Warning: Declaration of BP_Walker_Nav_Menu::walk($elements, $max_depth) should be compatible with Walker::walk($elements, $max_depth, ...$args) in /home2/astrotho/public_html/astrothon/wp-content/plugins/buddypress/bp-core/classes/class-bp-walker-nav-menu.php on line 56

Warning: Use of undefined constant ATT_REQ - assumed 'ATT_REQ' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home2/astrotho/public_html/astrothon/wp-content/plugins/wplms-assignments/includes/assignments.php on line 130

Warning: ksort() expects parameter 1 to be array, object given in /home2/astrotho/public_html/astrothon/wp-content/plugins/bbpress/includes/core/template-functions.php on line 316

Warning: ksort() expects parameter 1 to be array, object given in /home2/astrotho/public_html/astrothon/wp-content/plugins/buddypress/bp-core/bp-core-template-loader.php on line 214
O plano astral | Curso Astrothon
Curso Astrothon

O plano astral

por C W Leadbeater

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ………………………………………………………….. 2

PREFÁCIO ………………………………………………………………… 4

APRESENTAÇÃO ………………………………………………………. 5

APRECIAÇÃO GERAL ………………………………………………. 10

CENÁRIO ……………………………………………………………….. 14

OS HABITANTES ………………………………………………….. 20

I — Humanos ……………………………………………………………. 20

B — Os Mortos ………………………………………………………….. 23

I I — Não-Humanos ………………………………………………….. 34

III — Artificiais …………………………………………………………. 45

FENÔMENOS …………………………………………………………… 54

CONCLUSÃO ……………………………………………………………. 63

O presente trabalho é dedicado à parte inferior desse mundo invisível, ao estado em que a pessoa ingressa imediatamente após a morte — o Hades ou mundo inferior dos gregos, o purgatório ou etapa intermédia dos cristãos, e que os alquimistas da Idade Média chamavam “plano astral”.

O plano astral existe

A primeira ideia a fixar nessa descrição é a absoluta realidade do plano astral. O plano astral existe. Mas, é claro, quando falo de realidade, não parto do ponto de vista metafísico que diz nada haver de real, porque tudo é transitório, a não ser o Absoluto não manifestado.

A palavra é empregada no seu sentido vulgar, de todos os dias, e quer significar que os objetos e habitantes do mundo astral são reais, precisamente como os nossos corpos, a nossa mobília, casas e monumentos — tão reais como qualquer lugar que estamos habituados a ver e a frequentar diariamente.

Tudo o que existe nesse plano não dura, naturalmente, mais do que os objetos do plano físico, mas, precisamente como estes, não deixa de ser uma realidade cuja existência não temos o direito de ignorar, simplesmente pelo fato de a grande maioria da humanidade não ter por enquanto consciência dela, ou, quando muito, apenas a pressentir vagamente.

Ninguém pode ter uma compreensão nítida das doutrinas da Religião-Sabedoria, se não souber e não compreender conscientemente que no nosso sistema solar existem planos perfeitamente definidos, cada um formado pela sua matéria de diferentes graus de densidade, e que alguns desses planos estão abertos à visita e à observação dos que conseguiram obter os requisitos necessários para isso, exatamente como qualquer país estrangeiro está ao alcance do turista.

Estes se chamam, por ordem decrescente de densidade da matéria que os forma, respectivamente: físico, astral, mental ou devachânico, búdhico e nirvânico. Acima destes há ainda dois, mas tão além das nossas atuais faculdades de percepção que, por enquanto, não nos ocuparemos deles.

A matéria que forma estes planos é absolutamente a mesma; a sua densidade em cada um deles é que difere: é como se houvesse um formado de água-gêlo, outro de água-líquido, outro de água-vapor, etc., e realmente os estados de matéria a que chamamos sólido, líquido e gasoso, não são mais do que as três subdivisões inferiores da matéria pertencentes ao plano físico.

É matéria ainda mais rarefeita a que forma os outros, mas, na essência, é a mesma matéria. A região astral, que vou tentar descrever, forma o segundo destes grandes planos da natureza — o imediatamente superior (ou interior) a este mundo físico, tão conhecido de nós todos, e onde vivemos.

Tem-se lhe chamado “o reino da ilusão”, não porque em si seja mais ilusório do que o mundo físico, mas porque as impressões que dele trazem os observadores pouco treinados são extremamente vagas e impalpáveis, oferecendo, portanto, pouco crédito, fato devido a duas causas principais: em primeiro lugar, os seus habitantes têm o poder maravilhoso de mudar constantemente de forma com uma enorme rapidez, e de exercer, por assim dizer, uma espécie de magia ocasional sobre aqueles à custa de quem se querem divertir; e em segundo lugar, a faculdade de ver nesse plano é muito diferente da faculdade visual que nos é dada no plano físico.

É, além disso, extraordinariamente mais desenvolvida, pois, um objeto é, por assim dizer, visto por todos os lados ao mesmo tempo. Olhando para um sólido com a vista astral, o olhar abrange não só o exterior mas o interior do corpo; compreende-se, portanto, que seja extremamente difícil para um observador com pouca prática ter compreensão nítida do que vê, extrair da imagem confusa, que pela primeira vez se lhe apresenta à vista, a noção verdadeira do seu significado, e, acima de tudo, é-lhe quase impossível traduzir o que realmente vê, servindo-se da pobre linguagem de que usa diariamente.

Um bom exemplo do gênero de erro que se comete com frequência é a troca dos algarismos de um número visto à luz astral: 139 em vez de 931, por exemplo. É claro que um estudante de ocultismo, dirigido por um Mestre capaz, não cometerá nunca um erro tão grosseiro, a não ser por uma questão de precipitação ou falta de cuidado, visto que os discípulos seguem um curso regular onde aprendem a ver com precisão na luz astral.

O Mestre, por vezes um discípulo já mais adiantado, tem o cuidado de apresentar constantemente todas as formas de ilusão possíveis, acompanhadas da pergunta — o que é isto? —, corrigindo todos os erros nas respostas, explicando as razões dos enganos, até que o neófito adquire gradualmente uma certa confiança em si mesmo e passa a haver-se corretamente com os fenômenos do plano astral, com uma certeza infinitamente superior à que é possível ter-se na vida física. Mas não se trata só de aprender a ver corretamente; é necessário também aprender a transladar o que vê, de um plano para outro. Para isso, treina-se cuidadosamente em transportar a sua consciência do plano físico para o astral ou mental, e vice-versa, para evitar que, antes da aquisição desta faculdade as suas reminiscências se percam ou se adulterem no hiato que separa a fixação de sua consciência nos vários planos. Adquirido este poder de deslocamento e fixação da consciência, o discípulo pode servir-se de todas as faculdades astrais, não só quando mergulhado no sono, ou em êxtase, mas ainda quando se ache perfeitamente acordado e no meio da sua vida física normal.

Há, entre os teosofistas, quem tenha falado com certo desprezo do plano astral, considerando-o menos digno de atenção; mas, a meu ver, laboram em erro. É evidente que o que aspiramos é a vida do espírito, e que seria um verdadeiro desastre ficarmos satisfeitos com a obtenção da consciência astral, desistindo de um desenvolvimento mais elevado. Há, é certo, quem tenha um Karma tal que, por assim dizer, é dispensado do plano astral, podendo logo de princípio começar pelo desenvolvimento das faculdades mentais mais elevadas. Mas não é esse o processo geralmente seguido pelos Mestres da Sabedoria com os discípulos.

Sempre que é possível, este processo evidentemente é empregado, porque poupa trabalho e tempo, mas, em geral, o progresso aos saltos é-nos interdito pelas nossas faltas ou loucuras passadas. Devemos, portanto, contentar-nos em abrir o nosso caminho passo a passo, lentamente, e visto que é esse plano astral o imediatamente a seguir ao nosso mundo de matéria mais densa, é nele que devemos começar as nossas primeiras experiências super físicas.

E visto isto, é do maior interesse o seu conhecimento para os que começam estes estudos, tanto mais que e da maior importância, uma compreensão clara dos mistérios astrais, não só para se ter uma ideia racional acerca de muitos dos fenômenos das sessões espíritas, das casas em que aparecem as chamadas almas do outro mundo, etc., que de outro modo seriam inexplicáveis, mas também para que com conhecimento de causa nos possamos, precaver contra certos perigos possíveis.

Uma vez

A primeira introdução consciente nesta região notável vem aos homens por várias maneiras. Alguns sentiram na sua vida, uma vez unicamente, uma influência qualquer, vaga e invulgar, que lhes comunicou o grau de sensibilidade suficiente para reconhecerem a presença de um dos seus habitantes; mas como a experiência não se repetiu, vem um dia em que se convencem que foram apenas vítimas de uma alucinação.

Ver e ouvir o que outros não conseguem

Outros têm a impressão de que em certos momentos, cada vez mais frequentes, podem ver e ouvir coisas para as quais os que os cercam são cegos e surdos, e outros ainda — é talvez este o caso mais vulgar — começam a recordar-se, com uma nitidez sucessivamente maior, do que viram e ouviram nesse plano, durante o sono.

Cristal

A visão astral pode obter-se por vários processos, e entre eles, o muito conhecido de fixar longamente um cristal. É este um dos processos seguidos por muitos que se dedicam isoladamente a estes estudos.

Mestre, condutor

Mas os que possuem a inigualável vantagem da direção de um Mestre experimentado, são geralmente transportados a esse plano pela primeira vez, graças à Sua proteção especial que se manifestará até que um certo número de provas convençam o Mestre de que o discípulo está em condições de seguir desacompanhado, isto é, está à prova dos perigos ou terrores que com toda a probabilidade encontrará no seu caminho.

Riqueza do astral

Tão exuberante e tão variada é esta vida do plano astral, que a princípio o neófito se sente perante ela absolutamente estupefato, não sabendo por onde começar o seu estudo. E mesmo para o investigador com maior prática, é extremamente difícil o trabalho da sua classificação e catalogação. Se a um explorador de qualquer região tropical desconhecida fosse exigida, não só uma descrição completa da região explorada, com todos os detalhes rigorosos acerca de suas produções minerais e vegetais, mas ainda por cima se lhe exigisse um tratado dos gêneros e espécies de cada uma das miríades de insetos, aves, mamíferos e répteis característicos da região, ele decerto recuaria apavorado perante a magnitude de tal empresa.

Pois bem: esse trabalho seria apenas um pálido reflexo dos embaraços que esperam o investigador psíquico, porque a natureza dos assuntos a estudar é muitíssimo mais complicada, primeiramente pela dificuldade de transportar com exatidão do plano astral para o nosso a memória do que viu, e em segundo lugar, pela impropriedade da linguagem vulgar para a expressão do que se tem de relatar.

Todavia, assim como o explorador no plano físico começaria provavelmente a descrição de uma região por uma espécie de descrição geral do cenário e respectivas características, também nós, ao empreendermos tornar conhecido o plano astral, começaremos este ligeiro esboço por tentar dar uma ideia do cenário que forma o fundo das suas atividades maravilhosas e sempre diferentes.

Mas, logo no começo surge-nos uma dificuldade quase insuperável, derivada da extrema complexidade do assunto. Todos aqueles que admiram o poder de ver claramente no plano astral, são unânimes em reconhecer que a tentativa de evocação de uma pintura cheia de vida desse cenário perante olhos inexperientes, equivale a querer fazer admirar a um cego, por uma simples descrição oral, a requintada variedade dos matizes de um pôr de sol; — por mais expressiva, mais detalhada e mais fiel que seja a descrição, nunca se pode obter a certeza de que no espírito do cego se represente com clareza a verdade.

CENÁRIO

Antes de mais nada, é preciso não esquecer que o plano astral tem sete subdivisões, e cada uma destas tem um grau de materialidade que lhe é próprio e corresponde a um certo estado de agregação de matéria. Embora, por causa da pobreza da nossa linguagem, sejamos forçados a chamar a esses subplanos “superiores e inferiores”, não se julgue que esses subplanos (ou antes os planos maiores de que estes, são apenas subdivisões) são localidades separadas no espaço, uns por cima dos outros como as prateleiras de uma estante, ou uns exteriormente aos outros como as camadas de uma cebola.

A matéria de cada um deles interpenetra a matéria do imediatamente superior, de modo que aqui à superfície da terra existem todos no mesmo espaço, embora as variedades superiores de matéria se estendam para mais além da terra física do que as inferiores. Assim, quando se diz que um humano se eleva de um plano para outro, não queremos de modo nenhum dizer que haja uma mudança de lugar no espaço, mas, sim, uma transferência do foco da consciência de um nível para o outro.

Passagem de um subplano para outro

A pessoa vai-se tornando, por assim dizer, opaca às vibrações de uma ordem de matéria e adquirindo uma sensibilidade crescente para as de uma ordem mais elevada. Desta forma, o primeiro mundo vai-se desvanecendo  pouco a pouco da consciência, com os seus habitantes e paisagens, dando lugar a outro de ordem mais elevada, que se vai tornando sucessivamente mais nítido. No entanto, há um ponto de vista segundo o qual há certa justificação para o uso dos termos “superiores” e “inferiores”, e a comparação dos planos e subplanos a camadas concêntricas. A matéria de todos os subplanos tem de encontrar-se aqui na superfície da terra, porém o plano astral e muito maior do que o físico, e estende-se alguns milhares de quilômetros acima da sua superfície.

A lei de gravitação opera na matéria astral, e se fosse possível deixá-la inteiramente imperturbada, provavelmente ela se estabeleceria em camadas concêntricas. Mas a terra está em movimento perpétuo, tanto de rotação como de revolução, e todas as espécies de influências e forças estão em contínua precipitação; assim, esta condição de repouso ideal jamais é alcançada, e há muita mistura.

Todavia, é certo que quanto mais ascendemos tanto menos matéria densa encontramos. Temos uma boa analogia no plano físico.

Terra, água e ar — o sólido, o líquido e o gasoso — todos existem na superfície, porém, amplamente falando, é exato dizer-se que a matéria sólida na base, a líquida logo acima dela, e a gasosa acima de ambas. A água e o ar interpenetram a terra numa pequena extensão; a água também se ergue no ar sob a forma de nuvens, mas apenas até uma altura limitada; a matéria sólida pode ser arremessada ao ar por violentas convulsões, como na grande erupção da ilha de Cracatau, Indonésia, em 1883, quando a lava vulcânica atingiu a altura de dezessete milhas, e levou três dias para depositar-se de novo; mas deposita-se finalmente, tal como a água atraída para o ar por vaporação retorna a nós como chuva.

Quanto mais alto nos elevamos, mais rarefeito se torna o ar, e a mesma verdade se aplica à matéria astral. As dimensões de nosso mundo astral são consideráveis e podemos determiná-las com alguma aproximação de exatidão do fato de que nosso mundo astral toca o da lua no perigeu, porém não no apogeu; mas naturalmente o contato se confina ao mais elevado tipo de matéria astral. Retornando à consideração destes subplanos e numerando-os desde o mais elevado e menos material para baixo, notamos que compreendem naturalmente três classes: as divisões l, 2 e 3 formando uma dessas classes, e 4, 5 e 6 a outra, ao passo que a sétima e ínfima de todas constitui a terceira.

A diferença entre a matéria de uma destas classes e a imediatamente superior seria comensurável com a entre um sólido e um líquido, enquanto que a diferença entre a matéria das subdivisões de uma mesma classe se assemelharia à existente entre duas espécies de sólido, como, digamos, aço e areia. Abstraindo, por enquanto a divisão 7, podemos dizer que o fundo das divisões 4, 5 e 6 do plano astral é formado por este plano físico, em que vivemos, e por tudo o que lhe é acessório.

A vida na sexta divisão é em tudo semelhante à vida na terra, com a diferença, é claro, de que não existe o corpo físico, e portanto, não se sentem as respectivas necessidades; enquanto que, à medida que ascende através da quinta e quarta divisões, a vida se torna sucessivamente menos material e menos dependente do nosso mundo inferior e seus interesses. Portanto, o cenário das divisões inferiores é o da terra, nossa conhecida; mas é ainda mais, porque, ao contemplá-lo com vista astral, todos os objetos, mesmo os pensamentos físicos, tomam um aspecto diferente.

visão diferente no astral e no físico

Como já se disse, os olhos astrais veem um objeto, não só sob um certo ponto de vista, mas por todos os lados ao mesmo tempo — ideia, que em si é bastante confusa. Se acrescentarmos, ainda, que todas as partículas existentes no interior de um corpo sólido se apresentam tão nitidamente visíveis como as da superfície, compreenderemos facilmente que mesmo os objetos que nos são mais familiares apresentem uma aparência que os torna inteiramente irreconhecíveis. Contudo, refletindo um momento, veremos que esta visão está mais próxima da verdadeira percepção do que a vista física.

Assim, se olharmos, à luz astral, as faces de um cubo de vidro, elas nos parecerão perfeitamente iguais, como realmente o são, ao passo que no plano físico vemos a face mais afastada em perspectiva, e portanto, muito menor do que realmente o é, o que evidentemente não passa de uma ilusão do sentido visual. É esta característica da visão astral que concorreu para que este tipo de visão tenha sido chamado “vista na quarta dimensão” — expressão realmente muito sugestiva.

No entanto, ainda há mais causas de erro: assim, esta vista superior distingue formas de matéria invisíveis em outras condições, como por exemplo, as partículas constituintes da atmosfera, todas as variadíssimas emanações que os corpos, que têm vida, constantemente libertam de si, e ainda mais quatro graus de uma ordem de matéria bem mais rarefeita, a que, por falta de designação distintiva, chamaremos etéricas.

Além destas formas novas da matéria física, há ainda outras subdivisões, muito mais numerosas e mais misteriosas, da matéria astral.

Aura, duplo astral

Em primeiro lugar, cada objeto material, cada partícula mesmo, tem o seu duplicado astral. Este duplicado, por vezes, não é um corpo simples; é um corpo extremamente complexo, constituído de várias espécies de matéria astral. Além disso, todos os seres vivos estão rodeados de uma atmosfera, que lhes é própria, vulgarmente chamada “aura”, que no caso do homem é um assunto de estudo extremamente fascinante. Esta aura humana tem o aspecto de um oval de vapor luminoso, de uma estrutura altamente complexa, e da sua forma deriva o nome por que geralmente é conhecida, de “ovo aúrico”.

Podemos dar aos leitores de Teosofia a boa notícia de que, mesmo nos primeiros estágios da sua aprendizagem, quando começa a adquirir a visão completa, o discípulo tem já a faculdade de se certificar diretamente da exatidão dos ensinamentos apresentados pela nossa fundadora, Madame Blavatsky, acerca de, pelo menos, alguns dos “sete princípios do homem”.

Ao contemplar um dos seus semelhantes, o discípulo vê mais do que a sua aparência exterior; envolvendo-lhe o corpo físico, vê claramente o duplo etérico, vê distintamente o fluído vital universal ser absorvido e espalhado pelo corpo, circular livremente sob o aspecto de uma luz rósea, e irradiar perpendicularmente do corpo da pessoa, quando se trata de um indivíduo em bom estado de saúde.

Irradiação dos desejos

Mas a aura mais brilhante e talvez mais fácil de distinguir, apesar de formada por matéria num grau ainda mais elevado de rarefação — a matéria astral — é a que exprime com os seus rápidos e vivos relâmpagos de cor os diversos desejos que vertiginosamente atravessam o ser humano, de momento a momento. É isto o que forma o verdadeiro corpo astral. Atrás deste, e formado por um grau de matéria ainda mais sutil — a das formas do plano devachânico — está o corpo mental ou aura do eu inferior, cujas cores, mudando apenas gradualmente à medida que o homem vai vivendo a sua vida, mostram a linha geral do seu pensamento e a disposição e caráter da sua personalidade.

Ainda acima, muito mais elevada e incomparavelmente mais bela, onde atingiu o seu completo desenvolvimento, está a luz viva do corpo causal, veículo do Eu superior, que mostra o exato grau de adiantamento a que chegou o Ego verdadeiro, na sua passagem de nascimento em nascimento, isto é, de vida em vida.

Mas para ver estes corpos é necessário que o discípulo tenha adquirido a faculdade de ver com vista especial de cada um dos planos a que cada corpo pertence. Estas auras não são simples emanações; são a manifestação real do Ego nos diferentes planos. Esta noção é importantíssima; a sua aquisição poupará ao estudante muitas dificuldades e o libertará de muitos erros.

Ovo áurico

O ovo áurico é que é a pessoa, e não o corpo físico que na vida terrena se cristaliza dentro dele. Enquanto o Ego reencarnante permanece no plano que é a sua verdadeira morada nos corpos “sem forma”, ele habita no corpo causal — e este é o seu veículo — mas à medida que ele desce para os corpos “com forma”, vê-se obrigado, para poder funcionar no novo plano, a revestir-se da matéria deste. E é a matéria que ele assim atrai a si que lhe fornece o corpo devachânico, ou o corpo mental.

Analogamente, ao descer para o plano astral, reveste-se do corpo astral, ou corpo de desejos. Mas, é claro, os outros corpos superiores, de que se foi sucessivamente revestindo nas suas passagens de plano para plano, permanecem todos, até que em sua última descida para o plano físico, se reveste finalmente do corpo mais grosseiro, o nosso de carne e osso, que se forma no seio do Ovo áurico. E assim temos o homem completo, encerrado no Ovo áurico.

Quem quiser mais amplos detalhes a respeito das auras, pode encontrá-los  em meu livro “O Homem Visível e Invisível”. Mas o que acabo de dizer basta para mostrar que todas as auras ocupam o mesmo espaço, as mais sutis penetrando as mais grosseiras, de modo que o neófito carece de muito estudo e de muita prática para as poder distinguir ao primeiro golpe de vista. No entanto, a aura humana, pelo menos em parte, é geralmente o primeiro objeto puramente astral percebido pelo ignorante e, como é natural, sempre mal interpretado e pessimamente compreendido.

Apesar de ser a aura astral, em virtude do brilho dos seus relâmpagos de cor, a que mais salta à vista, o éter do sistema nervoso e o duplo etérico são realmente formados de matéria mais densa, visto estarem dentro dos limites do plano físico, conquanto invisíveis aos olhos vulgares. Se examinarmos, por meio da faculdade psíquica, o corpo de um recém-nascido, veremos que está interpenetrado, não só por matéria astral de todos os graus de densidade, mas também pelos diversos graus de matéria etérica.

E se nos dispusermos a remontar até à origem, veremos que é deste último que os agentes dos Senhores do Karma formam o duplo etérico, que é o molde segundo o qual se organiza o corpo físico, ao passo que a matéria astral vai sendo recolhida automática e inconscientemente pelo Ego na sua passagem pelo plano astral. Na composição do duplo etérico entram todos os diferentes graus da matéria etérica, mas é muito variável a proporção em que cada um entra, por ser função de vários fatores, tais como, a raça, a sub-raça, o tipo do indivíduo, além do Karma que lhe é próprio.

Se juntarmos a isto a consideração já sabida de que estas quatro subdivisões de matéria são constituídas por inúmeras combinações que, por sua vez, formam agregados constituintes do “átomo” do chamado “elemento” químico, poderemos avaliar a extrema complexidade deste segundo princípio do homem, a infinidade das suas variações possíveis. Compreende-se, pois, que por mais complexo que seja o Karma de qualquer indivíduo àqueles a cuja jurisdição pertencem essas funções é sempre possível fabricar um molde perfeitamente adaptável ao corpo a que se destina. Quem quiser mais ampla informação a este respeito, poderá consultar com vantagem a sugestiva obra de Annie Besant o Karma.

átomos e moléculas vistos desde o astral

Ainda a respeito da aparência tomada pela matéria física quando vista à luz astral, outro ponto há que merece menção: é o fato de esta visão superior astral ter o poder de aumentar os objetos, levando qualquer partícula, por minúscula que seja, à grandeza que se deseje, tal qual um excelente microscópio, se nos é permitida tão grosseira comparação, pois na realidade não há nem poderá haver nenhum desses instrumentos, capaz de possuir um poder de aumento tão extraordinário.

A molécula e o átomo, criações hipotéticas para o homem de ciência, são para o ocultista realidades visíveis, e de uma complexidade intrínseca muito maior do que para os físicos e químicos do nosso mundo. É antes um vastíssimo campo de estudo do mais absorvente interesse, cuja análise mereceria um volume. Qualquer investigador científico que conseguisse adquirir uma vista astral perfeita, não só veria, mas se facilitariam enormemente as suas experiências sobre os fenômenos vulgares, já conhecidos, mas veria diante de si um campo novo de conhecimentos para cujo estudo rigoroso não chegaria a curta vida humana na terra.

Por exemplo, uma das mais curiosas novidades que se lhe revelaria, seria a existência de mais cores, perfeitamente visíveis além daquelas que ele pode ver no espectro, como os raios ultra— vermelhos e ultravioletas, que a ciência descobriu por meios indiretos e que para o ocultista dotado de vista astral são perfeitamente visíveis.

Mas não nos deixemos fascinar por estes interessantíssimos atalhos e prossigamos em nosso objeto de dar uma ideia geral da aparência do plano astral.

aparência do plano astral

Do que acabamos de dizer compreende-se que, embora sejam realmente os objetos vulgares do mundo físico que formam o fundo do cenário do plano astral, aparecem, contudo, com um aspecto tão diferente, pelo muito mais que deles se vê, que se nos tornam quase irreconhecíveis e julgamos estar em presença de objetos novos, tanto e tão profundamente modificados, na infinita variedade dos seus pormenores, nos aparecem os objetos nossos conhecidos.

rocha

Para melhor compreender a nossa afirmação, tomemos um exemplo, qualquer coisa de muito conhecido e de muito simples, seja uma rocha. Olhada com vista astral, essa rocha deixa de ser um corpo inerte e imóvel. Vê-se-lhe toda a matéria física e não apenas uma pane. Percebem-se todas as vibrações das partículas físicas que a formam. Verifica-se a existência de um duplicado composto de vários graus de matéria astral, rigorosamente igual ao físico, cujas partículas- estão igualmente em movimento. Através da sua massa sente-se palpitar a vida universal.

Torna-se visível a aura envolvente, embora esta não tenha a extensão nem a complexidade das auras que cercam os corpos dos reinos mais elevados. Finalmente, percebe-se, ativa e flutuante, a essência elemental que lhe é própria.

Se em vez de um bloco de pedra escolhêssemos um exemplo do reino vegetal, animal ou humano, a complexidade dos fenômenos observáveis seria muito maior e, sem dúvida, muito mais interessante.

Porque tantos detalhes que nunca foram descritos?

Poderão alguns leitores objetar que nenhum desses fenômenos apareceu até agora descrito com esses pormenores de complexidade, pela maior parte dos investigadores que dizem ter tido algum vislumbre do mundo astral, nem nas sessões espíritas jamais qualquer médium recebeu comunicação a tal respeito. O fato tem sua explicação. Poucas pessoas, vivas ou mortas, chegam a ver as coisas como elas são, a não ser depois de longa experiência.

Mesmo as que já sabem ver, sentem-se muitas vezes perplexas e confusas, incapazes de compreender ou de recordar o que viram. E a pequeníssima maioria dos que não só veem, mas recordam, acha-se impotente para traduzir as suas impressões na linguagem do nosso plano, tanto mais que a maior parte dos observadores esquece o lado científico da questão e pode, portanto, obter uma impressão correta, às vezes, mas, e geralmente, completamente errônea.

Em abono desta última hipótese, basta tomar em consideração as “partidas” que os cidadãos do outro mundo têm gosto em pregar nas sessões espiritistas, sem que os observadores pouco práticos tenham meio de se defender contra a “graça” dos evocados.

Além disso, não se deve esquecer que os habitantes regulares do mundo astral, sejam humanos ou elementais, apenas têm, em geral, consciência dos objetos do seu plano, passando-lhes despercebida a matéria física, precisamente como aos habitantes do mundo físico passa despercebida a matéria astral.

Parece, à primeira vista, que esta distinção é supérflua, visto termos dito que cada objeto físico tem o seu duplicado astral que o habitante deste plano deve ver, mas não podemos deixar de fazê-la, por ser uma parte essencial da concepção simétrica do assunto.

Se, contudo, uma entidade astral se serve constantemente de um médium, os seus sentidos astrais podem embotar-se gradualmente a ponto de se tornarem insensíveis aos graus mais elevados de matéria do seu próprio plano, e incluírem no seu domínio, em vez do mundo astral, o mundo físico tal qual nós o vemos. E no que diz respeito aos habitantes da terra, apenas os muito exercitados, que tenham consciência absoluta nos dois planos, podem ter a certeza de ter simultaneamente tanto em um como no outro, com clareza e perfeição.

Fique, pois, certo que essa espantosa complexidade existe realmente, e que só depois de muito bem compreendida e, por assim dizer, cientificamente destrincada, é que podemos ter uma garantia perfeita contra erros e decepções.

O nosso mundo físico, pode dizer-se, forma o fundo da sétima subdivisão do plano astral — apesar de tudo que se vê formar apenas uma parte dele, — onde as coisas aparecem deformadas, visto que tudo que é luminoso, bom e belo, parece invisível.

Há mais de 4000 anos descreveu-a assim, num papiro egípcio, o escriba Ani: Que espécie de lugar é este, em que me encontro, sem ar, sem água, profundo, insondável, negro como a morte mais negra, onde erram miseravelmente os homens? Em tal lugar nenhum homem pode viver de coração tranquilo. Para o desgraçado ser humano nesse plano, é certo que “toda a terra está cheia de trevas e de moradas cruéis”. Mas essas terras vêm do seu íntimo e são elas que lhes rodeiam a existência de uma noite perpétua de mal e de terror, —• verdadeiro inferno, realmente, mas um inferno, como todos os outros, única e simplesmente criado pelo próprio homem.

A maior parte dos estudantes de ocultismo considera a exploração desta região uma árdua tarefa, porque nela se sente como que uma sensação de densidade e de materialidade grosseira que se torna imensamente repugnante ao corpo astral, que alcançou a libertação. Um corpo nessas condições tem a impressão de ter de abrir à força um caminho através de uma espécie de fluído, negro e viscoso, rodeado de habitantes e influências extremamente desagradáveis.

A primeira, segunda e terceira subdivisões, apesar de ocuparem o mesmo lugar no espaço, dão, contudo, a impressão de um maior afastamento do mundo físico e, portanto, parecem ter materialidade muito menor. As entidades que as habitam perdem de vista a terra e as coisas terrestres; encontram-se, em geral, profundamente absorvidas em si mesmas, e criam, até certo ponto, o seu ambiente, ambiente que, contudo, é suficientemente objetivo para se dar a perceber às outras entidades e também à visão do clarividente.

Esta região é sem dúvida a “Summerland”, de que tanto estamos habituados a ouvir falar nas sessões espíritas americanas, e aqueles que de lá vêm e dela nos falam, decerto a descrevem com verdade, pelo menos, tanto quanto o seu conhecimento lhes permite. É nestes planos que os “espíritos” chamam a uma existência temporária as suas casas, escolas e cidades.

Temporária porque, se é certo que estas coisas aparecem por algum tempo com um caráter de realidade, quaisquer olhos mais habituados a ver, achá-las-ão sem dificuldade tristemente diferentes daquilo que os seus entusiásticos criadores julgam que o são.

Contudo, muitas das criações fantasistas que aí tomam forma, são de uma beleza real, embora temporária, e qualquer visitante que não conhecesse nada de superior, passaria bastante agradavelmente o seu tempo vagueando pelas florestas e montanhas, lagos e aprazíveis jardins floridos, bem mais belos do que tudo o que existe no mundo físico.

E poderia mesmo dar corda a sua fantasia, que ela própria faria desenrolar diante de si todas essas paisagens. Quando tratarmos em particular dos habitantes desses três subplanos superiores, entraremos nos detalhes relativos às diferenças existentes entre eles.

Registros da Luz Astral

Para não deixar incompleta esta descrição, embora rápida, do cenário do plano astral, não podemos deixar de nos referir àquilo a que muitas vezes se tem chamado, embora erradamente, os Registros da Luz Astral.

Estes registros, arquivos, ou memórias (que são afinal uma espécie de materialização da memória Divina — fotografias animadas de todos os acontecimentos passados) vão-se imprimindo indelevelmente num plano muito superior, de forma que é apenas de maneira instável, por assim dizer, espasmódica que eles se refletem no plano astral.

Daí resulta que apenas aqueles cujo poder de visão se eleve acima do correspondente a este plano, é que podem obter uma impressão seguida e conexa desta espécie de filmes; os outros pouco mais obterão que uma série de quadros ilógicos e desconexos. Todavia, estas imagens, que refletem todos os acontecimentos passados, seja qual for a sua espécie, são objeto de uma representação constante no plano astral, e nele formam uma parte importante do ambiente do explorador.

No meu livro Clarividência, capítulo VII, encontra-se mais detalhadamente feito o estudo deste assunto, que por falta de espaço não posso desenvolver neste manual.

OS HABITANTES

Não é fácil tarefa classificá-los e ordená-los, tão complexa é a sua variedade. Parece-nos melhor começar por dividi-los em três grandes categorias: os humanos, os não-humanos e os artificiais.

I — Humanos

Os cidadãos humanos do mundo astral separam-se naturalmente em dois grupos: os vivos e os mortos, ou, falando com mais precisão, aqueles que ainda têm corpo físico e aqueles que já o abandonaram.

A — OS VIVOS

Podem contar-se quatro categorias de homens que se manifestam no plano astral, durante a vida física:

1.° O Adepto e os seus discípulos.

Os membros desta categoria empregam geralmente, como veículo, não o corpo astral, mas o corpo mental, composto da matéria que forma os quatro níveis inferiores, ou rupa, do plano imediatamente superior ao astral.

Este veículo tem a vantagem de permitir a passagem instantânea do plano mental para o astral, e vice-versa, e o emprego, em qualquer momento, do poder maior e agudeza de sentidos do plano mental.

Por natureza, o corpo mental não é visível à luz astral; por isso, o discípulo que opera nesse veículo tem de aprender a rodear-se de um véu temporário de matéria astral, quando se torne necessário, para maior eficácia da sua obra de auxílio aos habitantes do plano inferior, e estes o possam ver.

Este corpo temporário é a princípio formado geralmente pelo Mestre para o discípulo, ate que este aprenda a formá-lo por si só, fácil e rapidamente. Embora seja uma reprodução exata da figura de quem o usa, esse veículo não contém a menor partícula da matéria do seu corpo astral; pode dizer-se que está para este como uma materialização está para o corpo físico.

Encontram-se também discípulos menos desenvolvidos, revestidos do corpo astral; mas o indivíduo que é preparado neste plano por um guia competente, pode operar sempre com a maior facilidade em todos os subplanos e em plena consciência, seja qual for o veículo empregado. É, de fato, ele mesmo, exatamente como os seus conhecidos o viram na terra, menos os quatro princípios inferiores (1) no primeiro caso, ou os três princípios inferiores no segundo, mais os poderes e as faculdades inerentes à sua nova condição, o que lhe permite o prosseguimento, em sonhos, com mais facilidade e eficácia, dos trabalhos teosóficos que lhe ocupam as suas horas de vigília.

A maior ou menor exatidão da reprodução no plano físico das suas impressões no astral depende, é claro, da maior ou menor facilidade com que ininterruptamente possa transferir a consciência de um plano para outro.

É comum o investigador encontrar no plano astral ocultistas de todas as partes do mundo (pertencentes a Lojas sem ligação com os Mestres mais conhecidos dos teósofos), que geralmente buscam a verdade com uma convicção e um espírito de abnegação surpreendentes.

É conveniente, porém, notar que todas essas Lojas conhecem pelo menos a existência da grande confraria do Himalaia e reconhecem que esta conta no seu grêmio os mais elevados Adeptos hoje conhecidos na terra.

2.° Indivíduos psiquicamente adiantados que não estão sob a direção de um Mestre.

Estes podem estar ou não desenvolvidos espiritualmente, pois adiantamento psíquico e adiantamento espiritual não andam necessariamente juntos.

Os poderes psíquicos que alguém traga ao nascer, são os resultados de esforços levados a cabo em encarnação precedente. Tais esforços podem ter sido nobres e altruístas, mas também podem ter sido cegos, mal dirigidos e até de caráter extremamente condenável.

Os indivíduos psiquicamente desenvolvidos são em geral perfeitamente conscientes fora do corpo físico, mas, por falta do necessário treino, estão sujeitos a enganos na apreciação do que veem. Por vezes poderão percorrer todas as subdivisões do plano astral, como os da classe precedente, mas muitos deles haverá que, sentindo-se atraídos por uma delas, raras vezes vão a qualquer outra onde a influência da primeira não se faça sentir.

As recordações do que viram podem, portanto, variar segundo o grau de desenvolvimento que adquiram, desde a mais perfeita nitidez até a mais completa deformação da verdade ou mesmo esquecimento completo.

O seu veículo será sempre o corpo astral, visto não saberem funcionar no veículo mental.

3.° A pessoa vulgar — isto é, sem nenhum desenvolvimento psíquico

Ela flutua no seu corpo astral durante o sono, num estado mais ou menos inconsciente. No sono profundo do corpo físico, os princípios superiores que se encontram no veículo astral desligam-se invariavelmente dele e acolhem-se nas proximidades, apesar de, nas pessoas sem o mais pequeno desenvolvimento, se encontrarem num estado de sono tão profundo como o do corpo.

Contudo, em alguns casos o veículo astral está num letargo menor e então flutua daqui para ali, semi-adormecido, nas várias corrente astrais, reconhecendo por vezes outras pessoas que se acham no mesmo estado, passando por toda espécie de aventuras, umas agradáveis, outras desagradáveis, cuja lembrança, necessariamente confusa e por vezes transformada numa grotesca caricatura do que realmente aconteceu, as fazem pensar, ao despertar, nos disparates do sonho que tiveram.

Todas as pessoas cultas, pertencentes às raças mais elevadas do globo, têm já hoje os sentidos astrais bastante desenvolvidos, de modo que, se estivessem suficientemente atentas para poder examinar as realidades que as cercam durante o sono, estariam em condições de as observar e de tirar delas proveitosas lições. Mas, na maior parte dos casos, tal não sucede, porque quase toda gente, em vez de fixar a sua atenção no sonho, passa as noites numa meditação profunda, deixando-se ir atrás de qualquer pensamento que mais absorvente se lhe tornou antes de adormecer.

Estes indivíduos têm as faculdades astrais, mas quase não se servem delas; estão evidentemente acordados no plano astral, mas não estão acordados para o que nele sucede e, portanto, a consciência que tem do meio onde se encontram é extremamente vaga, se é que têm alguma.

Quando um indivíduo nestas condições se coloca sob a direção de um dos Mestres da Sabedoria, começa geralmente por se sentir sacudido desse estado de sonolência e acorda então completamente para as realidades que o cercam no plano. Ocupado em aprender o muito que delas há para aprender, começa a operar no meio delas, de forma que as horas de sono deixam de ser horas vazias; antes, pelo contrário, estão repletas de trabalho ativo e útil, sem que essa atividade roube ao corpo físico, cansado da labuta do dia, o necessário e higiênico repouso.

indivíduo das raças inferiores

No caso de um indivíduo das raças inferiores, ou, em geral, de qualquer indivíduo muito atrasado, estes corpos astrais são muito vagos de forma e mal definidos nos seus contornos, mas à medida que vai havendo maior desenvolvimento de intelecto e de espiritualidade, o corpo astral vai-se definindo e adquirindo maior semelhança com o corpo físico.

Tem-se perguntado frequentemente como se compreende que se possa reconhecer o homem vulgar, quando revestido do corpo astral, visto este ser tão vago de forma, e a grande maioria da humanidade estar tão pouco desenvolvida.

Tentando responder a esta pergunta, devemos não esquecer que aos olhos do clarividente o corpo físico humano aparece cercado pela aura — espécie de névoa, luminosa e colorida, aproximadamente ovoide, — que se estende a partir do contorno do corpo físico, proximamente meio metro em todas as direções.

Todos os investigadores sabem que esta aura é extraordinariamente complexa e contém matéria de todos os diversos planos que presentemente podem fornecer ao homem veículos; mas, por enquanto, limitemo-nos a considerá-la tal qual ela apareceria a um observador possuidor apenas da vista astral.

Para um observador nestas condições, a aura não passaria de um corpo de matéria astral, e portanto, seria um objeto de estudo relativamente mais simples. Essa matéria astral, porém, não só rodeia o corpo físico, mas inter penetra-o, podendo verificar-se que está muito mais condensada dentro da periferia daquele do que na parte da aura que o circunda.

É possível que este fato seja devido à atração da grande massa de matéria astral que aí se acumula como duplicado das células do corpo físico; mas, seja qual for a razão, é indubitável que a densidade da matéria que está dentro dos limites da física é muito maior do que a da que está fora deles.

Durante o sono, quando o corpo astral se desliga do físico, dá-se precisamente o mesmo, e qualquer indivíduo dotado de clarividência poderá verificar, também neste caso, a existência de uma forma semelhante ao corpo físico, circundada pela aura. Esta forma, porém, é constituída apenas por matéria astral; mas a diferença de densidade entre ela e a névoa que a envolve é suficientemente acentuada para que a possamos distinguir claramente, apesar de não passar de uma forma de nevoeiro mais denso.

Vejamos agora a aparência da aura no homem desenvolvido e do homem psicologicamente atrasado. Mesmo neste, as características e a configuração da forma interna são sempre reconhecíveis, apesar de confusas e mal definidas; mas o Ovo áurico envolvente, se é que merece tal nome, é apenas mera grinalda informe de névoa, sem a menor regularidade ou constância de linhas.

No indivíduo mais desenvolvido, o caso é outro. A forma envolvida pela aura é muitíssimo mais diferenciada e definida — constituindo uma reprodução mais aproximada do homem físico. Em vez da tal indecisa grinalda de névoa, vê-se uma forma ovoide perfeitamente definida, que se conserva no meio do tumulto das correntes que continuamente percorrem o mundo astral.

Visto as faculdades psíquicas do homem se acharem no decurso da sua evolução, e haver em cada grau desta um certo número de indivíduos que vão seguindo regularmente as diferentes etapas de desenvolvimento, conclui-se que as duas classes se fundem uma na outra por uma gradação insensível.

4.° — O mago negro e os seus discípulos

Esta classe é semelhante à primeira, com a diferença de que o seu desenvolvimento se deu para o mal e não para o bem, donde resulta que os poderes e faculdades adquiridas são utilizados para fins egoístas, em vez de sê-lo em benefício da humanidade. Entre as suas ordens mais inferiores, contam-se os membros da raça negra, que se entregam às práticas feiticeiras das escolas de Obeahe Voodoo, e os curandeiros de muitas tribos selvagens. Mais inteligentes e consequentemente mais recrimináveis, são os magos negros do Tibete, também desta classe, chamados erradamente Dügpas europeus — designação que pertence propriamente, segundo a absolutamente certa explicação do Cirurgião-Mor Waddell, no seu livro O Budismo no Tibete, à subdivisão bhotanesa da grande seita dos Kargyus, que forma uma parte do que se pode chamar a Escola semi-reformista do budismo tibetano.

Os Dügpas (2) 23 praticam sem dúvida a magia tântrica, mas a verdadeira seita não reformada dos barretes vermelhos é a dos Nin-Mâpa, sectários da religião aborígine, que não quiseram nunca aceitar qualquer forma do budismo. Não se suponha, porém, que todas as seitas do Tibete, exceto os Gelugpas (3), são necessariamente dedicadas ao mal. Seria mais justo dizer-se que as normas de outras seitas permitem um afrouxamento muito maior na prática, e por isso a proporção de interesseiros entre eles é provavelmente muito maior que entre os reformadores, mais rigorosos.

B — OS MORTOS

Em primeiro lugar, deve-se entender que a designação “mortos” é absolutamente errônea, visto que as entidades nela englobadas estão tão vivas como nós — a maior parte das vezes têm mesmo uma vitalidade muito maior.

Quando dizemos mortos, queremos apenas referir-nos àqueles indivíduos que momentaneamente se libertaram do corpo físico. Distinguimos nove espécies principais:

1.° — Os Nirmânakáyas.

Referindo-nos a esta classe tão somente para não deixar a enumeração incompleta, porque é muito raro que Seres tão elevados se manifestem nos planos, inferiores. No entanto, quando por qualquer forte necessidade, derivada da missão sublime que lhes foi confiada, uma destas Entidades julgue necessário descer ao plano astral, trata de se rodear de um corpo dessa matéria, precisamente, como vimos, o faz um Adepto que, revestido do corpo mental, não poderia ser percebido à luz astral.

Para poder manifestar-se imediatamente em qualquer dos planos, retém sempre dentro de si alguns átomos de cada um deles, em volta dos quais, como núcleo, pode instantaneamente agregar outra matéria e assim ter sempre à sua disposição o veículo que deseja.

Acerca dos Nirmânakáyas pode consultar-se, para mais ampla informação, o livro de Madame Blavatsky, A Voz do Silêncio, e o meu pequeno volume Auxiliares Invisíveis.

2.º — Os Discípulos à espera da reencarnação.

Na literatura teosófica está escrito em várias obras que quando o discípulo chega a um certo grau de desenvolvimento, está em condições de, com o auxílio do Mestre, libertar-se da lei da natureza que faz passar todos os seres humanos, depois da morte, para o mundo-céu, para aí gozar os resultados espirituais das aspirações elevadas que teve durante a vida terrestre.

Como, na hipótese considerada, o discípulo deve ser uma criatura de grande pureza de vida e de grande nobreza de pensamentos, é natural que estas forças espirituais tenham uma intensidade anormal. Portanto, se ele, servindo-me de uma expressão técnica, “tomar o seu Devachân”, é provável que este seja de longa duração; mas se, em vez de se conservar no Devachân,. preferir o “Caminho da Renúncia” (começando assim, embora em grau muito inferior e pelos caminhos, mais humildes, a seguir as – pegadas do Grande Mestre da Renúncia, que foi o próprio Gautama Buda), pode despender essa reserva de força numa direção oposta; empregá-la em benefício da humanidade, e, por a mais infinitesimal que seja a sua contribuição, tomar a sua minúscula parte na grande obra dos Nirmânakáyas.

Seguindo este caminho de abnegação, sacrifica, é certo, séculos da mais intensa bem-aventurança, mas, em compensação, fica com a enorme vantagem de poder continuar a sua vida de trabalho e de progresso sem interrupção. Quando o discípulo, que escolheu este caminho, morre, esta morte é apenas mais uma saída do corpo, além das muitas que já praticou, e uma espera no plano astral até que o Mestre lhe destine uma reencarnação conveniente e merecida.

Isto só pode ser feito com permissão de uma autoridade de categoria muito elevada, porque, constituindo uma exceção à lei geral, ninguém deve tentá-lo sem obter essa autorização. E mesmo depois de conseguida esta, a força da lei natural é tão grande, que se o discípulo não se confinar estritamente no plano astral, e por um momento tocar o plano mental, será de novo arrastado por uma corrente irresistível para o curso normal da evolução. Em alguns casos, embora muito raros, pode-se lhe evitar um novo renascimento, dando se he imediatamente um corpo de adulto cujo antigo habitante já não precise dele.

É, porém, difícil encontrar disponível um corpo apropriado, de modo que a maior parte das vezes tem de esperar no plano astral, até que se lhe apresente a oportunidade de um renascimento apropriado. Entretanto, enquanto espera, não perde o seu tempo, porque não deixa de ser quem era e está em melhores condições para continuar a obra que lhe foi atribuída pelo Mestre. Digo em melhores condições porque, despojado do corpo físico, não tem a entravá-lo a possibilidade da fadiga. Com a consciência alerta e absolutamente plena, pode vaguear à vontade e facilmente por todas as divisões do plano.

O discípulo à espera da reencarnação não é, evidentemente, um dos habitantes mais comuns do plano astral, mas pode lá encontrar-se ocasionalmente. Forma, por isso, uma das nossas classes, que se hoje é reduzida, há de aumentar em número à medida que a evolução da humanidade vá avançando no seu caminho progressivo.

3.° — dos – mortos vulgares.

Escusado é dizer que esta classe é milhões de vezes maior do que as já estudadas, e que o caráter e condições de seus membros oscilam entre larguíssimos limites. E é também dentro de larguíssimos limites que varia a duração da sua estada no plano astral, pois, enquanto uns aí passam apenas algumas horas, outros podem lá permanecer durante anos e até séculos.

A pessoa que levou na terra uma vida de pureza, cujos sentimentos e aspirações predominantes foram sempre altruístas e espirituais, pouca atração sente pelo plano astral, e, não havendo nada que lá o prenda, a sua atividade não chega a ser despertada durante o pequeno período da sua vida astral. A razão disto reside no fato de que depois da morte a pessoa verdadeira recolhe-se em si mesma.

Logo ao primeiro passo deste processo, arroja de si o corpo físico, e quase logo a seguir o duplo etérico, para que possa libertar-se tão cedo quanto possível do corpo astral ou de desejos, e ingressar no mundo-céu, que é a única região onde as suas aspirações espirituais podem frutificar de uma forma consentânea com os sentimentos elevados que teve na terra.

A pessoa nobre, de espírito elevado, pode fazer isto, porque soube dominar todas as paixões terrenas durante a vida física. Sua força de vontade foi dirigida para canais elevados e pouca energia de desejos inferiores tem disponível para ser utilizada no plano astral.

Portanto, a sua permanência aí será de breve duração, e segundo todas as probabilidades, passará a sua curta vida astral num estado letárgico de semiconsciência até mergulhar no sono profundo, durante o qual os seus princípios elevados se libertam do invólucro astral e ingressam na vida bem aventurada do mundo-céu.

Para aqueles que ainda não entraram no caminho do desenvolvimento oculto, como no caso que estamos considerando, o que acabamos de descrever representa o mais que se pode conseguir, e na melhor das hipóteses.

Mas, geralmente, poucos o atingem, porque a pessoa mediana raras vezes consegue libertar-se na terra de todos os desejos inferiores, de modo que é sempre necessário uma demora mais ou menos longa nas várias subdivisões do plano astral, para que as forças geradas na terra possam consumir-se mutuamente e pôr em liberdade o Ego superior.

Todos, sem exceção, têm de passar por todas as subdivisões do plano astral no seu caminho para o mundo-céu, mas alguns há que os percorrem inconscientemente. Precisamente como é necessário que o corpo físico contenha dentro da sua constituição matéria física em todos os estados — sólido, líquido, gasoso e etérico — é indispensável também que o veículo astral contenha partículas pertencentes a subdivisões similares da matéria astral, embora em proporções variáveis segundo o caso.

Ora, não devemos esquecer que, justamente na matéria do seu corpo astral, a pessoa colhe a essência elemental correspondente, e que durante a vida esta essência é segregada do oceano de matéria semelhante, e transforma-se no que se pode chamar uma espécie de elemental artificial.

Durante algum tempo, este elemental tem uma vida sua, separada, e segue independentemente o curso de sua evolução própria, descendente para a matéria, sem preocupações — e mesmo sem conhecimento — da conveniência ou interesse do Ego a que está ligado.

É isto que dá lugar à perpétua luta entre a vontade da carne e a vontade do espírito, de que tanto falam os escritores religiosos. Contudo, se é certo existir “uma lei dos membros com guerra com a lei do espírito”, e se é certo que se a pessoa ceder em vez de tentar dominar-se, o progresso da sua evolução se ressentirá extraordinariamente, nada nos autoriza, porém, a considerar isso um mal, porque é apenas e sempre a Lei — o eterno fluir do poder Divino no seu curso regular, embora neste caso esse curso seja descendente para a matéria em vez de ascender em sentido contrário, para longe dela, como é o nosso.

Quando a pessoa, ao morrer, abandona o plano físico, as forças desintegrantes da natureza começam a exercer a sua ação sobre o corpo astral; este elemental se vê ameaçado da perda da independência da sua existência, e naturalmente reage, procurando defender por mais tempo possível a integridade do corpo astral. Para isso trata de lhe modificar a estrutura, tentando dispor-lhe a matéria em camadas concêntricas, das quais a externa pertence ao subplano mais inferior e é, portanto, a mais espessa, a mais grosseira e a mais resistente à destruição.

Mas a pessoa não pode abandonar o sétimo subplano senão depois de ter libertado o mais possível o seu eu real da matéria deste subplano. Feito isto, a sua consciência vai focar-se na camada concêntrica imediatamente a seguir (que é formada pela matéria da sexta subdivisão) ou, exprimindo a mesma ideia por outras palavras, a pessoa passa para o próximo subplano.

Em suma, quando o corpo astral esgotou todos os atrativos oferecidos por uma certa divisão, quase toda a matéria desta se solta dele e entra num mais elevado estado de existência. A sua gravidade específica, por assim dizer, vai diminuindo constantemente, e ele vai-se elevando gradualmente dos estratos mais densos aos mais sutis, demorando-se apenas onde se sinta sob a ação de um perfeito equilíbrio.

É evidentemente esta a explicação para o fato de os mortos que aparecem nas sessões espiritistas dizerem que estão para ingressar numa esfera superior, da qual lhes será impossível, ou pelo menos mais fácil, a comunicação com a terra por meio de médium. E é realmente um fato positivo que quando um morto chega à subdivisão superior deste plano, é-lhe absolutamente impossível comunicar-se com qualquer médium vulgar.

Assim, vemos que a duração da permanência de um indivíduo em qualquer das subdivisões do plano astral, é rigorosamente em função da quantidade de matéria dessa subdivisão, subsistente no seu corpo astral, e por sua vez, depende do gênero de vida que levou na terra, dos desejos que acalentou e da espécie de matéria que, com o seu procedimento, atraiu para si. É, pois, possível reduzir ao mínimo a quantidade de matéria das subdivisões astrais inferiores, por meio de uma vida cheia de pureza e de pensamentos nobres e, em todos os casos, elevá-la ao que se pode chamar o ponto crítico, no qual basta o mais leve toque de força desintegrante para lhe romper a coesão, reduzindo-a ao seu estado original e deixando à pessoa a passagem livre para o próximo subplano.

Esta passagem é, como já se disse, extremamente rápida para as pessoas de espírito elevado, pois atingem facilmente esse ponto crítico, de forma que se pode dizer que tais pessoas só recuperam a plenitude da consciência no plano mental. É claro que, sempre é bom insistir, esses subplanos não ocupam espaços diferentes; interpenetram-se mutuamente, de modo que dizer-se que uma pessoa passa de um subplano para outro, não quer dizer que realize qualquer deslocamento no espaço, mas tão só que o foco da sua consciência transita da camada externa para a que internamente lhe fica mais próxima.

sétimo subplano astral – pessoas grosseiras

As únicas pessoas que normalmente despertam no sétimo subplano do plano astral, são as de aspirações grosseiras e brutais — os ébrios, os sensuais, os perversos. A sua permanência depende da intensidade dos seus desejos; geralmente o seu sofrimento é horrível pelo fato de, conservando vivos os grosseiros apetites que os dominaram na terra, lhes é impossível agora satisfazê-los, exceto, uma vez por outra, quando conseguem apoderar-se de uma criatura viva, com vícios iguais aos seus, e obcecá-la completamente.

As pessoas de moralidade mediana não terão de permanecer muito tempo neste sétimo subplano. É geralmente no sexto que a sua demora se acentuará, principalmente se os seus desejos e pensamentos predominantes giraram em torno de coisas mundanas, porque é nessa subdivisão que encontrarão os lugares e pessoas com quem na terra andaram mais ligadas.

O quinto e o quarto subplanos são semelhantes ao sexto. À medida que ascendemos através deles, as associações de ideias puramente terrestres perdem gradualmente sua importância, e há uma tendência para moldarmos ao ambiente em concordância com os mais persistentes dos nossos pensamentos.

Chegados à terceira subdivisão, reconhece-se que esta característica substituiu inteiramente a visão das realidades do plano. Porque, aqui, os seus habitantes criaram cidades imaginárias para si mesmos, e nelas vivem com a sua fantasia — criações não exclusivas da imaginação de cada um deles, como no mundo-céu, mas calcadas sobre a herança dos pensamentos e fantasia dos seus predecessores.

É nesta subdivisão que se encontram as tais igrejas e escolas e “habitações na Summerland” de que falam os espiritistas americanos, embora menos reais e muito menos magnificentes para qualquer observador sem preconceitos do que para os seus entusiásticos criadores.

O segundo subplano parece ser o habitat dos devotos egoístas e pouco espirituais.

É lá que eles usam as coroas de ouro e adoram a representação material e grosseira da divindade peculiar da sua terra e do seu tempo. A subdivisão mais elevada é especialmente destinada àqueles que em vida se dedicaram a trabalhos de ordem material, mas de caráter intelectual, e que os seguiram não com o fito de com eles bem servir e ajudar os seus semelhantes, mas impelidos por motivos egoístas ou simplesmente por exercício intelectual. Tais criaturas estacionam nesta divisão por bastante tempo — deliciados por poder prosseguir na ocupação dos seus problemas intelectuais, mas sem fazer bem a ninguém e pouco progredindo no caminho para o mundo-céu.

Repito mais uma vez que a estes diferentes subplanos não deve ligar-se a ideia de localização no espaço. Qualquer entidade que funcione num deles poderia ser repentinamente transportada dali para a Austrália, ou para onde quer que qualquer pensamento momentâneo se lembrasse de a levar. Mas o que não é lhe possível é transferir a consciência de um subplano para o imediatamente a seguir, sem ter-se dado o processo de libertação de matéria, a que já nos referimos.

Não há, que se saiba, exceção a esta regra, apesar de as ações de uma pessoa, quando se acha consciente num dos subplanos, poderem, até certo ponto, abreviar ou prolongar a sua permanência ali. Mas o grau de consciência que um indivíduo terá num determinado subplano, não obedece à mesma lei.

Tomemos um exemplo extremo para melhor compreensão. Suponhamos uma pessoa que trouxe da última encarnação tendências que exigem para a sua manifestação grande quantidade de matéria do sétimo ou último subplano, mas que na vida presente teve a felicidade de se convencer, logo de princípio, da possibilidade e da necessidade de dominar essas tendências. Não é provável que os seus esforços sejam inteiramente bem sucedidos; mas se o fossem, a substituição no corpo astral das partículas grosseiras pelas mais sutis, dar-se-ia regularmente, embora com lentidão.

Este processo é, na melhor das hipóteses, sempre lento e gradual, de modo que nada mais natural que a pessoa em questão morresse antes tê-lo meio terminado. Neste caso lhe restaria ainda bastante matéria grosseira na constituição do corpo astral, suficiente para lhe prolongar a sua estada no plano astral. Mas como a sua consciência não chegou a se habituar a funcionar nessa matéria, e como não lhe era possível adquirir esse hábito, o resultado seria que, embora a sua permanência nesse subplano dependesse do tempo que essa parte de matéria levasse a desintegrar-se, ele estaria sempre num estado de inconsciência.

Isto é, ele ficaria como se estivesse a dormir durante o período dessa permanência, e portanto, passaria absolutamente ileso, não se sentindo afetado por nenhuma contrariedade nem pelas misérias do subplano considerado.

Diga-se de passagem que, no plano astral, a extensão das comunicações é determinada, como na terra, pelo conhecimento da entidade. Ao passo que um discípulo, revestido do corpo mental, pode comunicar os seus pensamentos mais facilmente e mais rapidamente que sobre a terra, por meio de impressões mentais, às entidades humanas que habitam o mundo astral, estas não têm geralmente a mesma faculdade e parecem mesmo estar sujeitas a restrições iguais às nossas, ou talvez menos rígidas, mas pouco menos. Resulta daí que estas se reúnem, como na terra, em grupos, ligados por uma comunhão de ideias, de crenças e de língua.

A ideia poética de que a morte nivela todos não passa de um absurdo, fruto da ignorância, porque, na grande maioria dos casos, a perda do corpo físico não tem a menor influência no caráter e na inteligência da pessoa, e, entre aqueles a que chamamos mortos, há tantas variedades de inteligências como entre aqueles a que chamamos vivos.

As teorias correntes no Ocidente a respeito do destino da pessoa post-mortem estão tão longe da verdade que mesmo pessoas muito inteligentes se sentem extremamente confusas e pasmadas ao despertarem no plano astral.

A situação em que o recém-vindo se encontra é tão radicalmente diferente daquilo que o levaram a acreditar, que não é raro encontrarem-se lá criaturas que se recusam obstinadamente a crer que já transpuseram os portais da morte. Realmente, a nossa tão gabada fé na imortalidade da alma é tão pouco firme, que a maioria das criaturas vê no simples fato de ainda se acharem conscientes uma prova absoluta de que não morreram.

Também a horrível doutrina da punição eterna é a culpada da grande dose de terror, grandemente lamentável e profundamente injustificado, com que os mortos ingressam na vida superior.

Em muitos casos passam longos períodos de um sofrimento mental de intensa agudeza enquanto não conseguem libertar-se desta monstruosa blasfêmia, e convencer-se de que o mundo é governado, não segundo o capricho de qualquer demônio, ávido de angústias humanas, mas segundo a grande lei da evolução, profundamente benévola e maravilhosamente paciente.

Muitos dos que estamos estudando não chegam a apreender este fato da evolução, mas continuam a flutuar ao acaso no mundo astral, tal qual impelidos por influências do que fizeram na vida física precedente. Qualquer que seja o nível intelectual da entidade, a sua inteligência varia sempre em vigor, tendendo mesmo a diminuir, porque a mente inferior do homem é levada em direções opostas, pela natureza espiritual superior que atua de cima e pelas intensas forças de desejos, que vêm de baixo.

Por isso, ele oscila entre as duas atrações, com uma tendência crescente para as superiores, à medida que os desejos inferiores se vão consumindo. Tem aqui cabimento uma das críticas que se fazem às sessão espiritistas.

Evidentemente uma pessoa ignorante ou degradada pode aprender muito, depois da morte, em contato com assistentes sérios, dirigidos por pessoa competente, e ser assim ajudada e erguida da sua degradação.

Mas na pessoa comum, a consciência se eleva constantemente da parte inferior da natureza para a superior; e, evidentemente, nunca pode ser útil e favorável à sua evolução o re despertar-lhe esta consciência inferior, arrebatando-o do seu estado atual e arrastando-o de novo ao contato com a terra por meio de um médium.

Compreenderemos melhor o perigo deste despertar inoportuno, se nos lembrarmos de que a pessoa real, retirando-se cada vez mais em si mesma, torna-se cada vez menos apto para influenciar e governar a sua parte inferior que, todavia, à separação completa, fica em condições de gerar Karma, e abandonada às suas próprias forças, é mais provável que crie mau Karma e não bom.

Independente de qualquer questão de desenvolvimento por meio de um médium, há uma outra influência, bastante frequente, que pode retardar consideravelmente o caminho do mundo–céu à entidade desencarnada: são as manifestações intensas de exagerados desgostos dos sobreviventes por causa da partida do seu parente ou amigo.

a negatividade da não aceitação da morte de um amado amada

As ideias do Ocidente sobre a morte, velhas de séculos, mas falsas e, direi mesmo, irreligiosas, dão o triste resultado de não só nos causarem um sofrimento moral tão intenso quão desnecessário pela partida temporária dos entes queridos, mas de nos fazerem contribuir, com o nosso desgosto inútil, para o mal daqueles que tanto amamos.

Ao passo que o nosso irmão desaparecido cai sossegada e naturalmente no sono inconsciente que precede o despertar magnífico nos esplendores do mundo céu, nós o obrigamos por vezes a sair dos seus sonhos venturosos, chamando-o à recordação da vida terrestre pela violência do desgosto e das saudades apaixonadas dos seus mais próximos, que lhe despertam vibrações correspondentes no corpo de desejos e lhe causam assim uma aguda sensação de mal-estar.

Seria de grande utilidade que aqueles cujos entes queridos a morte separou, aprendessem nestes fatos indubitáveis a refrear, por amor dos seus mortos queridos, as suas manifestações de um desgosto, que embora natural, é na sua essência um sinal de egoísmo.

Não que as doutrinas ocultas aconselhem o esquecimento dos mortos. Longe disso. O que elas sustentam e defendem é que a recordação afetuosa de um amigo que a morte levou, é uma força que devidamente canalizada por meio de convictos e sinceros votos pelo seu progresso para o mundo-céu, e pela tranquilidade da sua passagem pelo estado intermediário, lhe pode ser de altíssima vantagem.

Ao passo que essa recordação, tornada pelo desgosto moralmente doentia, exagerada com lutos e lágrimas, pode impedir-lhe o caminho, fazendo-o árduo e penoso. É precisamente por isso que a religião hindu prescreve acertadamente as cerimônias Shrâddha pelos mortos e a religião católica manda que se façam orações por eles.

Acontece, às vezes, o contrário, isto é, o desejo de fazer comunicações vem do outro lado, eco morto que deseja ardentemente comunicar-se com aqueles que deixou. Por vezes se trata de uma mensagem de importância, por exemplo, a indicação do lugar onde está escondido um testamento desaparecido; porém, na maioria das vezes, são mensagens triviais.

Mas seja como for, é sempre da máxima importância que o morto comunique o mais depressa a sua mensagem, principalmente se a tem fortemente gravada na mente, para que não se dê o caso de, conservando-a, manter-se num estado de ansiedade, que lhe desviaria constantemente a consciência de novo para a terra, impedindo de se focar nas esferas superiores. Neste caso, um médium por intermédio de quem o morto possa falar ou escrever, ou um psíquico que o compreenda, presta-lhe evidentemente um grande serviço.

E por que não pode ele falar ou escrever sem a intervenção de um médium?

A razão reside no fato de um estado de matéria poder geralmente atuar apenas sobre o estado que lhe está imediatamente inferior, e como no seu organismo apenas há a matéria grosseira que também entra na composição do corpo astral, tornasse-lhe impossível enviar vibrações à substância física do ar ou mover o lápis, também de matéria física, sem pedir emprestada matéria viva da ordem intermédia contida no duplo etérico, e é graças a esta que qualquer impulso se transmite de um plano para outro.

E a qualquer outro indivíduo que não fosse um médium, não lhe seria fácil utilizar a matéria, por causa da extrema justeza em que se acham os princípios numa criatura vulgar, dificilmente separáveis pelos meios geralmente ao alcance dos mortos, ao passo que num médium, e é precisamente esta a característica essencial das suas faculdades, os princípios podem separar-se rapidamente e fornecer a matéria para a desejada manifestação.

Quando não vê possibilidade de estabelecer a comunicação por meio de um médium, ou porque não o ache, ou porque não saiba fazer-se compreender por meio dele, o morto recorre muitas vezes a si mesmo, fazendo toda a espécie de tentativas grosseiras e desastradas, pondo em ação, numa atividade desordenada, forças elementais.

É talvez por isso que tantas vezes se veem nas sessões espiritistas essas incompreensíveis manifestações de espíritos, derrubando mesas, atirando pedras, pondo campainhas a tocar, etc. Pode acontecer que um médium que se encontre no local onde se dão estas manifestações, compreenda e venha a descobrir o que a entidade que as origina quer dizer, pondo fim aos distúrbios. Mas isso é raro, visto que essas forcas elementais são geralmente postas em ação por causas múltiplas e variadíssimas.

4.º As Sombras

Quando a extinção dos princípios num indivíduo é completa, isso é sinal de que acabou a sua vida astral e, como se disse, de que ele passa para o plano devachânico. Mas, assim como ao passar do plano físico para o astral, há um abandono do corpo físico, assim também na passagem do astral para o mental há uma desintegração do corpo astral, que é por sua vez abandonado.

Se o indivíduo em questão se depurou completamente, durante a vida, de todos os desejos e instintos terrestres, e dirigiu todas as energias num sentido de aspirações espirituais e altruístas, o seu Ego superior está em condições de absorver em si mesmo toda a mente inferior que projeta em cada encarnação. Neste caso, o corpo abandonado no plano astral é um verdadeiro cadáver, como o corpo abandonado no plano físico, e não pertence a esta classe, mas à seguinte, a dos invólucros.

Para uma pessoa que levou uma vida física um pouco menos perfeita, o resultado pode ser quase o mesmo, se o que lhe resta de desejos inferiores pôde esgotar-se no plano astral.

Mas a maior parte da gente poucos esforços faz para se libertar das tendências inferiores da sua natureza, criando para si mesma uma permanência prolongada no mundo intermédio, e, ainda mais, perdendo ainda, por assim dizer, uma porção de sua mente inferior.

Embora isto seja uma forma muito material para representar o reflexo da mente superior na inferior, poderemos ter uma ideia mais perfeita e bastante aproximada do processo, admitindo a hipótese de que o princípio manásico envia, a cada encarnação, uma parte de si mesmo para a vida física, com a esperança de a reaver no fim de cada vida, enriquecida da várias experiências por que passou. Infelizmente o homem vulgar deixa-se dominar a tal ponto por todas as espécies de desejos inferiores, que uma parte da mente inferior se funde com o corpo de desejos, e tão estreitamente que, quando chega a separação no fim da vida astral, o princípio, por assim dizer, rasga-se, deixando a porção degradada dentro do corpo astral desintegrado.

Este corpo se compõe então das partículas da matéria astral, de que a mente inferior não conseguiu soltar-se, e que, portanto, a mantêm prisioneira; porque, quando a pessoa passa para o mundo-céu, estes fragmentos pendentes aderem a uma porção de sua mente, e, por assim dizer, arrastam-na para longe.

A matéria astral de cada subplano encontra-se no corpo astral em decomposição, na proporção em que a mente se deixou absorver e invadir pelas paixões inferiores. E, portanto, visto a mente, ao passar de subplano para subplano, não poder libertar-se completamente da matéria de cada um deles, o remanescente astral mostrará a presença de cada espécie mais grosseira que conseguiu manter uma estreita conexão com ele.

Aparece assim uma outra classe de entidades a que se chama “sombras“.

Deve, porém, observar-se que uma sombra não é o indivíduo real, visto que este já passou para o mundo-céu; mas conserva absolutamente a semelhança física, a memória e até as pequenas idiossincrasias daquele de quem é a imagem fiel, de maneira que é facílima uma confusão, como acontece muitas vezes nas sessões espiritistas.

Não que a sombra tenha consciência de se ter personalizado, pois que, na sua inteligência limitada supõe-se ser o próprio indivíduo, mas imagine-se qual seria o horror e o desgosto dos amigos do morto se por um momento compreendessem que tinham diante de si, não aquele que amavam, mas um simples farrapo das suas piores qualidades.

A duração da vida de uma sombra varia segundo a qualidade de mente inferior que a anima; mas como esta vai diminuindo sempre, a sua inteligência diminui também, embora possa conservar uma espécie de astúcia instintiva, animal, a tal ponto que mesmo no fim da sua carreira pode comunicar-se ainda por meio da inteligência que o médium lhe ceda temporariamente.

A essência da sua natureza é ceder a todas as influências más, e, como se acha separada do Ego superior, já não contém em si elementos que lhe permitam responder às boas. Presta-se, portanto, facilmente às mesmas operações dos magos negros de categoria inferior. Tudo o que em si encerre de matéria mental acaba por se desintegrar e reabsorver no respectivo plano, mas não em qualquer mente individual — e a sombra vai-se degradando imperceptível até cair na classe seguinte.

5.° Os invólucros (cascas ou cascões astrais)

O invólucro é apenas o cadáver astral nas suas últimas fases de desintegração, quando o estão abandonando as últimas partículas mentais. Desprovidos de qualquer espécie de consciência e de inteligência, vagueiam passivamente nas correntes astrais “como nuvens impelidas por ventos contrários”.

Mas, galvanizadas pelo contato da aura de um médium, podem, contudo, animar-se ainda, por instantes, de um simulacro burlesco e caricatural de vida. Neste caso uma perfeita semelhança têm com o morto e podem mesmo reproduzir até certo ponto as suas expressões favoritas e até mesmo a sua caligrafia.

Contudo, isto é apenas um ato automático das células, que tendem, logo que são sujeitas a qualquer excitação, a repetir mecanicamente os movimentos habituais; e se alguma inteligência parece haver nestas entidades, não procede do morto, mas é, por assim dizer, emprestada do médium ou dos seus “guias” ocasionais.

Mas a sua vitalização temporária dá-se mais frequentemente por outro processo, que estudaremos no parágrafo seguinte. Conservam também a qualidade de poder responder cegamente às vibrações, geralmente grosseiras, que lhes eram familiares durante o seu período de existência como sombras.

Consequentemente, as criaturas em que predominavam os desejos inferiores e as paixões grosseiras sentem por vezes estas extraordinariamente intensificadas, quando assistem a sessões espiritistas, como se o invólucro fizesse incidir sobre todas as suas más qualidades.

Há uma outra variedade de cadáver que se deve mencionar neste parágrafo, embora pertença a uma fase anterior da vida post-mortem. Já se disse que, depois da morte do corpo físico, o veículo astral é reorganizado com uma relativa rapidez e que o duplo etérico é abandonado e exposto a uma lenta desintegração, precisamente como acontece ao invólucro astral na última fase do processo.

Este invólucro etérico não vagueia daqui para ali, como a variedade que acabamos de descrever; conserva-se a uma distância de alguns metros do corpo físico em via de decomposição.

Corno é facilmente perceptível por qualquer pessoa, mesmo levemente sensitiva, é ele a origem das histórias correntes sobre espectros e fantasmas que aparecem 31 nos cemitérios. Qualquer criatura psiquicamente desenvolvida, ao travessar um dos nossos grandes cemitérios, pode observar às centenas essas formas azuladas, com a aparência de vapores, flutuando sobre as campas daqueles que recentemente deixaram. E não se pode dizer que o espetáculo seja muito agradável, visto elas se acharem, como os seus duplicados físicos enterrados, nos vários graus de decomposição. Como o invólucro ou casca astral, esta espécie de invólucro é absolutamente desprovida de inteligência e de consciência, e apenas pode ser trazida a uma espécie de simulacro de vida. sempre hedionda, por um desses repugnantes ritos de uma das piores formas da magia negra, de que é melhor não falarmos. Resumindo: em cada etapa do seu caminho da Terra ao Céu, o homem arroja para longe e abandona três cadáveres: o corpo físico, o duplo etérico e o veículo astral, que se resolvem gradualmente nos seus elementos constituintes, e cuja matéria é utilizada de novo nos planos respectivos pela admirável química da natureza.

6.° Os invólucros vitalizados

Propriamente, não deviam classificar-se entre os “humanos”, visto que apenas o seu revestimento exterior, um invólucro passivo e insensível, é que teve outrora qualquer coisa de humano. A vida, inteligência, desejos e vontade que possuem são os que lhes vêm do dementai artificial que os anima. Embora devamos curvar-nos ante a terrível verdade de serem criações dos maus pensamentos do homem, não podemos considerá-los intrinsecamente humanos. Parece-nos, portanto, mais sensato abordá-los com mais desenvolvimento quando tratarmos da classe das entidades artificiais, visto que a sua natureza e gênese serão mais facilmente compreendidos quando o nosso estudo chegar a essa altura. Basta, por enquanto, dizer-se que o invólucro vitalizado é um ser malévolo — verdadeiro demônio tentador, que faz todo o mal que está no seu poder, e se mais não faz, é porque este é relativamente limitado. Como a sombra, é muitas vezes utilizado nos horríveis desígnios das formas de magia do Vudu e do Obeah. Alguns escritores têm-lhes dado a designação de “elementares”, mas este termo, que se tem aplicado em várias épocas a quase todas as variedades de entidades post-mortem, tornou-se tão vago e de sentido tão pouco preciso, que preferimos evitá-lo tanto quanto possível.

7.° Os suicidas e as vítimas de morte súbita

Compreende-se facilmente que um indivíduo que foi arrancado à vida física repentinamente, em pleno gozo da sua saúde e energias, se ache, no plano astral, em condições consideravelmente diferentes daquelas a que estão sujeitos os que morrem com a idade ou por doença. Nestes casos, os laços de desejos terrestres que ligavam o velho ou o doente à terra, estão naturalmente mais ou menos enfraquecidos; as partículas mais grosseiras estão, com certeza, já libertas, de modo que é a sexta ou quinta subdivisão, e talvez a uma mais elevada do plano astral, a que deve passar. Os princípios foram por um processo gradual, preparados para a separação, e portanto, o choque é muito menos violento.

suicídio ou morte inesperada de uma pessoa boa

Mas no caso de suicídio ou de morte por desastre, não se realizaram estes preparativos graduais, e a saída brusca dos princípios do seu estojo físico pode comparar-se, ao arrancar repentino do caroço de um fruto ainda verde. Grande quantidade de matéria astral, da categoria mais densa, está ainda suspensa em volta da personalidade, que, por conseguinte, fica presa na sétima ou última subdivisão do plano astral.

Já vimos, pela descrição que dela tentamos fazer, que esta subdivisão não é realmente uma estância muito agradável; mas os seus efeitos não são os mesmos para todos os que são obrigados a habitá-la. As vítimas de morte súbita, cujas vidas na terra foram puras e nobres, não têm afinidade por esse subplano, de modo que o tempo da sua permanência lá é passado, citando as palavras de uma carta a esse respeito, ou “num feliz alheamento e esquecimento completos, ou num estado de tranquila sonolência, povoado de sonhos cor de rosa.”

morte inesperada de uma pessoa perversa ou perdida

Se, porém, a vida na terra foi baixa, brutal, egoísta, cheia de sensualismo, haverá da parte dos que por qualquer meio foram violentamente arrebatados à vida, plena consciência desta pouco hospitaleira região, e estarão sujeitos a transformar-se em entidades terrivelmente malfazejas. Inflamados por apetites horríveis, de todas as espécies, que de modo nenhum podem satisfazer diretamente, por não terem corpo físico, tentam aplacar suas revoltantes paixões servindo-se de um médium ou obsedando pessoas iludidas.

E não há maior alegria para eles do que se servirem de quantos artifícios o plano astral lhes pode incorrer, para iludir os vivos, levando-os a esses mesmos excessos que tão fatais foram para eles próprios.

A mesma carta diz também, noutra passagem, “são os Pisâ-chas, os íncubos e súcubos dos escritores da idade média, os demônios da embriaguez, da gula, da luxúria e da avareza, poderosamente astuciosos, cruéis e maus, cujas vítimas são incitadas por eles, com uma alegria cínica, a cometer os piores crimes.” São eles que fornecem,- com a classe anterior, os tentadores, os diabos dos livros religiosos, mas falham completamente perante um espírito puro e reto, nada podendo contra qualquer indivíduo que jamais tenha acalentado em si semelhantes tendências criminosas.

Aqueles que têm a vista psíquica desenvolvida, podem ver multidões destes desgraçados junto de açougues, tabernas e outros lugares ainda mais vergonhosos, onde encontram a atmosfera grosseira que lhes convém e os indivíduos de ambos os sexos, de hábitos semelhantes aos seus. Para uma entidade destas, é uma verdadeira desgraça encontrarem um médium com quem tenham afinidade. Isso concorrerá para o prolongamento da sua vida astral, além de a pôr em condições de gerar mau Karma, durante um período talvez indefinido, e, preparando assim, por suas mãos uma encarnação futura da pior espécie, acrescida do perigo da perda de grande porção de poder mental.

Mas, se a entidade em questão tem a sorte de não encontrar um sensitivo através do qual possa satisfazer suas paixões, estas, não encontrando satisfação, vão-se consumindo a pouco e pouco, e o sofrimento que daí resulta concorre talvez para ir desfazendo o seu mau Karma da última vida.

A situação do suicida é ainda complicada pelo fato de a violência do seu ato ter diminuído enormemente o poder que o Ego Superior tem de reabsorver em si mesmo a sua parte inferior, o que o coloca sob a ameaça de novos e variados perigos. Mas é necessário que se note que nem todos os suicidas são igualmente condenáveis.

As circunstâncias determinantes do ato variam desde o ato refletido e irrepreensível de um Sêneca ou de um Sócrates até ao do miserável que se mata para fugir às consequências das vilanias a que o seu mau caráter o levou, e consequentemente, a situação depois da morte varia igualmente.

Esta classe, assim como a das sombras e dos invólucros vitalizados, formam o que se poderia chamar “os vampiros menores”, visto todos procurarem prolongar a existência subtraindo a vitalidade necessária aos seres humanos submetidos à sua influência. É esta a razão por que tantas vezes os médiuns e os assistentes se sentem completamente esgotados no fim de uma sessão de espiritismo.

Os estudantes de ocultismo são ensinados a defender-se dos seus ataques. Mas o indivíduo que sem esse conhecimento se aventure a cruzar-se com tais entidades no seu caminho, dificilmente as evitará, ou pelo menos não deixará de mais cedo ou mais tarde vir a sofrer os resultados da sua influência.

8.° Os Vampiros e os Lobisomens

Resta-nos ainda falar de duas espécies de entidades, ainda mais repelentes, mas felizmente muito raras. Embora difiram muito e tenham várias características, podemos talvez juntá-las no mesmo grupo, visto terem em comum caracteres de horror sobrenatural e de extrema raridade, devido ao fato de serem legados de raças primitivas.

São anacronismos monstruosos, relíquias horrorosas de um tempo em que o ser humano e o seu ambiente eram, sob muitos pontos de vista, diferentes do que o são hoje. Nós que pertencemos à quinta grande raça (*) devíamos estar, atendendo ao nosso estado de civilização, absolutamente livres de um tão terrível destino, e realmente assim o é, tanto que essas entidades são hoje consideradas apenas como fábulas da Idade Média. Contudo, há exemplos do seu aparecimento, principalmente em povos onde há ainda uma forte corrente de sangue da quarta raça, como na Rússia e na Hungria.

As lendas populares são evidentemente exageradas mas, no fundo, há qualquer coisa de verdade, de impressionante realismo, nas estranhas histórias que ainda hoje correm de boca em boca entre os camponeses da Europa Central. Os traços gerais dessas histórias são bem conhecidos para que valha a pena fazer-lhes mais do que uma referência de passagem. Como exemplo típico, embora produto de imaginação, encontra-se um em Carmitta, de Sheri-dan lê Fanu, e a descrição de um vampiro de espécie rara em em Isis Unveiled, vol. I, pág. 454.

Os leitores de literatura teosófica sabem que é possível viver-se de maneira tão degradante e egoísta, tão criminosa e brutal, que a mente inferior se encontre por completo encarcerada nos desejos e absolutamente separada da sua origem espiritual no Ego superior.

E muitos haverá que supõem que este acidente é muito vulgar e que estamos expostos a encontrar pelas ruas dezenas dessas “criaturas sem alma”; mas, felizmente, isso não é verdade. Para atingir tão baixo nível no mal, a ponto de perder completamente a personalidade, seria necessário que um homem tivesse abafado até ao último estertor o seu altruísmo e espiritualidade, e não tivesse nem a mais pálida sombra de uma boa qualidade. Ora, se até no mais ínfimo dos patifes se encontra frequentemente qualquer coisa que não é de todo má, compreende-se que essas personalidades abandonadas pelo Ego constituem pequena minoria.

Todavia, embora raras, existem; e é entre elas que se encontra a categoria ainda mais rara dos vampiros. A entidade perdida achar-se-ia pouco tempo depois da morte incapaz de se demorar no mundo astral, e seria levada irresistivelmente para o “seu legítimo lugar”, a misteriosa oitava esfera, onde se desintegraria completamente depois de passar por provas que vale mais não descrever.

Se, contudo, a entidade em questão pereceu de suicídio ou morte súbita, pode, em certas circunstâncias, especialmente se sabe alguma coisa da magia negra, escapar a essa terrível sorte, trocando-a por uma não menos horrível, a vida na morte, que tal se pode chamar a horrorosa existência do vampiro.

Como à oitava esfera só tem direito ao defunto considerado depois da desintegração do seu corpo físico, ele o mantém num estado cataléptico, servindo-se para isso do repugnante expediente da transfusão de sangue roubado a seres humanos pelo corpo astral parcialmente materializado, e assim retarda o seu destino final à força de assassinatos. E é precisamente o recurso apontado pela superstição popular — a exumação e cremação do corpo — o melhor remédio para tais casos, visto que assim se priva a criatura do seu ponto de apoio. Quando se procede à abertura do caixão, é vulgar encontrar-se o corpo fresco e sadio, mergulhado num lago de sangue. Nos países onde existe a cremação, esta espécie de vampirismo é naturalmente impossível.

lobisomem

O lobisomem, apesar de igualmente repugnante e horrível, é resultado de um karma um tanto diferente. Deveria, talvez, ser incluído na segunda e não na primeira das divisões dos habitantes humanos deste plano, visto que  sempre durante a vida terrena de uma pessoa que ele se manifesta pela primeira sob esta forma; é uma habilidade que implica necessariamente certo conhecimento de magia negra — suficiente pelo menos para se poder projetar o corpo astral.

Quando um indivíduo, absolutamente cruel e brutal, faz isto, há certas circunstâncias que permitem que o corpo possa ser arrebatado por outras entidades astrais, e materializado, não na forma humana, mas na de qualquer animal perigoso, e mais geralmente o lobo. Sob esta nova forma devasta a região em roda, matando outros animais, e mesmo seres humanos, satisfazendo assim não só sua ânsia de sangue, mas ainda a dos demônios que o estimulam e excitam.

Neste caso, como acontece frequentemente na materialização vulgar, qualquer ferida infligida nessa forma animal reproduz-se no corpo físico humano, graças ao extraordinário fenômeno da repercussão. Depois da morte deste corpo, o astral — que provavelmente continuará a aparecer sob a mesma forma — apresenta-se menos vulnerável.

Será, portanto, menos perigoso, visto não poder, a não ser que encontre um médium apropriado, materializar-se já completamente. Nestas manifestações há provavelmente muita matéria do duplo etérico e sem dúvida também uma parte dos elementos constituintes do corpo físico, como acontece noutras materializações.

Em qualquer dos casos, este corpo fluídico parece poder afastar-se do corpo físico, muito mais do que geralmente acontece a um veículo que encerra, pelo menos, certa quantidade de matéria etérica. É moda em nosso tempo escarnecer daquilo a que se chama “superstições tolas da gente rude”; mas o estudante de ocultismo descobre nestas tradições, e em muitas outras, sob a capa de absurdos, vestígios de verdades esquecidas da natureza e aprende a ser cauteloso na sua aceitação ou rejeição.

Os que desejam explorar as regiões astrais não devem ter receio de encontrar as entidades cujos nomes encimam este parágrafo, porque, como já disse, são extremamente raras e o seu número tem diminuído considerável e constantemente.

E de resto, a sua ação, a julgar pela sua natureza constitucional extremamente material, limita–se às proximidades imediatas dos seus corpos físicos.

9.° Os magos negros ou os seus discípulos

Pertencem, no outro extremo da escala, à nossa segunda classe de entidades defuntas: discípulos que aguardam a sua reencarnação. Mas estes, em lugar de obter permissão para adotar um método não comum de progresso, tratam de violar as leis da evolução, mantendo-se no mundo astral, por meio de artes mágicas — por vezes de caráter horroroso.

Poder-se-iam subdividir as entidades desta classe, segundo o processo empregado e segundo a duração possível das suas existências neste plano. Mas o assunto não é de molde a fascinar-nos e o que o ocultista precisa saber é a maneira como as há de evitar.

Parece-nos, portanto, mais interessante passarmos ao estudo de outra parte do nosso assunto. Deve, no entanto, frisar-se que qualquer criatura humana que tente prolongar assim a sua vida no plano astral, além dos limites naturais, só o pode conseguir à custa de outras, absorvendo-lhes de uma forma ou outra as suas legítimas existências.

I I — Não-Humanos

Mesmo a um observador que superficialmente lançasse um olhar casual para a disposição das coisas terrestres, deve ter sido sempre evidente que estas não foram dispostas tal como existem, exclusivamente para nosso benefício, nem mesmo para nossa vantagem final, foi contudo inevitável que a raça humana, pelo menos na sua infância, imaginasse que este mundo, e tudo nele encerrado, existia somente para nosso uso e proveito.

Indiscutivelmente, é já chegado o tempo de arrancarmos o véu dessa ilusão infantil e de compreendermos a nossa verdadeira situação e os deveres que ela comporta. Infelizmente nem todos o compreenderam; e provam-nos centenas de fatos da nossa vida diária, principalmente essa crueldade para com o reino animal, a qual sob o nome de esporte é praticada por pessoas que se julgam, decerto, requintadamente civilizadas. O mais atrasado principiante na ciência do Ocultismo sabe, é claro, que todas as vidas são sagradas, e que sem uma grande e vasta compaixão por tudo e por todos, o verdadeiro progresso e uma burla.

É somente depois de um pouco mais avançado nos seus estudos que ele reconhece a complexidade da evolução e o modesto lugar que, comparativamente, o homem ocupa na economia da natureza. E reconhece então que, assim como a terra, o ar e a água nutrem miríades de formas de vida que, apesar de invisíveis a olho nu, se nos revelam ao microscópio, assim também os planos superiores, que têm ligação com a terra, estão cheios de uma densa população, de cuja existência geralmente não nos apercebemos.

Chegado a um grau mais adiantado de conhecimento, vai verificando que, de uma forma ou outra, todos os meios que podem contribuir para a evolução são aproveitados e que, quando julgamos ver na natureza forças perdidas ou ocasiões não aproveitadas, o defeito não é do plano do universo, mas de nossa falta de compreensão de seus métodos e intenções.

Em nosso estudo dos habitantes não-humanos do plano astral, deixaremos de parte aquelas formas primitivas da vida universal, que se vão desenvolvendo de maneira pouco compreensível para nós, encerrando-se sucessivamente em átomos, moléculas e células. Porque, se começássemos pelo inferior dos chamados reinos elementais, teríamos de agrupar sob esta epígrafe geral um número enorme de habitantes do plano astral, que mal poderíamos tocar senão muito de leve, pois uma descrição detalhada faria este pequeno manual tomar as proporções de verdadeira enciclopédia.

Parece-nos mais conveniente agrupar as entidades não-humanas em quatro classes, entendendo-se que estas classes não constituem subdivisões relativamente pequenas, como as do capítulo anterior, porém cada uma delas abrange, pelo menos, um grande reino da natureza; tão vasto e complexo como, digamos, o animal ou o vegetal.

Dessas classes, umas estão consideravelmente abaixo da humanidade, outras são nossas iguais e outras ainda estão muito acima de nós em perfeição e poder. Umas pertencem à nossa linha de evolução, isto é, foram ou hão de vir a ser homens como nós, ao passo que outras evoluem numa direção distinta da nossa, por vias que lhes são próprias. Antes, porém, de se entrar no seu estudo, devem fazer-se duas declarações, para que não se acuse este manual de ser demasiado incompleto.

A primeira, é a de que não se farão referências aos Adeptos de ordem muito elevada, pertencentes a outros planetas do sistema solar, nem a outros ainda mais augustos visitantes, vindos de distâncias ainda maiores, visto que tais assuntos não podem ser tratados como cumpre num ensaio de vulgarização como este.

De resto, não é praticamente admissível, embora teoricamente seja possível, que seres de tanta glória desçam a vir manifestar-se num plano tão inferior e tão baixo como o plano astral. Mas se por qualquer razão tivessem de o fazer, formariam da matéria astral do nosso planeta um corpo temporariamente apropriado, tal qual o fazem os Nirmânakáyas.

A segunda observação é que, completamente à parte das quatro classes consideradas e sem a menor relação com elas, há outras duas grandes evoluções, coexistentes com a humanidade do nosso planeta. Mas nesta altura não é permitido dar quaisquer informações sobre elas, porque não está no plano geral que o ser humano tenha consciência da sua existência nem elas da existência do ser humano.

Se alguma vez, por acaso, viéssemos a ter contato com elas, seria antes no plano físico, porque os laços que as ligam ao astral são muito fracos, visto que a única probabilidade do seu aparecimento lá pode apenas ser devida a um acidente, extremamente improvável, num ato de cerimônia de magia, cuja celebração, felizmente, apenas um reduzido número de feiticeiros sabe proceder. No entanto, esse acidente improvável já se deu uma vez, pelo menos, e pode dar-se outra vez, de modo que, se não fosse a proibição acima mencionada, deveriam ser incluídas em nossa lista.

1.° A Essência Elemental pertencente à nossa evolução

Assim como se têm agrupado sob a designação de “elemental”, indistintamente quaisquer ou todos os estados possíveis do ser humano depois da morte, assim o termo “elemental” se tem usado em épocas diferentes para significar quaisquer ou todos os espíritos não-humanos, desde os espíritos divinos dos Devas, todas as variedades de espíritos naturais, até a ciência amorfa que permeia os reinos inferiores ao mineral.

Esta amplitude dada erradamente ao termo dá lugar a enormes confusões. Por isso, neste livro fica acordado que a designação essência elemental se aplicará apenas a certas etapas da evolução da essência monádica, entendendo-se por esta “uma irradiação da força ou espírito divino através da matéria.”

Já se sabe que esta irradiação, ou emanação divina, antes de chegar ao grau de individualização em que anima o ser humano— entendendo-se por “animar” dar uma alma — passou e animou seis fases mais inferiores da evolução — a animal, vegetal, mineral e três reinos elementais.

Durante as suas manifestações em cada um destes reinos, tem se-lhe chamado respectivamente mônada animal, vegetal ou mineral, mas este termo é absolutamente errôneo, visto que muito antes de chegar a qualquer destes reinos, já a chamada Mônada animal ou vegetal, etc., não era uma Mônada, mas constituía muitas mônadas. Adotou-se, porém, esse nome para indicar que, embora já se tivesse dado há muito a diferenciação na essência monádica, essa diferenciação ainda não chegara a tomar o caráter de uma individualização. Semelhantemente, à essência monádica que age nos três grandes reinos elementais que precedem o mineral, chama-se “essencial elemental”.

Mas antes de falar da sua natureza e do gênero da sua atividade, é necessário recordarmos a forma como o espírito se reveste de matéria na sua descida para esta. Dizer que o espírito desce de um plano (chamemos-lhe n.° 1) para o plano imediatamente inferior (chamemos-lhe n.° 2), é o mesmo que dizer que ele se reveste da matéria deste último, isto, é, se enrola num véu de matéria do plano n.° 2.

Da mesma forma, se continuar a descer e passar ao n.° 3, tem de se revestir da matéria do plano n.° 3, e teremos, então (chamemos-lhe assim) um átomo cujo corpo ou invólucro exterior é formado por matéria do plano n.° 3. A força que o anima, — a alma, por assim dizer — não está perfeitamente no mesmo estado em que se achava no plano n.° l, visto que terá, além da força divina que possuía, o véu de matéria do plano n.° 2. Se continuar a descida até o plano n.° 4, o átomo é ainda mais complexo, porque terá um corpo de matéria n.° 4, animado por um espírito, já duas vezes velado — pelas matérias do n.° 2 e do n.º 3.

Compreende-se, pois, facilmente, que, com a continuação deste processo, o qual se repete em cada subplano de cada plano do sistema solar, quando a força original chega ao nosso plano físico, acha-se já tão completamente velada por tantos graus de decrescente matéria, que não é de admirar que os homens não saibam reconhecer nela um espírito.

Suponhamos agora que a essência monádica sofreu este processo de revestimento sucessivo até chegar a rodear-se da matéria do plano mental e que, em vez de ir seguindo todas as subdivisões deste plano, mergulhou diretamente no astral, animando ou agregando em volta de si um corpo de matéria astral atômica. A combinação resultante será a essência elemental do plano astral, pertencente ao terceiro dos grandes reinos elementais — que precede imediatamente o mineral. No decurso das suas duas mil quatrocentas e uma diferenciações no plano astral, atrai a si numerosas e variadas combinações das várias subdivisões deste.

Mas são todas temporárias e no fundo o que fica é um reino cuja característica é ser constituído por essência monádica que, na sua descida, evoluiu apenas até ao nível atômico do plano mental e se manifesta através da matéria atômica do plano astral.

Os primeiro e segundo reinos elementais anteriores existem e funcionam, respectivamente, nos níveis superior e inferior do plano mental; mas não nos ocuparemos deles agora. Falar, como frequentemente se faz, de um elemental, quando nos referimos ao grupo que estamos considerando, é um tanto errôneo, porque propriamente é coisa que não existe.

O que achamos é um vasto reservatório de essência elemental extraordinariamente sensível ao mais fugitivo pensamento humano, e respondendo com inconcebível rapidez, numa infinitésima fração de segundo, a qualquer vibração que a aflore, mesmo que essa vibração seja o produto inconsciente de qualquer desejo ou vontade do homem.

Mas a partir do instante em que, sob a influência de tal pensamento ou manifestação da vontade, ele se transforma numa força viva, isto é, com vida — naquilo que neste caso se pode chamar com propriedade um elemental — imediatamente deixa de pertencer à categoria que estamos estudando e passa a pertencer à classe dos artificiais. Esta existência separada é, aliás, em geral, extraordinariamente passageira; mal a força impulsionadora se esgota, o elemental volta à massa não diferenciada da subdivisão particular de essência elemental de onde veio.

Seria enfadonho catalogar todas estas subdivisões, mas ainda que organizássemos uma lista completa, esta só seria compreensível para quem as conheça por experiência, e pode evocá-las e compará-las. Pode-se, no entanto, sem grande trabalho, esboçar as linhas gerais da classificação, o que não deixa de ser interessante. Vem em primeiro lugar a vasta divisão que deu o nome aos dementais, baseada na espécie da matéria que habitam. Aqui, como em tudo, revela-se o caráter septenário da nossa evolução, porque aparecem sete grupos principais, relacionados com os sete estados da matéria física — “terra, água, ar e fogo”, ou, traduzindo o simbolismo medieval na correção de expressão moderna, sólido, líquido, gasoso e os quatro estados etéricos. É comum falar-se com piedade e desprezo dos alquimistas da Idade Média, por darem o nome de “elementos” a substâncias que a Química moderna reconheceu serem compostas. Todavia, não há razão para isso, porque o seu conhecimento deste assunto era maior, e não mais restrito, do que o nosso.

Podem ou não ter catalogado as sessenta ou setenta substâncias a que agora chamamos corpos simples, mas decerto não lhes deram esse nome porque bem sabiam, dos seus estudos ocultos, que nesse sentido da palavra havia apenas um elemento, do qual os nossos corpos simples de hoje e todas as outras formas de matéria eram apenas modificações — verdade de que alguns dos maiores químicos modernos começam a suspeitar.

O fato é que neste caso particular a análise dos nossos desprezados antepassados foi muito mais além do que a nossa. Compreenderam e chegaram a observar o éter que a moderna ciência apenas admite por uma questão de necessidade absoluta para as suas teorias. Sabiam que o éter é constituído por matéria física em quatro estados distintos acima do gasoso — fato que não tornou ainda a ser descoberto.

Estavam cientes de que todos os objetos físicos são formados de matéria em qualquer um destes sete estados, e que na composição dos corpos orgânicos entra maior ou menor porção de matéria de todos esses sete estados. Daí o fato de falarem eles dos seus humores — ígneos e aquosos, ou elementos, expressões que tão grotescas nos parecem. Mas é evidente que a palavra “elemento” era apenas usada como sinônimo de “partes constituintes”, sem se lhe querer ligar a idéia de substâncias insusceptíveis de maior redução. Sabiam ainda que cada uma destas ordens de matéria fornece uma base de manifestação a uma grande classe de essência monádica em via de evolução e chamaram a essa essência “elemental”.

O que devemos tentar compreender e que em cada partícula de matéria sólida, enquanto sólida, reside, servindo-nos da pitoresca expressão dos escolares da Idade Média, um elemental térreo — isto é, certa porção de essência elemental viva que lhe é própria, e igualmente em cada partícula de matéria, no líquido, gasoso, ou etérico, residem os “dementais” específicos, respectivos.

Deve-se notar que esta primeira larga divisão do terceiro dos reinos dementais é, por assim dizer, uma divisão no sentido horizontal — isto é, as suas classes respectivas estão quase no mesmo nível de materialidade, passando-se de umas para as outras por declive quase imperceptível. E pode-se compreender como cada uma destas classes pode ainda ser dividida “horizontalmente” em outras sete, visto haver, como é notório, muitos graus de densidade entre sólidos, líquidos e gasosos.

Há, contudo, uma outra divisão a que se pode chamar “perpendicular”. Talvez esta seja um pouco mais difícil de compreender, sobretudo por causa da grande reserva mantida pelos ocultistas em relação a alguns dos fatos para cuja compreensão seria necessária uma explicação detalhada. O que se pode dizer de mais claro é que em cada uma das classes e subclasses horizontais se acham sete tipos perfeitamente distintos de elemental, cujas diferenças já não são uma questão de grau de materialidade, mas, sim, de caráter e afinidade.

Cada um destes tipos reage sobre os outros a tal ponto que, embora não possa haver intercâmbio de essências, em cada um se encontram sete subtipos distintos uns dos outros pela coloração que lhes dá a influência a que obedecem mais prontamente. Vê-se bem que esta divisão perpendicular, e as suas subdivisões, diferem inteiramente das horizontais no fato de serem fundamentais e mais permanentes, visto que, em virtude das leis da sua evolução, todo o reino elemental deve passar com espantosa lentidão através de todas as suas classes e subclasses horizontais, de modo a pertencer sucessivamente a cada uma delas, ao passo que os seus tipos e subtipos ficam para sempre imutáveis nessa longa jornada.

É necessário não perder de vista, para bem se compreender esta evolução elemental, que ela se está realizando no que se tem chamado “a curva descendente do arco da evolução”, isto é, caminha em direção à materialização completa que observamos no reino mineral em vez de se afastar dela como acontece em quase todas as evoluções de que sabemos alguma coisa.

E assim, o progresso neste caso quer dizer descida para a matéria e não ascensão para planos mais elevados; e isto dá-lhe, a nossos olhos, uma aparência singular de anomalia enquanto não se lhe compreende o objetivo. É necessário que o estudante tenha este fato sempre bem presente em sua mente, se não quer tropeçar a cada passo com anomalias semelhantes que o deixarão por vezes legitimamente perplexo.

A despeito destas numerosas subdivisões, todas as variedades desta essência, de vida tão estranha, têm certas propriedades comuns, mas de tal modo diferem de tudo que estamos habituados a ver no plano físico, que se torna extremamente difícil explicá-las a quem nunca as viu em ação. Admitamos, primeiro, que, ‘quando qualquer porção desta essência se encontre momentaneamente ao abrigo de qualquer influência externa (o que aliás dificilmente se pode realizar), não possui nenhuma forma particular apesar de se manter num movimento contínuo de grande rapidez.

Mas à menor perturbação, provocada, por exemplo, por qualquer corrente de pensamento que passe, precipita-se imediatamente numa confusão de formas, continuamente móveis, que mudam constantemente; precipitam-se e desaparecem, como as bolhas de vapor à superfície da água em ebulição. Embora estas aparições fugitivas se assemelhem de ordinário a criaturas viventes, humanas ou não, não constituem entidades separadas, como acontece às vagas igualmente mutáveise variáveis que afloram momentaneamente à superfície de um lago tranqüilo açoutado por um furacão.

Parece que são simples reações das vastas reservas da luz astral; mas um exame mais atento permitirá descobrir nelas uma certa relação com o pensamento que as evocou, quase sempre grotescamente desfigurado, com um aspecto repelente e desagradável.

Mas qual será o gênero de inteligência que decide da formação ou deformação?

Como não se trata aqui do elemental, persistente e poderoso, criado por um pensamento forte e definido, mas do resultado produzido pela corrente de pensamentos involuntários e semiconscientes, que todos nós deixamos percorrer o cérebro, sem saber porque nem para que, essa inteligência não provém, evidentemente, da mente do pensador.

À essência elemental, em si, não podemos também atribuí-la, visto que essa pertence a um reino ainda mais afastado da individualização do que o mineral, sem qualquer coisa do despertar das qualidades mentais. Contudo, possui uma tão extraordinária capacidade de adaptação que, muitas vezes, parece aproximar-se de qualquer coisa mental, e foi sem dúvida esta sua propriedade que fez que os elementais fossem classificados num dos nossos primeiros livros como “criaturas semi-inteligentes da luz astral”.

Quando nos ocuparmos da classe dos artificiais, acharemos mais provas desta faculdade. Quando se diz que um elemental é bom ou mau, é porque se trata ou de uma entidade artificial ou de uma das variedades dos espíritos naturais, porque os reinos elementais não admitem concepções de qualquer, espécie do que é bom e do que é mau.

Apesar disso nota-se, em quase todas as subdivisões, uma tendência para as tornar hostis ao ser humano. Todos os neófitos sabem isto, porque a primeira impressão que todos têm do plano astral é a presença de hordas imensas de espectros proteus que se precipitam ao seu encontro com um ar ameaçador, porém que recuam ou desaparecem quando encarados corajosamente.

E, pois, a esta tendência hostil que se devem atribuir as deformações e o aspecto repelente de que se falou, e dizem-nos os escritores medievais que se elas existem a culpa é exclusivamente do ser humano. Nas idades de ouro que precederam esta nossa época cheia de sordidez, as pessoas eram, na sua totalidade, menos egoístas e mais espirituais, e por isso os “elementais” eram mais amáveis. Se agora já o não são, é devido à indiferença e à falta de simpatia das pessoas para com os outros seres vivos. Pela extrema precisão com que a essência elemental responde à menor solicitação dos nossos pensamentos e dos nossos desejos, conclui-se que este reino, no seu conjunto, é um produto do pensamento coletivo da humanidade.

Ora, carecendo este pensamento de elevação, sendo na sua generalidade baixo, egoísta e mesquinho, não é para admirar que essa essência, desprovida de recepção consciente, que recebe e reflete cegamente tudo o que nela se projeta, mostre um cará ter tão pouco hospitaleiro: colhemos o que semeamos, eis tudo. Tudo leva a crer que em futuras raças, quando a humanidade tiver progredido e alcançado um nível superior, os reinos dementais, sob a ação constante da influência do nosso pensamento purificado, deixarão a sua atual atitude de hostilidade e se tornarão dóceis e serviçais, como se prevê também para o reino animal.

Fosse como fosse o passado, temos o direito de esperar uma idade de ouro no futuro, se vier um tempo em que a maioria dos homens se torne generosa e altruísta, e chame a si dessa maneira a cooperação voluntária e benevolente das forças naturais. O fato de nós podermos influenciar tão acentuadamente os reinos dementais, prova-nos que somos responsáveis pela maneira como usamos essa influência. E realmente, quando se olham atentamente as condições da sua existência, é evidente que o resultado produzido sobre eles pelos pensamentos e desejos de todos os seres inteligentes que habitam o mesmo mundo que eles, deve ter sido calculado no plano geral do nosso sistema, como um fator da sua evolução.

Apesar da insistência dos ensinamentos de todas as grandes religiões, a grande massa da humanidade não se preocupa com as responsabilidades que tem no mundo dos pensamentos. Qualquer indivíduo que se possa gabar de nunca ter pecado por palavras ou por obras, considera-se inocentee inofensivo, e julga ter feito pelos outros tudo o que dele se pode exigir, sem se lembrar que durante anos exerceu, com os seus maus pensamentos, uma influência deprimente e degradante no espírito dos que o cercam, e encheu o seu ambiente com as criações malfazejas de espírito sórdidos.

Esta questão reveste ainda um caráter 40 mais sério a propósito dos dementais artificiais, como veremos; mas para a essência elemental, é suficiente acentuar que todos nós temos a faculdade de lhe retardar ou acelerar a evolução, segundo o uso consciente ou inconsciente que dela fizermos. Os estreitos limites deste manual não nos permitem explicar os diferentes usos que um homem treinado no seu manejo pode fazer das forças inerentes às variedades de essência elemental. É quase exclusivamente no seu aproveitamento que se funda a maior parte das cerimônias de magia, quer pela aplicação direta da vontade do feiticeiro, quer por intermédio de qualquer entidade astral que ele evoque para esse fim.

São elas ainda as intermediárias de todos os fenômenos físicos provocados nas sessões espiritistas, e os agentes que provocam o lançamento de pedras e o ressoar de campainhas nas casas em que se diz aparecerem fantasmas, fatos muitas vezes devidos aos esforços desastrados de qualquer defunto, ainda muito ligado à terra, para despertar a atenção dos que lhe interessam ou as simples garotices dos espíritos menores de que falamos na terceira classe. Não é nunca o “elemental” que procede por si mesmo, porque não passa de uma força latente que, para atuar, precisa absolutamente de um poder exterior que o ponha em ação.

Deve notar-se que, embora todas as classes da essência elemental tenham a faculdade de refletir as imagens da luz astral, como se disse, há, contudo, umas que recebem mais facilmente um certo número de impressões que outras, parecendo ter formas favoritas que, em caso de perturbação, procuram para se revestir, a não ser que sejam absolutamente forçadas a tomar outras, que, neste caso, são ainda mais fugitivas do que é costume.

Antes de deixar este ramo do assunto, é necessário prevenir o estudante contra qualquer confusão entre a essência elemental, de que acabamos de tratar, e a essência monádica que se manifesta no reino mineral. A essência monádica, na sua marcha evolutiva para a humanidade, começa por se manifestar no reino-elemental, e só mais tarde, num grau mais adiantado de evolução, é que se manifesta no mineral.

E o fato de dois corpos distintos de essência monádica nestes dois graus diferentes se manifestarem no mesmo momento, isto é, uma destas manifestações, um elemental térreo, ocupar o mesmo espaço que a outra manifestação, fixar mesmo residência numa rocha, por exemplo, não constitui de modo nenhum um obstáculo à evolução de qualquer deles, nem implica qualquer espécie de conexão entre os corpos de essência monádica que existem dentro deles.

A rocha acha-se também impregnada da variedade do onipresente princípio vital que lhe é próprio, que, por sua vez, nada tem de comum com as duas essências acima mencionadas. 2.° Os Corpos Astrais dos Animais. — Apesar de extraordinariamente numerosa, esta classe ocupa um lugar relativamente subalterno no plano astral, visto ser sempre muito curta a permanência nesse plano dos membros que a compõem.

Os animais, na sua grande maioria, não adquiriram ainda, até hoje, uma individualização permanente, e quando morrem, a essência monádica que os animava volta ao stratum especial donde veio, levando com ela a experiência ou o desenvolvimento que pôde adquirir durante a vida do animal.

Isto, porém, não se faz imediatamente; o corpo astral do animal sofre o mesmo processo que o do homem, e conserva no plano astral uma existência real cuja duração, nunca longa, varia segundo a inteligência que o animal desenvolveu. Geralmente, essa existência não passa de uma espécie de sonho inconsciente, impregnado, ao que parece, de perfeita felicidade.

Quanto aos raros animais domésticos que já atingiram a individualização e que, por conseguinte, não mais voltam a este mundo sob a forma de animal, esses têm uma vida astral mais longa e mais ativa, caindo, por fim, a pouco e pouco, num estado subjetivo que, certamente, dura por muito tempo. Os macacos antropóides, de que se fala na Doutrina Secreta (vol. I, pág. 184), que já atingiram a individualização e em breve, na próxima ronda, se reencarnarão na humanidade, formam uma das subdivisões mais interessantes desta classe.

3.° Os espíritos naturais, em geral

Compreende esta classe subdivisões tão numerosas e tão variadas que, se lhes pudéssemos dar o lugar que merecem, só sobre elas teríamos de escrever um enorme tratado. Limitar-nos-emos, para poder fazer uma ideia, a indicar as que têm características comuns. Para começar, diremos, o que aliás é evidente, que estas entidades diferem radicalmente de todas as outras, que até aqui temos considerado.

Apesar de termos o direito de classificar a essência elemental e o corpo astral dos animais como não-humanos, é certo também que a essência monádica que os anima há de, com o tempo, atingir o nível de evolução em que possa manifestar-se numa humanidade futura, comparável à nossa.

E se pudéssemos rever o caminho percorrido pela nossa própria evolução, através dos ciclos mundiais passados, veríamos que aquilo que somos hoje passou igualmente por etapas semelhantes. Não sucede, porém, o mesmo no vasto reino dos espíritos naturais; nem nunca foram, nem são, nem hão de ser membros de uma humanidade, como a nossa, visto a linha da sua evolução ser completamente diferente da nossa; e se alguma relação têm conosco, provém simplesmente do fato de ambos ocuparmos, temporariamente, o mesmo planeta.

É claro que, visto sermos vizinhos, embora por pouco tempo, devemos manter com eles as melhores relações de boa vizinhança; mas o nosso desenvolvimento realiza-se por caminhos tão diferentes que pouco ou nada podemos fazer uns pelos outros. Há escritores que classificam estes espíritos entre os elementais, e realmente são os dementais (ou, mais propriamente, os animais) de uma evolução superior.

Apesar de mais desenvolvidos do que a nossa essência elemental, têm, contudo, alguns característicos que lhes são comuns; assim, por exemplo, estão divididos em sete grandes classes, que ocupam, respectivamente, os mesmos sete estados de agregação da matéria, a que nos referimos dizendo que cada um deles era permeado pela variedade correspondente de matéria.

Há, portanto, para nos referirmos àqueles que melhor poderemos compreender, espíritos da terra, do ar, da água, e do fogo (ou do éter) — entidades astrais, dotadas de inteligência, definidas, que habitam e funcionam em cada um desses meios. Não é para admirar a estranheza de muita gente que não compreende como se pode viver num meio tão sólido, como, por exemplo, uma rocha ou a crosta terrestre.

Mas é fácil de entender se compreendermos que esses espíritos são formados de matéria astral, e portanto, a substância constituinte da rocha não é obstáculo ao seu movimento nem mesmo à sua visão. Ainda mais, é precisamente na matéria física no estado sólido que eles se acham no seu elemento, — é mesmo aquilo a que estão habituados e onde se sentem, por assim dizer, como cm sua casa. E o mesmo se poderia dizer dos que vivem na água, no ar ou no éter.

Na literatura medieval, a estes espíritos da terra davam o nome de gnomos; aos da água, ondinas; aos do ar, silfos, e aos do éter, salamandras. Na linguagem popular têm uma grande variedade de nomes: fadas, pixies, brownies, duendes, trolls, sátiros, faunos, etc., termos que ora se aplicam apenas a uma variedade, ora a todas. Apresentam-se sob muitas e variadas formas, porém mais geralmente sob a forma humana, com estatura reduzida.

Como quase todos os habitantes do plano astral, podem tomar a aparência que quiserem, mas têm, evidentemente, formas definidas, que lhes são peculiares e próprias, ou antes, formas prediletas de que se revestem quando não têm necessidade de tomar qualquer outra especial. Em geral, são invisíveis à visão física, mas tem a faculdade de materializar-se e tornar-se visíveis quando isso lhes convém.

Entre eles há numerosíssimas subdivisões ou raças, diferindo os indivíduos pertencentes a cada uma delas em inteligência e em disposição, precisamente como os seres humanos. Em sua maioria evitam o homem, visto que lhes repugnam os hábitos e emanações  humanas, e os vícios e desejos desordenados da humanidade põem em ação correntes astrais que os perturbam.

No entanto, não faltam exemplos de casos em que os espíritos naturais se têm interessado amigavelmente por seres humanos, ajudando-os e protegendo-os, como nas conhecidas histórias das “brownies” escocesas e nas fadas acendedoras de fogo mencionadas na literatura espiritista. Esta atitude de benevolência é, contudo, relativamente rara, e, em geral, quando entram em contato com o homem, mostram–se antes indiferentes ou contrariados, e têm mesmo certo prazer em enganá-lo ou em fazer-lhe verdadeiras partidas infantis. A este respeito correm muitas histórias entre gente de campo, sendo raro o distrito montanhoso afastado que não tenha uma fecunda tradição acerca dos “espíritos malignos”.

E todos os que tem assistido a sessões de espiritismo demonstrativas de fenômenos físicos, devem ter presenciado os gracejos tolos e as brincadeiras, aliás sem maldade, que quase sempre indicam a presença de algum representante das ordens inferiores dos espíritos naturais.

O que principalmente os ajuda, nestas farsas, é a maravilhosa faculdade que possuem de lançar um “encanto” sobre os indivíduos que cedem à sua influência, de modo que as suas vítimas apenas veem e ouvem, enquanto o encanto dura, o que os espíritos lhes imprimem, tal qual acontece às criaturas hipnotizadas, que apenas veem, ouvem, sentem e creem naquilo que o magnetizador deseja.

Todavia, os espíritos naturais não têm, como os hipnotizadores, a faculdade de dominar a vontade humana, a não ser quando se trate de temperamentos exageradamente fracos ou de vontades paralisadas por um grande terror. Apenas podem produzir ilusões dos sentidos, arte em que são indiscutivelmente mestres, e há mesmo casos cm que esse “encanto” tem sido exercido satisfatoriamente sobre uma assistência numerosa.

Assim, é evocando o seu auxílio que os prestidigitadores hindus conseguem fazer muitas das suas sortes, visto que o espírito evocado alucina de tal modo os espectadores que estes se convencem de que ouvem e vêem coisas que realmente não passam de ilusões dos seus sentidos e nunca aconteceram. Poderíamos considerar os espíritos naturais como uma espécie de humanidade, se não fosse o fato de nenhum deles — nem o mais elevado — possuir uma individualidade permanente que se reencarne.

Por isso mesmo, e pelo fato de a proporção de desenvolvimento da inteligência, antes de se dar a individualização, ser muito maior do que a nossa, é que podemos afirmar que a nossa evolução é diferente da deles; mas quais sejam as etapas dessa evolução, quer passadas, quer futuras, pouco ou nada sabemos.

Os períodos de existência das diferentes subdivisões variam muito, desde muito curtos, até muito maiores que o de nossas vidas. Mas estamos tão longe do seu gênero de vida que nos é impossível compreender como ela seja; porém tem-se a impressão de que devem levar uma existência simples, alegre e despreocupada, como levaria um grupo de crianças rodeadas de condições físicas excepcionalmente favoráveis. Apesar de brincalhões e maliciosos, é raro serem maus, a não ser que sejam provocados a fazer mal; mas, no seu conjunto, parecem partilhar do sentimento universal de desconfiança, inspirado pelo homem, e é geralmente com a maior frieza, e sob um aspecto que causa certa repugnância e infunde terror, que recebem os recém-chegados ao plano astral.

Mas se o neófito se mostra despreocupado diante deles e não se deixa amedrontar com o mal que aparentemente lhe querem fazer, em breve aceitam o novo companheiro como um mal irremediável e nunca mais fazem caso dele, e até alguns acabam por viver com certos habitantes astrais na melhor das harmonias, manifestando prazer no seu encontro.

Entre as numerosas subdivisões desta classe, há algumas menos infantis e mais respeitáveis do que as entidades de que tratamos até aqui. São essas que têm inspirado as entidades veneradas como as “fadas dos bosques”, os “anjos bons” das aldeias, etc.

Essas entidades costumam ser absolutamente sensíveis às homenagens e lisonjas que se manifestam no culto que os seus admiradores lhes prestam, e não se recusariam a prestar aos seus fiéis qualquer pequeno serviço que lhes fosse pedido (o “anjo bom” das aldeias é também muitas vezes uma entidade artificial, e especial, de que nos ocuparemos na pág. 107 e segs.).

O Adepto pode e sabe utilizar os serviços dos espíritos naturais, quando deseja, mas os feiticeiros vulgares apenas podem obter da parte deles algum auxílio por meio da invocação ou evocação — isto é, suplicando-lhes a sua atenção em troca de qualquer promessa, ou tentando manejar influências que os reduzam à obediência. Qualquer dos processos é extremamente condenável, e o segundo é mesmo perigoso, visto que o operador, para se fazer obedecer, recorre a meios que provocam da parte do espírito coacto um sentimento de hostilidade e de ressentimento que lhe pode ser fatal. É desnecessário acentuar que a ninguém que se dedique ao Ocultismo sob a direção de um Mestre é permitida tal prática.

4.° Os Devas

O mais alto sistema de evolução que tem relação com a Terra é, que se saiba, a dos seres a que os hindus, chamam “devas”, e no Ocidente, “anjos”, “filhos de Deus”, etc. podem ser considerados como formando o reino imediatamente superior ao reino humano, assim como este está imediatamente acima do animal, mas com a diferença importantíssima de que o animal não tem, que saibamos, possibilidade de evolução e não ser para o homem, que é o único a ver abrir-se diante de si, logo que alcança um certo nível, várias sendas de progresso, uma das quais é a da grande evolução dos Devas.

Comparada com a sublime renunciação dos Nirmânakáyas, a escolha desta linha de evolução é por vezes classificada com a expressão “ceder à tentação de vir a ser um deus”, mas nisto não há a menor sombra de censura. Não é o caminho mais curto, mas e evidentemente um dos mais nobres, e se a intuição, largamente desenvolvida, de um ser humano o impele a seguido, é porque certamente é o caminho que mais convém às suas capacidades.

Não devemos nunca esquecer que, à semelhança do que acontece com uma ascensão física, nem todos os que desejam subir espiritualmente tem a força e a coragem de escolher o caminho mais íngreme. Pode haver muitos para quem o único caminho praticável seja o mais lento e demorado, e nós não seríamos discípulos dignos dos nossos grandes Mestres se, em nossa ignorância, nos deixássemos dominar por qualquer pensamento de desprezo por aqueles cuja escolha difere da nossa.

Seja o que for que a nossa ignorância nos faça pensar hoje acerca das dificuldades do futuro, no atual estado de adiantamento da evolução, é nos impossível saber o que seremos capazes de fazer quando, depois de muitas vidas de esforços, alcançarmos o direito da escolha do nosso futuro.

Com efeito mesmo os que “cedem à tentação de vir a ser deuses” têm perante si uma carreira suficientemente gloriosa, como vamos ver. Para evitar possíveis mal-entendidos, diga-se, entre parênteses, que em muitos livros se dá um sentido completamente mau à frase “tornar-se um deus”, mas nessa forma não poderia haver qualquer espécie de “tentação” para o homem desenvolvido, e em qualquer caso não tem a menor relação com este assunto.

Na literatura oriental, a palavra “Deva” é amiúde usada vagamente para designar quase toda espécie de entidades não-humanas, de modo que muitas vezes se refere, por um lado, às grandes divindades e, por outro, aos espíritos naturais e aos elementais artificiais. Nós, contudo, empregamo-la somente em referência aos membros da grandiosa evolução, objeto do nosso estudo.

Apesar de relacionados com esta terra, os devas não estão confinados aos seus limites, pois o conjunto da nossa presente cadeia de sete mundos forma para eles um mundo só, em virtude de a evolução deles ter de percorrer um grande sistema de sete mundos. As suas hostes têm até aqui sido recrutadas principalmente entre outras humanidades do sistema solar, umas superiores, outras inferiores à nossa.

Desta, apenas uma pequeníssima minoria tem atingido o nível a que precisamos chegar para ser-nos possível pertencer a tão elevada categoria. Mas parece certo que algumas das suas numerosas classes não passaram, no caminho do seu progresso ascensional, por nenhuma humanidade comparável à nossa. Não estamos cm estado de compreender muito acerca da evolução dos devas, mas aquilo que supomos ser a meta da sua evolução é consideravelmente mais elevada que a nossa. Isso é, ao passo que o objetivo da evolução humana é erguer a porção da humanidade que não desperdiçou os seus esforços, a certo grau de desenvolvimento oculto no fim da sétima ronda, o objetivo da evolução dévica é erguer as suas classes mais adiantadas, as suas categorias superiores, dentro do período correspondente, a um grau ainda mais elevado.

Perante eles, como perante nós, está patente um caminho mais íngreme, porém mais curto, que conduz aqueles que trabalharam com séria convicção e esforço persistente, a alturas ainda mais sublimes; porém que alturas são essas, é-nos impossível precisar. Em relação com o plano astral, apenas podemos mencionar as categorias inferiores dessa augusta legião. A três grandes divisões inferiores (começando de baixo) chamam-se geralmente Kâmadevas, Rüpadevas e Arüpadevas.

O corpo mais inferior de que um Kâmadeva se pode revestir é o astral, como para nós é o físico. De forma que está numa situação análoga àquela em que estará a humanidade quando atingir o planeta F. Portanto, vivendo normalmente no corpo astral, é do mental que se reveste quando quer passar a esferas superiores, tal qual nós ao passarmos do físico para o astral. E se quiser entrar num corpo causal, pouco mais esforços terá a fazer (estando, é claro, suficientemente desenvolvido) do que nós para entrarmos no mental.

Da mesma forma, o Rupadeva vive normalmente no corpo mental, visto que o seu habitat é nos quatro níveis inferiores, ou subplanos rüpa do plano mental; por sua vez o Arüpadeva pertence aos três subplanos superiores e o seu corpo mais material é o causal. Mas a manifestação dos Rüpadevas e dos Arüpadevas no plano astral é tão extremamente rara como a materialização no plano físico das entidades astrais, de forma que não há necessidade de nos referirmos a eles neste trabalho sobre o plano astral.

Com respeito à divisão interior — os Kâmadevas — seria um erro grosseiro considerá-los incomensuravelmente superiores a nós, visto que muitos vieram de uma humanidade a muitos respeitos inferiores à nossa cm desenvolvimento.

A média dos Kâmadevas é, em geral, superior à nossa, porque tudo que neles poderia haver de mau, há muito que foi expurgado das suas fileiras; mas sua disposição varia muitíssimo, de modo que pode haver entre nós indivíduos que, pela sua nobreza, altruísmo e elevação espiritual, ocupem na escala da evolução um grau mais elevado do que alguns deles. Pode-se atrair-lhes a atenção por meio de certas evocações mágicas, mas a única vontade humana que os pode dominar é a de uma classe elevada de Adeptos.

Têm em geral pequena consciência de nós, no plano físico, mas acontece uma vez ou outra que um deles, tendo conhecimento de qualquer dificuldade humana, que lhes excita a compaixão, venha em auxílio do homem, como qualquer de nós faria a um animal que víssemos aflito. Mas no estado presente da evolução, qualquer interferência da parte deles seria, entenda-se bem, mais prejudicial que benéfica. Acima dos Arüpadevas há ainda quatro outras grandes divisões, e ainda acima e para além do reino dos devas estão as grandes hostes dos Espíritos Planetários, espíritos gloriosos, cuja consideração estaria deslocada neste manual.

Conquanto não possamos afirmar que pertençam exatamente a qualquer uma de nossas classes, este é, talvez o melhor lugar para mencionar os admiráveis e importantes seres, que são os quatro Devarâjas. Neste nome a palavra “Deva” não deve ser tomada no mesmo sentido em que a temos usado até aqui, pois não é o reino dos devas mas sim dos quatro “elementos”, da terra, água, ar e fogo, com seus internos habitantes, os espíritos naturais e as essências, que estes quatro Reis governam. Acerca das etapas de evolução que eles seguiram até chegar à presente culminância de poder e sabedoria, nada sabemos; apenas podemos afirmar que o caminho da sua evolução não tem nada de correspondente em nossa humanidade.

Chamase-lhes também Regentes da Terra, e Anjos dos quatro pontos cardeais, e os livros hindus chamam-lhes os Chatur Mahârâjas, dando-lhes os nomes de Dhritarâshtra, Virudhaka, Virupaksha e Vâishrâvana. Nos mesmos livros as suas hostes elementais são chamadas Gandharvas, Kumbhandas, Nâgas e Yakshas, respectivamente, sendo os pontos cardeais próprios de cada um, Este, Sul, Oestee Norte, e as respectivas cores simbólicas branco, azul, vermelho e dourado.

A Doutrina Secreta descreve-os como “globos alados e rodas de fogo”, e até na Bíblia cristã, Ezequiel, ao tentar descrevê-los, serve-se de expressões muito semelhantes. Não há religião nenhuma que na sua simbologia não se refira a eles, tendo sido sempre objeto da mais fervorosa reverência como protetores da humanidade. São eles os agentes do Karma do homem durante a vida terrena, representando, por isso, um papel da mais alta importância nos destinos humanos.

As grandes divindades kármicas do Cosmos (chamadas na Doutrina Secreta “Lipikas”) pesam as ações de cada personalidade quando, no fim da vida astral, se realiza a separação final dos seus princípios, e dá, por assim dizer, o molde para um duplo etérico, exatamente apropriado ao karma dessa personalidade para o próximo nascimento físico.

Mas são os Devarâjas, senhores dos “elementos”, de que esse duplo se compõe, que os combinam nas proporções convenientes, de modo a realizar rigorosamente as intenções dos Lipikas. São eles também que durante a vida inteira estão vigilantes, para contrabalançar as mudanças que o livre arbítrio do homem e dos que o cercam introduzem continuamente na sua situação, afim de que o karma possa esgotar-se de uma forma ou outra, mas sempre sob a ação da mais reta justiça. Na Doutrina Secreta, vol. I, págs. 122 a 126, ed. inglesa, encontra-se uma erudita dissertação sobre estes seres maravilhosos, que podem materializar-se à vontade em formas humanas, conhecendo-se alguns casos que isso tem sucedido.

Todos os espíritos naturais superiorese legiões de elementais artificiais são seus agentes na estupenda tarefa que lhes está distribuída, mas são os Devarâjas que têm todos os fios nas mãos e os únicos responsáveis pela sua obra. Poucas vezes se manifestam no mundo astral, mas quando o fazem, são, decerto, os mais notáveis dos seus habitantes não-humanos.

Qualquer ocultista adivinhará que, assim como há sete classes de espíritos naturais e de elementais, deve haver também sete e não quatro Devarâjas; mas para além do círculo dos Iniciados pouco ou nada se sabe dos três primeiros, c, além disso, não se pode fazer revelações a seu respeito. Ficaremos, pois, por aqui e passaremos a ocupar-nos dos habitantes artificiais do plano astral.

III — Artificiais

Exclusivamente produto da criação do homem, esta classe, a mais numerosa das entidades astrais, tem uma excepcional importância, visto a sua ação sobre o homem se manifestar direta e incessantemente graças aos estreitos laços kármicos que o acorrentam a ela.

É uma massa enorme, mal definida, de entidades semi-inteligentes, tão diferentes umas das outras como os pensamentos, e praticamente insusceptíveis de qualquer combinação ou arranjo metódico. A única divisão que se pode fazer é pondo de um lado os elementais artificiais criados inconscientemente pela maioria da humanidade, e do outro, os criados com qualquer intenção pelos 46 feiticeiros ou magos, e ainda do outro o pequeno número de entidades criadas artificialmente e que não entram na categoria de elementais.

1.° Elementais criados inconscientemente

Já se disse que a essência elemental que nos rodeia por todos os lados é, nas suas inúmeras variedades, singularmente susceptível à influência do pensamento humano. Já nos referimos mesmo ao fato de qualquer pensamento, por mais vago, impreciso e ocasional, obrigar essa essência a tomar formas nebulosas e efêmeras que se agitam como nuvens em constante movimento.

Resta-nos agora considerar a forma como essa essência é afetada quando o espírito humano faz incidir sobre ela um pensamento, ou um desejo preciso e intencional. O efeito produzido é flagrante. — O pensamento apodera-se da matéria plástica e molda-a instantaneamente num ser vivo de forma apropriada — ser que uma vez criado, não fica de modo nenhum sob a influência do seu criador, mas vive uma vida sua, cuja duração é proporcional à intensidade do pensamento, ou desejo, que o gerou.

De fato, dura enquanto a força-pensamento que o criou lhe mantém a coesão. Assim, os pensamentos da humanidade são em sua maioria tão imprecisos – e fugitivos que os dementais por eles criados vivem apenas minutos ou horas; mas um pensamento repetido ou um desejo convictamente formulado, geram um elemental cuja existência pode durar dias. Como a maior parte dos pensamentos do homem dizem, em geral, respeito ao próprio homem, os dementais que formam ficam em suspensão em volta dele, e tendem a provocar a repetição da idéia que representam, visto essas repetições em vez de criar novos dementais, concorrerem para fortificar os antigos e outorgar-lhes, por assim dizer, mais tempo de vida.

Um homem que, por exemplo, acalente demoradamente um desejo, forma para si mesmo uma espécie de companheiro astral que, alimentado constantemente pelo pensamento predominante, pode acompanhá-lo durante anos, ganhando progressivamente força e influência sobre o seu criador. Quando o desejo é um desejo de mau caráter, a influência sobre a natureza moral do homem pode vir a ser de desastrosas consequências. Mais fecundos ainda em resultados bons ou maus são os pensamentos do homem acerca do seu semelhante, porque neste caso não é em torno dele que flutuam, mas em torno do objeto do pensamento.

Qualquer desejo ou pensamento de felicidade projetado sobre um indivíduo, criará para ele um elemental artificial amigável. Se o desejo for perfeitamente definido, por exemplo, o desejo de melhoras de uma doença, o elemental pairará sobre o doente, para lhe promover o restabelecimento ou para afugentar qualquer influência tendente a impedi-lo.

Neste trabalho desenvolverá o que pode parecer à primeira vista uma grande porção de inteligência e adaptabilidade, mas realmente não é mais do que uma força que atua segundo a linha de menor resistência — sempre na mesma direção, aproveitando qualquer canal que possa achar, precisamente como a água num tanque se precipitará por um tubo aberto, existente entre uma dúzia de fechados, e o esvaziará através dele.

Se o desejo for simplesmente um desejo vago de seu bem geral, a essência elemental, na sua maravilhosa plasticidade, responderá também a essa idéia menos distinta e a entidade criada desenvolverá a sua força na direção de que surja logo uma ação para vantagem do homem.

Em qualquer dos casos a quantidade de energia a despender e a duração do tempo de vida que a entidade tem para despender, dependem da intensidade do pensamento ou desejo original, embora, não é demais lembrá-lo, a entidade possa ser nutrida e fortificada, e prolongada a duração de vida por outros bons desejos ou pensamentos amigos projetados na mesma direção. Além disso, parece que a entidade assim formada é atuada por um desejo instintivo de prolongar a vida, reagindo sobre o seu criador como força tendente constantemente a provocar a renovação do pensamento que a originou.

E de uma forma análoga 47 vai influenciar outras com quem entre em contato, embora a sua relação com estas não seja naturalmente tão perfeita. Tudo o que acaba de se dizer dos pensamentos bons, portadores de felicidade, é igualmente verdadeiro no caso de pensamentos portadores de desgraças e de desejos de mal aos nossos semelhantes. Basta atentar para o que existe no mundo de inveja, de maldade, de ódio e outros sentimentos igualmente condenáveis para se compreender que entre os dementais existe um verdadeiro mundo de entidades perigosamente maléficas.

O homem cujos pensamentos sejam cheios de despeito, de sensualidade, de avareza, numa palavra, grosseiros, arrasta consigo através do mundo uma atmosfera pestilenta, que lhes é própria, povoada com os seres repelentes que a sua brutal imaginação criou. E não é só ele que se encontra nessa triste situação, pois todos aqueles que têm a infelicidade de se aproximar dele estão sujeitos ao grande perigo do contágio moral, pela influência das abominações que ele se compraz em lançar ao redor de si.

Qualquer sentimento de ódio, inveja ou ciúme, dirigido a outra pessoa, enviará um elemental para atormentála, e este procurará qualquer ponto fraco por onde possa concretizar a sua ação maléfica. Se esse sentimento é persistente, o elemental continuará a ser alimentado e poderá prolongar por muito tempo a sua existência, e portanto, a sua perniciosa atividade. Pode, contudo, não produzir qualquer efeito sobre a pessoa para quem é dirigido, se esta não tem nenhuma tendência que p nutra, se não tem, por assim dizer, nenhum fulcro para a sua alavanca.

Assim, todas essas influências, portadoras do mal, recuam e são rechaçadas ante a aura de um homem de pensamentos puros, de existência honrada, visto não acharem onde fixar-se. Neste caso, obedecendo a uma lei bem curiosa, elas reagem com toda a força sobre o seu criador original. E é nele que a própria entidade que ele criou vai consumir o karma de seu mau desejo, na hipótese de nele encontrar uma esfera congênita. Acontece também, por vezes, que um elemental artificial desta espécie não consegue, por várias razões, descarregar a sua energia nem sobre o seu criador nem sobre o objeto dos maus sentimentos deste.

Então, transforma-se numa espécie de demônio errante, fácil e prontamente atraído por qualquer indivíduo que acalente em si sentimentos semelhantes àqueles que lhe deram origem, e está igualmente preparado para estimular esses sentimentos nesse indivíduo, graças à força nutritiva que neste acham, ou para exercer sobre ele qualquer má influência tão logo para isso se lhe proporcione uma ocasião. Se tem a força e o poder suficiente para se alojar em qualquer invólucro transeunte, é certo que o faz, visto que essa moradia temporária lhe permite economizar os seus terríveis recursos com mais cuidado.

Sob esta forma pode manifestar-se através de um médium, e sob o disfarce de um dos seus amigos íntimos pode, às vezes, vir a exercer influência sobre criaturas que, a não ser assim, nunca poderia exercer o menor poder. O que acaba de se dizer vem confirmar ainda mais a importância que tem para nós e para os outros a rigorosa observação dos nossos pensamentos.

Há centenas de criaturas bem intencionadas que nunca, quer por palavras quer por obras, deixaram de ser escrupulosamente observadoras dos seus deveres para com os seus semelhantes, e que, considerando que o pensamento é livre e ninguém tem nada a ver com o que pensam no seu foro íntimo, deixam à revelia os seus pensamentos, sem terem a consciência dos enxames de criações funestas que desencadeiam por esse mundo a fora.

Para um indivíduo nestas condições, deve ser terrível a revelação de que os seus pensamentos e desejos podem produzir elementais artificiais; e por outro lado, deve ser altamente consoladora para aqueles que, sendo bons, dotados de uma alma grata e aperfeiçoada, tenham a impressão dolorosa de que são impotentes para de qualquer modo retribuir as bondades dos seus benfeitores.

E realmente, pensamentos amigos e desejos sinceros de felicidade podem ser formulados tanto pelos mais ricos, como pelos mais pobres, pois nada há de mais fácil, seja para quem for, do que manter um anjo da guarda junto do irmão ou irmã, do amigo ou do filho, de quem mais se ame, seja qual for o ponto da terra onde se encontre o ente querido.

Quantas vezes as preces, os pensamentos de amor e de carinho de uma mãe extremosa se têm transformado num anjo da guarda para um filho, e a não ser no caso quase impossível em que o filho não encerre cm si um instinto que possa responder a uma influência boa, quantas vezes esses pensamentos lhe têm proporcionado auxílio e proteção! Não são utopias esses anjos da guarda, pois muitos clarividentes os têm visto. Têm mesmo havido casos em que alguns desses anjos têm a força suficiente para se materializar, tornando-se visíveis momentaneamente à simples vista física.

É digno de nota o fato curioso de, mesmo depois da passagem da mãe para o mundo-céu, o amor que ela derrama sobre os filhos que julga estarem em volta de si, ir ainda reagir sobre eles apesar de estarem ainda na terra, alimentando o elemental protetor por ela criado, quando na terra, até seus filhos queridos abandonarem, por sua vez, a vida física.

Como muito bem observa Madame Blavatsky, “o amor de mãe será sempre sentido pelos filhos encarnados; manifesta-se-lhes nos sonhose por vezes em vários casos da vida, fornecendo uma proteção e meios de salvação providenciais; porque o amor é um escudo forte, e não é limitado pelo espaço nem pelo tempo” (5). Contudo, não se julgue que todas as histórias de intervenção dos anjos da guarda, devam ser atribuídas à ação de dementais artificiais, porque em muitos casos esses “anjos” são apenas as almas ou de criaturas ainda vivas ou mortas recentemente, e ainda, em alguns casos, embora muito raros, o papel é representado pelos devas (6).

É este poder que tem um desejo cheio de convicção, principalmente se for muito repetido, de criar um elemental ativo, que constantemente trabalha pela realização desse desejo, o que constitui a explicação científica daquilo a que as criaturas, cheias de devoção mas alheias à filosofia, julgam ser as respostas favoráveis às preces atendidas.

Há ocasiões, embora presentemente raras, cm que o Karma da suplicante é tal que permite a proteção implorada lhe seja fornecida diretamente por um Adepto, ou discípulo deste, e ainda há o caso, bastante mais raro, da intervenção provir de um deva ou de qualquer espírito natural. Mas, em todos estes casos, o meio mais fácil e mais evidente de proporcionar esse auxílio, seria sempre o fortalecimento e direção inteligente do elemental já formado pelo desejo. Um exemplo curioso e instrutivo da extrema persistência destes elementais artificiais, dadas as circunstâncias favoráveis, foi recentemente observado por um dos nossos investigadores.

Todos os que se interessam por leituras acerca destes assuntos sabem que em muitas famílias antigas há a crença da existência de avisos fúnebres tradicionais, isto é, de qualquer fato que prediz, geralmente com antecedência de poucos dias, a aproximação do falecimento do chefe da família.

Temos um exemplo bem frisante no pássaro branco dos Oxenham que, desde o reinado da Rainha Isabel, pressagia com a sua aparição a morte de qualquer membro da família; e ainda outro no célebre carro espectral que, diz-se, para à porta de certo castelo do norte da Inglaterra, quando está iminente uma calamidade semelhante. É um fato desta ordem, embora menos flagrante e mais vulgar, que se produz na família de um dos nossos consócios: três dias antes da morte ouve-se no ar uma ária solene de música fúnebre.

O nosso colega, tendo ouvido duas vezes esses místicos acordes, e tendo reconhecido a exatidão do aviso, o que, aliás, ele sabia ser tradição secular da sua família, tratou de ver se descobria pelos métodos ocultos qual a verdadeira causa de tão estranho fenômeno.

O resultado das suas investigações teve tanto de imprevisto quanto de interessante. Aconteceu que pelos meados do século XII, o chefe da 49 família foi, como tantos outros bravos cavaleiros, para as cruzadas, e levou consigo, para que ganhasse cm tão sagrada causa as suas esporas de ouro, o filho mais novo, que era o seu favorito e um mancebo promissor, cuja felicidade e sucesso na vida era o mais ardente desejo do coração paterno. Infelizmente, porém, o cavaleiro moço morreu em combate e o pai ficou mergulhado no mais profundo desespero, lamentando não só a perda do filho querido, mas, principalmente, o fato de ele ter sido subitamente arrancado à vida, numa idade em que as paixões dominam e em que não se está espiritualmente preparado para ingressar no outro mundo.

E tão profunda e pungente foi a sua dor que, pondo de lado a armadura e o gládio, professou numa ordem religiosa, jurando votar o resto da vida à oração, pedindo pela alma do filho. E além disso, para que, de futuro, a nenhum dos seus descendentes viesse a acontecer o que ele, na sua simples e piedosa imaginação de crente, considerava um perigo terrível, isto é, ser arrebatado pela morte antes de estar para ela devidamente preparado. E dia após dia canalizou, em preces fervorosas, toda a energia da sua alma no sentido do seu desejo, crendo firmemente que, fosse como fosse, o resultado das suas preces haveria de ser o que ardentemente desejava.

Qualquer estudante de ocultismo terá a maior facilidade em adivinhar qual foi o efeito dessa corrente de pensamento tão firme e persistente. O nosso monge cavaleiro criou assim um elemental artificial de imenso poder e recursos inesgotáveis, e acumulou dentro deste uma reserva de força que permitiu a este a realização dos desejos do seu criador por largo espaço de tempo.

Um elemental é uma perfeita bateria de acumuladores — em que praticamente não há esgotamento de energia. Se atendermos ao valor da sua potência original e à raridade das ocasiões para a despender, não nos admiraremos de a vermos manifestando uma vitalidade, absolutamente intacta, avisando os descendentes do cruzado do fim próximo, por meio da estranha melodia que foi outrora, há setecentos anos, na Palestina, o canto fúnebre que levou à sepultura o jovem e heroico guerreiro.

2.º Elementais criados conscientemente

Vimos, no exemplo citado, como um indivíduo, mesmo sem saber o que faz, pode orientar a força do seu pensamento. Imagine-se agora o que pode fazer qualquer Adepto da magia que, conhecendo perfeitamente o assunto, sabe claramente o efeito que pode produzir com o pensamento. É fato assente que tanto os ocultistas da seita branca como os da negra se servem frequentemente de elementais artificiais nos seus trabalhos, e poucas tarefas há que não possam ser levadas a cabo por essas criaturas, quando cientificamente preparadas e habilmente dirigidas. Os industriados no assunto podem estabelecer uma relação com o seu elemental e guiá-lo, independentemente da distância em que se manifesta, de forma que o elemental agirá como se estivesse dotado com toda a plenitude da inteligência do seu criador.

Têm-se visto anjos da guarda extremamente ativos e nitidamente definidos, criados desta forma, mas é raro que o Karma permita intervenção tão direta na vida ide um homem. Todavia, acontece que alguns discípulos dos Adeptos que, no decurso da realização da missão que por eles lhes foi confiada, têm de afrontar perigos provenientes do ataque de forças muito superiores às suas, têm a seu lado um destes protetores, cujo poder formidável e incansável vigilância têm tido plena confirmação.

Por meio dos processos mais adiantados, os cultores da magia negra conseguem também a criação de elementais artificiais, e não têm sido pequeno o mal que tais entidades têm espalhado por este mundo. Mas também estes esbarram com a resistência daqueles cuja pureza de vida e de caráter os torna opacos à sua influência, e, por curiosa inversão, vão reagir com tremenda força sobre o seu criador.

A velha história do feiticeiro medieval esfacelado pelos demônios por ele invocados, não é de todo uma fábula inventada; pode mesmo encerrar um triste fundo de verdade. Semelhante ao que acontece com 50 as entidades artificiais estudadas no parágrafo anterior, também estas podem, por várias razões, escapar ao domínio daqueles que tentam utilizá-las, convertendo-se em demônios errantes.

Mas os elementais formados conscientemente são dotados de inteligência e de poder muito maiores; têm mesmo duração de vida muito superior aos outros, e por isso são muito mais perigosos. Buscam constantemente meios para prolongar a existência, quer alimentando-se, como vampiros, da vitalidade de seres humanos, quer influenciando-os a que façam oferendas, tendo conseguido mesmo em tribos semisselvagens que a ignorância dos negros os leve a reconhecê-las como deuses de uma povoação ou de uma família. Toda divindade que exige sacrifícios que importem a efusão de sangue, pode ser considerada como pertencente às classes mais inferiores e mais repugnantes desta categoria.

Outros tipos menos condenáveis contentam-se com oferendas de arroz e de alimentos cozinhados, de várias espécies. Na índia ainda hoje se encontra em algumas regiões qualquer das duas variedades, mas é natural que na África sejam relativamente muito mais numerosas. Graças ao alimento que colhem das oferendas e sobretudo à vitalidade que subtraem aos seus fiéis, podem continuar a prolongar a existência por muitos anos, ou mesmo séculos, conservando em si a força suficiente para de vez em quando produzir certos fenômenos insignificantes, com que vão estimulando a f é e o zelo dos seus adoradores, ou para os molestar e contrariar sempre que se descuidam na realização dos sacrifícios do costume.

Por exemplo, reconheceu-se recentemente que numa povoação da índia, sempre que por qualquer motivo à divindade local não era ofertado o alimento de costume, rebentavam entre as cabanas incêndios espontâneos, algumas vezes três ou quatro simultaneamente, em circunstâncias em que era impossível suspeitar se de qualquer intervenção humana. A qualquer leitor que conheça alguma coisa dos recônditos cantos dessa admirável região da índia, a mais maravilhosa e estranha de todas as regiões do Universo, decerto ocorrem outras histórias deste gênero.

A arte de fabricar elementais artificiais de extremo poder e grande virulência parece ter sido uma das especialidades dos feiticeiros da Atlântida — “os Senhores da face negra“. — Um exemplo das suas faculdades encontra-se na Doutrina Secreta (vol. II, pág. 427), em que se lê dos estranhos animais que falavam e que tiveram de se apaziguar com uma oferenda de sangue para que não fossem acordar os donos e preveni-los da sua próxima destruição. Mas além destes estranhos animais criavam também outras entidades artificiais cuja energia e cujo poder eram tamanhos que se pretende ainda existam alguns deles, apesar de se terem passado mais de onze mil anos desde que o terrível cataclismo destruiu os seus criadores originais.

à terrível divindade hindu cujos fiéis eram impelidos a cometer em seu nome os horrorosos crimes de Thuggee — a espectral e hedionda Káli, ainda hoje adorada com ritos cujo horror de pormenores não temos coragem de descrever — é talvez uma relíquia de um sistema que teve de ser aniquilado mesmo à custa da submersão de um continente inteiro que arrastou consigo sessenta e cinco milhões de vidas humanas.

3.° Artificiais humanos

Resta-nos considerar uma classe de entidades que, apesar de ser pouco numerosa, adquiriu, pela sua íntima conexão com um dos grandes movimentos dos tempos modernos, uma importância absolutamente desproporcionada para o número dos seus membros. Poderão suscitar-se dúvidas se as deveríamos incluir na primeira ou na terceira das nossas divisões principais.

Mas, apesar de humanas, estão distanciadas do caminho regular da nossa evolução, e são tão acentuadamente produtos de uma vontade estranha à própria vontade, que nos pareceu não errar incluindo-as entre os seres artificiais. A melhor maneira de as estudar é começarmos pela sua história, que nos faz voltar atrás, à grande raça atlântica. Ao pensarmos nos Adeptos e nas escolas ocultistas desse 51 notável povo, os nossos espíritos vão instintivamente para as práticas condenáveis dos seus últimos dias.

Mas não esqueçamos que antes dessa época de egoísmo e degradação, a poderosa civilização da Atlântida produziu muita coisa nobre e digna de admiração, e que entre os seus chefes alguns houve que hoje ocupam os pináculos mais elevados até agora atingidos pelo homem. Entre as Lojas de estudo oculto, preliminar para a iniciação, formadas pelos Adeptos da boa Lei, existia uma que era então tributária de um dos grandes monarcas atlânticos — “O Divino Senhor da Porta de Ouro”.

E apesar das muitas e estranhas vicissitudes por que tem passado, apesar de se ter visto forçada a mudar a sua sede de país para país, visto que todos estes iam sendo, por sua vez, invadidos pelos elementos discordantes de uma civilização mais recente, essa Loja existe ainda hoje, observando ainda o mesmo ritual primitivo desse mundo desaparecido — ensinando mesmo, como linguagem secreta e sagrada, a mesma língua da Atlântida, que se falava quando da sua fundação há muitos milhares de anos.

É ainda hoje o que foi no princípio: uma Loja de ocultistas de intenções puras e filantrópicas, que pode levar os estudantes que acha dignos ao caminho do verdadeiro conhecimento e, depois de várias e rigorosas provas das aptidões e qualidades do candidato, conferir-lhe certo número de poderes psíquicos ao seu alcance.

Os Mestres dessa Loja não estão no mesmo nível que os Adeptos, mas centenas dos seus discípulos têm aprendido lá a direção do Caminho que leva ao Adeptado em vidas subsequentes. E embora não faça parte da Irmandade dos Himalayas, há entre estes alguns irmãos que, em encarnações passadas, tiveram ligações com ela, e por isso se interessam com invulgar simpatia por suas atividades.

Os Dirigentes dessa Loja, embora se tenham mantido, eles e a sua sociedade, sempre em plano secundário, tem feito o que lhes tem sido possível em prol do progresso da verdade no mundo. Há pouco mais ou menos meio século, para contrabalançar a onda rastejante de materialismo que ameaça afogar toda a espiritualidade na Europa e na América, resolveram combatê-lo por métodos um tanto ou quanto inéditos — de modo que oferecessem a qualquer indivíduo dotado de raciocínio oportunidade para a obtenção da prova absoluta da existência de uma vida independente da do corpo, existência que a Ciência se comprazia em negar.

Os fenômenos exibidos não eram em si absolutamente novos, visto que a história aqui e acolá, desta ou daquela maneira, nos fala deles; mas a sua organização definida e o fato de poderem ser provocados, por assim dizer, à ordem, deram-lhes um caráter completamente inédito para o mundo moderno.

O movimento assim iniciado foi-se estendendo gradualmente até dar esse vasto edifício do espiritismo moderno. Se é certo que não seria justo atribuir aos iniciadores do plano a responsabilidade direta de muitos dos resultados que se seguiram, certo é que realizaram o seu objetivo sob o ponto de vista da conversão de grandes massas de gente, desviando-as da descrença absoluta para a fé sólida em qualquer espécie de vida nova futura.

E isto é, só por si, um resultado maravilhoso, apesar da opinião daqueles que sustentam que foi obtido por um custo demasiado alto. O processo usado constituiu em tomar uma criatura vulgar depois da morte, torná-la plenamente consciente, no plano astral, mostrar-lhe, dentro de certos limites, os poderes e as forças desse plano, e em seguida confiar-lhe a direção de um círculo espiritista. Essa criatura, por sua vez, “desenvolvia” da mesma forma outras personalidades falecidas, e todas reunidas atuavam sobre as pessoas que assistiam às sessões e as “desenvolviam” como médiuns.

Assim cresceu e progrediu o espiritismo. Sem dúvida, alguns membros vivos da Loja original manifestaram-se por vezes na forma astral, em alguns desses círculos — talvez ainda o façam hoje; mas na maior parte dos casos limitaram-se a dirigir e a guiar aqueles a quem tinham confiado a direção.

Não há dúvida que o movimento se propagou muito mais rapidamente e tomou incremento muito maior do que esperava, e tanto assim que em breve se subtraiu à sua direção. Por isso afirmamos que não se lhes devem atribuir responsabilidades diretas em muitos dos resultados desse movimento. Evidentemente, a intensidade anormal da vida astral suscitada nesses “guias”, retardava-lhes consideravelmente o progresso natural. E, embora a idéia de que o karma bom gerado com o auxílio que eles davam aos investigadores da verdade devia, em parte, compensar esse atraso, veio, contudo, a reconhecer-se que não se podia empregar o mesmo “espíritoguia” por muito tempo sem que isso lhe fosse altamente prejudicial. Recorreu-se às substituições; mas, por vezes, quando qualquer motivo não permitia a troca, recorreu-se a um expediente notável, e foi dele que nasceu a classe a que chamamos “artificiais humanos”.

Permitiu-se que os princípios superiores do “guia” original prosseguissem na sua evolução retardada e passassem para o mundo-céu, mas lançou-se mão da sua sombra abandonada, vivificando-a de maneira a que “o guia” aparecesse no círculo dos seus admiradores aparentemente como antes. Parece que isto a princípio foi desempenhado pelos próprios membros da Loja, mas chegou-se à conclusão, tanto quanto nos é lícito afirmar a esse respeito, que tal disposição era, não sabemos se muito penosa e contraproducente, ou se dava lugar a grande desperdício de força e mesmo se objetava contra a criação de um elemental artificial.

De modo que se decidiu que a pessoa designada para suceder ao guia precedente se desempenharia do seu trabalho, mas apoderando-se da sombra, ou do invólucro, do antecessor tendo, portanto, deste, apenas a aparência. Diz-se que alguns membros da Loja se opuseram a isto, porque, apesar da pureza da intenção, a execução envolvia qualquer coisa de fraude. Mas a opinião geral parece ter sido a de que, visto a sombra permanecer a mesma e continuar a conter uma parte da mente inferior, não havia afinal uma verdadeira fraude.

Foi esta a gênese das entidades humanas artificiais. Parece que na maioria dos casos estas substituições não levantaram a menor suspeita. Mas houve casos em que alguns investigadores do espiritismo notaram, passado bastante tempo, certas diferenças, que subitamente se revelaram, na maneira e disposição do “espírito”.

É inútil dizer que nenhum dos membros da Irmandade dos Adeptos contribuiu em qualquer ocasião para a criação de entidades artificiais desta espécie, mas não podiam evitar que alguém, com condições para isso, se lembrasse de o fazer. O ponto fraco deste processo consiste na facilidade com que outros o podem adotar e na dificuldade em se evitar que os magos negros criem “espíritos” de comunicação à sua vontade, e nunca é com boas intenções que o fazem.

E sabe-se que já o têm feito. Termina aqui o estudo dos habitantes do plano astral. Com as reservas já mencionadas algumas páginas atrás, pode considerar-se bastante completo o catálogo apresentado. Mas não é demais insistir no fato de que este manual não passa de um esboço, a traços largos, de um assunto de grande vastidão, que exigiria uma vida inteira de estudo e de árduo trabalho para dele se fazer um tratado completo e sem omissões. (1)

São sete os princípios constitutivos da natureza humana. Para elucidação do leitor, damos a seguir uma relação dos mesmos, segundo os compêndios teosóficos mais fidedignos: Tríada Superior, a espiritual: Atma., ou Espírito; Buddhi, ou Intuição o principio crístico; Afanas, ou o Pensador, a Inteligência.

Quaternária Inferior, a Personalidade Mortal: Kama, ou natureza passional e emocional; Prana, ou Vitalidade, energia vital; Duplo Etérico, ou Veículo de Prâna; e o Corpo Etérico. (2) “Barretes vermelhos”. (3) “Barretes amarelos”. 53 (4) Os grandes Mestres das esferas nirvânicas, que guiam a evolução da humanidade. (N. do T.) (5)

A Chave da Teosofia (6) Ver Auxiliares Invisíveis de C.W. Leadbeater (*) A raça Ariana. (N. do T.) 54 FENÔMENOS De um ponto de vista, este deveria ter sido o primeiro capítulo de nosso livro, e não o último, pois foi da consideração de tema que lhe serve de título que tudo o mais surgiu. Devo minha introdução à Teosofia nesta encarnação ao nosso então Vice–Presidente da Sociedade Teosófica, o Sr. A. P. Sinnett, que sempre foi excepcionalmente gentil para comigo, e com quem eu usava encontrar-me todo domingo de manhã, em sua biblioteca, para discutirmos assuntos teosóficos.

Numa dessas ocasiões ele casualmente comentou que pensava que os ensinos teosóficos até então transmitidos a nós não abrangiam ou não computavam muitos dos fenômenos espíritas que ambos havíamos presenciado repetidamente. Um tanto surpreendido por esta hipótese, eu sustentei vigorosamente a opinião de que eram satisfatoriamente abrangidos, e passei a dar exemplos.

O Sr. Sinnett pareceu-me favoravelmente impressionado, e pediu-me que fizesse uma conferência na Loja de Londres, expondo meus pontos de vista. Concordei em fazê-lo, mas quando comecei a preparar essa conferência, logo notei que para me tornar inteligível deveria principiar por uma descrição geral do mundo astral como um todo, com suas condições e os poderes e possibilidades de seus habitantes.

Compreendi que havia assumido um compromisso maior do que o intentava; mas claramente era uma tarefa que tinha de ser feita, e assim pude prosseguir e levá-la a cabo com a melhor de minhas habilidades. O resultado foi uma conferência nessa Loja, que apareceu em sua Ata n.o 24.

A Dr.ª Besant, que então estava publicando uma série de Manuais Teosóficos, foi bastante gentil para incluir este ensaio como um desses manuais; daí o seu aparecimento na forma presente. Embora no decurso deste manual tenhamos mencionado, e até certo ponto explicado, vários fenômenos super físicos, não queremos terminá-lo sem fazer, quanto mais não seja, uma enumeração dos fenômenos que frequentemente se apresentam ao investigador, e mostrar quais são, das que descrevemos, as entidades que mais geralmente os originam.

E dizemos “mais geralmente”, porque os recursos do mundo astral são tão variados e complexos que quase todos os fenômenos a que vamos referir podem ser produzidos de muitas maneiras. Esta peculiaridade torna impossível a apresentação de regras fixas sobre tal assunto.

As aparições ou fantasmas fornecem uma esplêndida confirmação do que acabamos de afirmar, visto que, atendendo à maneira vaga e lata como esses termos têm sido usados, eles se podem aplicar indistintamente a qualquer habitante do plano astral.

Escusado será dizer que as pessoas psiquicamente desenvolvidas veem esses fantasmas constantemente; mas para que a uma criatura vulgar possa “aparecer um fantasma”, segundo a expressão corrente, é necessário ou que esse fantasma se materialize ou que essa criatura tenha momentaneamente um relâmpago de percepção psíquica.

É apenas devido ao fato de nenhum destes dois casos ser vulgar que nós todos não estamos constantemente a encontrar espectros nas ruas, com a mesma frequência com que encontramos gente de carne e osso. Espectros no Cemitério. — O espectro que paira sobre uma sepultura é geralmente o invólucro etérico de um recém-enterrado, mas pode também ser o corpo astral de um vivo que, durante o sono, vá para junto de um amigo morto; ou ainda uma forma pensamento materializada —• isto é, um elemental artificial criado pela energia com que um homem pensa de si mesmo como presente num determinado lugar.

Para qualquer pessoa habituada a servir-se da visão astral, é facílimo distinguir a qual das três espécies pertence o espectro; porém, para quem é pouco prático, à aparição chamará vagamente “um espectro”. Aparições de Moribundos. — As aparições no momento da morte não são de todo raras, e muitas vezes são verdadeiras visitas feitas pelo corpo astral do moribundo no momento que precede imediatamente à morte, e que nós chamamos o momento da dissolução. Também neste caso podem ser formas pensamentos chamadas à vida pelo desejo ardente do moribundo em ver um ente querido, antes de ingressar num mundo desconhecido.

Há exemplos dessa visita ser feita logo depois da morte, e não imediatamente antes, e neste caso o visitante é realmente um espectro; mas, devido a causas várias, esta forma de aparição é muitíssimo menos frequente que a outra. Lugares Assombrados. — As aparições num local onde se cometeu um crime são geralmente formas-pensamentos projetadas pelo criminoso, que, vivo ou morto, mas especialmente depois de morto, revolve constantemente na mente as circunstâncias do delito.

Como é, em geral, nos aniversários do crime que esses pensamentos são mais vívidos, é muitas vezes nesses dias apenas que os dementais artificiais que ele cria têm a força suficiente para se materializar à vista ordinária — fato que explica a periodicidade das aparições em certos lugares.

Os criminosos inveterados estão frequentemente demasiado endurecidos para se comoverem ante um crime particular, mas nesse caso outros fatores poderiam intervir. Ainda a respeito de aparições em certos pontos, observa-se que em qualquer parte onde uma comoção mental de grande violência, medo, dor, ódio, ou qualquer paixão intensa, se fez sentir, grava-se na luz astral uma impressão tão forte que qualquer pessoa, mesmo fracamente dotada sob o ponto de vista psíquico, não pode deixar de se sentir fortemente impressionada ao visitar esse lugar.

Bastaria um pequeno aumento de sensibilidade para que toda a cena se desenvolvesse — para se ver o acontecimento apresentar-se em todos os seus detalhes como se realmente estivesse se dando naquele momento — e nesse caso não faltaria quem dissesse que aquele local estava assombrado, e que tinha visto uma “alma do outro mundo”.

É certo que há pessoas que não têm a visão psíquica desenvolvida, porém que, no entanto, se sentem forte e dolorosamente impressionadas quando passam por locais deste gênero gente, por exemplo, que se sente pouco à vontade ao passar por lugares onde se fizeram execuções capitais, como a Tyburn Trec, ou ao entrar na Sala dos Horrores de Madame Tussaud, e que não imagina que esse mal-estar é devido às cenas trágicas impressas na luz astral, em volta de locais e de objetos impregnados de crime ou de horror, e também à presença das repugnante entidades astrais que povoam em multidão esses locais.

Espectros de família

O espectro de família, personagem certo nas histórias tradicionais dos castelos feudais, pode ser ou uma forma pensamento, ou uma impressão de rara vividez na luz astral, ou mesmo o espectro de um antepassado que, ainda ligado às coisas terrestres, se compraz em ver reviver as cenas em que em vida centralizou os seus pensamentos e esperanças.

Soar de campainhas, remessa de pedras, etc. — Ouvir de repente o ruído de uma pedra arremessada, não se sabe donde, ou o soar súbito e inexplicável de campainhas, é um outro fenômeno, a que já nos referimos, e que é quase invariavelmente obra das forças elementais, quer postas em ação cegamente pelos esforços mal orientados de qualquer ignorante tentando atrair a atenção dos amigos que lhe sobreviveram, ou ainda intencionalmente pela malícia infantil de qualquer espírito natural.

Fadas

São também os espíritos naturais os responsáveis pelo que pode haver de verdadeiro nessas estranhas histórias de fadas, tão comuns em certas regiões. Umas vezes, um acesso temporário de clarividência, que não é nada raro entre os habitantes das regiões montanhosas, permite a um viandante retardado presenciar as alegres brincadeiras das fadas. Outras vezes são verdadeiras partidas feitas a qualquer vítima, cheia de terror, como por exemplo, quando, por efeito de um encanto, a fazem ver casas e gente em locais onde se sabe nada disso existir.

Por vezes, isto ultrapassa a simples ilusão de um instante, porque um homem passa frequentemente por uma longa série de aventuras, tão imaginárias como singulares e flagrantes para de repente ver que todo o brilhante cenário das suas aventuras se esvai num instante, e encontrar-se sozinho, em qualquer vale solitário ou numa planície batida pelo vento. Mas não devemos dar crédito a todas as lendas populares a este respeito, porque na maior parte dos casos há a juntar aos preconceitos da gente do campo a mais grosseira superstição, como às vezes tem acontecido com terríveis casos de assassinato.

São estas mesmas entidades a origem dos chamados fenômenos das sessões espíritas — e realmente muitas sessões têm sido inteiramente dadas pela malícia destas criaturas. As habilidades realizadas nestas sessões são muito variadas: respostas a perguntas, entrega de pseudo-mensagens por meio de pancadas ou de oscilações de uma mesa, exibição de clarões e de luzes, remessas de objetos de longe, leituras de pensamentos dos circunstantes, precipitação de escritos ou desenhos e até materializações. Tudo isto pode ser feito por um espírito natural, sem o mínimo auxílio; bastaria que um deles se quisesse dar a esse trabalho para nos dar uma sessão que excederia as mais notáveis que se conhecem.

Porque, embora alguns dos fenômenos fossem para ele de difícil execução, em compensação, o seu poder de ilusão é tal que lhe permitiria fazer crer sem dificuldade aos assistentes na realidade desses fenômenos, a não ser que entre estes houvesse algum observador competente, conhecedor dos processos dos espíritos naturais e capaz de os confundir. Como regra geral, podemos inferir que sempre que numa sessão espiritista aparecem esses truques tolos e essas travessuras, é certa a intervenção ou de um espírito natural de categoria inferior, ou então de seres humanos cuja degradação chegou a tal ponto que, durante a vida, se sentiam felizes nesses espetáculos ridículos.

Comunicações por meio de entidades astrais

Quanto às entidades que podem “comunicar-se” numa sessão ou obsedar e falar através de um médium em êxtase, pode dizer-se que constituem verdadeira legião. Dificilmente se achará uma classe de entidades astrais que não possa fornecê-las, mas, pelo que já se disse, compreende-se bem que raras vezes essas entidades pertencem às categorias elevadas.

Um “espírito” que se manifesta, é algumas vezes o que se julga ser, mas outras vezes não é nada disso; e não é qualquer assistente que pode distinguir o trigo do joio, porque são tantos e tão variados os recursos para iludir de que dispõem os habitantes do plano astral, que nem sequer se pode confiar naquilo que por vezes parece uma prova irrefutável. Se aparece qualquer coisa que se anuncia, por exemplo, como o irmão há muito tempo morto de um indivíduo, este nunca pode ter a certeza de que assim seja.

Pode o espírito contar um fato apenas conhecido dos dois irmãos, mas isto não e convincente, porque a informação pode ter sido lida em sua própria mente ou na luz astral circundante. Se o pseudo-irmão vai ainda mais longe e conta qualquer pormenor da sua vida, desconhecido do outro, mas cuja exatidão este pode em seguida verificar, também lhe é lícito duvidar, porque todos os fatos de todas as vidas estão gravados nos arquivos astrais, ou pode ser a sombra do irmão, e portanto, possui a sua memória, e não ele próprio.

Ninguém nega que em muitas sessões espiritistas têm sido feitas comunicações por pessoas que são realmente as próprias. Mas o que quisemos afirmar foi que para qualquer pessoa inexperiente que assiste a uma dessas sessões, nunca é possível saber quantas vezes está realmente sendo cruelmente enganada ou não, e por que maneiras é posta à prova a sua boa fé. Em um número limitado de casos, alguns membros da Loja oculta a que nos referimos deram, por intermédio de um médium, uma série de ensinamentos preciosos sobre interessantíssimos assuntos, mas sempre cm sessões estritamente particulares e nunca em reuniões públicas e muito menos pagas.

Recursos astrais.

— Para se fazer uma ideia dos processos pelos quais se produz a maior parte dos fenômenos físicos, é necessário conhecer os variados recursos mencionados acima, que estão à disposição de um indivíduo que opere no plano astral. É, no entanto, um ramo do assunto que não é fácil esclarecer completamente, tanto mais que há a este respeito certas restrições, cuja necessidade é evidente.

Servir-nos-á de auxílio recordar que o plano astral pode ser considerado, sob muitos pontos de vista, uma extensão do plano físico, e a ideia de que a matéria pode passar ao estado etérico — que, apesar de invisível e intangível não deixa de ser puramente física — pode fazer-nos compreender como um plano se funde no outro. Segundo a maneira como os hindus concebem Jâgrat, “o estado de vigília”, os planos físicos e astral estão combinados, correspondendo as sete subdivisões deste aos quatro estados da matéria física e às três grandes divisões da matéria astral, a que já nos referimos.

Aceito isto, podemos avançar mais um passo e compreender que se pode definir a visão astral, ou antes, a percepção astral, como “a faculdade de receber um número muito mais considerável de diferentes espécies de vibrações”. Fisicamente, somos sensíveis a certo número de vibrações que nos afetam como som e a outro grupo de vibrações muitíssimo mais rápidas que nos afetam como luz, e ainda há a espécie de vibrações elétricas. Mas existem ainda vibrações intermediárias que em nada nos afetam os sentidos e de que nem sequer temos conhecimento.

Compreende-se bem que se todas estas vibrações intermediárias, ou mesmo apenas algumas delas, com todas as complicações resultantes das diferenças possíveis dos respectivos comprimentos de onda, são perceptíveis no plano astral, a nossa compreensão da natureza deve aumentar consideravelmente nesse meio, e por isso nos serão reveladas muitas noções que no plano físico nos são inacessíveis.

Clarividência

Admite-se que algumas dessas vibrações atravessem facilmente a matéria sólida, o que permite explicar cientificamente as particularidades da visão etérica; mas para a visão astral, a melhor explicação é fornecida pela teoria da quarta dimensão. É claro que basta possuir a faculdade da visão astral para se poder realizar coisas que parecerão verdadeiros milagres, como, por exemplo, a leitura de um trecho de um livro fechado. Se a isto acrescentamos que esta faculdade inclui o poder de ler os pensamentos, e ainda, quando combinada com o conhecimento de projeção de correntes na luz astral, o de observar um objeto desejado em quase qualquer parte do mundo, compreendesse bem que é extremamente fácil a explicação de muitos dos fenômenos de clarividência.

Quem deseje mais pormenores acerca deste assunto, encontrá-los-á no meu livro sobre Clarividência, em que, a par de muitos exemplos, se encontram catalogadas todas as suas variedades. Previsão e segunda vista. — A clarividência verdadeira, treinada e absolutamente segura, inclui a atividade de uma série de faculdades totalmente diferentes; mas como estas pertencem a um plano mais elevado do que o astral, estão fora do nosso assunto.

A faculdade da previsão rigorosa pertence também a esse plano superior; contudo, aparecem às vezes à pura vista astral alguns reflexos ou relâmpagos seus, principalmente entre gente de espírito simples, que vive em condições apropriadas, constituindo o que se chama “segunda vista”, que, como é notório, se encontra muito entre os habitantes das montanhas da Escócia.

Outro fato que não deve esquecer-se é que qualquer habitante do plano astral, dotado de inteligência, pode perceber estas vibrações etéricas, e além disso — se aprendeu a fazê-lo — adaptá-las aos seus fins ou pô-las em ação. Forças astrais. — Compreende-se claramente que no tempo presente não se possa escrever muito acerca destas forças suprafísicas e dos processos da sua utilização, embora haja razão para supor que não tardará o tempo em que muitas das suas aplicações se tornem do domínio público.

Podemos, no entanto, sem transpor os limites do que é permitido, dar delas uma ideia 58 geral suficiente para que, a traços largos, se possa compreender a gênese de certos fenômenos.

Todos aqueles que têm assistido com frequência a sessões espiritistas têm, decerto, notado uma vez ou outra o emprego de forças verdadeiramente irresistíveis, como, por exemplo, no levantamento instantâneo de pesos enormes. Muitos, principalmente aqueles cujas mentes raciocinam e buscam nos fenômenos uma razão cientificamente plausível, hão de dar tratos à imaginação para saber donde veio essa força, agindo como poderosa alavanca. Dentre os vários meios pelos quais estes fenômenos de caráter astral podem ser obtidos, parece-nos suficiente citar quatro:

1.º — Correntes etéricas

Percorrendo o mundo, em grandes ondas, varrendo-o de polo a polo, em grandes massas, o que as torna tão irresistíveis como as marés montantes, existem grandes correntes etéricas, cuja irresistível força pode ser utilizada sem perigo, embora as tentativas inábeis, em que não se consiga dominá-las completamente, possam redundar em verdadeiras catástrofes.

2.º — Pressões etéricas

Correspondente em parte, mas de intensidade imensamente superior, à pressão atmosférica, existe também uma pressão etérica. Ordinariamente ninguém dá por ela, pelo mesmo motivo de que ninguém se apercebe da existência da pressão atmosférica; e se fosse possível fazer o vácuo completo, isto é, extrair também o éter de um determinado espaço, como é possível fazer-se ao ar, a existência dessa pressão etérica se tornaria tão evidente como a da outra. Esse isolamento do éter têm sido impossível até hoje aos físicos, atendendo à faculdade que ele tem de interpenetrar toda a matéria num estado de menor rarefação que o seu. Mas o Ocultismo sabe fazê-lo, e é graças aos seus processos que a pressão etérica pode ser vista em ação,

3.º — Energia latente

Há vastas reservas de energia potencial que, durante a evolução do sutil para o grosseiro, se acumularam na matéria no estado latente. Essa energia pode ser liberada e utilizada, à semelhança do que se faz com a matéria física, a cujas mudanças de estado corresponde uma liberação de energia latente, sob a forma de calor.

4.° — Vibração simpática

Há casos flagrantes que se produzem por uma extensão do princípio a que se pode chamar “vibração simpática”. Mais uma vez vamos apresentar um exemplo elucidativo, tirado do mundo físico, embora muito amiúde tais exemplos sirvam mais para dar uma ideia falsa dos fenômenos astrais do que verdadeira. Contudo, alguns fatos extremamente simples podem ajudar-nos a compreender esta ação importantíssima, contanto que não levemos a analogia demasiado longe.

É sabido que, fazendo vibrar uma corda de uma harpa, as cordas correspondentes de quantas harpas estejam junto da primeira vibrarão também, se estiverem na mesma afinação. Igualmente, é fato conhecido que é sempre de passo trocado que uma grande corporação do exercite atravessa uma ponte suspensa, porque, do contrário, a regularidade da marcha ordinária comunicaria à ponte uma vibração oscilatória que iria aumentando a cada passo, até vencer a resistência do ferro e fazer rebentar a estrutura metálica.

Com estas duas analogias bem em mente (sem esquecer que não passam de analogias parciais), compreende-se que aquele que saiba bem qual a espécie de vibrações a produzir — que, por assim dizer, conheça a totalidade da matéria sobre a qual quer agir — pode, ferindo a nota justa, despertar uma grande quantidade de vibrações simpáticas.

Quando isto se faz no plano físico, não se desenvolvem energias suplementares; mas no plano astral, visto a matéria que o compõe ser muito menos inerte, e assim, quando ativada por estas vibrações simpáticas, adiciona sua força viva ao impulso original, que assim pode ser multicentuplicado.

E por uma repetição rítmica deste primeiro impulso — como na passagem da ponte — as vibrações podem tomar uma intensidade verdadeiramente desproporcional à causa inicial. Pode mesmo dizer-se que, nas mãos de um grande Adepto, que lhe conheça plenamente os recursos, esta força não tem limites, visto que a própria construção do Universo não é mais do que o resultado das vibrações despertadas pelo Verbo Falado. Montras. — A classe de mantras, ou fórmulas mágicas, que produzem efeito sem auxílio de um elemental, mas apenas pela repetição de certos sons, deve a sua eficácia a esta ação das vibrações simpáticas. Desintegração. — Este fenômeno pode ser obtido também pela aplicação de vibrações extremamente rápidas, que destroem a coesão das moléculas do objeto que sofre a desagregação.

A decomposição das moléculas em átomos é devida a vibrações de um tipo diferente, de velocidade ainda maior. Um corpo reduzido por este meio ao estado etérico, pode ser deslocado de um ponto para outro, com incrível velocidade, pelas correntes astrais, e logo que cessa de atuar a forma que o eterizou, a pressão etérica o leva ao estado primitivo. Muitos principiantes têm dificuldade em perceber como é que se consegue, nestas experiências, que o objeto retome, cessada a força desintegradora, a forma primitiva.

Realmente, observa-se com razão que, quando um objeto metálico — uma chave por exemplo — é fundida pelo calor, um abaixamento conveniente de temperatura fá-la voltar, é certo, ao estado sólido, mas reduzida à massa informe, em que nada existe da primitiva chave. A objeção parece de valor, mas a analogia é que não é completa.

A energia elemental, que anima a chave, dissipa-se realmente nessa mudança de estado, não porque sofra diretamente a influência do calor, mas porque, destruído o seu corpo sólido temporário, volta ao grande reservatório comum, donde sai toda a essência elemental.

Tal é o que acontece aos princípios superiores do homem, que, apesar de insensíveis aos efeitos do frio e do calor, se libertam do corpo quando o fogo o destrói. Por consequência, quando aquilo que era uma chave passa de novo, por um resfriamento, ao estado sólido, a essência elemental (da “terra”, ou da espécie sólida), que reflui para ela, não é a mesma que a chave continha, e portanto, não há razão para que a massa metálica solidificada retome a forma que tinha.

Mas um operador que queira desintegrar a chave com o fim de a fazer transportar por uma corrente astral, terá o cuidado de manter na sua forma a essência elemental, até que se realize o transporte. E ao suspender o esforço da sua vontade, essa essência elemental constituirá uma espécie de molde em que fluirão as partículas em via de solidificação, ou antes, em volta do qual elas se reagregarão. E assim se conservará a forma primitiva sempre que o poder de concentração do operador se mantenha firme.

É deste modo que se consegue o transporte quase instantâneo dos objetos de grandes distâncias, nas sessões espíritas, e é evidente que, uma vez desintegrados, passam perfeitamente através de qualquer substância sólida como, por exemplo, uma parede ou uma caixa fechada à chave.

De forma que a chamada “passagem da matéria através da matéria” é tão simples de compreender como a passagem da água através de um filtro, ou, como se vê em muitas experiências químicas, a passagem de um gás através de um líquido. Materialização. — Tal como é possível, por uma alteração de vibrações, fazer passar um corpo do estado sólido ao estado etérico, igualmente é possível o inverso.

O primeiro processo explica o fenômeno de desintegração, e o segundo o de materialização. Assim como no primeiro caso é necessário um esforço continuando de vontade para evitar que objeto retome o estado primitivo, também no segundo fenômeno é necessário um esforço contínuo para evitar que a matéria materializada recaia no estado etérico.

Nas materializações espiritistas, a matéria necessária ao fenômeno é fornecida pelo duplo etérico do médium, com grave prejuízo à sua saúde e outros inconvenientes ainda mais perigosos. É por isso que a figura materializada se mantém sempre nas proximidades do médium, e está sujeita a uma atração tendente a afastá-la dele para o corpo donde veio.

De sorte que, se permanecer muito tempo longe do médium, a figura esvai-se e a matéria que a compunha, voltando ao estado etérico, precipita-se instantaneamente para a sua origem. Em alguns casos não há dúvida de que esta materialização temporária se faz à custa da matéria densa e visível do corpo do médium, transferência de matéria de explicação e de compreensão realmente difíceis. Eu próprio já vi este fenômeno, em condições tais que não me era lícito duvidar, comprovado por uma diminuição considerável de peso do corpo físico do médium. Exemplos semelhantes podem ver-se no trabalho do Coronel Olcott People from the Other World (1)e em Um Cãs de Dé-matérialisation (2) de M. A. Aksakow.

Vantagens da escuridão

Compreende-se a razão por que os seres que dirigem uma sessão preferem operar na escuridão, ou pelo menos, sob uma luz extremamente tênue. Efetivamente, não teriam o poder suficiente para manter materializada uma figura, ou mesmo “a mão de um espírito”, mais do que durante alguns segundos, se se operasse sob a ação das vibrações intensas de uma luz brilhante. Fotografias de espíritos. — Os frequentadores das sessões espíritas hão de ter notado que há três espécies de materialização: 1.ª, as quais são tangíveis, mas invisíveis; 2.ª, as visíveis, mas intangíveis; 3.a, as tangíveis e visíveis.

À primeira, que é a mais numerosa, pertencem as mãos invisíveis, que tantas vezes acariciam os assistentes ou transportam objetos de pequenas dimensões de um lugar para outro da sala e os órgãos vocais que produzem a “voz direta”. Neste último caso, emprega-se uma modalidade da matéria que não intercepta, nem reflete a luz, mas é suscetível de despertar na atmosfera vibrações que afetam como som. Uma variante desta classe é a espécie de materialização parcial que, não podendo refletir nenhuma luz visível, afeta, contudo, os raios ultravioletas e pode sensibilizar uma chapa, dando–nos as chamadas “fotografias de espíritos”.

Quando o poder é insuficiente para produzir uma materialização perfeita, obtêm-se formas vaporosas que constituem a classe dos visíveis mas não tangíveis, e neste caso os “espíritos” previnem sempre os circunstantes de que não devem tocar nas aparições.

Quando, o que é mais raro, a materialização é completa, é que a força é suficiente para manter, pelo menos durante instantes, formas que podem ser ao mesmo tempo visíveis e tangíveis. Se um Adepto ou um discípulo tem necessidade de materializar o seu veículo astral ou mental, não precisa recorrer à matéria do seu duplo etérico, nem ao de ninguém, porque sabe como extrair a matéria de que necessita do éter circundante.

Reduplicação. — É outro fenômeno que tem íntimas relações com esta parte do nosso assunto. Resume-se em formar uma imagem mental perfeita do objeto a copiar e a. reunir em volta deste molde a matéria astral e física necessárias. Naturalmente, para se chegar a isto, é necessário que todas as partículas interiores e exteriores estejam sempre simultaneamente presentes na mente, o que exige um poder de concentração considerável. Criaturas ignorantes da maneira como se pode extrair diretamente a matéria do éter circundante, tem-na ido buscar muitas vezes ao objeto primitivo, que neste caso sofre a diminuição de peso correspondente.

Precipitação. — Em muitas obras teosóficas fala-se em precipitação de cartas e de imagens, (3) que se pode obter por vários processos. Um Adepto que deseje comunicar-se com alguém, limita-se a colocar diante de si uma folha de papel em branco e formar uma forte imagem mental do que deseja que lá apareça escrito, e depois extrair do éter a matéria necessária com que materializar essa imagem. Ou se o prefere, pode, com a 61 mesma facilidade, obter resultado idêntico sobre uma folha de papel colocada em frente do seu correspondente, seja qual for a distância que os separe.

Um terceiro processo, que por sua simplicidade é o mais usado, consiste em imprimir todo o conteúdo da carta na mente de um discípulo, e deixá-la fazer o trabalho puramente mecânico de precipitação.

O discípulo tomará a folha de papel e imaginando que vê a carta nas mãos do Mestre, procederá à materialização das palavras, tal como se disse. E se achar difícil realizar simultaneamente as duas operações — extração da matéria., do éter e precipitação da escrita — poderá pôr junto dele, em cima da mesa, uma pequena quantidade de tinta ou de pó colorido, que serão de mais fácil emprego, visto estarem já no estado de matéria densa.

Um tal poder se tornaria, evidentemente, muitíssimo perigoso nas mãos de uma criatura sem escrúpulos, visto que é tão fácil imitar a caligrafia de um indivíduo como a de outro qualquer, e seria impossível pelos meios comuns descobrir uma falsificação cometida desta forma. Um discípulo que trabalhe definitiva e regularmente com um Mestre, possui sempre um sinal infalível para reconhecer se uma mensagem vem deste ou não, mas ou outros não têm outras provas além das fornecidas pelo conteúdo da carta e pelo espírito que a anima, porque a caligrafia, por mais parecida que seja, não têm o menor valor como prova. Quanto à rapidez da precipitação, um discípulo pouco treinado apenas poderia mentalizar algumas palavras por vez, de sorte que levaria o mesmo tempo a mentalizar a carta que se a escrevesse com pena e tinta, mas um indivíduo mais experimentado formaria simultaneamente a imagem de uma página inteira e desempenhar-se-ia da sua tarefa com grande facilidade e rapidez.

É desta maneira que às vezes numa sessão espiritista se produz uma carta em apenas alguns segundos. Se se tratasse da precipitação de um quadro qualquer, o processo seria o mesmo, com a diferença que, neste caso, é necessário um poder de visão que abranja simultaneamente toda a cena.

E caso haja a empregar muitas cores, o trabalho complica-se com o acréscimo da sua composição, separação e da reprodução exata dos tons. Evidentemente, num trabalho desta ordem entra a bossa artística do operador e não se julgue que qualquer habitante do plano astral pode igualmente fazer um trabalho perfeito.

Um indivíduo que na vida terrena tivesse sido artista, tem, evidentemente, faculdades mais desenvolvidas neste ponto, e está, portanto, em condições de ser muito mais feliz num trabalho deste gênero do que qualquer outro que, nunca se tendo dedicado a questões artísticas no plano físico, tentasse, quando no astral, fazer uma destas precipitações.

Escrita em ardósias. — A escrita em ardósias, executada com garantias que excluíam qualquer ideia de fraude tem feito a fama de muitos médiuns e pode também ser executada por este processo de precipitação. Mas o método mais seguido consiste em fazer guiar o lápis pela mão de um espírito, da qual estão materializadas apenas as pontas dos dedos, estritamente necessárias para o segurar. Levitação. — A levitação, isto é, suspensão de um corpo no ar, sem qualquer apoio aparente, é muito frequente nas sessões espíritas, e mais ainda entre os iogues orientais.

Quando realizada por um médium, o seu corpo é muitas vezes seguro por “mãos de espíritos”, mas há um processo mais científico que também é usado no Oriente e ocasionalmente entre nós.

Consiste apenas no emprego da faculdade que a ciência oculta descobriu, de neutralizar, e por assim dizer, mudar o sentido da atração da gravidade, o que permite a execução simplicíssima de todos os fenômenos de levitação. Foi sem dúvida o conhecimento deste segredo que permitiu que as naves aéreas do antigo Egito e da Atlântida se elevassem da terra e adquirissem aquela leveza que as tornava facílimas de manejar e dirigir.

É provável também que fosse o conhecimento das forças sutis da natureza o que facilitou o trabalho daqueles que elevaram os enormes 62 blocos de pedra empregados na arquitetura ciclópica ou na construção das majestosas pirâmides do Egito.

Luzes de espíritos

Com o conhecimento das forças da natureza que os recursos do plano astral colocam à disposição de seus habitantes, é facílima e a produção das chamadas “luzes de espíritos”, quer se trate de uma simples luz fosforescente ou da deslumbrante variedade elétrica, ou ainda desses curiosos glóbulos luminosos, dançantes, em que certas classes de dementais se transformam facilmente. Visto que a luz, seja ela qual for, é o resultado de vibrações do éter, é evidente que quem quer que saiba produzir essas vibrações, obtém a espécie de luz que deseja.

Manejo do fogo

É com a ajuda da essência elemental etérica que também se produz esse notável fenômeno de manejar o fogo sem se queimar, embora haja outros meios de o conseguir. Uma camada de éter, por mais sutil que seja, pode ser preparada de maneira a tornar insensível ao calor a mão coberta por ela, não sendo, pois, para admirar que qualquer indivíduo assim protegido possa pegar num carvão ardente ou num ferro ao rubro sem o menor risco. Em adição às forças especiais acima mencionadas, usa-se frequentemente a alavanca comum para produzir fenômenos menores, tais como inclinação de mesas ou batidas sobre elas.

Neste caso o fulcro é o corpo do médium e a alavanca uma barra de ectoplasma projetada do corpo. (Ver Psychic Structures, pelo Dr. W. J. Crawford). Transmutação. — Temos citado quase todos os fenômenos espiritistas, mas além deles há mais um ou, melhor, dois, que, apesar de muitíssimo mais raros, não devem deixar de ser mencionados.

A transmutação dos metais é geralmente considerada um puro sonho dos alquimistas da Idade Média, e realmente, na maior parte dos casos, a descrição do fenômeno não passa de um símbolo da purificação da alma. Todavia, parece estar suficientemente provado que o fenômeno foi produzido algumas vezes por eles. E ainda hoje há na índia feiticeiros que pretendem fazê-lo em condições que seriam concludentes. Seja como for, é evidente que, visto o átomo original ser o mesmo em todas as substâncias, diferindo estas apenas segundo’ as diferentes combinações desse átomo, quem quer que saiba reduzir um pedaço de metal ao estado atômico e em seguida combinar os átomos de diferentes maneiras, pode,, a seu bel-prazer e sem dificuldade maior, proceder quantas transmutações quiser.

Repercussão

O princípio das vibrações simpáticas, já citado, dá-nos a explicação do fenômeno estranho, não muito conhecido, da repercussão, pela qual qualquer ferimento infligido ou qualquer sinal feito na entidade materializada se reproduz no corpo físico. Temos exemplos disso nas provas recolhidas nos processos por feitiçaria da Idade Média, em que se vê que qualquer lesão feita na feitiçaria quando sob a forma de cão ou de lobo, se reproduzia na parte correspondente do seu corpo físico. A mesma estranha lei motivou, por vezes, injustas acusações de fraude a médiuns, quando, por exemplo, se lhes encontrava na mão matéria corante igual àquela com que se tinha esfregado a mão da entidade materializada.

A explicação, neste caso, como em muitos outros, é que a “entidade” era apenas o duplo etérico do médium, forçado pelas influências diretoras a tomar uma forma diferente. Na verdade, estas duas partes do corpo físico estão tão intimamente ligadas que é impossível fazer soar numa delas a nota tônica sem despertar na outra as vibrações exatamente correspondentes. (1) “Gente do Outro Mundo”. (2) “Um caso de Desmaterialização” (3) Vide O Mundo Oculto, de A. P. SINNETT.

CONCLUSÃO

É de esperar que aqueles dos nossos leitores que acharam a matéria contida neste volume suficientemente interessante para o lerem até ao fim, possam agora fazer uma ideia geral do plano astral e das suas possibilidades, que lhes permita compreender e pôr nos respectivos lugares quaisquer fatos que se lhes deparem em leituras subsequentes. Apesar de apenas termos dado um esboço, simples demais para tão importante assunto, cremos ter dito o necessário para mostrar a extrema importância da percepção astral no estudo da Biologia, Física, Química, Astronomia, Medicina e História, e o grande impulso que o seu desenvolvimento poderia vir a dar a estas ciências.

Contudo, a aquisição das faculdades astrais não deve considerar-se como o último fim a atingir, visto que tudo o que se tentasse apenas com esse objetivo levaria inevitavelmente ao método do desenvolvimento a que no Oriente se dá o nome de lâukika — sistema que permite, é certo, a aquisição de algumas forças psíquicas, porém que não passam da personalidade atual. De resto, essa aquisição, feita sem as necessárias precauções e garantias, pode dar lugar a que o principiante venha a fazer delas um emprego abusivo.

É o que sucede a todos os que se servem de drogas, da invocação de dementais e, em geral, os que seguem as práticas da Hatha yoga. O outro método, chamado lokottara, consiste na Raja Yoga, ou progresso espiritual. Embora esta seja um pouco mais lenta do que a primeira; tem a vantagem importantíssima de garantir uma aquisição de poderes psíquicos que ficam para sempre na posse da individualidade permanente, sem que nunca mais se possam perder. E como, neste caso, há sempre a direção acurada de um Mestre, não há receio de que o discípulo abuse dos poderes adquiridos, sempre que cumpra escrupulosamente as ordens recebidas.

A abertura da visão astral deve, portanto, ser considerada como simples etapa no desenvolvimento de qualquer coisa infinitamente mais nobre — um simples passo, um curtíssimo passo, no Grande Caminho Ascensional que conduz os homens às alturas sublimes do Adeptado, e, mais além ainda, a esses esplendorosos panoramas de poder e de sabedoria, que nossas mentes finitas não podem ainda conceber.

Contudo, que ninguém considere como um dom, um bem sem espinhos, a posse da visão astral, porque a miséria, o mal, a dor e todas as amarguras do mundo se convertem num fardo sempre presente, a ponto de se ter a tentação de repetir a apaixonada abjuração de Schiller: “Por que me lançaste de olhos abertos na terra dos cegos, para lhes proclamar o vosso oráculo?

Levai-me de novo esta agudeza de vista, que me enche de tristeza! Tirai-me dos olhos esta luz cruel! Restituí-me a cegueira — as bem-aventuradas trevas dos meus olhos; levai-me, levai-me este dom fatal!” Talvez não deixe de ser natural este sentimento nas primeiras etapas da Senda; contudo, a visão superior e conhecimentos mais profundos trarão ao estudante a perfeita certeza de que todas as coisas cooperam juntas para o bem final de todos, pois: De hora em hora, qual desabrochar-se de uma flor, a verdade e sempre a verdade se revelará; que pode o sol empalidecer e as estrelas apagar-se, mas a LEI DO BEM permanecerá.

Ela refulge em esplendor e cresce em influência, segundo se expande o lento trabalho da Natureza, desde os minúsculos zoófitos até os SERES excelsos, ao longo de milhões e milhões de séculos.

C. W. Leadbeater – O PLANO ASTRAL

FIM

http://livroespirita.4shared.com 

https://fdocumentos.tips/document/a-histria-da-terra-historia-da-terra-o-desenvolvimento-do-poder3-helena.html

©2015 Astrothon.