esta em borboleta, assim o homem, ou melhor, o que mais tarde vem a ser o homem, passa através de todas as formas e reinos durante a Primeira Ronda, e através de todas as formas humanas durante as duas Rondas seguintes. Ao chegar à Terra, no princípio da Quarta, na presente série de Ciclos de Vida e de Raças, o Homem é a primeira forma animada que aparece nela, pois foi precedido somente pelos reinos mineral e vegetal, devendo ainda este último desenvolver-se e continuar sua evolução ulterior por intermédio do homem. É o que será explicado nos volumes III e IV. Durante as três primeiras Rondas que hão de vir, a Humanidade, como o Globo em que vive, tenderá sempre a reassumir sua forma primitiva: a de uma Legião de Dhyân-Chohans. O homem tende a converter-se em um Deus, 389 Veja-se o Diagrama II, pág. 346. 326 e depois em Deus, da mesma forma que todos os demais Átomos do Universo. Começando por considerar as coisas lá pela remotíssima Segunda Ronda, vemos que a Evolução já se processa sobre um plano inteiramente diferente. Só na primeira Ronda é que o Homem (celestial) se toma um ser humano no Globo A; (volta a ser) um mineral, uma planta, um animal, no Globo B e no C, etc. O processo muda por completo a partir da Segunda Ronda. Mas aprendestes a lição da prudência… e eu vos aconselho a não dizer nada antes de chegar o momento oportuno para isso390 … 5. Cada Ciclo de Vida no Globo D (nossa Terra)391 se compõe de sete RaçasRaízes, que principiam com a etérea e terminam com a espiritual, em uma dupla linha de evolução física e moral, desde o início da Ronda terrestre até o seu termo. Uma coisa é uma “Ronda Planetária”, do Globo A até o Globo G, o último; outra coisa é a “Ronda do Globo”, isto é, a terrestre. Tudo isso foi muito bem descrito no Esoteric Buddhism, e não necessita de maior explicação por enquanto. 6. Os homens da primeira Raça-Raiz, ou seja, os primeiros “Homens” da Terra (qualquer que fosse a forma de que se revestissem) eram os descendentes 390 Extrato de cartas do Mestre acerca de vários assuntos. Veja-se The Mahatma Letters to A. P. Sinnett. 391 Só incidentemente nos ocupamos dos outros Globos nesta obra. 327 dos “Homens Celestes”, chamados corretamente na filosofia hindu “Antepassados Lunares” ou Pitris, que se compõem de sete classes ou Hierarquias. Como tudo isto será melhor explicado nos próximos capítulos e nos volumes III e IV, aqui nada mais se faz necessário acrescentar. Mas os dois livros anteriormente citados, que versam assuntos referentes à doutrina oculta, exigem algumas observações especiais. Um deles, Esoteric Buddhism, é bastante conhecido nos círculos teosóficos, e ainda pelo público em geral, de modo que nos dispensamos de alongar-nos sobre os seus méritos. É uma obra excelente, que produziu efeitos ainda melhores. Não quer isso dizer, porém, que não contenha algumas idéias incorretas, dando azo a que vários leitores, teósofos ou não, formassem conceitos errôneos a respeito das Doutrinas Secretas orientais. A obra dá também a impressão de algo materialista. O outro livro, Man, Fragments of a Forgotten History (“O Homem, Fragmentos de uma História Esquecida”), que se publicou depois, foi uma tentativa para expor a doutrina arcaica de um ponto de vista mais ideal, assim como interpretar algumas visões da Luz Astral e dar forma a alguns ensinamentos em parte recolhidos dos pensamentos de um Mestre, porém infelizmente mal compreendidos. Esta obra se ocupa também da evolução das primitivas raças humanas na Terra, e contém algumas páginas excelentes de cunho filosófico. Apesar de tudo, não passa de um pequeno e interessante poema místico. Não alcançou o seu desiderato, por lhe faltarem as condições necessárias à correta interpretação daquelas visões astrais. Não se surpreenda o leitor, portanto, se estes volumes contrariarem, em diversos pontos, as primeiras descrições a que nos estamos referindo. 328 A cosmogonia esotérica em geral e a evolução da Mônada em particular diferem de modo tão essencial naqueles dois livros, e em outros publicados por principiantes não orientados, que se torna impossível dar prosseguimento à presente obra sem que foquemos especialmente os dois primeiros volumes de que se trata, pois ambos contam um grande número de admiradores, notadamente o Esoteric Buddhism. É chegado o momento de nos explicarmos a esse respeito. Impende cotejar os pontos de equívoco com os ensinamentos originais, para a devida retificação. Se um dos dois livros foi escrito com manifesta propensão para a ciência materialista, o outro é, por seu lado, demasiado otimista, raiando às vezes pela fantasia. Da doutrina (um tanto incompreensível para a mente ocidental) que se ocupa dos Obscurecimentos periódicos e das Rondas sucessivas dos Globos ao longo de suas Cadeias circulares, advieram as primeiras perplexidades e noções errôneas. Um destes conceitos se refere aos “Homens da Quinta Ronda” e até aos da “Sexta”. Os que sabiam ser uma Ronda precedida e seguida de um longo período de repouso, ou Pralaya, que cria um abismo intransponível entre duas Rondas até o advento de um novo ciclo de vida, não podiam compreender o “sofisma” de falar-se da existência de “gente da Quinta e da Sexta Ronda” em nossa Ronda atual, a Quarta. Afirmava-se que Gautama Buddha era um homem da “Sexta Ronda”; que Platão e outros grandes filósofos e gênios pertenciam à “Quinta”. Como podia ser isso? Um Mestre dizia e sustentava que ainda agora existem na terra homens da Quinta Ronda; e, embora se entendesse que ele havia ensinado encontrar-se a humanidade “Quarta Ronda”, em outra ocasião parecia dizer que estamos na Quinta. 329 A isso acudiu outro Mestre com uma “resposta apocalíptica”. “Algumas gotas de chuva não fazem uma monção, se bem que a pressagiem…” “Não, nós não estamos agora na Quinta Ronda; mas homens a ela pertencentes parece que começaram a chegar há alguns milhares de anos.” Eis uma coisa mais difícil de resolver que o enigma da Esfinge! Os estudantes de Ocultismo submeteram seus cérebros às mais árduas especulações. Durante largo tempo, esforçaram-se por sobrepujar a Édipo e conciliar as duas afirmações. E como os Mestres se mantinham tão silenciosos quanto a esfinge de pedra, foram acusados de “inconseqüência”, de “contradição” e de “discrepância”. Mas o que eles faziam era pura e simplesmente deixar que as especulações seguissem o seu curso, a fim de darem uma lição de que realmente necessita a mente ocidental. Em sua vaidade e arrogância, em seu vezo de materializar todos os conceitos e termos metafísicos, sem conceder lugar algum à metáfora e à alegoria oriental, os nossos orientalistas haviam feito uma salsada da filosofia hindu exotérica, e eis que os teósofos procediam de maneira idêntica em relação aos ensinamentos esotéricos. Sendo certo que estes últimos até hoje não chegaram a compreender o significado da expressão “Homens da Quinta e da Sexta Ronda”, vamos dar aqui a explicação. Cada Ronda traz consigo um desenvolvimento novo e até mesmo uma mudança completa na constituição física, psíquica, mental e espiritual do homem; fazendo evolucionar todos os princípios em escala sempre ascendente. Segue-se que homens como Confúcio e Platão, que pertenciam psíquica, mental e espiritualmente a planos mais elevados de evolução, eram em nossa Quarta Ronda o que o homem comum atual virá a ser na Quinta Ronda, cuja humanidade ocupará 330 na escala da evolução um grau bem superior àquele em que se acha a nossa humanidade de hoje. Do mesmo modo, Gautama Buddha (a Sabedoria encarnada) era muito superior a todos os homens de quem acabamos de falar, chamados “Homens da Quinta Ronda”; e por isso, Buddha e também Shankarâchârya foram denominados “Homens da Sexta Ronda”. Descobre-se assim a sabedoria oculta na observação antes qualificada como “evasiva” — de que “algumas gotas de chuva não fazem uma monção, se bem que as pressagiem”. E agora se compreenderá, com toda a clareza, a verdade contida na seguinte passagem de Esoteric Buddhism: “Quando os fatos complexos de uma ciência ainda desconhecida são pela primeira vez expostos a espíritos não preparados, é impossível apresentá-los com todas as qualificações devidas… e seus anormais desenvolvimentos… Devemos primeiro contentar-nos com as regras gerais, deixando para depois as exceções, e é este exatamente o caso do estudo oculto, cujos métodos tradicionais de ensino, comumente adotados, visam a imprimir cada idéia nova na memória, provocando uma perplexidade, que logo se desfaz392.” 392 Esoteric Buddhism, pág.145. 331 Como o autor da observação era, conforme ele próprio diz, “um espírito não educado no Ocultismo”, suas deduções pessoais, apoiadas em seus conhecimentos mais amplos das modernas especulações astronômicas que das doutrinas arcaicas, o levaram naturalmente, sem que o percebesse, a cometer alguns erros — erros mais de pormenores que propriamente dos princípios gerais. Citaremos um deles. Não é de muita importância, mas pode induzir muitos principiantes a conceitos errôneos; e, uma vez que os erros da primeira edição foram corrigidos nas anotações da quinta, do mesmo modo a sexta poderá ser ainda revista e aperfeiçoada. Várias foram as causas de tais enganos. Em primeiro lugar, a necessidade em que se viam os Mestres de dar algumas respostas “evasivas” a perguntas demasiado insistentes, que não podiam ser deixadas em silêncio; e, de outro lado, o caráter de certas indagações, que só podiam ser respondidas em parte. Não obstante esta situação, o sentido daquele provérbio de que “meio pão é preferível a nenhum pão” foi tantas vezes mal compreendido e só raramente apreciado como devia ser. Daí resultou que os cheias leigos da Europa se permitiram algumas especulações gratuitas. Entre elas, o “Mistério da Oitava Esfera” em sua relação com a Lua, e a informação errônea de que dois dos Globos superiores da Cadeia terrestre eram dois de nossos planetas conhecidos: “Além da Terra… existem apenas outros dois mundos de nossa cadeia que são visíveis… Marte e Mercúrio393…” Foi um grande equívoco. Deve-se porém, atribuí-lo não só à resposta imprecisa e incompleta do Mestre como também à pergunta igualmente vaga e indefinida do discípulo. 393 Ibid., pág. 136. 332 A indagação era: “Quais os planetas, dentre os conhecidos pela ciência atual, que, além de Mercúrio, pertencem ao nosso sistema de mundos?” Ora, se por “sistema de mundos” se pretendia significar a nossa Cadeia ou “Cordão” Terrestre, por quem fez a pergunta, em vez de o “Sistema Solar dos Mundos”, como devia ser o caso, então não é de admirar que a resposta fosse mal compreendida. Porque a resposta foi: “Marte etc., e quatro outros planetas a respeito dos quais nada sabe a Astronomia. Nem A, B nem Y, Z são conhecidos, nem podem ser vistos por meios físicos, por mais aperfeiçoados que sejam394”. Tudo parece claro: (a) Nada sabe ainda a Astronomia, na realidade, com relação aos planetas antigos nem aos que acabam de ser descobertos nos tempos modernos, (b) Nenhum planeta companheiro de A a Z, isto é, nenhum dos Globos superiores de qualquer Cadeia do Sistema Solar pode ser visto, com exceção, naturalmente, de todos os planetas que ocupam o quarto lugar na ordem numérica, como a nossa Terra, a Lua etc. etc. Quanto a Marte, Mercúrio e “os outros quatro planetas”, nenhum Mestre ou ocultista elevado jamais falará da relação que têm com a Terra, nem explicará a natureza dessa relação. Na mesma carta, um dos Mestres alude claramente a tal impossibilidade, quando diz ao autor do Esoteric Buddhism: “Deveis compreender que me estais propondo questões que pertencem à mais alta Iniciação; que (só) vos posso dar uma noção geral, mas que não ouso nem desejo entrar em certos pormenores395…” Acham-se em poder da autora desta obra cópias de todas as cartas recebidas ou enviadas, exceto algumas que eram de caráter particular e não continham ensinamentos, segundo disse o Mestre. Cabendo-lhe a tarefa, desde o começo, de responder as cartas e esclarecer certos pontos que não foram tocados, 394 The Mahatma Letters to A. P. Sinnett, pág. 176. 395 Ibid., pág. 177. 333 é bem provável que, apesar das muitas anotações feitas naquelas cópias, a autora, em sua ignorância do inglês, sobretudo nessa época, e pelo receio de dizer demasiado, houvesse incorrido em confusão quanto às informações dadas. Que recaiam sobre elas as responsabilidades conseqüentes, em todos os casos. Mas não lhe é possível consentir que os estudantes permaneçam por mais tempo sob impressões errôneas, ou deixá-los crer que a falha é do sistema esotérico. Seja-nos permitido afirmar agora, em termos explícitos, que a teoria exposta é impossível, com ou sem apoio no testemunho da Astronomia moderna. A ciência física pode proporcionar elementos corroborativos — conquanto ainda incertos —, mas tão-só no que se refere aos corpos celestes que ocupam o mesmo plano material do nosso Universo objetivo. Marte e Mercúrio, Vênus e Júpiter, como os demais planetas até hoje descobertos, ou que o venham a ser ulteriormente, são todos, per se, os representantes, em nosso plano, de Cadeias semelhantes à nossa. É o que afirma claramente uma das numerosas cartas do Mestre do Sr. Sinnett: “Existem em nosso Sistema Solar e fora dele inúmeras outras Cadeias Manvantáricas de Globos, em que habitam Seres inteligentes396.” Mas nem Marte nem Mercúrio pertencem à nossa Cadeia. São, da mesma forma que os demais planetas, Unidades setenárias na grande série de Cadeias do nosso Sistema, e são tão visíveis como invisíveis são os seus respectivos Globos superiores. Se ainda se objetar que certas expressões nas cartas do Mestre são capazes de induzir em erro, nós diremos: Amém; é verdade. O autor do Esoteric Buddhism bem o compreendeu, ao escrever que “os métodos tradicionais de ensino… podem provocar a perplexidade” e fazê-la ou não desaparecer, conforme o caso. Se se acrescentar que isso devia ser dito mais cedo, explicando-se, como 396 The Mahatma Letters to A. P. Sinnett, pág. 119. 334 agora o fazemos, a verdadeira natureza dos planetas, responderemos que tal não foi julgado oportuno até o presente momento, porque se teria aberto o caminho a uma série de questões suplementares, que jamais seria possível solucionar por causa do seu caráter esotérico, o que só transtornos viria trazer. Afirmou-se desde o começo e tem-se repetido muitas vezes: 1º Que nenhum teósofo, nem mesmo como cheia aceito — por nada dizer dos estudantes leigos — pode esperar que lhe sejam ministrados os ensinamentos secretos, com explicação completa e perfeita, antes de haver-se vinculado de modo irrevogável à Fraternidade e de ter passado, no mínimo, por uma Iniciação; pois nem símbolos nem números podem ser transmitidos ao público, e os números e os símbolos são a chave do sistema esotérico. 2º Que a parte já revelada era simplesmente o revestimento esotérico do que se contém em quase todas as escrituras exotéricas das religiões do mundo, sobretudo nos Brâhmanas, nos Upanishads e ainda dos Purânas. Constituía, portanto, uma diminuta parcela do que ora se divulga mais amplamente nos presentes volumes, ainda que a nossa exposição também seja incompleta e fragmentária. Quando deu início a este livro, a autora, convencida de que era errônea a especulação em torno de Marte e Mercúrio, solicitou por carta aos Mestres um esclarecimento e uma versão autorizada. Ela os obteve de modo satisfatório em todos os sentidos, e transcreve a seguir, textualmente, trechos das respostas recebidas: “…É absolutamente certo que Marte se encontra agora em estado de obscurecimento, e que Mercúrio começa precisamente a sair do mesmo estado. Podeis acrescentar que Vênus está em sua última Ronda. . . Se nem Mercúrio nem 335 Vênus possuem satélites, é porque há razões.. . e também porque Marte possui dois satélites a que não tem direito… Fobos, o suposto satélite “interior”, não é realmente um satélite. Assim, a antiga observação de Laplace e a recente de Faye não se harmonizam, como vedes. (Ler ‘Comptes Rendus’, tomo XC, pág. 569.) Fobos possui um tempo periódico demasiado curto, e portanto ‘deve existir alguma falha na idéia-mater da teoria’ como Faye justamente observa… Ademais, ambos [Marte e Mercúrio] são cadeias setenárias tão independentes dos senhores e superiores siderais da Terra como vós sois independente dos ‘princípios’ de Daumling [o Pequeno Polegar], os quais eram talvez os seus seis irmãos, com ou sem toucas de dormir… ‘A satisfação da curiosidade é, para alguns homens, o fim do conhecimento’, diz Bacon, que estava tão certo ao formular este aforismo quanto aqueles que, já cientes disso, antes dele, o estavam em distinguir sabedoria de Conhecimento e em traçar limites ao que se deve dizer em determinado momento. . . Lembrai-os de que: …O Conhecimento reside em cabeças com pensamentos alheios; A Sabedoria, em mentes que refletem por si mesmas…” 336 “É o que jamais podereis incutir profundamente aos espíritos daqueles a quem transmitis alguns dos ensinamentos esotéricos.” Daremos mais alguns extratos de outra carta escrita pela mesma autoridade, já agora em resposta a certas objeções apresentadas aos Mestres. Fundavam-se estas em raciocínios científicos e fúteis ao mesmo tempo, quanto à conveniência de se conciliarem as teorias esotéricas com as especulações da ciência moderna. Formulou-as um jovem teósofo com o objetivo de pôr à prova a “Doutrina Secreta” e com referência a este mesmo assunto. Insinuava que, se na realidade existiam semelhantes Globos companheiros, “deviam ser apenas um pouco menos materiais que a nossa Terra”, por que, então, não podiam ser vistos? Eis a resposta: “…Se houvesse melhor compreensão dos ensinamentos psíquicos e espirituais, a idéia de semelhante incongruência não seria sequer aventada. A menos que não haja tanto desejo de conciliar o inconciliável — ou seja, as ciências metafísicas e espirituais com a filosofia física e natural, sendo a palavra ‘natural’ sinônima, para eles [os homens de ciência], daquela matéria que cai sob a percepção dos seus sentidos corporais —, nenhum progresso será realmente possível. O nosso Globo, como ficou dito desde o início, achase na curva inferior do arco de descida, ‘onde a matéria que podemos perceber se manifesta em sua mais grosseira forma… 337 É, assim, perfeitamente compreensível que estejam em planos diferentes e superiores os Globos companheiros de nossa Terra. Em resumo: como Globos, estão em coadunação, mas não em consubstancialidade, com a nossa Terra, e pertencem, portanto, a outro estado de consciência. O nosso planeta [como todos os que vemos] está adaptado à condição peculiar dos seus habitantes humanos, condição que nos permite contemplar com a vista ordinária os corpos siderais que se encontram em coessência com o nosso plano e a nossa substância terrestre, do mesmo modo que os habitantes daqueles, Júpiter, Marte e outros, podem perceber o nosso pequeno mundo: isto porque os nossos respectivos planos de consciência não diferem senão em grau, sendo idênticos em espécie e situados no mesmo estado de matéria diferenciada. .. Veja-se o que escrevi: O Pralaya menor só se refere aos nossos pequenos Cordões de Globos. [Naqueles dias férteis em confusão de palavras, chamávamos ‘Cordões’ às Cadeias.] … A um desses Cordões pertence a nossa ‘Terra’. Isso devia ter mostrado claramente que os outros planetas constituem também ‘Cordões’ ou Cadeias…’ Para que ele [o autor da objeção] percebesse, ainda que imprecisamente, a silhueta de um desses ‘planetas’ nos planos superiores, teria primeiro que afastar todas as nuvens de matéria astral que se interpõem entre ele e o plano imediato…” 338 Fácil é, portanto, compreender por que não podemos ver, nem mesmo com a ajuda dos melhores telescópios, o que se acha fora do nosso mundo de matéria. Só aqueles a quem damos o nome de Adeptos, que sabem como dirigir sua visão mental e transferir sua consciência, tanto física como psíquica, a outros planos de existência, podem falar como autoridade acerca de tais assuntos. E eles nos dizem claramente: “Se levardes a vida que se faz mister para a aquisição de semelhantes poderes e conhecimento, a Sabedoria virá até vós de modo muito natural. Desde o momento em que vos seja possível sintonizar a consciência com qualquer uma das sete cordas da ‘Consciência Universal’, aquelas cordas que se acham em tensão sobre a caixa sonora do Cosmos, vibrando ao longo de uma a outra Eternidade; quando houverdes estudado por completo a ‘Música das Esferas’ — então, e somente então, tereis plena liberdade para compartir o conhecimento com aqueles junto aos quais é possível fazê-lo sem perigo. Até lá, sede prudentes. Não deis à nossa geração atual as grandes Verdades que constituem a herança das Raças futuras. Não tenteis desvendar os segredos do Ser e do Não-Ser aos que são incapazes de compreender o significado oculto do Heptacórdio de Apoio, a lira do deus radiante, em cada uma de cujas sete cordas residem o Espírito, a Alma e o Corpo Astral do Cosmos, do qual apenas a capa exterior caiu entre as mãos 339 da Ciência moderna… Sede prudentes, repetimos, prudentes e sábios, e sobretudo tende o cuidado de certificar-vos do que acreditam aqueles que ouvem os vossos ensinamentos, a fim de que, iludindo-se a si próprios, não venham a iludir os outros… porque tal é o destino de todas as verdades com que os homens não se achem ainda familiarizados… É preferível que as Cadeias Planetárias e outros mistérios supercósmicos e subcósmicos continuem no país dos sonhos para todos aqueles que não podem ver nem crer no que outros vêem…” É de lamentar que poucos dentre nós tenham seguido tão sábio conselho, e que muitas pérolas valiosas, muitas jóias de sabedoria, hajam sido entregues a inimigos incapazes de apreciar-lhes o valor, os quais se voltaram contra nós para nos atacar e nos caluniar. “Imaginemos” — escreve o citado Mestre a seus dois “cheias leigos”, como ele chamava o autor do Esoteric Buddhism e outra pessoa que foi seu companheiro de estudos durante certo tempo — “imaginemos que a nossa terra faz parte de um grupo de sete planetas ou mundos habitados por seres humanos. . . [Os ‘Sete Planetas’ são os planetas sagrados da antigüidade, todos setenários.] O impulso de vida chega a A, ou melhor, àquele que está destinado a converter-se em A, não passando então de poeira cósmica [um centro laya]…, etc.397.” Nessas primeiras cartas, em que necessário foi inventar e criar palavras, “Anéis” passavam muitas vezes a “Rondas”, e “Rondas” a “Ciclos de Vida”; e vice- 397 Ibid., pág. 94. 340 versa. A um correspondente que chamou “Anel de Mundos” a uma “Ronda”, respondeu o Mestre: “Creio que isso dará lugar a maior confusão. Todos estamos de acordo em definir como uma Ronda a passagem de uma Manada do Globo A até o Globo G ou Z…. ‘Anel de Mundos’ é correto… Interessai-vos junto ao Sr. … no sentido de adotar uma nomenclatura uniforme antes de passar adiante398…” Apesar do acordo, muitos erros, devidos à confusão, passaram despercebidos nos primeiros ensinamentos. Até as “Raças” foram algumas vezes confundidas com as “Rondas” e os “Anéis”, o que induziu a erros semelhantes que se vêem no livro Man: Fragments of Forgotten History. Já desde o começo havia o Mestre escrito: “Não me sendo permitido comunicar-vos a verdade completa nem divulgar um número de frações isoladas. . . vejome impossibilitado de vos satisfazer399.” “Foi isso em resposta à indagação: “Se estamos no caminho certo, então a existência total que precedeu ao período humano é 637” etc. etc. A todas as perguntas que envolviam números, respondia-se: “Cuidai de resolver o problema das 777 encarnações… Embora eu seja obrigado a recusar a informação… contudo, se encontrardes a solução por vós mesmos, meu dever será dizê-lo400.” Mas a solução não foi encontrada, daí resultando perplexidades e erros a miúdo repetidos. O próprio ensinamento relativo à constituição setenária dos corpos siderais e do macrocosmo — de que advém a divisão setenária do homem ou 398 Ibid., pág. 80. 399 Ibid., pág. 81. 400 Ibid., pág. 83. 341 microcosmo — era até agora considerado como dos mais esotéricos. Nos tempos antigos só eram dados a conhecer no momento da Iniciação, juntamente com os números mais sagrados dos Ciclos. Conforme já foi dito numa revista teosófica401 , não havia a intenção de revelar-se agora todo o sistema cosmogônico, nem por um instante se pensou que isso fosse possível na época atual, em que, como resposta a uma série de perguntas formuladas pelo autor do Esoteric Buddhism, não eram ministradas senão algumas informações parcimoniosas. Entre as questões propostas figuravam umas que envolviam problemas de tal ordem que nenhum mestre, por mais graduado e independente que fosse, teria o direito de esclarecer, divulgando assim ao mundo os mais arcaicos e venerandos mistérios dos antigos templos e instituições. Por isso só algumas das doutrinas foram reveladas, assim mesmo em suas linhas gerais, deixando-se em silêncio as minúcias; e todas as tentativas visando à obtenção de dados mais amplos foram sistematicamente elucidadas. Era de todo natural que assim fosse. Dos quatro Vidyâs, dentre os sete ramos do Conhecimento mencionados nos Purânas —, a saber: Yajna-Vidyâ, a prática de ritos religiosos para a consecução de certos resultados; Mahâ-Vidyâ, o grande conhecimento (mágico), hoje degenerado no culto Tântrico; Guhya-Vidyâ, a ciência dos Mantras e do seu verdadeiro ritmo ou canto, dos encantamentos místicos etc.; e Âtmâ-Vidya, ou a Sabedoria Divina e verdadeiramente Espiritual; — somente este último é capaz de lançar uma luz definitiva e absoluta sobre os ensinamentos dos três primeiros. Sem o auxílio de Âtma-Vidyâ, os outros três ramos não passam de ciências superficiais, à maneira de grandezas geométricas que têm largura e comprimento mas nenhuma espessura. São como a alma, os membros e a 401 Lúcifer, maio de 1888. 342 mente de um homem que dorme, capaz de movimentos mecânicos, de sonhos incoerentes e até de caminhar feito um sonâmbulo; de produzir efeitos visíveis, mas estimulados tão somente por causas instintivas, não intelectuais, e de modo algum por impulsos espirituais plenamente conscientes. Das três primeiras ciências é possível explicar e ensinar muita coisa. Entretanto, a menos que Âtmâ-Vidya proporcione a chave para os ensinamentos, permanecerão elas, como sempre, quais fragmentos de um livro cujo texto foi mutilado; sombras de grandes verdades, percebidas vagamente pelos mais espirituais, mas deformadas a tal ponto que não podem ser reconhecidas por aqueles que desejariam fixar cada sombra na parede. Outra grande perplexidade invade a mente do estudante ao ser-lhe apresentada uma exposição incompleta da doutrina referente à evolução das Mônadas. Para que seja bem compreendida essa doutrina, faz-se mister não só a evolução em si como o processo de nascimento dos Globos, muito mais sob o aspecto metafísico que de um ponto de vista que poderíamos chamar estatístico, isto é, que expõe cifras e números cujo pleno uso não é permitido senão raramente. Infelizmente, são poucos os que se sentem inclinados a ocupar-se de tais doutrinas em seu sentido puramente metafísico. Dos escritores ocidentais, o que melhor discorreu sobre o assunto chegou a dizer em sua obra, ao falar da evolução das Mônadas: “Em semelhante metafísica pura não estamos, por ora, empenhados402.” Mas então, como observou o Mestre em carta que lhe dirigiu: “Por que predicar as nossas doutrinas, por que todo esse penoso trabalho, esse nadar ‘in adversum flumen’? Por que o Ocidente há de aprender do Oriente. .. o que jamais poderá satisfazer as exigências dos gostos especiais dos estetas?” E chama a atenção do 402 Esoteric Buddhism,.pág. 46 (5.a edição). 343 seu correspondente para as “tremendas dificuldades que [os Adeptos] deparam toda vez que tentam explicar sua metafísica ao espírito ocidental”. E bem que o pode dizer: pois fora da metafísica não há Filosofia Oculta nem Esoterismo possível. É como se tratássemos de explicar as aspirações e os afetos, o amor e o ódio, o mais íntimo e sagrado das operações da alma e a inteligência do homem vivente, pela descrição anatômica do tórax e do cérebro de seu cadáver. Vejamos agora dois pontos a que antes aludimos e sobre os quais existe apenas ligeira referência no Esoteric Buddhism, a fim de acrescentarmos os esclarecimentos que estiverem ao nosso alcance. FATOS E EXPLICAÇÕES ADICIONAIS REFERENTES AOS GLOBOS E ÀS MÔNADAS Devemos citar duas declarações contidas no livro Esoteric Buddhism e as opiniões expendidas pelo autor. A primeira daquelas é a seguinte: “As Mônadas espirituais… não esgotam inteiramente sua existência mineral no Globo A, mas o fazem depois no Globo B, e assim sucessivamente. Dão várias vezes a volta em todo o círculo como minerais, várias vezes depois como vegetais, e finalmente circulam várias vezes mais como animais. Abstemo-nos propositadamente, por enquanto, de mencionar cifras etc., etc.403” 403 Op. cit., pág. 49. 344 Foi uma atitude prudente, uma vez que se mantinha grande segredo em relação aos números e cifras. Tal reserva já hoje não subsiste, pelo menos parcialmente; mas seria talvez preferível dar os números exatos que governam as Rondas e os circuitos evolutivos, ou então omiti-los por completo. O Sr. Sinnett compreendeu muito bem esta dificuldade, ao dizer: “Em virtude de razões que ao público não é fácil adivinhar, os detentores do conhecimento oculto se mostram particularmente reservados ao exporem fatos numéricos que se relacionam com a cosmogonia, embora seja difícil para o não iniciado compreender o motivo de semelhante abstenção404.” Razões havia, evidentemente. Certo é, porém, que a essa reticência se deve a maior parte das idéias confusas de alguns discípulos, assim orientais como ocidentais. As dificuldades que se interpunham para a aceitação dos dois pontos de que se trata foram consideráveis, precisamente por falta de dados em que apoiá-los. Mas isso aconteceu porque, conforme mais de uma vez haviam declarado os Mestres, as cifras pertinentes aos cálculos ocultos não podem ser transmitidas fora do círculo dos cheias ajuramentados, nem estes podem quebrantar as regras. Para dilucidar as coisas, sem ferir os aspectos matemáticos da doutrina, é lícito ampliar os ensinamentos, a fim de dissipar certas obscuridades. Como a evolução dos Globos e a das Mônadas estão intimamente entrelaçadas, trataremos de unificar os dois ensinamentos. 404 Ibid., pág. 149. 345 No que se refere às Mônadas, lembramos ao leitor que a filosofia oriental repugna o dogma teológico ocidental de que em cada nascimento ocorre a criação de uma nova alma, dogma tão pouco filosófico quanto impossível na economia da Natureza. Deve existir um número limitado de Mônadas, que evolucionam e se tornam cada vez mais perfeitas mediante a assimilação de muitas personalidades sucessivas em cada novo Manvantara. Tal é absolutamente necessário em vista das leis do Renascimento e do Carma, e do retorno gradual da Mônada humana à sua origem — a Divindade Absoluta. Assim, embora as legiões de Mônadas, em maior ou menor grau de evolução, sejam quase incalculáveis, não deixam de ser em número determinado e finito, como todas as coisas neste Universo diferenciado. Conforme indicamos no diagrama duplo dos Princípios Humanos e dos Globos em ascensão nas Cadeias de mundos405, existe um eterno encadeamento de causas e efeitos; e uma analogia perfeita reina de ponta a ponta, associando todas as linhas de evolução. Um é a causa de outro: assim em relação aos Globos como às Personalidades. Mas comecemos pelo princípio. Acabamos de traçar um esboço geral do processo evolutivo, pelo qual se formam as Cadeias Planetárias sucessivas. Com o intuito de prevenir possíveis erros futuros, desejamos acrescentar algumas informações, que também vão projetar luz sobre a história de nossa própria Cadeia (filha da Cadeia Lunar). No quadro que se segue, a Figura 2 representa a Cadeia Lunar de sete Globos no início de sua sétima e última Ronda, e a Figura 3 mostra a Cadeia terrestre que, ainda não existente, irá surgir. Os sete Globos de cada Cadeia se distinguem em sua ordem cíclica pelas letras A a G, e os Globos da Cadeia Terrestre estão, além disso, assinalados com uma cruz (+), símbolo da Terra. 405 V. página 197. 346 Figura 2: DIAGRAMA II Figura 3: CADEIA LUNAR Figura 4: CADEIA TERRESTRE As Mônadas que circulam por uma Cadeia Planetária — convém agora ter presente — estão divididas em sete Classes ou Hierarquias, segundo seus respectivos graus de evolução, consciência e mérito. Acompanhemos, pois, a ordem de seu aparecimento no Globo A, durante a primeira Ronda. Os espaços de tempo que medeiam entre um e outro aparecimento dessas Hierarquias em um Globo são ajustados de tal modo que, ao surgir a classe 7 (a última) no Globo A, a classe 1 (a primeira) terá justamente acabado de passar ao Globo B, e assim por diante, passo a passo, ao redor de toda a Cadeia. De igual modo, na Sétima Ronda da Cadeia Lunar, quando a classe 7 (a última) se retira do Globo A, este, em vez de ficar adormecido, como aconteceu nas 347 Rondas anteriores, começa a morrer (a entrar em seu Pralaya Planetário)406; e, morrendo, transfere sucessivamente, conforme já dissemos, os seus princípios ou elementos de vida e energia, um após outro, a um novo centro “laya”, onde tem início a formação do Globo A da Cadeia Terrestre. Processo semelhante ocorre em cada um dos Globos da Cadeia Lunar, dando ensejo à formação sucessiva de novos Globos da cadeia Terrestre. Nossa Lua era o quarto Globo da série, situando-se no mesmo plano de percepção da Terra. Mas o Globo A da Cadeia Lunar não estará inteiramente “morto” antes que as primeiras Mônadas da primeira Classe tenham passado do Globo G ou Z (o último da Cadeia Lunar) para o Nirvana, que as aguarda entre as duas Cadeias, e o mesmo sucede em relação aos demais Globos, cada qual dando nascimento ao Globo correspondente da Cadeia Terrestre. Em seguida, quando já se acha pronto o Globo da nova Cadeia, a primeira Classe ou Hierarquia de Mônadas da Cadeia Lunar se encarna sobre esse Globo, no reino inferior; e assim consecutivamente. Donde resulta que só a primeira Classe de Mônadas é que atinge o estado de desenvolvimento humano durante a primeira Ronda, visto que a segunda Classe, chegando mais tarde em cada Globo, não tem tempo de o alcançar. Por isso, as Mônadas da Classe 2 vão atingir a condição humana incipiente tão só na Segunda Ronda; e assim por diante, até o meado da Quarta Ronda. A esta altura, porém, e na mesma Quarta Ronda, em que se encontrará plenamente desenvolvido o estado humano, fecha-se a “porta” que dá entrada ao reino humano, a partir desse momento o número de Mônadas 406 O Ocultismo divide os períodos de repouso (Pralaya) em várias classes: há o Pralaya individual de cada Globo, que se dá quando a humanidade e a vida passam ao Globo seguinte (o que determina a ocorrência de sete Pralayas menores em cada Ronda); o Pralaya Planetário, quando se completam sete Rondas, o Pralaya Solar, quando todo o sistema chega ao seu fim; e, por último, o Pralaya Universal, Mahâ ou Brahmâ Pralaya, que sobrevém ao terminar a Idade de Brahma. São estes os principais Pralayas ou “períodos de destruição”. Há também diversos Pralayas menores, mas deles não nos devemos ocupar agora. 348 “humanas”, isto é, de Mônadas em estado de desenvolvimento humano, está completo. As Mônadas que até então não lograram a condição humana ver-se-ão, em virtude mesmo da evolução da humanidade, tão atrasadas, que só no fim da Sétima e última Ronda irão alcançar aquele estado. Não serão “homens” nesta Cadeia; mas formarão a humanidade de um Manvantara futuro. Quando chegarem a ser “homens”, isto se dará numa Cadeia em tudo superior à nossa: terão deste modo a sua compensação Cármica. Só há uma exceção, que encontra seu fundamento em boas razões; e dela nos ocuparemos oportunamente. Mas o que precede explica as diferenças existentes entre as Raças. Observe-se como é perfeita a analogia entre a evolução da Natureza no Cosmos e a do homem individual. Este último vive durante seu ciclo de existência, e morre; seus princípios superiores, que correspondem, no desenvolvimento de uma Cadeia Planetária, às Mônadas em evolução, passam ao Devachan, que corresponde ao Nirvana e aos estados de repouso entre duas Cadeias. Os princípios inferiores do homem se desintegram com o tempo, e a Natureza os reutiliza para a formação de novos princípios humanos; processo idêntico ao da desintegração e formação dos mundos. A Analogia, portanto, é o mais seguro guia para a compreensão dos ensinamentos ocultos. Esse é um dos “sete mistérios” da Lua; e ei-lo agora revelado. Os “sete mistérios” são chamados as “Sete Jóias” pelos Yama-booshis japoneses (os místicos da seita de Lao-Tse e os monges ascetas de Kioto, os Dzeno-doo); sendo de notar, porém, que os ascetas e iniciados budistas japoneses e chineses são ainda menos inclinados que os da índia a comunicar os seus “Conhecimentos”. 349 Mas, não sendo conveniente que o leitor perca de vista as Mônadas, devemos esclarecê-lo quanto à natureza delas, até o ponto em que tal nos seja possível, sem entrar na área dos mistérios mais elevados, a respeito dos quais a autora não tem a pretensão de conhecer a última palavra. As Legiões Monádicas podem ser divididas, grosso modo, em duas grandes classes: 1. As Mônadas mais desenvolvidas — os Deuses Lunares ou “Espíritos” chamados na índia Pitris — cuja função é passar, na primeira Ronda, através do ciclo tríplice e completo dos reinos mineral, vegetal e animal, em suas formas mais nebulosas, etéreas e rudimentares, assumindo-as, a fim de assimilar a natureza da Cadeia recentemente formada. Estas Mônadas são as primeiras a alcançar a forma humana (se é que pode existir alguma forma no reino do quase subjetivo) sobre o Globo A, na primeira Ronda. São elas, portanto, que se acham na vanguarda do elemento humano e o representam durante a Segunda e a Terceira Rondas, e que, finalmente, preparam suas sombras, no começo da Quarta Ronda, para a segunda Classe, ou seja, para as Mônadas que virão em seguida. 2. As Mônadas que são as primeiras a alcançar o estado humano durante três e meia Rondas, tornando-se “homens”. 3. Os retardatários, as Mônadas em atraso e que, por impedimentos Cármicos, não chegarão ao estado humano durante este Ciclo ou Ronda, salvo uma exceção de que trataremos mais adiante, conforme já prometemos. 350 Fomos obrigados a empregar nesta exposição a palavras algo imprecisa “homens”, prova evidente de como as línguas européias são pouco aptas para expressar distinções sutis. Claro é que tais “homens” não se pareciam com os homens de hoje, nem quanto à forma nem quanto à natureza. Por que, então, chamá-los “homens”? — perguntar-se-á. Porque não existe outro termo em nenhuma das línguas ocidentais que possa dar uma idéia aproximada do que se tem em mira. A palavra “homens” indica, pelo menos, que estes seres eram “Manus407”, entidades pensantes, ainda que muito diferentes em forma e em inteligência dos homens atuais. Na realidade eram, no que respeita à espiritualidade e à inteligência, mais “deuses” do que “homens”. A mesma dificuldade de linguagem ocorre para a descrição dos “estágios” por que passa a Mônada. Em termos metafísicos, é naturalmente absurdo falar do “desenvolvimento” de uma Mônada, ou dizer que ela se converte em “homem”. Mas qualquer tentativa de guardar a exatidão metafísica usando um idioma ocidental exigiria, no mínimo, três volumes a mais, e daria lugar a uma série de repetições sobremodo enfadonhas. É lógico que a Mônada não pode progredir nem desenvolver-se, nem mesmo ser influenciada pelas mudanças de estado por que passa. Ela não pertence a este mundo ou a este plano, e é comparável somente a uma indestrutível estrela de luz e fogo divino, que vem até a nossa Terra como uma tábua de salvação para as personalidades em que habita. Cabe a estas últimas arrimarem-se a ela, a fim de, participando de sua natureza divina, obterem a imortalidade. Abandonada a si mesma, a Mônada não se prenderia a ninguém; mas, 407 Raiz sânscrita man, pensar, imaginar. 351 tal como a tábua, é arrastada a outra encarnação pela corrente incessante da evolução. A evolução da forma externa, ou corpo, em torno do astral, é produzida pelas forças terrestres, do mesmo modo que nos reinos inferiores; mas a evolução do Homem interno ou real é puramente espiritual. Já não é a passagem da Mônada impessoal através das múltiplas e variadas formas de matéria — dotadas, quando muito, de instinto e consciência em um plano completamente diferente —, como no caso da evolução externa; é uma viagem da “Alma-Peregrino” através de estados diversos, não só de matéria, mas de consciência e percepção próprias, ou de percepção que dimana da consciência do conhecimento interno. A Mônada emerge do seu estado de inconsciência espiritual e intelectual e, saltando os dois primeiros planos (demasiado próximos do Absoluto para que seja possível qualquer correlação com algo pertencente a um plano inferior), chega diretamente ao plano da Mentalidade. Mas não há, em todo o Universo, plano que ofereça maior margem e mais vasto campo de ação que o plano mental, com suas gradações quase infinitas de qualidades perceptivas e aperceptivas; plano este que, além do mais, possui uma região inferior conveniente a cada “forma”, desde a Mônada Mineral até o seu florescer em Mônada Divina, graças à evolução. Durante todo esse tempo, porém, a Mônada é uma só e sempre a mesma, diferenciando-se apenas em suas encarnações, através de seus ciclos sucessivos de obscurecimento parcial ou total do espírito, ou de obscurecimento parcial ou total da matéria — as duas antíteses polares — conforme se eleve em busca do reino da espiritualidade mental ou desça aos abismos da materialidade. Voltemos ao Esoteric Buddhism. 352 A segunda assertiva refere-se ao longo período que transcorre entre a época mineral no Globo A e a época do homem — sendo a expressão “época do homem” usada à vista da necessidade de dar um nome a esse quarto reino que sucede ao do animal, embora na verdade o “homem” no Globo A, durante a Primeira Ronda, não seja propriamente o homem, senão o seu protótipo, a sua imagem sem dimensões, provinda das regiões astrais. Eis o trecho a que aludimos: “O completo desenvolvimento da era mineral no Globo A prepara o caminho para o desenvolvimento vegetal; e, tão logo este se inicia, o impulso de vida mineral transfunde-se para o Globo B. Depois, quando o desenvolvimento vegetal no Globo A está completo, e principia o desenvolvimento animal, o impulso de vida vegetal passa ao Globo B, enquanto o impulso mineral se traslada para o Globo C. Então, e finalmente, chega ao Globo A o impulso de vida humana408.” E assim a onda vital continua durante três Rondas, até que diminui a sua marcha e por fim se detém no limiar do nosso Globo, na Quarta Ronda: detém-se, porque então alcançou o período humano (do verdadeiro homem físico que vai surgir), o sétimo. Isto é evidente, pois se diz que: “…existem modos de evolução que precedem o reino mineral, e assim é que uma onda de evolução, ou melhor, várias ondas de evolução precedem a onda mineral em seu progresso em torno das esferas409.” 408 Págs. 48 e 49 409 IBID. 353 Devemos agora citar parte do artigo “A Mônada Mineral” de Five Years of Theosophy: “Existem sete reinos. O primeiro grupo compreende três graus de dementais ou centros nascentes de forças — desde o primeiro estado de diferenciação de Mûlaprakriti (ou antes, de Pradhâna, matéria primordial homogênea) até o seu terceiro grau — isto é, da plena inconsciência à semipercepção; o segundo grupo, mais elevado, inclui os reinos desde o vegetal ao homem. O reino mineral forma, assim, o ponto central ou giratório nos graus da “Essência Monádica”, considerada como uma energia que evoluciona. Três estados (subfísicos) no dementai; o reino mineral; três estados no aspecto objetivo físico410: tais são os sete elos (primeiros ou preliminares) da cadeia evolutiva411.” “Preliminares”, porque são preparatórios; e, embora pertençam de fato à evolução natural, estariam mais corretamente descritos como pertencentes à evolução infranatural. Este processo se detém no terceiro de seus estágios, já no limiar do quarto, quando passa a ser, no plano da evolução natural, o primeiro estado que conduz realmente ao homem, formando assim, com os três reinos dementais, os dez, o número Sephirotal. É neste ponto que começa 410 “Físico” aqui significa diferenciado para objetivos e trabalhos cósmicos; contudo, aquele “aspecto físico”, ainda que objetivo para a percepção interna de seres de outros planos, é completamente subjetivo para nós, em nosso plano. 411 Págs. 276 e seguintes. 354 “Uma descida do espírito na matéria, equivalente a uma ascensão no processo evolutivo físico; um reerguimento desde os mais profundos abismos da matéria (o mineral) para o seu statu quo ante, com uma dissipação correspondente de organismos concretos — até o Nirvana, o ponto em que se desvanece a matéria diferenciada412.” Faz-se, portanto, evidente a razão por que a “onda de evolução” ou o “impulso mineral, vegetal, animal e humano” (expressões usadas pertinentemente no Esoteric Buddhism) se detém no limiar do nosso Globo, em seu Quarto Ciclo ou Ronda. Neste ponto é que a Mônada Cósmica (Buddhi) se une ao Raio Átmico, tornando-se o veículo deste; ou seja, que Buddhi desperta para a apercepção ou conhecimento interno de Âtman, dando assim o primeiro passo em uma nova escala setenária de evolução, que deverá conduzi-lo mais tarde ao décimo estádio (contando de baixo para cima) da Árvore Sephirothal, a Coroa. No Universo todas as coisas seguem a lei da Analogia. “Em baixo como em cima”; o Homem é o microcosmo do Universo. O que se passa no plano espiritual repete-se no plano cósmico. A concreção segue as linhas da abstração; o inferior deve corresponder ao superior; o material ao espiritual. Assim, em correspondência à Coroa Sephirothal ou Tríade Superior, existem os três reinos dementais que precedem o reino mineral413, e que, para usar a linguagem dos cabalistas, correspondem, na diferenciação cósmica, aos mundos da Forma e da Matéria, desde o Super-Espiritual ao Arquétipo. 412 Ibid. 413 Veja-se o diagrama, op. cit., pág. 277. 355 Que é uma Mônada? Que relação tem com um Átomo? A resposta que se segue baseia-se nas explicações que sobre estes problemas oferece o artigo já citado, “A Mônada Mineral”, escrito pela autora. Dissemos quanto à segunda pergunta: “A Mônada não tem relação de espécie alguma com o átomo ou a molécula, no sentido em que a ciência atualmente os conceitua. Nem pode ser comparada com os organismos microscópicos, outrora classificados entre os infusórios poligástricos e hoje considerados como vegetais, na classe das algas. Nem é tampouco a monas dos peripatéticos. Física ou constitucionalmente, a Mônada Mineral difere sem dúvida da Mônada Humana, que não é física, possuindo uma estrutura que não pode ser representada por meio de símbolos e elementos químicos414.” Em resumo: assim como a Mônada Espiritual é Una, Universal, Ilimitada e Indivisa, se bem que os seus Raios formem o que em nossa ignorância chamamos “Mônadas Individuais” dos homens, assim também a Mônada Mineral (achando-se no arco oposto do círculo) é Una, e dela procedem os inumeráveis átomos físicos, que a Ciência principia a considerar como individualizados. “Se não, como se poderia explicar o progresso evolutivo e em espiral dos quatro reinos? A Mônada é a 414 Op. cit., págs. 273 e 274. 356 combinação dos dois últimos princípios do homem, o sexto e o sétimo; e, propriamente falando, a expressão “Mônada Humana” deve aplicar-se tão-só ao seu princípio superior, espiritual e vivificante, Âtmâ. Mas, como a Alma Espiritual, separada deste último (Âtmâ), não pode ter existência ou modo algum de ser, foi ela assim chamada… Ora, a Essência Monádica, ou antes Cósmica (se podemos empregar este termo em relação ao mineral, ao vegetal e ao animal), conquanto a mesma através da série dos ciclos, desde o elemental mais ínfimo até o reino dos Devas, difere, contudo, na escala de progressão. Seria de todo errôneo imaginar a Mônada como uma Entidade separada, a percorrer lentamente uma determinada senda, através dos reinos inferiores, para florescer em um ser humano após uma série incalculável de transformações; em uma palavra, supor que a Mônada de um Humboldt, por exemplo, proviesse da de um átomo de greda. Em vez de se dizer “Mônada Mineral”, expressão que seria mais correta na ciência física, que diferencia cada átomo, falar-se-ia com mais propriedade dizendo: “A Mônada em manifestação naquela forma de Prakriti chamada Reino Mineral.” O átomo, tal como se conceitua nas hipóteses científicas correntes, não é uma partícula de algo, animada por algo psíquico e destinada a despontar como um homem após o transcurso de largos evos. Mas é a manifestação concreta de uma Energia Universal, 357 ainda não individualizada; manifestação serial da única Monas universal. O Oceano da Matéria não se divide em suas gotas potenciais e constituintes antes que a onda do impulso de vida atinja o estágio evolutivo humano. A tendência para a segregação em Mônadas individuais é gradativa, e quase chega a este ponto nos animais superiores. Os peripatéticos aplicavam a palavra Monas a todo o Cosmos e no sentido panteísta; os ocultistas, por uma questão de comodidade, aceitam essa idéia, mas distinguem do abstrato os graus progressivos do concreto, por meio de termos como “Mônada Mineral, Vegetal, Animal” etc. A expressão quer dizer simplesmente que a onda da evolução espiritual está passando por aquele arco de seu circuito. É no reino vegetal que a “Essência Monádica” começa imperceptivelmente a diferenciar-se no sentido da consciência individual. Sendo as Mônadas coisas não compostas, como acertadamente as definiu Leibnitz, a Essência Espiritual, que as vivifica em seus diversos graus de manifestação, é que constitui, propriamente falando, a Mônada — e não a agregação atômica, que não é senão o veículo, a substância através da qual vibram os graus inferiores e superiores da inteligência415.” Leibnitz considerava as Mônadas como unidades dementais e indestrutíveis, dotadas do poder de dar e de receber em relação às outras unidades, 415 Op. Cit., págs. 274 e 275. 358 assim determinando todos os fenômenos de ordem espiritual e física. Foi ele quem inventou a palavra “apercepção”, que expressa, não com a percepção, mas antes com a sensação nervosa, o estado da consciência Monádica através de todos os reinos, até o homem. É possível, assim, que, do ponto de vista estritamente metafísico, seja incorreto dar a Âtmâ-Buddhi o nome de Mônada, pois aquele, encarado pelo ângulo da matéria, é duplo e, portanto, composto. Mas, como Matéria é Espírito, e viceversa, e assim como o Universo e a Divindade que o anima não podem ser concebidos separadamente um do outro, o mesmo sucede no caso de Âtmâ-Buddhi. Sendo o último o veículo do primeiro, Buddhi está para Âtmâ assim como AdãoKadmon, o Logos cabalístico, se acha em relação a Ain-Suph, ou como Mûlaprakriti em relação a Para-brahman. Agora, mais algumas palavras sobre a Lua. Perguntar-se-á: que são as “Mônadas Lunares”, de que há pouco se falou? A descrição das sete Classes de Pitris virá depois; não podemos dar agora senão algumas explicações gerais. Está visto que são Mônadas que, havendo ultimado seu Ciclo de Vida na Cadeia Lunar, a qual é inferior à Cadeia Terrestre, se encarnaram nesta última. Cuidaremos, porém, de acrescentar alguns pormenores, embora não o possamos fazer com muita amplitude por se situarem demasiado perto da área proibida. A última palavra do mistério só é divulgada aos Adeptos; podemos dizer, contudo, que o nosso satélite é apenas o corpo grosseiro de seus princípios invisíveis. Considerando que existem sete Terras, deve também haver sete Luas; outro-tanto sucede em relação ao Sol, cujo corpo visível não passa de um 359 Mâyâ, um reflexo, como o é o corpo do homem. “O verdadeiro Sol e a verdadeira Lua são tão invisíveis como o homem real” — diz uma máxima oculta. E cabe observar, de passagem, que os antigos, afinal de contas, não eram tão néscios, como se quis fazer acreditar, quando formularam, pela primeira vez, a idéia da existência de “Sete Luas”. Porque, embora tal conceito seja unicamente interpretado como medida astronômica do tempo, sob um aspecto bastante materializado, é possível reconhecer, por baixo da superfície grosseira, os traços de uma idéia profundamente filosófica. Em verdade, só em um sentido a Lua é satélite da Terra: o de que a Lua gira em torno da Terra. Em outros aspectos, porém, a Terra é que é satélite da Lua. Por surpreendente que pareça esta declaração, não deixam de confirmá-la os conhecimentos científicos. São fatos indicativos: as marés, as mudanças cíclicas supervenientes a várias enfermidades, que coincidem com as fases lunares, o desenvolvimento das plantas, e notadamente os fenômenos da concepção e da gestação humanas. A importância da Lua e sua influência sobre a Terra eram reconhecidas por todas as religiões antigas, sobretudo pela dos Judeus, e têm sido assinaladas por muitos observadores dos fenômenos psíquicos e físicos. Para a Ciência, no entanto, a ação da Terra sobre a Lua se limita à atração física, que é a causa de girar esta última na órbita daquela. E se alguém insistir em objetar que este fato, por si só, constitui uma prova suficiente de que a Lua é realmente o satélite da Terra, poderemos responder-lhe perguntando se a mãe que passeia em torno de seu filho, a fim de por ele velar, lhe estaria por isso subordinada ou dependente. Muito embora em certo sentido ela seja o seu satélite, não haverá dúvida de que tem mais idade e é mais desenvolvida que o filho sob seus cuidados. 360 É a Lua, portanto, que representa o papel principal e de maior importância, seja na própria formação da Terra, seja no seu povoamento por seres humanos. As Mônadas Lunares ou Pitris, que são os antepassados do homem, assumem na realidade a própria personalidade humana. São as Mônadas que entram no ciclo de evolução no Globo A, e que, perpassando na Cadeia de Globos, desenvolvem a forma humana, conforme dissemos anteriormente. No começo do estado humano da Quarta Ronda, neste Globo, os Pitris “exsudam” seus duplos astrais das formas “simiescas” que haviam desenvolvido na Terceira Ronda. E foi essa forma sutil e tênue que constituiu o modelo pelo qual a Natureza construiu o homem físico. Tais Mônadas, ou Centelhas Divinas, são assim os Antepassados Lunares, os próprios Pitris; pois estes Espíritos Lunares devem converter-se em “homens”, a fim de que suas Mônadas possam atingir um plano mais elevado de atividade e de autoconsciência, isto é, o plano dos Mânasa-Putras, aqueles que dão a “mente” aos cascões “inconscientes” criados e animados pelos Pitris, na última parte da Terceira Raça-Raiz. De modo idêntico, as Mônadas ou Egos dos homens da Sétima Ronda da nossa Terra — depois que os nossos próprios Globos A, B, C, D etc., separando-se de sua energia vital, houverem animado e assim chamado à vida outros centros “laya”, destinados a viver e a atuar num plano de existência mais elevado ainda — de modo idêntico, essas Mônadas ou Egos serão os Antepassados Terrestres criadores dos que hão de ser superiores a eles. Está claro agora que existe na Natureza um tríplice esquema evolutivo, para a formação dos três Upadhis periódicos; ou melhor, três esquemas separados de evolução, que em nosso sistema se acham entrelaçados e combinados em todas 361 as suas partes. São a evolução Monádica (ou Espiritual), a Intelectual e a Física. Os três são os aspectos finitos, os reflexos, no campo da Ilusão Cósmica, de Âtmâ, o sétimo princípio, a Realidade Única. 1. A evolução Monádica, como a expressão indica, relaciona-se com o crescimento e desenvolvimento da Mônada em fases de atividade cada vez mais elevadas, em conjunção com 2. A evolução Intelectual, representada pelos Mânasa-Dhyânis (Devas Solares ou Pitris Agnishvatta), aqueles que “dão ao homem a inteligência e a consciência”; e com 3. A evolução Física, representada pelos Chhâyâs dos Pitris Lunares, Chhâyâs em torno dos quais a Natureza formou o corpo físico atual. Este Corpo serve de veículo ao “crescimento” (empregando uma palavra inadequada) e às transformações (por meio de Manas e graças à cumulação de experiências) do Finito no Infinito, do Transitório no Eterno e Absoluto. Cada um dos três sistemas tem suas próprias leis, é regido e guiado por grupos diferentes dos mais excelsos Dhyânis ou Logos. Cada sistema está representado na constituição do homem, o Microcosmos do Macrocosmo; e é a reunião, no homem, daquelas três correntes que faz dele o ser complexo que atualmente é. A Natureza, a Força evolutiva física, não poderia, por si só, desenvolver jamais a inteligência; ela não é capaz de criar senão “formas desprovidas de entendimento”, conforme se verá em nossa Antropogênese. As Mônadas Lunares não podem progredir, porque não tiveram ainda o contato suficiente com as formas 362 criadas pela “Natureza”, a fim de obter, por meio destas, as experiências acumuladas. São os Mânasa-Dhyânis que representam a força evolutiva da Inteligência e da Mente; o laço de união entre o Espírito e a Matéria, nesta Ronda. Deve-se ainda ter presente que as Mônadas que entram no ciclo evolutivo no Globo A, durante a Primeira Ronda, se encontram em diferentes graus de desenvolvimento. O assunto se torna, portanto, mais complexo. Recapitulemos. As mais desenvolvidas, às Mônadas Lunares, alcançam o estado humano germinal na Primeira Ronda; passam a seres humanos terrestres, ainda que etéreos, lá para o fim da Terceira Ronda, permanecendo no Globo, durante o período de “obscurecimento”, como germes da humanidade futura da Quarta Ronda, e representando assim os precursores do gênero humano ao iniciar-se a Ronda atual, a Quarta. Outras Mônadas só vão alcançar o estado humano nas Rondas Primeira e Terceira ou na primeira metade da Quarta. E, finalmente, as mais atrasadas, ou seja, aquelas que ainda ocupam formas animais após o ponto médio da curva da Quarta Ronda, não chegarão a ser homens durante todo este Manvantara. Só irão despontar nas fronteiras da humanidade quando a Sétima Ronda estiver em seu período final, para serem, por sua vez, introduzidas em uma nova Cadeia, depois do Pralaya, pelos peregrinos mais antigos, os progenitores da Humanidade, aqueles que foram chamados a Semente da Humanidade (Shishta), isto é, os Homens que formarão a vanguarda de todos no final destas Rondas. O estudante pouca necessidade terá agora de outra explicação quanto ao papel desempenhado pelo Quarto Globo e a Quarta Ronda no esquema da evolução. Pelos diagramas apresentados, que são aplicáveis, mutatis mutandis, às Rondas, aos Globos e às Raças, ver-se-á que o quarto membro de uma série ocupa 363 uma posição única. Ao contrário dos demais, o quarto não possui Globo “irmão” no plano a que pertence, e constitui assim o fiel da “balança” representada pela Cadeia inteira. É a esfera dos ajustamentos evolutivos finais, o mundo da balança Cármica, a sala da Justiça onde se decide do curso da Mônada durante o resto de suas encarnações no Ciclo. E sucede, portanto, que, depois de ultrapassado esse ponto central do Grande Ciclo — isto é, após o ponto médio da Quarta Raça da Quarta Ronda em nosso Globo — não mais podem ingressar Mônadas no reino humano. A porta está fechada para este Ciclo, a balança foi nivelada. Porque, de outro modo, se necessário fosse admitir uma alma nova para cada um dos inúmeros milhares de seres humanos que desaparecem, e não existisse reencarnação, seria em verdade difícil encontrar “lugar” para os “espíritos” que perderam o corpo; e nunca haveria explicação para a origem e as causas do sofrimento. A ignorância dos princípios ocultos e a acumulação de falsos conceitos sob o pretexto de educação religiosa foi o que deu lugar ao materialismo e ao ateísmo, como protesto contra a suposta ordem divina das coisas. As únicas exceções à regra já citada são as “raças mudas”, cujas Mônadas já se acham dentro do estado humano, pelo fato de que tais “animais” são posteriores ao homem e semi-descendentes dele; os últimos e mais adiantados espécimes são os antropóides e outros símios. Estas “aparências humanas” não passam, na realidade, de cópias deformadas da humanidade primitiva, aspecto do qual nos ocuparemos com amplitude no volume seguinte. Eis, em linhas gerais, o que diz o Comentário: 1. Cada Forma na terra e cada Ponto [átomo] no Espaço tendem, em seus esforços de autoconstrução, a seguir o 364 modelo posto à sua frente, o “Homem Celeste”… A involução e a evolução do átomo e o seu crescimento e desenvolvimento externo e interno têm um só e mesmo objetivo, o Homem, o Homem como a forma física mais elevada e última sobre a Terra; a “Mônada” em sua totalidade absoluta e em sua condição de desperta —- como culminação das encarnações divinas na Terra. 2. Os Dhyânis [Pitris] são os que desenvolveram os seus Bhûta [Duplos] de si mesmos e cujo Rûpa [Forma] se tornou o veículo de Manadas [Princípios Sétimo e Sexto] que haviam completado o seu ciclo de transmigração nos três Kalpas [Rondas] precedentes. Então eles [os Duplos Astrais] se convertem em homens da Primeira Raça Humana da Ronda. Mas não estavam completos, e eram desprovidos de entendimento. Explicaremos isto mais adiante. Basta dizer, por enquanto, que o homem, ou melhor, a sua Mônada, existiu sobre a Terra desde o começo desta Ronda. Mas, até a nossa Quinta Raça, as formas externas que revestiam os Duplos Astrais Divinos passaram por modificações e se consolidaram nas sub-raças; e a forma e a estrutura física da fauna se alteravam, pois tinham que se adaptar às condições sempre mutáveis da vida neste Globo, durante os períodos geológicos de seu ciclo de formação. E essas modificações continuarão em cada Raça-Raiz e em cada subraça principal, até a última da Sétima Raça desta Ronda. 365 3. O homem interno, agora oculto, era então [nos primórdios] o homem externo. Era a progênie dos Dhyânis [Pitris], o “filho parecido com o pai”. À semelhança do lótus, cuja forma externa assume gradualmente a figura do modelo que se acha dentro dele, assim a forma humana evolucionou, desde o começo, de dentro para fora. Mais tarde, no ciclo em que o homem principiou a procriar a sua espécie como atualmente o faz o reino animal, sucedeu o inverso. O feto humano reproduz agora em suas transformações todas as formas que a estrutura física do homem assumiu ao longo dos três Kalpas [Rondas], durante as tentativas da matéria não inteligente [por ser imperfeita], em seus cegos impulsos, para dar revestimento plástico à Mônada. Na era presente, o embrião físico é, sucessivamente, uma planta, um réptil e um animal, antes de se tornar definitivamente um homem, capaz de, por Sua vez, desenvolver dentro de si mesmo o seu duplicado etéreo. Foi este duplo etéreo [o homem astral] que, no princípio, carecendo de entendimento, se deixou prender nas malhas da matéria. Este “homem” pertence, porém, à Quarta Ronda. Como se vê, passou a Mônada por todas as formas transitórias de cada um dos reinos da Natureza, nelas viajou e foi aprisionada, durante as três Rondas precedentes. Mas a Mônada que se converte em humana não é o Homem. Na 366 presente Ronda — com exceção dos mamíferos mais elevados depois do homem, os antropóides destinados a extinção durante a nossa raça atual (quando suas Mônadas forem libertadas, passando às formas astrais humanas, ou dementais superiores, das Raças Sexta e Sétima, e depois às formas humanas inferiores da Quinta Ronda — já não existe nenhuma unidade, em qualquer dos reinos, animada por Mônada que deva converter-se em humana num estágio ulterior; tais unidades são animadas exclusivamente pelos dementais inferiores de seus respectivos reinos. Estes “elementais”, por sua vez, só virão a ser Mônadas humanas no próximo Grande Manvantara planetário. Efetivamente, foi antes do início da Quinta Raça-Raiz que se encarnou a última Mônada humana. A Natureza não se repete jamais; em conseqüência, os antropóides dos nossos dias começaram, no meado do período Mioceno, como sucede em todas as gerações cruzadas, a mostrar uma tendência cada vez mais acentuada, à medida que transcorria o tempo, para regressar ao tipo de seu primeiro pai, o gigantesco Lêmuro-Atlante, amarelo e negro. Inútil procurar o “elo perdido”. Daqui a milhões e milhões de anos, as nossas raças atuais, ou melhor, os seus fósseis, parecerão aos sábios do fim da Sexta Raça-Raiz como os restos insignificantes de pequenos símios — uma variedade extinta do genus homo. Os antropóides constituem uma exceção, porque não fazem parte do plano da Natureza, mas são o resultado direto de criação feita pelo homem não dotado de mente. Os hindus atribuem origem divina ao símio, porque os homens da Terceira Raça eram deuses de outro plano, que se haviam tornado em mortais “desprovidos de mente”. Já nos referimos a este ponto em Isis sem Véu, faz doze anos, com toda a clareza que era então possível; e ali recomendamos ao leitor que 367 se dirigisse aos brâmanes, se quisesse inteirar-se dos motivos da consideração por eles dispensada aos símios. “Ficaria o leitor sabendo — se porventura o brâmane o julgasse digno de uma explicação — que o hindu vê no símio o que o Manu desejava que ele visse: a transformação de uma espécie mais diretamente relacionada com o da família humana, um ramo bastardo enxertado no tronco antes da perfeição final deste último. Poderia saber ainda que, aos olhos dos ‘pagãos’ ilustrados, o homem espiritual ou interno é a coisa, e outra coisa o seu invólucro terrestre e físico; que a natureza física, esta grande combinação de correlações de forças físicas, sempre em busca da perfeição, tem que se valer dos materiais que encontra à mão; que ela modela e remodela incessantemente a sua obra, e, coroando-a com o homem, o apresenta como o único tabernáculo digno de receber a projeção do Espírito Divino416.” E, em nota ao pé da página, mencionamos o livro de um sábio alemão — a saber: “Um sábio hanoveriano publicou recentemente um livro intitulado Ueber die Auflösang der Arten durch Natürliche Zuchtwahl, em que demonstra, com muito engenho, que Darwin se equivocou por completo quando sustentou ser o homem descendente do símio; e afirma que, pelo contrário, é o símio que descende do homem. Mostra que, no começo, a humanidade era, moral e fisicamente, o tipo e o protótipo de nossa raça atual e de nossa dignidade humana, por sua beleza de forma, regularidade dos traços, 416 II, págs. 278-9. 226 368 desenvolvimento do crânio, nobreza de sentimentos impulsos heróicos e grandeza das concepções ideais. Isto é pura doutrina bramânica, budista e cabalista. A obra é profusamente ilustrada com diagramas, quadros etc. Declara o autor que a decadência e a degradação gradual do homem, tanto moral como física, podem ser facilmente retraçadas através das transformações etnológicas até os nossos dias; e que, assim como uma parcela da espécie humana já degenerou em macacos, do mesmo modo o homem civilizado de hoje será afinal sucedido por descendentes semelhantes, sob a ação inelutável da lei de necessidade. Se temos que julgar o futuro pelo presente, não parece realmente impossível que uma raça tão pouco espiritual e tão materialista venha a terminar antes como de símios que de serafins.” Devemos acrescentar que, apesar de os macacos serem descendentes do homem, não é verdade que a Mônada humana, que já alcançou o nível da humanidade, venha de novo a encarnar-se na forma de um animal. O ciclo de “metempsicose” para a Mônada humana está encerrado, uma vez que estamos na Quarta Ronda e na Quinta Raça-Raiz. É oportuno advertirmos o leitor — pelo menos aquele que já leu o Esoteric Buddhism — de que as Estâncias que se seguem neste e no volume seguinte tratam apenas da evolução em nossa Quarta Ronda. Esta Ronda é o ciclo do “ponto de inflexão”, depois do qual a matéria, tendo chegado ao extremo inferior, enceta o seu caminho para o alto, espiritualizando-se progressivamente em cada nova raça e em cada novo ciclo. Ao estudante importa, pois, ficar atento a fim de não ver contradição 369 onde ela não existe; já que, no Esoteric Buddhism, se alude às Rondas em geral, quando aqui só nos ocupamos da Quarta, ou seja, de nossa Ronda presente. Ali se cogitou do trabalho de formação; aqui se cogita do de reforma e de perfeição evolucionária. Finalmente, para concluir esta digressão, ocasionada por diversas concepções errôneas, mas inevitáveis, devemos fazer referência a uma afirmativa do Esoteric Buddhism, que produziu uma impressão penosa em muitos teósofos. Invoca-se freqüentemente uma frase pouco feliz da mesma obra como prova do materialismo da doutrina nela exposta. O autor, referindo-se ao progresso dos organismos sobre os Globos, diz o seguinte: “O reino mineral não desenvolverá mais o reino vegetal… a Terra não pôde desenvolver o homem do símio enquanto não recebeu um impulso417…” Correspondem tais palavras, literalmente, ao pensamento do autor, ou não passam, como acreditamos, de um lapsus calami? É questão que está por decidir. Vimos com real surpresa que o Esoteric Buddhism não era bem compreendido por alguns teósofos, ao ponto de fazê-los crer que se dava inteiro apoio à teoria evolucionista de Darwin, especialmente quanto à descendência humana de um antepassado pitecóide. Um membro da Sociedade Teosófica escreveu-nos: “Suponho haverdes percebido que três quartos dos teósofos, e ainda muitos que não o são, imaginam que, no tocante à evolução do homem, Darwin e a 417 Pág. 48. 370 Teosofia estão de acordo.” Tal coisa não ocorre, nem o Esoteric Buddhism pretendeu dizê-lo, estamos certos. Repetidas vezes se afirmou que a evolução, conforme ensinada por Manu e Kapila, era a base das doutrinas modernas; mas nem o Ocultismo nem a Teosofia sustentaram jamais as teorias inconsistentes dos darwinistas atuais, e muito menos a descendência simiesca do homem. Voltaremos ao assunto mais adiante. Bastará, porém, consultar a página 47 da obra mencionada, para ler ali que: “O Homem pertence a um reino inteiramente distinto do reino animal.” Depois de uma afirmação assim tão clara e inequívoca, é de estranhar que estudantes atentos se deixassem induzir a semelhante erro, a não ser que tivessem a intenção de acusar de grosseira contradição o autor. Cada Ronda repete em escala mais elevada o trabalho evolucionário da Ronda precedente. E, salvo para alguns antropóides superiores, a que já ,nos referimos, o impulso monádico ou evolução interna se deteve, até o próximo Manvantara. Não será demais insistir em que as Mônadas humanas que atingiram pleno desenvolvimento devem passar a outras esferas de ação, antes que a nova massa de candidatos surja neste Globo ao iniciar-se o ciclo seguinte. Há, deste modo, um período de pausa; e é por isso que, durante a Quarta Ronda, o homem aparece na Terra antes de toda criação animal, conforme explicaremos oportunamente. Apesar disso, tem-se propalado que o autor do Esoteric Buddhism “sustentou o darwinismo”. Sem dúvida, algumas passagens do livro parecem autorizar esta conclusão; além disso, os próprios ocultistas mostram-se dispostos a 371 reconhecer alguma exatidão na hipótese darwinista, no que concerne a certas minúcias e leis secundárias da evolução após o meado da Quarta Raça. Do que aconteceu, nada pode a Ciência saber de positivo, pois assuntos que tais permanecem de todo fora de sua esfera de investigação. Mas o que os ocultistas jamais admitiram, nem admitirão, é que o homem tenha sido um símio nesta ou em qualquer outra Ronda, ou que tal fosse possível, por maior que seja a semelhança entre o corpo humano e o do macaco. Confirma-o a mesma fonte autorizada de onde o autor do Esoteric Buddhism recolheu as suas informações. Assim, a todos aqueles que põem diante dos olhos dos ocultistas estas linhas do livro citado: “Basta isto para mostrar que podemos razoavelmente conceber (e o devemos, se de algum modo desejamos falar destes assuntos) um impulso de vida que dá nascimento às formas minerais como sendo da mesma natureza do impulso cuja função é elevar uma raça de símios a uma raça de homens rudimentares418.” — a todos esses, repetimos, que citam a passagem ora transcrita como indicativa de uma “tendência definida” para o darwinismo, respondem os ocultistas com a própria explicação do Mestre do Sr. Sinnett, que certamente teria retificado aquelas palavras se escritas fossem com o espírito que se lhes atribui. À autora da presente obra foi enviada, há dois anos (1886), juntamente com outras, uma cópia da carta do Mestre, com observações adicionais para serem usadas na elaboração de A Doutrina Secreta. 418 Pág. 46. 372 A carta principia considerando as dificuldades que.se deparam ao estudante ocidental para conciliar alguns fatos dados a conhecer anteriormente com a evolução do homem pelo animal, ou seja, dos reinos mineral, vegetal e animal; e recomenda ao estudante que se guie sempre pela doutrina da analogia e da correspondência. Alude em seguida ao mistério dos Devas e dos Deuses, que devem passar por estados que se convencionou chamar de “mineralização, ervação, zooniação e, finalmente, encarnação”; e explica, usando palavras veladas, a necessidade de haver casos de malogro até mesmo entre as raças etéreas de Dhyân-Chohans. São estas as suas palavras a tal respeito: “Estes ‘casos de malogro419’ estão por demais desenvolvidos e espiritualizados para que possam ser necessariamente afastados para trás da condição Dhyânchohânica, e lançados no torvelinho de uma nova evolução primordial através dos reinos inferiores420…” Depois disso, há somente uma ligeira referência ao mistério contido na alegoria dos Asuras caídos, alegoria que será explicada com minúcia nos volumes III e IV. Quando o Carma alcançar aqueles “casos de malogro” no plano da evolução humana, “Terão eles que sorver até a última gota a taça amarga da retribuição. Virão a ser, então, uma Força ativa, associando-se com os Elementais, as entidades adiantadas do 419 São os seres que falharam. 420 The Mahatma Letters, pág. 87. 373 reino animal puro, para desenvolver o tipo perfeito da humanidade.” Estes Dhyân-Chohans, como vemos, não passam através dos três reinos, tal como o fizeram os Pitris inferiores, nem se encarnam em homens antes da Terceira Raça-Raiz. Eis o que rezam os ensinamentos: “Ronda I. O Homem da Primeira Ronda e da Primeira Raça no Globo D, nossa Terra, era um ser etéreo [um Dhyâni Lunar, como homem] não inteligente, mas superespiritual, correspondendo, segundo a lei da analogia, ao homem da Primeira Raça da Quarta Ronda. Em cada uma das raças e sub-raças seguintes.. . ele se vai desenvolvendo cada vez mais como ser revestido de matéria ou encarnado, mas ainda com preponderância etérea… Carece de sexo e, como os animais e vegetais, desenvolve corpos monstruosos, em correspondência com o meio rude em que vive. Ronda II. O homem ainda é gigantesco e etéreo; o seu corpo se torna, porém, mais firme e condensado; é um homem mais físico, ainda menos inteligente que espiritual (*), porque a evolução da mente é mais lenta e mais difícil que a da estrutura física… Ronda III. Possui agora um corpo perfeitamente concreto ou compacto; no princípio, sua forma é a de um macaco gigante, mais inteligente, ou antes, mais astuto que 374 espiritual. Porque, no arco descendente, chegou a um ponto em que a sua espiritualidade primordial é eclipsada e obscurecida pela mentalidade nascente (**). Na segunda metade da Terceira Ronda, sua estatura gigantesca decresce, seu corpo melhora em contextura; torna-se um ser mais racional, embora pareça mais um símio que um Deva… [Tudo isto se repete, quase exatamente, na Terceira Raça-Raiz da Quarta Ronda.] Ronda IV. O intelecto tem considerável progresso nesta Ronda. As raças [até então mudas] adquirem a linguagem humana [atual] neste Globo; e, a partir da Quarta Raça, a linguagem se aperfeiçoa e cresce o conhecimento. Neste ponto médio da Quarta Ronda [e da Quarta Raça-Raiz ou Atlante], a humanidade transpõe o ponto axial do ciclo Manvantárico menor. .. o mundo se enriquece com os resultados da atividade intelectual, mas decresce em espiritualidade421…” O que precede foi extraído da carta autêntica; o que se segue são observações posteriores e esclarecimentos adicionais traçados pela mesma mão em forma de notas. “(*) …A carta original continha ensinamentos gerais — uma visão panorâmica — e não particularizava coisa 421 Compare-se com The Mahatma Letters, págs. 87 e seguintes (ed. 1930). 375 alguma. . . Falar do homem físico, limitando a informação às primeiras Rondas, seria retroceder aos milagrosos e instantâneos ‘trajes de pele’… O que se pretendia significar era: a primeira ‘Natureza’, o primeiro ‘corpo’, a primeira ‘mente’, no primeiro plano de percepção, no primeiro Globo, na primeira Ronda. Porque o Carma e a evolução “…reuniram em nossa estrutura Extremos sobremodo estranhos de Naturezas diferentes422 , que à maravilha se entrelaçam…” “(**) Interpretai: Alcançou ele agora o ponto [por analogia, e como na Terceira Raça-Raiz da Quarta Ronda], em que sua espiritualidade primordial [a do homem-anjo] é eclipsada e obscurecida pela nascente mentalidade humana — e tereis a versão verdadeira…” Aí estão as palavras do Mestre: o texto, as frases e as notas explicativas, entre aspas. Compreender-se-á que deve existir enorme diferença entre termos como “objetividade” e “subjetividade”, “materialidade” e “espiritualidade”, quando aplicados a planos diferentes de existência e de percepção. Tudo isso deve ser tomado em seu sentido relativo. 422 As Naturezas das sete Hierarquias ou Classes de Pitris e Dhyân-Chohans, que compõem a nossa natureza e os nossos corpos — tal é o sentido. 376 Não é, pois, de surpreender que um autor, entregue a suas próprias especulações, e ainda inexperiente em ensinamentos desta ordem, sem embargo do seu empenho e aplicação no estudá-los, se houvesse equivocado uma que outra vez. A diferença entre as “Rondas” e as “Raças” não estava, aliás, suficientemente definida nas cartas recebidas, já que nenhuma indagação se fizera nesse particular. Um discípulo oriental teria logo percebido as coisas sem maior dificuldade. Vejamos mais o que diz uma carta do Mestre: “Os ensinamentos foram comunicados sob protesto… Eram, por assim dizer, artigos de contrabando. . . e, quando fiquei somente com um dos correspondentes, o outro, Sr. … havia de tal modo confundido as cartas que pouco me era possível dizer, sem ir além da área permitida.” Os teósofos “a quem isso possa interessar” entenderão o que tais palavras significam. Fica assim positivado que as cartas nada continham que autorizasse o asserto de haver a Doutrina Oculta alguma vez ensinado, ou qualquer Adepto perfilhado, a não ser talvez metaforicamente, a absurda teoria moderna de que o homem descende de um antepassado simiesco — um antropóide da espécie animal de nossos dias. Ainda hoje há, no mundo, mais homens parecidos com macacos do que, nas selvas, macacos parecidos com homens. Na Índia o símio é tido em conta de sagrado porque sua origem é bem conhecida dos Iniciados, posto que oculta sob o denso véu da alegoria. Hanumâna é filho de Pavana (“Vayu”, o deus do vento) com Anjana (mulher do monstro Kesari); variando, contudo, a sua genealogia. O 377 leitor, tendo presente este pormenor, encontrará no volume II e IV, passim, a explicação completa de tão interessante alegoria. Os “homens” da Terceira Raça (os que se separaram) eram “Deuses” por sua espiritualidade e pureza, embora desprovidos de razão e de mente humana. Esses “homens” da Terceira Raça, antepassados dos Atlantes, eram precisamente gigantes tão parecidos com símios e tão desprovidos de razão e de intelecto como aqueles seres que representaram a humanidade da Terceira Raça. Moralmente irresponsáveis, os “homens” da Terceira Raça, mantendo relações antinaturais com espécies animais inferiores a eles, deram origem àquele “elo perdido” que, em épocas posteriores (no período Terciário somente), veio a ser o remoto antepassado do verdadeiro símio, tal qual o conhecemos hoje na família pitecóide. Se parecer que isso colide com a afirmação de que o animal é posterior ao homem, lembraremos ao leitor que esta referência deve entender-se como restrita aos mamíferos placentários. Naqueles remotos tempos existiam animais como a zoologia atual nem sequer pode imaginar; e os modos de reprodução não eram idênticos aos conhecidos pela fisiologia moderna. Não será talvez conveniente tratar destes assuntos publicamente; mas não há contradição nem impossibilidade no que ora enunciamos. Em suma: os primeiros ensinamentos, por mais vagos, fragmentários e insuficientes que tenham sido, absolutamente não apoiavam a tese de que o “homem” proviesse do “macaco”; nem o autor do Esoteric Buddhism diz coisa diferente em seu livro, pelo menos em termos precisos; aconteceu apenas que as suas tendências científicas o induziram a servir-se de palavras que poderiam dar azo àquela interpretação. O homem que precedeu a Quarta Raça, a Atlante, apesar da semelhança que pudesse fisicamente aparentar com um “símio gigantesco” 378 (arremedo de homem não dotado de vida humana), era, ainda assim, um ser que falava e que pensava. A raça lêmuro-atlante era altamente civilizada; e, a aceitarmos a tradição — que como história é mais exata que a ficção especulativa que hoje passa com esse nome —, a sua civilização alcançou um grau superior ao nosso, não obstante toda a ciência e todo o malformado progresso dos nossos dias; queremos referir-nos especificamente aos Lêmuro-atlantes do fim da Terceira Raça. E agora é tempo de voltarmos às Estâncias.

ESTÂNCIA VI (Continuação)

5. Na Quarta (a) 423, os Filhos recebem ordem de criar suas Imagens. Um Terço recusa-se. Dois Terços424 obedecem. A Maldição é proferida (b). Nascerão na Quarta425; e sofrerão e causarão sofrimento. É a Primeira Guerra (c). O significado completo deste Sloka não pode ser bem compreendido senão depois de lidas as explicações minuciosas e complementares que figuram na parte relativa à Antropogênese e respectivos comentários, nos volumes III e IV. Entre o mesmo Sloka e o precedente largos períodos se passaram, vendo–se agora o despontar da aurora de um novo evo. O drama que se desenrola em nosso planeta está no início de seu quarto ato; mas, para aprender melhor e mais claramente toda a representação, mister se faz que o leitor retroceda um pouco, antes de prosseguir. Porque este versículo pertence a Cosmogonia geral exposta nos volumes arcaicos, ao passo que os volumes III e IV darão um relato 423 Quarta Ronda, ou revolução da Vida e do Ser em torno das Sete Rodas menores. 424 Duas terças partes. 425 Quarta Raça. 379 pormenorizado da “criação”, ou, mais propriamente, da formação dos primeiros seres humanos, seguidos pela segunda humanidade e depois pela terceira; a saber — a história das Raças-Raízes Primeira, Segunda e Terceira, conforme a denominação usual. Assim como a Terra começou por ser uma esfera de fogo líquido e poeira ígnea, e seu fantasma protoplasmático, também o homem passou por fases análogas. (a) Com base na autoridade dos Comentários, dá-se à palavra “Quarta” o significado de Quarta Ronda. Mas tanto pode significar a Quarta Ronda como a Quarta Eternidade, e ainda o nosso Quarto Globo. Pois, como teremos ocasião de mostrar mais de uma vez, este último é a quarta esfera do quarto plano, ou seja, do plano mais inferior da vida material. De modo que nós estamos na Quarta Ronda, em cujo ponto médio deve ocorrer o equilíbrio perfeito entre o Espírito e a Matéria. Como veremos, foi neste período — durante o apogeu da civilização, do conhecimento e da intelectualidade humana da Quarta Raça, a Atlante — que a crise final do ajustamento fisiológico-espiritual das raças levou a humanidade a ramificar-se em dois caminhos diametralmente opostos: a Via da mão Esquerda e a Via da mão Direita do Conhecimento ou Vidyâ. Conforme diz o Comentário. Assim foram semeados naqueles dias os germes da Magia Branca e da Magia Negra. As sementes permaneceram latentes por algum tempo, e só vieram a germinar durante o primeiro período da Quinta Raça, a nossa. Acrescenta ainda o Comentário, explicando este Sloka: 380 Os Santos Jovens [os Deuses] negaram-se a multiplicar e a criar espécies à sua semelhança e segundo a sua classe. “Não são Formas [Rupas] apropriadas para nós. Devem ser aperfeiçoadas.” Recusam entrar nos Chhâyâs [sombras ou imagens] de seus inferiores. Assim, prevaleceu o sentimento egoísta, desde o início, até entre os Deuses, caindo eles sob a mira dos Lipikas Cármicos. Por causa disso tiveram que sofrer em nascimentos posteriores. Como o castigo veio aos Deuses, é o que se verá nos volumes III e IV. É tradição universal que, antes da “Queda” fisiológica, a propagação da espécie, fosse a humana ou a animal, se efetuava pela Vontade dos Criadores ou de sua progênie. Esta foi a Queda do Espírito na geração, não a Queda do homem mortal. Já dissemos que, para se tornar consciente de si mesmo, deve o Espírito passar através de cada um dos ciclos de existência, cujo ponto culminante, sobre a terra, é o homem. O Espírito per se é uma abstração inconsciente e negativa. Sua pureza lhe é inerente, e não adquirida pelo mérito; por isso, conforme também já assinalamos, necessário é, para chegar a ser um Dhyân Chohan dos mais elevados, que cada Ego atinja a plena consciência como ser humano, isto é, venha a se tornar o ser consciente que nós sintetizamos no Homem. Quando os Cabalistas judeus afirmam que nenhum Espírito poderá pertencer à Hierarquia divina se Ruach (o Espírito) não estiver unido a Nephesh (a Alma Vivente), não fazem senão repetir o Ensinamento esotérico oriental: 381 Um Dhyâni deve ser um Atmâ-Buddhi; desde o momento em que Buddhi-Manas se separa de seu imortal Âtmâ, do qual Buddhi é o veículo, Âtman passa ao Não-Ser, que é o Absoluto Ser. Quer dizer: o estado puramente Nirvânico é um retorno do Espírito à abstração ideal da Asseidade, que não tem relação alguma com o plano em que o nosso Universo cumpre o seu ciclo. (b) “A Maldição é proferida”: não se deve entender, por estas palavras, que algum Ser Pessoal, Deus ou Espírito Superior, haja pronunciado a maldição; mas simplesmente que uma causa, que só podia dar maus resultados, acabava de ser produzida, e que os efeitos desta causa Cármica podiam somente conduzir a inditosas encarnações, e portanto ao sofrimento, os Seres que, contrariando as leis da Natureza, assim criavam obstáculos ao seu progresso normal. (c) “É a Primeira Guerra”: alusão às diversas lutas para o ajustamento espiritual, cósmico e astronômico, mas relacionadas sobretudo com o mistério da evolução do homem tal como é atualmente. Os Poderes ou Essências puras que “recebem ordem de criar” envolvem um mistério, cuja explicação se encontra em outra parte, conforme já dissemos. O segredo da geração não somente é um dos mais ocultos segredos da Natureza, para cuja solução todos os embriólogos vêm debalde conjugando os seus esforços, mas também é uma função divina, que constitui um dos maiores mistérios religiosos, ou antes, dogmáticos, o da chamada “Queda” dos Anjos. Quando o mistério da alegoria for explicado, ver-se-á que Satã e o seu exército rebelde se recusaram a criar o homem físico com o único fito de se 382 tornarem os Salvadores e Criadores diretos do Homem divino. O ensinamento simbólico, mais do que místico e religioso, é puramente científico, como veremos mais tarde. Porque, em vez de ser um simples instrumento cego e automático, impulsionado e dirigido pela Lei insondável, o Anjo “rebelde” reclama e exige o seu direito de julgar e de manifestar a própria vontade com independência; o seu direito de obrar com liberdade e responsabilidade, visto que tanto o Homem como o Anjo estão sujeitos à Lei Cármica. Esclarecendo opiniões cabalísticas, diz o autor de New Aspects of Life, a respeito dos Anjos caídos: “Segundo o ensinamento simbólico, o Espírito, de simples agente funcional de Deus, converte-se em um ser com vontade própria em sua ação desenvolvida e desenvolvente; e caiu ao substituir o desejo divino por essa vontade própria. Eis por que o reino dos espíritos e a ação espiritual, que promanam da volição do espírito, se acham fora do Reino das Almas e da ação Divina e em contradição com ambos426.” Até aqui não há o que dizer; mas que pretende o autor significar com as palavras que seguem? A saber: “Ao ser criado, o homem era humano em sua constituição, dotado de sentimentos humanos e com 426 Pág. 233. 383 esperanças e aspirações humanas. Desse estado ele caiu no de bruto e selvagem”. Tal coisa está em frontal oposição aos nossos ensinamentos orientais, à idéia cabalística (cuja compreensão esteja ao nosso alcance), e à própria Bíblia. E semelha a Corporalismo e Substancialismo, que dão cor à filosofia positiva; embora seja difícil penetrar exatamente o sentido do que o autor quis dizer. Contudo, uma queda “do natural no sobrenatural e no animal” (o sobrenatural significando aqui o estado puramente espiritual) implica o que acima sugerimos. O Novo Testamento fala de uma daquelas guerras, nos seguintes termos: “E houve guerra no Céu: Miguel e seus Anjos batalhavam contra o Dragão; e lutavam o Dragão e seus Anjos, mas não prevaleceram, e nunca mais houve lugar para eles no Céu. E foi expulso o Dragão, aquela antiga serpente que se chama Diabo e Satã, e que engana todo o mundo427.” A versão cabalista da mesma história figura no Codex Nazaræus, a escritura sagrada dos Nazarenos, os verdadeiros místicos cristãos de João Batista e os Iniciados de Christos. Bahak Zivo, o “Pai dos Gênios”, recebe ordem para construir criaturas — ordem para “criar”. Mas, como ele permanece “ignorante de Orcus”, não o consegue, e solicita o auxílio de Fetahil, um espírito ainda mais puro, 427 Apocalipse, XII, 7-9. 384 que também vê frustrados os seus esforços. É uma repetição do insucesso dos “Pais”, os Senhores da Luz, que falharam um após outro428 . Reproduzimos agora alguns trechos de nossa primeira obra429: “Entra então na cena da criação o Espírito430 (chamado Espírito da Terra ou Alma, Psyché, classificado como ‘diabólico’ por São Tiago), a parte inferior da Anima Mundi ou Luz Astral. (Veja-se o final deste Sloka.) “Para os nazarenos e os gnósticos, esse Espírito era feminino. Assim, o Espírito da Terra, percebendo que, por causa de Fetahil431 , o mais novo dos homens (o último), o resplendor havia “mudado”, e que em lugar de resplendor existiam “decadência e ruínas”, desperta o Karabtanos432, “que estava louco, privado de razão e juízo”, e lhe diz: “Levanta-te e observa como o Resplendor (a Luz) do Homem Novíssimo (Fetahil) não vingou na sua tentativa (de criar ou produzir o homem); a diminuição deste Resplendor é visível. Levanta-te, vem com tua Mãe (o Espírito) e liberta-te dos limites que te escravizam, limites ainda mais vastos que os do mundo inteiro.” Segue-se depois a união da matéria louca e cega, guiada pelas insinuações do Espírito (não o Sopro Divino, mas o Espírito 428 Veja-se o Volume III, Sloka 17. 429 Ísis sem Véu, I, 299-300. Compare-se também com Dunlap. Sod: The Son of the Man, págs 51 e seguintes. 430 Baseado na autoridade de Irineu, de Justino o Mártir e do próprio Codex, Dunlap mostra que os Nazarenos viam no “Espírito” um Poder mau feminino, em suas relações com a Terra 431 Fetahil é idêntico à coorte dos Pitris que “criaram o homem” como um “cascão” apenas. Era entre os Nazarenos o Rei da Luz e o Criador, mas aqui é o desditoso Prometeu, que não logra apoderar-se do Fogo Vivente necessário à formação da Alma Divina; pois ignora o nome secreto, o nome inefável e incomunicável dos Cabalistas. 432 O Espírito da Matéria e Concupiscência; Kâma-Rupa menos Manas, e Mente. 385 Astral, que, por sua dupla essência, já se acha impregnado de matéria); e, sendo aceito o oferecimento da Mãe, o Espírito concebe as “Sete Figuras” e os Sete Astros (Planetas), que também representam os sete pecados capitais, produto de uma Alma Astral separada de sua origem divina (o espírito), e da matéria, o demônio cego da concupiscência. Vendo isto, Fetahil estende a mão para o abismo da matéria e diz: “Que exista a terra, assim como existiu a mansão dos Poderes.” E, imergindo a mão no caos, ele o condensa e cria o nosso planeta. Relata depois o Codex como Bahak Zivo foi separado do Espírito, e os Gênios ou Anjos, dos Rebeldes433 . Então Mano434 (o maior), que mora com o Supremo Ferho, chama a Kebar Zivo (conhecido também pelo nome de Nebat lavar Bar Lufin), o Timão e a Vinha do alimento da Vida435 , sendo ele a terceira Vida, e, compadecendo-se da sorte dos insensatos Gênios rebelados, por sua desmedida ambição, diz: “Senhor dos Gênios436 (Æones), vê o que fazem os Gênios (os Anjos Rebeldes) e o que estão maquinando437. Respondem eles: “Façamos surgir o mundo e chamemos os Poderes à 433 Codex Nazaræus, II, 233. 434 Este Mano dos Nazarenos se parece de modo estranho com o Manu dos Hindus, o Homem Celeste do Rig Veda. 435 “Eu sou a verdadeira Vinha e meu Pai é o lavrador” (João, XV, 1). 436 Para os Gnósticos, Cristo, assim como Miguel (que lhe é idêntico sob certos aspectos), era o “Chefe dos Æones”. 437 Codex Nazaræus, I, 135. 386 existência. Os Gênios são os Príncipes (Princípios), os Filhos da Luz, mas tu és o Mensageiro da Vida.” E, a fim de contrabalançar a influência dos sete princípios “mal dispostos”, a progênie do Espírito, Kebar Zivo (ou Cabar Zio), o poderoso Senhor do Resplendor, produz sete outras vidas (as virtudes cardeais), que “do alto” com sua própria luz e forma resplandecem438, e assim restabelece o equilíbrio entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. Aqui se vê uma repetição dos sistemas dualistas, primitivos e alegóricos, como o de Zoroastro, e se observa uma semente das religiões dualistas e dogmáticas do futuro; semente que germinou em uma árvore frondosa no Cristianismo eclesiástico. É já o esboço dos dois “Supremos” — Deus e Satã. Nas Estâncias, porém, não existe semelhante idéia. A maioria dos cabalistas cristãos ocidentais, e principalmente Eliphas Lévi, em seu afã de conciliar as Ciências Ocultas com os dogmas da Igreja, empenharam-se ao máximo para que a “Luz Astral” não fosse considerada senão como o Pleroma dos primitivos Padres da Igreja, a morada da Legião dos Anjos Caídos, dos Arcontes e dos Poderes. Mas a Luz Astral, embora não seja mais que o aspecto inferior do Absoluto, é sempre dual. É a Anima Mundi, e não deve jamais ser encarada de outra forma, exceto para fins cabalísticos. A diferença entre sua “Luz” e seu “Fogo Vivente” deve sempre estar presente ao espírito do Vidente e ao do Psíquico. O aspecto superior dessa “Luz”, sem o qual só se podem produzir 438 Veja-se a Cosmogonia de Ferecides. 387 criaturas de matéria, é o “Fogo Vivente”, seu Sétimo Princípio. Em Ísis sem Véu fizemos-lhe uma descrição completa, nestes termos: “A Luz Astral ou Anima Mundi é dual e bissexual. A parte masculina (ideal) é puramente divina e espiritual, é a Sabedoria, é o Espírito ou Purusha; ao passo que a parte feminina (o Espírito dos Nazarenos) está, em certo sentido, contaminado pela matéria, em verdade é matéria, e já é, portanto, o mal. Ela é o princípio vital de toda criatura vivente, e dá a alma astral, o perispírito fluídico, a homens, animais, pássaros do ar e tudo o que vive. Os animais trazem em si apenas o germe latente da alma imortal superior. Esta última só se desenvolve após uma série de evoluções inumeráveis; a doutrina de tais evoluções está resumida no axioma cabalístico: A pedra se torna planta; a planta se converte em animal; o animal em homem; o homem em espírito; e o espírito em um deus439.” Os sete princípios dos Iniciados orientais não estavam ainda explicados quando escrevemos o livro Ísis sem Véu, e só as três “Faces” da Cabala semiexotérica é que foram objeto de comentário440. Estas informações, porém, contêm a descrição das naturezas místicas do primeiro Grupo de Dhyân Chohans no regimen ignis, a região e a “lei (ou governo) do fogo”, Grupo que se divide em três classes, 439 I, 301, nota. 440 Constam, porém, do Livro dos Números caldeus. 388 sintetizadas pela primeira, o que perfaz quatro ou o “Tetraktys441”. Estudando atentamente os comentários, ver-se-á a mesma progressão nas naturezas angélicas, a saber: descendo do estado passivo ao ativo; os últimos destes Seres achando-se tão próximos do Elemento Ahamkâra (a região ou plano em que o reconhecimento da própria individualidade, ou sentimento do Eu Sou Eu, começa a definir-se) quanto os primeiros o estão da essência não diferenciada. Este é Arûpa, incorpóreo; aquele, Rûpa, corpóreo. No segundo volume de Ísis sem Véu442, os sistemas filosóficos dos Gnósticos e dos primitivos Judeus cristãos (os Nazarenos e os Ebionitas) foram devidamente considerados. Tais sistemas continham as opiniões correntes naqueles dias — fora do círculo dos Judeus mosaicos — a respeito de Jehovah. Este era identificado por todos os Gnósticos mais como o princípio do mal do que como o do bem. Para eles, era Ilda-Baoth, o “Filho das Trevas”, cuja mãe, Sofia Achamoth, era filha de Sofia, a Sabedoria Divina — o Espírito Santo Feminino dos primeiros cristãos —, Âkâsha. Sofia Achamoth personificava a Luz Astral Inferior (o Éter). A Luz Astral se encontra na mesma relação para com Âkâsha e Anima Mundi que Satã para com a Divindade. São uma e a mesma coisa vista sob dois aspectos, o espiritual e o psíquico — o liame superetéreo ou de conexão entre a matéria e o espírito puro — e o físico443. Ilda-Baoth é um nome composto de Ilda , filho, e Baoth, este proveniente de , um ovo, e , caos, vazio ou desolação: significa o Filho nascido no Ovo do Caos, como Brahmâ. Ilda-Baoth ou Jehovah é, pois, simplesmente um dos Elohim, os Sete Espíritos Criadores, e um dos Sephiroth inferiores. Ele produz de si mesmo com outros Deuses, “Espíritos 441 Veja-se o comentário à Estância VII. 442 II, 183 e segs. 443 Sobre a diferença entre nous, a Sabedoria divina superior, e psyche, a inferior e terrestre, veja-se São Tiago, III, 15-17. 389 Estelares” ou os Antepassados Lunares444, o que é a mesma coisa445. Todos são os “Espíritos da Face”, à sua própria imagem, os reflexos uns dos outros, que se tornam cada vez mais sombrios e materiais à medida que se distanciam da fonte original. Também habitam sete regiões dispostas à maneira de uma escada, cujos degraus representam a descida e a ascensão do Espírito e da matéria446. Entre pagãos e cristãos, entre hindus e caldeus, e tanto para os Gregos como para os católicos romanos — com ligeiras variantes na interpretação dos textos — todos eles eram os gênios dos sete planetas, assim como das sete esferas planetárias de nossa Cadeia setenária, na qual a Terra ocupa o ponto inferior. Isto relaciona os Espíritos “Estelares” e “Lunares”‘com os Anjos planetários superiores e com os Saptarshis (os sete Rishis das Estrelas) dos Hindus como Anjos e Mensageiros subordinados a estes Rishis, emanações, em escala decrescente, dos primeiros. Tais eram, segundo a opinião dos filósofos gnósticos, o Deus e os Arcanjos que os Cristãos adoram atualmente! Os “Anjos Caídos” e o mito da “Guerra nos Céus” são, portanto, de origem puramente paga, e vieram da índia, através da Pérsia e da Caldéia. O Cânon cristão apenas uma única vez os menciona, e é no Apocalipse, XII, conforme dissemos em páginas anteriores. Desse modo, Satã, deixando de ser considerado como espírito supersticioso, dogmático e antifilosófico das Igrejas, passa a ser a imagem grandiosa de quem fez do homem terrestre um Homem Divino; de quem outorgou ao homem, por toda a longa duração do Mahâkalpa, a lei do Espírito de Vida, e o libertou do Pecado da Ignorância, e, portanto, da Morte. 444 A relação de Jehovah com a Lua, na Cabala, é bastante conhecida dos estudantes. 445 Sobre os Nazarenos, veja-se Ísis sem Véu, II, 131-2. Os verdadeiros discípulos do verdadeiro Christos eram todos nazarenos e cristãos, e foram o oposto dos cristãos que vieram depois. 446 Veja-se o diagrama da Cadeia Lunar de sete mundos, na qual, como em nossa cadeia e em toda e qualquer outra, os mundos superiores são espirituais, ao passo que o mais inferior, seja a Lua, a Terra, ou qualquer outro planeta, é obscurecido pela matéria.

390 6. As Rodas mais antigas giravam para baixo e para cima (a)… Os frutos da Mãe enchiam o Todo447. Houve Combates renhidos entre os Criadores e os Destruidores, e Combates renhidos pelo Espaço; aparecendo e reaparecendo a Semente continuamente (b) 448 . (a) Deixemos agora as questões incidentes; apesar de interromperem o curso da narração, foram elas necessárias para a elucidação de todo o esquema. Cumpre voltarmos à Cosmogonia. A expressão “Rodas mais antigas” refere-se aos Mundos ou Globos de nossa Cadeia, tal como eram nas Rondas precedentes. Explicada a presente Estância em seu sentido esotérico, observa-se que toda ela foi incorporada às obras cabalísticas. Vê-se ali a história da evolução dos inúmeros Globos após um Pralaya periódico, reconstituídos sob novas formas com os materiais antigos. Os Globos anteriores se desintegram, reaparecendo transformados e aperfeiçoados para uma nova fase de vida. Na Cabala, os mundos são comparados a centelhas que brotam sob o martelo do grande Arquiteto — a Lei, a Lei que rege todos os Criadores menores. O diagrama comparativo da página 393 mostra a identidade dos sistemas cabalista e oriental. Os três superiores são os planos de consciência mais elevados; e em ambas as escolas são revelados e explicados unicamente aos Iniciados. Os planos debaixo representam os quatro inferiores, dos quais o último é o nosso, ou seja, o Universo visível. Estes sete planos correspondem aos sete estados de consciência no homem. A ele cabe despertar os três estados superiores, sintonizando-os com os 447 O Cosmo inteiro. Advirta o leitor que o termo Cosmos, nas Estâncias, freqüentemente significa tãosó o nosso próprio Sistema Solar, e não o Universo Infinito. 448 Isto é puramente astronômico. 391 três planos superiores do Cosmos. Mas, antes que o possa tentar, terá que chamar os três “centros” à vida e à atividade. E quão poucos são capazes de alcançar por si mesmos uma compreensão, por superficial que seja, de Âtmâ Vidyâ (o Conhecimento Espiritual), isto é, aquilo que os Sufis denominam Rohanee449! (b) “Aparecendo e reaparecendo a Semente continuamente.” Aqui “Semente” quer dizer o “Germe do Mundo”, aquilo que a ciência considera como partículas materiais extremamente tênues, mas que para a física oculta são “partículas espirituais”, ou seja, matéria supra-sensível em estado de diferenciação primária. Para ver e apreciar a diferença, o imenso abismo que separa a matéria terrestre dos graus mais sutis da matéria supra-sensível, todo astrônomo, físico ou químico deviam ser, pelo menos, psicômetras; deviam ser capazes de sentir, por si mesmos, aquela diferença, em que se obstinam em não acreditar. A Sra. Elizabeth Denton, uma das mulheres mais cultas e também mais céticas e materialistas do seu tempo, esposa do Professor Denton, o notável geólogo americano, autor de The Soul of Things, era, não obstante, o seu ceticismo, uma psicômetra das mais maravilhosas. Vejamos o que ela descreve em uma de suas experiências. Haviam colocado sobre a sua fronte uma partícula de meteorito oculta dentro de um envelope. Sem saber o que este continha, disse aquela senhora: “Quanta diferença entre o que conhecemos aqui como matéria e o que parece matéria ali! Numa, os elementos são tão grosseiros e angulosos, que eu me admiro de podermos suportá-la, e mais ainda de que desejemos continuar 449 Para uma explicação mais clara, veja-se “Saptaparma” no índice. 392 em relações com ela. Na outra, todos os elementos são de tal modo apurados e não apresentam aquelas grandes e ásperas angulosidades, características dos nossos, que eu não posso deixar de considerar os novos elementos como os que oferecem condições de existência real, com títulos bem superiores450.”

Figura 5: DIAGRAMA III

Plano I 451 452 450 Op. Cit. III, 346. 451 O Arûpa ou “sem forma”; onde a forma cessa de existir, no plano objetivo. 452 A palavra “Arquétipo” não deve aqui tomar-se no sentido que lhe davam os Platônicos, isto é: o Mundo tal como existia na mente da Divindade; mas no sentido de um Mundo feito como primeiro O mundo do Espírito Divino e sem forma Plano I – O mundo Arquétipo Plano IV – O Mundo Físico ou Material 393 453 Em Teogonia, cada Semente é um organismo etéreo, do qual evolve mais tarde um Ser celeste, um Deus. No “Princípio”, o que na fraseologia mística se chama “Desejo Cósmico” vem a ser a Luz Absoluta. Ora, a luz que não tivesse sombra seria a luz absoluta; ou, mudando a palavra, a obscuridade absoluta, como procura demonstrar a ciência física. A “sombra” aparece sob a forma de matéria primordial ou, alegoricamente, se se preferir, sob a de Espírito do Fogo ou Calor Criador. Se a Ciência, relegando a forma poética e a alegoria, preferir ainda ver nela a “névoa de fogo”, não haverá nisso o menor inconveniente. De uma maneira ou de outra, seja Fohat ou a famosa Força da ciência — força tão difícil de definir e descrever como o nosso próprio Fohat —, aquele Algo é “o que determina o movimento circular do Universo”, no dizer de Platão e segundo o ensinamento oculto.

“O Sol Central faz com que Fohat aglutine a poeira primordial em forma de globos, que os impulsione a mover-se em linhas convergentes, e finalmente, que os aproxime uns dos outros, reunindo-os… Disseminados pelo Espaço, sem ordem nem sistema, os Germes do Mundo entram em freqüentes colisões antes da junção final, e depois se convertem em ‘Vagabundos’ [Cometas]. Então começam os combates e as lutas. Os mais antigos [corpos] atraem os mais jovens, enquanto outros os repelem. Muitos sucumbem devorados modelo, para ser seguido e melhorado pelos Mundos que lhe sucedessem fisicamente, embora decrescentes em pureza. 453 Estes são os quatro planos inferiores da Consciência Cósmica; os três superiores são inacessíveis à inteligência humana em seu presente grau de desenvolvimento. Os sete estados da consciência humana constituem, aliás, uma questão inteiramente à parte.

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pelos companheiros mais fortes. Os que escapam vão constituir-se em Mundos454.”

Se analisarmos as linhas acima e sobre elas refletirmos com atenção, havemos de concluir que oferecem um conteúdo tão científico quanto uma exposição que fosse feita pela Ciência moderna. Temos notícia de que em nossos dias foram escritas várias obras repletas de especulações acerca de semelhantes “lutas pela vida” no espaço sideral; obras estas em língua alemã principalmente. Congratulamo-nos com o fato, pois o que vimos de expor é um ensinamento oculto que se perdeu na noite das idades arcaicas. Do assunto já nos ocupamos plenamente em Ísis sem Véu455; e a ideia de uma evolução semelhante à da teoria de Darwin, sobre a “luta pela vida” e pela supremacia, e sobre a “sobrevivência dos mais aptos”, tanto entre as Legiões do Alto como entre as Legiões de baixo, transparece ao longo de todas as páginas de nossa primeira obra, escrita em 1876. Mas a ideia não é nossa, pertence à antiguidade. Os escritores purânicos entremearam com engenho as alegorias com os fatos cósmicos e os acontecimentos humanos. Um simbologista pode discernir as alusões, ainda quando não consiga penetrar-lhes o sentido. As grandes “guerras nos céus”, nos Purânas; a dos Titãs, em Hesíodo e outros escritores clássicos; as lutas entre Osíris e Tífon, no mito egípcio; e até mesmo as que figuram nas lendas escandinavas — todas se referem a tema idêntico. Na Mitologia do Norte, outra não é a significação da batalha das Chamas, do combate dos filhos de Muspel no campo de Wigred. 454 Livro de Dzyan. 455 Veja-se o índice: “Evolução”, “Darwin”, “Kapila”, “Batalha da Vida” etc. 395 Tudo isso se relaciona com o Céu e a Terra, encerrando um duplo e por vezes tríplice significado, e aplicando-se esotericamente “às, coisas de cima como às de baixo”. Cada alegoria diz respeito à lutas astronômicas, teogônicas e humanas, ao ajustamento dos orbes e à supremacia entre as tribos e as nações. A “luta pela vida” e a “sobrevivência dos mais aptos” reinaram como leis supremas desde o instante em que o Cosmos se manifestou à existência, e dificilmente podiam escapar à observação arguta dos sábios antigos. Daí as descrições dos combates incessantes de Indra, o Deus do Firmamento, contra os Asuras — transformados de Deuses superiores em Demônios cósmicos — e cones Vritra ou Ahi; das batalhas renhidas entre estrelas e constelações, entre luas e planetas — posteriormente encarnados como reis e mortais. Daí também a “Guerra nos Céus” de Miguel e seu Exército contra o Dragão (Júpiter e Lúcifer-Vênus), quando um terço das estrelas do Exército rebelde foi precipitado nas profundezas do Espaço, “não mais sendo encontrado o seu lugar nos Céus”. Conforme há tempo escrevemos: “Esta é a pedra angular dos ciclos secretos. Mostra que os brâmanes e os tanaim… especulam sobre a criação e o desenvolvimento do mundo tal como o faz Darwin, antecipando-se a este e à sua escola na questão da seleção natural, e na da evolução e transformação gradual das espécies456.” Existiram mundos antigos, que pereceram, vencidos pelos novos etc. A afirmativa de que todos os mundos, estrelas, planetas etc. — logo que um núcleo de 456 Ísis sem Véu, II, pág. 260. 396 substância primordial em estado laya (indiferenciado) é animado pelos princípios em liberdade de um corpo sideral que acaba de morrer — foram primeiramente cometas e depois sóis, esfriando a seguir e convertendo-se em mundos habitáveis, é um ensinamento tão antigo quanto os Rishis.

Vemos, assim, que os Livros Secretos ensinam uma astronomia que a própria especulação moderna não desprezaria, se fosse capaz de compreender inteiramente aqueles ensinamentos. Porque a astronomia arcaica e as ciências físico-matemáticas de antanho expressavam ideias idênticas às das ciências de nossos dias, e por vezes muito mais importantes. A “luta pela vida” e a “sobrevivência dos mais aptos”, assim nos mundos superiores como em nosso planeta, eram princípios claramente expostos. Mas tais ensinamentos, ainda quando não sejam de todo repudiados pela Ciência, não serão certamente aceitos em seu conjunto, pois sustentam que só há sete “Deuses” primordiais, nascidos por si mesmos e emanados de Aquele que é Uno e Triplo. Em outras palavras: significa que todos os mundos ou corpos siderais (sempre em estrita analogia) são formados uns dos outros, depois que se verificou a manifestação primordial no começo da Grande Era. O nascimento dos corpos celestes no espaço é comparável a uma multidão de peregrinos na festa dos Fogos. Sete ascetas aparecem no limiar do templo, com sete varinhas de incenso acesas. À luz desses fachos, a primeira fila de peregrinos acende as suas varinhas de incenso. Em seguida, cada um dos ascetas começa a fazer girar o seu facho no espaço por cima da própria cabeça, e cede o fogo aos outros peregrinos. É o que também se passa com os corpos celestes. “Um centro “laya” é iluminado e chamado à vida pelos fogos de outro peregrino”; depois, o novo “centro” se lança no espaço e se converte em um cometa. E só quando 397 perde a velocidade e, portanto, sua cauda flamejante, é que o Dragão de Fogo se resolve a uma vida tranqüila e regular, como um cidadão respeitável da família sideral. Assim está escrito: Nascido nos abismos insondáveis do Espaço, do elemento homogêneo chamado Alma do Mundo, cada núcleo de matéria cósmica, lançado subitamente à existência, inicia sua vida em circunstâncias as mais hostis. Ao longo de uma série de incontáveis idades, tem que conquistar por si mesmo um lugar no infinito. Corre em círculos, entre corpos mais densos e já fixos, movendo-se por impulsos súbitos; dirige-se para algum ponto ou centro que o atrai, procurando evitar, qual navio metido em uma estreita passagem semeada de recifes e escolhos, outros corpos que, por sua vez, o atraem e repelem. Muitos desses núcleos sucumbem, desintegrando-se no meio de outras massas mais fortes, e, se nasceram dentro de um sistema planetário, desaparecem tragados pelos ventres insaciáveis dos sóis. Os que se movem mais lentamente, seguindo numa trajetória elítica, estão condenados ao aniquilamento, mais cedo ou mais tarde. Outros, movendo-se em curvas parabólicas, escapam geralmente à destruição, graças à sua velocidade. Alguns leitores de espírito mais crítico imaginarão talvez que este ensinamento, segundo o qual todos os corpos celestes passaram pela fase 398 cometária, se acha em contradição com a afirmativa anterior de que a Lua é a mãe da Terra. Supõem provavelmente que só a intuição é capaz de conciliar as duas informações. Em verdade, porém, não se faz mister a intuição. Que sabe a Ciência em relação aos cometas, sua gênese, crescimento e destino final? Nada, absolutamente nada! E que há de tão impossível na ideia de que um centro “laya” (um núcleo de protoplasma cósmico, homogêneo e latente), ao ser animado ou inflamado subitamente, se projete de sua posição no espaço, para girar em torvelinho através dos abismos insondáveis, com a finalidade de robustecer o seu organismo homogêneo, mediante a acumulação e adição de elementos diferenciados? E por que um cometa semelhante não poderia desse modo vir a fixarse, viver e converter-se em um globo habitado? “As mansões de Fohat são muitas” — está escrito. “Ele coloca seus Quatro Filhos de Fogo [eletropositivos] nos Quatro Círculos”; tais Círculos são o equador, a eclítica e os dois paralelos de declinação, ou os trópicos, a cujos climas devem presidir as Quatro Entidades Místicas. E ainda: “Outros Sete [Filhos] são designados para presidir os sete Lokas quentes e os sete Lokas frios [os infernos dos brâmanes ortodoxos], nos dois extremos do Ovo de Matéria [nossa Terra e seus pólos].” Os sete Lokas são também chamados “Anéis” e “Círculos”. Os antigos contavam sete círculos polares, em vez de dois (como os europeus); porque o Monte Meru, que é o Pólo Norte, possuía, segundo eles, sete degraus de ouro e sete de prata, que conduziam até lá. A estranha sentença que figura em uma das Estâncias, de que: “Os Cantos de Fohat e de seus Filhos eram tão RADIANTES quanto o brilho do Sol do meio-dia e o da Lua combinados”; e a de que os Quatro Filhos, no Quádruplo Círculo do meio, “VIAM os Cantos de seu Pai e OUVIAM sua Radiação selênico- 399 solar” tem a seguinte explicação no Comentário: “a agitação das Forças Fohâticas nos dois extremos frios [Pólos Norte e Sul] da Terra, de que resulta uma radiação multicor durante a noite, encerra várias propriedades do Âkâsha [Éter], inclusive a Cor e o Som”. “O som é a característica do Âkâsha (Éter); ele gera o Ar, cuja propriedade é o Tato, o qual (pela fricção) produz a Cor e a Luz457.” É possível que tudo isso seja considerado um disparate arcaico; entenderse-á melhor, porém, se o leitor tiver em mente as auroras boreal e astral, que ocorrem mesmo nos centros das forças elétricas e magnéticas terrestres. Diz-se que ambos os pólos são os depósitos, os receptáculos e os mananciais, ao mesmo tempo, da Vitalidade cósmica e terrestre (Eletricidade), cujo excesso, sem essas duas válvulas naturais de segurança, há muito que teria reduzido a Terra a inumeráveis fragmentos. Existe ainda uma teoria, que ultimamente adquiriu foros de axioma, de que os fenômenos luminosos polares são acompanhados de assobios, chiados e estalidos, ou os produzem. Consultem-se as obras do Professor Humboldt a respeito da aurora boreal, bem como sua correspondência no tocante a essa discutida questão. 7. Faze os teus cálculos, ó Lanu, se queres saber a idade exata da Pequena Roda458; Seu Quarto Raio “é” nossa Mãe (a) 459. Alcança o Quarto Fruto da Quarta Senda do Conhecimento que conduz ao Nirvana, e tu compreender ás, porque verás…(b). 457 Vishnu Purâna, Livro I, Cap. II, págs. 34-5. O parágrafo acima não é uma transcrição textual, e sim um resumo do que ali se afirma. 458 Cadeia. 459 A Terra. 400 (a) A “Pequena Roda” é a nossa Cadeia de Globos, e o “Quarto Raio da Roda” é a nossa Terra, o quarto Globo de cadeia. É um daqueles sobre os quais o “sopro quente (positivo) do Sol” tem um efeito direto. As sete transformações fundamentais dos Globos ou Esferas celestes, ou, mais propriamente, das partículas de matéria que os constituem, são assim descritas:

1ª — a homogênea;

2ª — a aeriforme e radiante (gasosa);

3ª — a coagulosa (nebulosa);

4ª — a atômica e etérea, começo de movimento e, portanto, de diferenciação;

5ª— a germinal e ígnea, diferenciada, mas composta somente dos germes dos Elementos em seus estados primordiais (possuindo sete estados quando completamente desenvolvidos em nossa Terra);

6ª — a quádrupla e vaporosa (a Terra futura);

7ª — a fria e dependente do Sol para a vida e a luz. O cálculo da idade, que a Estância concita o discípulo a fazer, é sobremodo difícil, visto que não se mencionam as cifras representativas do Grande Kalpa, e não estamos autorizados a divulgar as dos nossos pequenos Yugas, salvo em sua duração apenas aproximada. “As Rodas mais antigas giraram durante uma Eternidade e meia” — está escrito. Sabemos que por “Eternidade” se entende a sétima parte de 311.040.000.000.000 anos, ou seja, de uma Idade de Brahmâ. Mas, quid inde? Sabemos também que, se tomarmos por base as cifras anteriores, teremos inicialmente que eliminar dos 100 Anos de Brahmâ, ou 311.040.000.000.000 de anos, dois Anos tomados pelos Sandhyâs (crepúsculos), o que nos deixa 98, número que corresponde à combinação mística 14 X

7. Mas não dispomos nós de conhecimento algum quanto ao momento exato em que tiveram início a formação e a evolução de nossa pequena Terra. É impossível, assim, calcular a sua idade — a menos que nos seja indicada a data de seu nascimento, o 401 que até agora os Mestres se negam a fazer.

No final do volume III e IV daremos, contudo, algumas referências cronológicas. Devemos, por outro lado, ter presente que a lei da analogia se aplica tanto aos mundos como ao homem; e que, assim como “o Uno [a Divindade] se converte em Dois [o Deva ou Anjo], e o Dois em Três (o Homem)” etc., os Coágulos (o material dos Mundos) se convertem em Vagabundos (Cometas), estes em estrelas, e as estrelas (centros de vórtices) em nosso Sol e nossos planetas, em resumo. Tal é o ensinamento, que não se pode considerar tão anticientífico, uma vez que Descartes também pensava que “os planetas giravam em seus eixos por terem sido em outros tempos estrelas luminosas, centros de vórtices”. (b) As obras exotéricas mencionam quatro graus de Iniciação, conhecidos respectivamente pelas seguintes palavras sânscritas: Srôtâpanna, Sakridâgâmin, Anâgâmin e Arhat — denominações iguais às dos Quatro Caminhos que levam ao Nirvana, em nossa presente Quarta Ronda.

O Arhat, embora possa ver o passado, o presente e o futuro, não é ainda o mais alto dos Iniciados; pois o próprio Adepto, o candidato iniciado, se torna um Chela (Discípulo) de um Iniciado mais elevado. Ainda tem o Arhat que conquistar três graus para chegar ao topo da escala de Iniciação. Há os que o alcançaram ainda em nossa Quinta Raça; mas as faculdades que são necessárias para estes graus mais elevados só estarão plenamente desenvolvidas, para o tipo geral de asceta, no fim desta Raça-Raiz e, principalmente, na Sexta e na Sétima. Sempre existirão, portanto, Iniciados e Profanos até o fim deste Manvantara menor, o atual Ciclo de Vida. Os Arhats da “Névoa de Fogo” — os do último degrau — acham-se apenas a um passo da Raiz Fundamental de sua Hierarquia, a mais elevada que existe na Terra e em nossa Cadeia Terrestre. Essa “Raiz Fundamental” tem um nome que não pode ser 402 traduzido em idioma ocidental senão por meio de várias palavras reunidas: o “Banyan-Humano que vive sempre”. Diz-se que este “Ser Maravilhoso” desceu de uma “elevada região” durante a primeira parte da Terceira Idade, antes da separação de sexos na Terceira Raça. À Terceira Raça, coletivamente, se dá algumas vezes o nome de “Filhos do Ioga Passivo”, significando que ela foi produzida inconscientemente pela Segunda Raça, a qual, carecendo de atividade intelectual, se supõe que vivia sempre imersa naquela espécie de contemplação abstrata e vazia inerente às condições do Ioga. No primeiro período de existência da Terceira Raça — quando ainda em estado de pureza —, os “Filhos da Sabedoria” (que se encarnaram nessa Raça, conforme adiante veremos) criaram, pelo poder de Kriyâshkti, uma geração denominada “Filhos de Ad” ou “da Névoa”, “Filhos da Vontade e da Ioga” etc. Tratava-se de uma progênie consciente, porque uma parcela da Raça já se achava animada pela centelha divina de uma inteligência espiritual e superior. Essa progênie não constituía uma Raça. O primeiro foi um Ser Maravilhoso, chamado “o Iniciador”, seguindo-se um grupo de Seres semi-humanos e semidivinos. “Eleitos”, na gênese arcaica, para tarefas especiais, diz-se que neles se encarnaram os mais elevados Dhyânis — “Munis e Rishis de Manvantaras anteriores” — para formar o seminário de Adeptos humanos do futuro, sobre a Terra e durante o presente Ciclo. Os “Filhos da Vontade e da Ioga”, nascidos, por assim dizer, de uma forma imaculada, estavam, segundo se explica, inteiramente à parte do resto da humanidade. ,., O “Ser” a que acima nos referimos — e que deve permanecer inominado — é a Arvore de que se ramificaram, nas eras subseqüentes, todos os grandes 403 Sábios e Hierofantes historicamente conhecidos: o Rishi Kapila, Hermes, Enoch, Orfeu etc. Como homem objetivo, é o misterioso personagem (sempre invisível aos profanos, posto que sempre presente) de que tanto falam as lendas do Oriente, e especialmente os Ocultistas e os estudantes da Ciência Sagrada. Ele muda de forma, e, não obstante, permanece sempre o mesmo. E é ele quem possui a autoridade espiritual sobre todos os Adeptos iniciados do mundo inteiro. É, como já dissemos, o “Inominado”: muito embora sejam muitas as denominações que possui, o seu nome e a sua natureza são desconhecidos.

É o “Iniciador”, e o chamam a “GRANDE VÍTIMA”; porque, sentado no Umbral da luz, ele a contempla do Círculo de Trevas em que se encontra e que não quer transpor; e não deixará o seu posto senão no último DIA deste Ciclo de Vida. Por que permanece o Vigilante Solitário no posto que escolheu? Por que continua sentado junto à divisa da Fonte da Sabedoria Primordial, em que não precisa dessedentar-se, visto que nada tem a aprender, que já não sabia, assim na Terra como no Céu? É porque os solitários Peregrinos, cujos pés sangram em seu regresso à Pátria, jamais estão seguros, até o derradeiro instante, de não errar o seu caminho neste deserto sem limites de ilusão e de matéria, a Vida Terrestre. É porque ele deseja mostrar, a cada um dos prisioneiros que conseguiram libertar-se dos laços da carne e da ilusão, o caminho que conduz àquela região de liberdade e de luz, da qual se exilou voluntariamente. É porque, em suma, ele se sacrificou pelo bem da humanidade, ainda que só um pequeno número de eleitos possam aproveitar-se do GRANDE SACRIFÍCIO.

Foi sob a direção imediata e silenciosa dessa MAHA-GURU que todos os outros Mestres e Instrutores menos divinos se constituíram, desde o primeiro despertar da consciência humana, nos guias da humanidade primitiva. Graças a estes “Filhos de Deus”, as raças humanas receberam, em sua infância, as primeiras 404 noções de arte, ciência e conhecimento espiritual; e foram eles que assentaram as pedras fundamentais daquelas antigas civilizações, que tanto surpreendem e confundem as modernas gerações de pesquisadores e de eruditos. Aqueles que duvidarem desta afirmativa, que apresentem uma explicação igualmente aceitável e racional do mistério do extraordinário saber demonstrado pelos antigos, eles que, na opinião de alguns, eram os descendentes próximos de selvagens inferiores, semelhantes a animais, os “homens das cavernas” da época paleolítica. Que leiam, por exemplo, obras como as de Vitrúvio Pólio, do século de Augusto, sobre arquitetura, nas quais as regras de proporção eram as ensinadas antigamente durante as Iniciações — se desejam conhecer essa arte verdadeiramente divina e compreender o profundo significado esotérico oculto em cada regra e em cada lei de proporção. Homem algum descendente de habitante das cavernas paleolíticas teria sido capaz de desenvolver, por si só, uma ciência semelhante, mesmo no decurso de miríades sem conta de anos consagrados ao pensamento e à evolução intelectual. Foram os discípulos daqueles Rishis e Devas encarnados na Terceira Raça-Raiz que, de geração em geração, transmitiram seus conhecimentos ao Egito e à Grécia, com a sua lei de proporção, atualmente perdida; da mesma forma que os Iniciados da Quarta Raça, os Atlantes, os legaram aos Ciclopes, os “Filhos dos Ciclos” ou “do Infinito”, cujo nome passou às gerações posteriores dos sacerdotes gnósticos. “Graças à divina perfeição daquelas proporções arquitetônicas, puderam os antigos construir essas maravilhas dos séculos, os seus templos, pirâmides, santuários, criptas, cromlechs, cairns, altares, demonstrando que possuíam

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conhecimento de forças mecânicas ante as quais a arte moderna não passa de um brinquedo de crianças; e a ciência de hoje, referindo-se a essas obras, diz que parecem “o trabalho de um gigante de cem mãos460”. É possível que os arquitetos modernos não se tenham descuidado inteiramente das regras de que se trata; mas lhes acrescentaram em inovações empíricas o bastante para destruir aquelas proporções exatas. Foi Marco Vitrúvio Pólio quem deu à posteridade as regras de construção dos templos gregos erigidos aos deuses imortais; e os dez livros de Vitrúvio sobre arquitetura, de um autor que afinal de contas era um Iniciado, só podem ser estudados esotericamente. Os Círculos Druídicos, os Dolmens, os Templos da índia, do Egito e da Grécia, as Torres e as 127 cidades da Europa em que o Instituto de França reconheceu uma “origem ciclópica”, são todos obras de sacerdotes-arquitetos iniciados, descendentes daqueles que foram em outro tempo instruídos pelos “Filhos de Deus” e chamados, mui justamente, “Construtores”. Eis o julgamento da posteridade sobre esses descendentes: “Não usavam argamassa, nem cimento; nem ferro, nem aço, para cortar as pedras; e no entanto foram elas trabalhadas com tal habilidade que em muitos pontos mal se percebem as junturas — embora muitas dessas pedras, como no Peru, tenham 38 pés de comprimento, 18 de largura e 6 de 460 Kenealy, Books of God, pág. 118. 406 espessura. Nos muros da fortaleza de Cuzco há pedras ainda maiores461.” E também: “O poço de Siena, construído há 5.400 anos, quando a região estava exatamente sob o trópico (o que se não verifica hoje), o foi de tal forma que, ao meio-dia, no momento preciso do solstício, todo o disco do Sol se refletia em sua superfície; obra que a ciência conjugada de todos os astrônomos da Europa não seria hoje capaz de levar a cabo462.” Apesar de estes assuntos só terem sido tocados ligeiramente em Ísis sem Véu, não será demais recordar ao leitor o que ali dissemos463 a respeito de certa Ilha Sagrada da Ásia Central, e indicar-lhe, para outras minúcias, o capítulo sobre “Os Filhos de Deus e a Ilha Sagrada”, no volume II, Estância IX. Contudo, algumas explicações, ainda que fragmentárias, ajudarão o estudante a ter, desde já, um vislumbre de percepção do mistério. Para mostrar, com suficiente clareza, pelo menos um dos pormenores que dizem respeito aos misteriosos “Filhos de Deus”, mencionaremos que era destes Brahmaputras que pretendiam descender os elevados Dvijas, os brâmanes iniciados da antigüidade; enquanto que os brâmanes modernos querem fazer crer às castas inferiores que eles saíram diretamente da boca de Brahmâ. Tal é o ensinamento esotérico; acrescentando-se ainda que, muito embora descendessem aqueles (espiritualmente, é óbvio) dos “Filhos da Vontade e da Ioga”, com o tempo se 461 Acosta, VI, 14. 462 Kenealy, IBID. 463 I, 587-93 407 dividiram em sexos opostos, como o fizeram mais tarde seus próprios progenitores criados pelo poder de “Kriyâshkti”; nada obstante, os seus degenerados descendentes conservaram, até os nossos dias, o maior respeito e veneração para com a função procriadora, que ainda encaram como uma cerimônia religiosa, quando os povos mais civilizados a consideram um ato meramente animal. Comparem-se, a este respeito, as idéias e as práticas ocidentais com as Instituições de Manu no tocante às regras do Grihastha ou da vida conjugal. O verdadeiro brâmane é, portanto, “aquele cujos sete antepassados beberam o sumo da planta da Lua (Soma)”; e é um “Trisuparna”, porque compreendeu o segredo dos Vedas. E, até hoje, sabem os brâmanes que, estando adormecida a inteligência psíquica e física desta Raça durante os seus primórdios, e não se tendo ainda desenvolvido a sua consciência, as concepções espirituais se achavam por completo desligadas do ambiente físico; que o homem divino habitava em sua forma animal — apesar de humana a aparência exterior; e que, se nele existia instinto, não havia a consciência do “eu” para iluminar as trevas do Quinto Princípio latente. Quando os Senhores da Sabedoria, movidos pela lei da evolução, infundiram nele a centelha de consciência, o primeiro sentimento que se manifestou foi o de solidariedade, de unidade com os seus criadores espirituais. Assim como os primeiros sentimentos do filho se dirigem para a mãe que o amamenta, do mesmo modo as primeiras aspirações da consciência despertada no homem primitivo se voltavam para aqueles cuja substância ele sentia dentro de si mesmo, embora existissem à parte e independentes dele. Desse sentimento brotou a Devoção, que foi assim o primeiro e principal motor da natureza humana, o único que é natural no coração do homem, que lhe é inato e que se observa igualmente na criança e no filhote do animal. Este 408 sentimento de aspiração instintiva e irresistível no homem primitivo foi descrito pela pena de Carlyle em traços maravilhosos, que poderíamos dizer intuitivos: “O grande coração antigo — como parece o de uma criança em sua simplicidade, e o de um homem em sua profunda e solene gravidade! O céu está sobre ele em qualquer parte da terra aonde vá ou onde resida; e da terra faz para si mesmo um templo místico, e de todas as coisas terrenas como que um culto. Visões de gloriosas criaturas resplandecem à luz diuturna do sol; voejam ainda os anjos, levando mensagens de Deus entre os homens… A maravilha e o encantamento rodeiam o homem; ele vive em um ambiente de milagre464 … Uma grande lei de dever, tão elevada quanto estes dois infinitos (o céu e o inferno), reduzindo e aniquilando tudo o mais — era uma realidade, e ainda o é: só o invólucro pereceu; a essência persiste através do tempo e da eternidade!”465 Persiste, sem dúvida, e vive com toda a sua energia e poder indestrutível no coração do Ariano asiático, oriundo diretamente da Terceira Raça, por seus primeiros Filhos “nascidos da Mente”, os frutos de Kriyâshakti. À medida que os tempos se passaram, a casta sagrada dos Iniciados produziu, se bem que raramente e de idade em idade, aquelas criaturas perfeitas: seres à parte, interiormente; apesar de iguais, exteriormente, aos seus progenitores. Na infância da Terceira Raça primitiva, 464 O que era natural aos olhos do homem primitivo passou a ser um milagre para nós; e o que para ele era um milagre nunca poderia ser expresso em nossa linguagem. 465 Past and Present, pág. 104 (1874).

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Um ser de mais elevada estirpe Faltava. Que fosse então criado: Consciente do próprio pensamento, Inda maior pelo coração; Feito para reinar, soberano, Apto para os outros comandar. Foi chamado à existência um veículo perfeito e adequado para a encarnação de habitantes de esferas mais elevadas, que logo passaram a morar nestas formas, nascidas da Vontade Espiritual e do poder natural e divino no Homem. Era um filho do espírito puro, mentalmente estreme de toda eiva de elementos terrenos. Só a sua constituição física pertencia ao tempo e à vida, pois sua inteligência provinha diretamente do alto. Era a Árvore Vivente da Sabedoria Divina, sendo, portanto, comparável à “Árvore do Mundo” das lendas nórdicas, que não podia secar e morrer antes que se travasse a última batalha da vida, embora as suas raízes fossem continuamente trituradas pelo dragão Nidhogg. Porque até o primeiro e sagrado Filho de Kriyâshakti tinha o corpo corroído pelos dentes do tempo; mas as raízes do seu interno permaneciam sempre fortes e inalteradas, pois cresciam e se estendiam para o céu, e não sobre a terra. Ele foi o Primeiro dos Primeiros, e a semente de todos os demais. Houve outros Filhos de Kriyâshakti, produzidos por um segundo esforço espiritual; mas o primeiro continuou sendo até hoje a Semente da Sabedoria Divina, o Uno e Supremo entre os terrestres “Filhos da Sabedoria”. Nada mais podemos dizer sobre este assunto, exceto que em todas as épocas — sim, a nossa inclusive — têm existido grandes inteligências, que apreenderam com exatidão o problema. 410 Mas, como chegou o nosso corpo físico ao estado de perfeição em que o vemos agora? Através de milhões de anos de evolução, naturalmente; mas nunca passando pela animalidade, como ensinam os materialistas. Pois, como disse Carlyle: “… A essência de nosso ser, o mistério do que em nós se chama o “Eu” — oh! onde as palavras para o exprimirem? — é um sopro do Céu; o Ser supremo que se revela no homem. Este corpo, estas faculdades, esta vida que possuímos — não será tudo isto como que uma vestimenta para Aquilo que não tem nome?” O “sopro do Céu”, ou melhor, o Sopro de Vida chamado Nephesh pela Bíblia, está em cada animal, em cada molécula animada e em cada átomo mineral. Mas nenhum destes seres ou coisas possui, como o homem, consciência de natureza idêntica à daquele “Ser Supremo466”, e nenhum possuí, em sua forma, essa harmonia divina que existe no homem. Já o dizia Novalis, e, depois dele, ninguém o repetiu melhor do que Carlyle: “Só há um templo no Universo, e é o Corpo do Homem. Nada é mais sagrado do que esta forma… Nós tocamos o Céu quando pomos a mão sobre o corpo humano. Soará isto como uma simples figura retórica; mas não o é. Se 466 Não há nação alguma no mundo em que o sentimento de devoção ou de misticismo religioso seja mais desenvolvido e mais ostensivo que no povo hindu. Veja-se o que disse Max Müller em seus livros sobre essa característica nacional. Tal sentimento é uma herança direta dos homens primitivos conscientes da Terceira Raça. 411 meditarmos bem, veremos que é um fato científico; a expressão. .. da verdade integral das coisas. Somos o milagre dos milagres, o grande Mistério inescrutável467…”

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